quarta-feira, 17 de junho de 2009



A DECISÃO FOI DELES

Pois a história foi assim...

O Conselho estava formado. Os melhores profissionais do ramo, presentes. Todos dispostos a encarar aquele desafio. Em volta de uma mesa, perguntavam-se como sairiam daquela empreitada. Numa grande prancheta, iam esboçando suas ideias.

O senhor recomendara que fosse algo exótico, diferente, e, ao mesmo tempo, grandioso, capaz de assombrar seus próximos e satisfazer os caprichos de sua cara-metade. Teria que ser algo tão inusitado quanto nevar, pra valer, em terras brasileiras. A temperatura, na região em questão, era, em média, 21° C. E isso era mais um complicador que surgia, para que se definisse qual o projeto que se levaria adiante.

Um dos experientes profissionais dera a ideia de fazer-se uma construção com uma gigantesca abóbada. Mas teria que ter muitas saídas, muitas portas... Isso desestabilizaria os pontos de apoio da mesma. Seria algo tipo assim um iglu. Mas com essa temperatura e com tantas portas, iglu nenhum resistiria.

Foi quando Nestor, um dos especialistas, amante das matas nativas, sugeriu uma construção de mesmo formato, porém algo parecido com uma gigantesca oca. É claro, coberta de sapé. Tudo ao estilo bem brasileiro. Mas tal construção não possibilitaria, igualmente, tantas portas e janelas quantas tinham sido pedidas. Aliás, a bem da verdade, existiria, nesse novo projeto de construção, apenas uma grande porta. A ideia também se inviabilizou.

Nessas alturas, Arquimedes, chegado em cálculos matemáticos, um visionário, sugeriu uma construção de base quadrangular e quatro faces triangulares, terminada em ponta. Ou, também, podendo ser de base pentagonal com cinco faces triangulares.

A ideia, a princípio, pareceu vingar. Nas faces seriam construídas janelas e, no sopé de cada face, uma porta. Admitindo-se uma pirâmide com 4 faces e 4 janelas em cada uma das faces, teríamos precisamente 16 janelas e mais 4 portas. Por outro lado, imaginando-se uma pirâmide com 5 faces e 4 janelas em cada uma das faces, poderia chegar-se a 20 janelas e mais 5 portas, contando-se a principal.

Diante desses números obtidos, ainda assim não se conseguiria chegar ao número de janelas que solicitara o contratante da obra. Como, pelo jeito, dinheiro era o que não faltava, resolveram, então, aumentar o número de janelas por face, tomando-se por base a pirâmide de 5 faces.

Decidiram, então, colocar 6 janelas em cada face, o que resultou em 30 janelas e mais 5 portas.

Nessas alturas, já exaustos, os experientes profissionais resolveram mudar o projeto. A pirâmide, assim projetada, definitivamente não suportaria mais janelas por face. E eles não tinham conseguido chegar as 36 janelas necessárias para os 36 aposentos que o projeto deveria contemplar, pedido esse reiterado pelo dono do empreendimento. Pensando melhor, concluíram que teriam de ser mais de 36 janelas, pois havia salas e mais salas, banheiros, depósitos...

Após dias e dias de cálculos, tabelas e sabe-se lá mais o quê, decidiram pela construção de alguma coisa que lembrasse a seus donos, e a quem, porventura, lá chegasse, a morada de personagens conhecidos através dos clássicos contos infantis. Estava decidido. Seria um castelo verdadeiro. A imaginação das pessoas faria o resto.

Ali, caberiam reis e rainhas, príncipes e princesas, e todo o séquito que os acompanha. E poderia construir-se muito mais que 36 janelas; por exemplo, 275 janelas. Seria um bom número. Outro tanto de portas e, digamos, 8 torres. Alguns afirmaram, posteriormente, que eram 12 torres. Não se sabe bem ao certo. Mas 8 já era um bom número e prestou-se, à época, como letra àquela melodia, tão conhecida:


“O meu castelo tem oito torres,
Tem oito torres o meu castelo,
Se não tivesse oito torres,
Não seria o meu castelo”.

E como todo castelo, esse também teria direito a fantasmas por conta de uma ou outra má ação cometida por seus financiadores. Em oito anos de construção, muitas águas devem ter rolado. Mas isso é conversa pra outro dia.

Quanto a tal Mona Lisa, dizem que circula ainda por lá. Bem no início, ficava próxima ao crupiê, sussurrando coisas. Mas, nos últimos tempos, não tem mais função alguma. Apenas, vez por outra, deixa, numa coluna, estampado seu sorriso enigmático, como a prever que esse empreendimento será sólido, mas tão obscuro quanto seu famoso sorriso. E, assim como ela, atravessará os tempos...

- Tu achas, Maciel?
- É claro, cara! Qualquer hora, eu te conto outros detalhes dessa história da carochinha. Naquela época, tudo acabou assim: E FORAM FELIZES PARA SEMPRE. Já faz tanto tempo...

- Olha lá! Vem gente.
- São os netos do proprietário.
- Olha só que cavalos!
- É tudo puro sangue.
- Maciel, o “anexo” dos cavalos é aquele prédio lá?
- É.
- Mas que coisa imponente!
- Pois é, cara! Essa foi outra decisão deles também.
- Ah! Esses arquitetos...

- Vamos entrar. Vou te apresentar ao capataz. Afinal, és novato por aqui. Com o tempo vais aprender a medir um alqueire só com a ponta do olho. Vai por mim. Agora, cuidado! Olho grande demais é só pra criar remela. Dizem que o que não falta, por aqui, é dinheiro. Pelo menos, é o que dizem. Vamos emendar as terras do vizinho com essas daqui. Afinal, vender é o nosso negócio.

- Vamos tentar!
- Vamos conseguir. Ao trabalho!









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quarta-feira, 13 de maio de 2009

UMA HOMENAGEM

 

Sobe-se uma pequena rampa que leva ao lugar procurado por todos que dele necessitam. E todos estão meio apressados quando lá chegam.

Ao adentrar-se, como que resplandece todo o recinto. Inunda-se de luz. Exala dali, também, um perfume.

Maitê, quando lá esteve, constatou, por algum tempo, que as pessoas, ao entrarem, comentavam entre si ou murmuravam consigo mesmas expressões tipo:

-Que cheirinho bom! Que cheiro gostoso! Hum...!

As paredes revestidas de plaquetas brancas, muito limpas, demonstram o asseio com que são tratadas. De cada um dos vãos, que dividem as pequenas janelas, pendem vasos com folhagens verdadeiras, todas de uma mesma espécie, adornadas por pequenos ramos e flores artificiais, todas na cor azul e branca, combinando entre si. São dezessete vasos ao todo, espalhados por vãos e sobre as meias-paredes que dividem os espaços. Em um dos vasos, o bem central, esconde-se uma varinha de incenso. Um perfume espalha-se pelo recinto, atingindo, inclusive, alguns bancos próximos ao local. Sobre uma das paredes pende um arranjo feito com garrafas pet, na mesma tonalidade das rosas artificiais que enfeitam os vasos. No início de dezembro, essas flores são substituídas por outras de cor vermelha, a prenunciar a chegada do Natal.

É constante o cuidado com a limpeza do chão. E, ao que parece, de dois em dois dias, é feita uma lavação e escovação completa. Portanto, o ambiente é limpo e cheiroso. Quem recepciona os usuários está sempre atenta, conduzindo, informando e auxiliando quem lá chega. Veste uniforme, limpo, impecável. Do semblante brota uma luz que se despeja num sorriso.

Para quem se detém por instantes, trocando com ela algumas palavras, percebe o jeito prestativo com que é tratado. Maitê deteve-se mais do que o habitual. E pôde constatar o que é trabalhar “com amor”.

Encantada, Maitê ficou por lá conversando. Descobriu, então, que todos os enfeites (vasos, folhagens, flores, arranjo e incenso) foram comprados pela própria funcionária, com seu próprio dinheiro. No caso do incenso, a compra é constante. Mas isso é apenas um detalhe. O mais importante é seu trabalho, digamos, socioeducativo.

Assim, a comunidade indígena que circula por lá, por exemplo, (mães e seus filhos), foi aprendendo noções de higiene. Tudo graças às orientações da funcionária. Mas, quando é necessário, sabe ser “durona”. Isso acontece toda vez que certas “tribos” tentam usar o local para outros fins, que não os adequados àquele ambiente.

Agora, o principal foi o discurso da funcionária, revelador em si, e que respondeu à curiosidade de Maitê. Pois, o dito foi mais ou menos assim:

“O nosso ambiente de trabalho não é dos melhores. Recebemos todo tipo de público que, aqui, vem para fazer “suas necessidades”. Se a gente vier trabalhar suja, desleixada, não mantendo o lugar limpo, não terá vontade, incentivo de trabalhar. Ficará um ambiente “muito pesado”. E, afinal, a gente fica aqui dentro 12 horas. O nosso ambiente de trabalho deve ser constantemente limpo e a gente também deve estar limpa para poder se sentir bem. Senão, vamos nos sentir deprimidos. Sabe, todo mundo tem seus problemas. Mas temos que deixar os nossos problemas lá fora. E procurar chegar, aqui, bem. Por que é que temos que conviver com o mau cheiro, característico desses lugares? Fica muito melhor trabalhar num lugar limpo e cheiroso. Não acha?

Maitê acha que sim. Concorda, integralmente, com a postura dessa funcionária.

Pois é, está a falar-se, sabem do quê? De um banheiro existente no Parque da Redenção, em Porto Alegre. É um banheiro diferente. Ou melhor, quem ali trabalha é que faz a diferença. Maitê quer acreditar que existam outros banheiros iguais. Igualmente, acredita que existam outros funcionários semelhantes a essa dedicada trabalhadora que dignifica a classe e a Instituição a qual pertence.

De qualquer sorte, dedica a ela esta homenagem pelo Dia do Trabalho, recém- comemorado.

Dias atrás, Maitê, em suas andanças pelo Parque, esteve no referido banheiro.

Parecia que entrara em outro banheiro. Não era aquele seu conhecido. O mau cheiro, naquele dia, era característico. O chão estava todo molhado. Aquela luz, que costuma irradiar-se pelo recinto, não existia; tampouco o perfume do incenso dando as boas-vindas a quem chegasse. A funcionária presente... Bem, não falemos dela.

A homenageada, nesse dia, não se encontrava. Era seu dia de folga.







Nota: A servidora Sirlei Barreto dos Santos, a homenageada, recebeu, à época, uma medalha pelos serviços prestados ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana. A mim coube um Diploma, expedido pelo Diretor-Geral, em agradecimento pela homenagem.









segunda-feira, 20 de abril de 2009


 

A RESPOSTA ESTÁ NA FÍSICA?


Ah! O fogo do Sol... A placidez da Lua... O riso fácil de Mabel, a carranca de Orlando... Ah! A amabilidade de Ana, a grossura de Ramiro... Anita, tão íntegra; José, nem tanto... Mas complementam-se, dizem. Vivem harmonizados, parece. Tão diferentes, sussurram. Mas sempre juntos.

Já vai longe o ano de 1703, ano do Tratado de Methuen: aquele da compra do vinho português pela Inglaterra, em troca dos tecidos ingleses. Acordo bastante lesivo aos interesses de Portugal, pois os gajos importavam mais tecido do que exportavam vinho. É claro que, lá pelas tantas, houve um desequilíbrio do comércio com a Inglaterra. Sabem quem pagou a diferença? O nosso ouro. Pois é, o malfadado Tratado possibilitou a transferência da riqueza produzida no Brasil para a Inglaterra.

Já no século seguinte, a coisa ficou ainda pior. Com a abertura dos portos, saiu-se do colonialismo mercantilista português para uma dependência do capitalismo industrial inglês. Essas novas trocas comerciais em nada foram vantajosas ao Brasil. Pelo contrário, iniciaram o processo que tornaria a balança comercial do Brasil deficitária.

Circula pela Internet um relato feito pelo viajante inglês John Mawe que, naquela época, descreve a cidade do Rio de Janeiro:

“O mercado ficou inteiramente abarrotado; tão grande e inesperado foi o fluxo de manufaturas inglesas no Rio, logo em seguida à chegada do Príncipe Regente, que os aluguéis das casas para armazená-las elevaram-se vertiginosamente. A baía estava coalhada de navios, e em breve a alfândega transbordou com o volume das mercadorias. Montes de ferragens e pregos, peixe salgado, montanhas de queijos, chapéus, caixas de vidro, cerâmica, cordoalha, cerveja engarrafada em barris, tintas, gomas, resinas, alcatrão, etc., achavam-se expostos não somente ao sol e à chuva, mas à depredação geral; (...), espartilhos, caixões mortuários, selas e mesmo patins para gelo abarrotavam o mercado, no qual não poderiam ser vendidos e para o qual nunca deveriam ter sido enviados.”

Supondo-se verdadeiro esse relato, na essência, tem cheiro de atualidade essa descrição. Pois, nem sempre se compram coisas de que se precisa, como também nem sempre se dá o devido destino às mercadorias, deixando-as estocadas, entregues à incúria de quem deveria cuidá-las.

Mas, voltando...

Será que os diferentes se atraem? Que é pura atração? Será que se completam?
Ah! Aqueles dois pares de olhos tão próximos e tão diferentes! Sentados lado a lado. Estariam ali colocados por pura atração? Suspeita-se que interesses os tenham ali postados, juntos, a prenunciarem grandes acordos, grandes parcerias futuras.

Oxalá a rainha dos mares não nos reserve algum tsunami! Aqui, pelo que se alardeia se navegará em modestas marolinhas.
Com certeza, aquele par de olhos azuis fez um contraste muito especial ao lado de uns olhos escuros, também especiais. Um olhar maroto, bem ao estilo do nosso povo. Aliás, depois desse encontro tão próximo, é urgente rever esta implicância com pessoas de tão belos olhos.
E pensar que até o sangue é azul, a contrastar com o dele, vermelho, plebeu. E que, assim misturado, deve ter deixado muita gente roxa de raiva.

Mas viva a Rainha! Viva o Cara! Viva o Brasil!
Afinal, após trezentos e poucos anos, devemos ter aprendido alguma coisa.

Ah! Os casais acima citados? Acredita-se que tenham interesses pessoais em jogo.
Quanto ao Sol e à Lua: é pura sincronia para a sobrevivência do planeta Terra, do Universo... ou sei lá!
Quanto à Física? É um título instigante, mas essa lei da atração só funciona na velha experiência das limalhas de ferro.