quinta-feira, 11 de março de 2010


 

EXPLICAÇÃO?



Queridos Olheiros!
Pré-requisito para compreensão do texto abaixo:
ler a crônica de David Coimbra, Peixe e jujuba, publicada em 05/03/10, no jornal Zero Hora (p.2).




“Te liga”, cara! Quer coisa mais conhecida que uma jujuba? É quase mais conhecida que parteira de campanha. Não tanto, é claro. E o principal: lembra infância. É muito “massa”!


Olha só a imersão que a Marisa, a Monte, fez naquele mundo que se abate, vez por outra, sobre os que já passaram dos 40: o mundo da saudade boa, gostosa, com cheiro de infância.

E sente o que vem depois da jujuba!

Nessa ordem: bananada, pipoca, cocada, queijadinha, sorvete, chiclete, sundae de chocolate, paçoca, mariola, quindim, frumelo, doce de abóbora com coco, bala Juquinha, algodão doce e manjar. Ufa! Para quem não sabe, essa é parte da letra da música Não é Proibido.

Com uma carreira já consolidada e com tantos prêmios conquistados, a cantora está a demonstrar sua inegável competência e estilo próprio. Permanecerá, com certeza.

Por outro lado, já pensaste no Rio ainda como capital do nosso país? Aquela paisagem toda absorveria as horas ociosas. Todos, permanentemente, ficariam tão contemplativos, que ocupariam suas mentes menos com maracutaias e mais com o prazer de viver a vida. Régios salários e visual de cinema, o que mais almejar?

Mas em Brasília... Aquela chatice, aquela cidade forçadamente criada, aquela coisa toda plana... Lá onde os olhos não se podem fixar em encostas, nem se perder em vales ou esconder-se por trás do Cristo.

Lá, o tempo tem que ser aproveitado com coisas proibidas, perigosas. Sabe como é: uma oficina própria para o diabo. E seus trabalhadores todos à disposição para o que der e vier.

Foi, realmente, uma péssima mudança.

Agora, o Peixe Vivo foi um carinho ao povo mineiro e à infância de JK. Interessante que na obra Açúcar, de Gilberto Freyre, há menção de que a sobremesa preferida do Presidente era, surpreendentemente, nordestina: a chamada baba de moça.

Então, cotejando Peixe Vivo com jujuba, mais conhecida como “bala de goma”, temos:

1- É difícil viver sem nunca ter tido uma companhia: mais ou menos como um peixe viver fora da água fria;
2- Quem nunca comeu uma bala de goma, que se apresente;
3- Cada um com o seu tipo de saudade, com o seu tempo de infância;
4- Seus propagandistas permanecem nas paradas de sucesso. 
Um, de constante lembrança na política; outra, no atual cenário musical.

Por fim, digamos que o peixe, como prato, é muito bom. Como imagem poética, assim descrita, dá pena imaginá-lo morrendo aos poucos, sem sua melhor companhia: a água.

E a jujuba?

Bem, além de ser gostosa, foneticamente falando, suas duas consoantes, iguais, são fricativas. Para serem pronunciadas, o ar escapa roçando pelas paredes da fenda bucal estreitada.

Isso tudo é muito sexy. E na voz da Marisa, a Monte, é demais...


Precisa de explicação?


Não é Proibido - Marisa Monte




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Abaixo, seguem os comentários recebidos por e-mail:


"Guriaaaaa,oi,
tu arrasouuuuuuu.
Tu achas q ele vai publicar ou fazer uma alusão à explicação ? ah, ñ vai mesmo. Ele tem medo de perder o emprego.
Vai ler o texto e deletar pq senão a ZH contrata a minha amiga ! E c/toda a a razão!
David q se cuide !
Bjs e até amanhã"

Zaira Cantarelli



"Coloquei uma mensagem no teu blog. Como não sei se deu certo, reproduzo abaixo. Abração e até a próxima. Prometo me inteirar mais do blog e conhecer mais teus"pensamentos".
Aurélio(Lelo)
Tá muito bom isso tudo. Que esmero na escolha das palavras. Quem será esta Sonia que está escondida num cantinho do Menino Deus? Escrever, tenho certeza, sabe muito e pensar nem se fala...
Abraço"

Aurélio Luiz Dornelles




"Olá, Sonia,
Pois acabo de ler tua Explicação? ao David Coimbra e suas jujubas.
Em primeiro lugar: Quem fez a melhor crônica?
Disparado, tu, com certeza.
Mais instigante, bem humorada, sem ranços.
Além do mais, tuas defesas em favor da jujuba ( e olha que eu não ligo lá grande coisa pra jujubas e balinhas  do gênero) quase me convencem que a coisa é gostosa, como o peixe( não vivo, claro, prefiro bem morto e frito). Ah, sobre Brasília vou me omitir.
Tudo isto, amiga,  pra te dizer que adorei!!!!
Beijão"

Jacira






domingo, 29 de novembro de 2009


LADEIRA ABAIXO


O sorriso do adolescente assusta. Como se estivesse observando uma cena cômica, ou curiosa, ou, quem sabe, inusitada, ele sorri.

É, com certeza, uma cena inusitada. Mas o nível de banalidade, com que se encaram cenas dantes inimagináveis, causa-nos descrença de que se possa, ainda, mudar o cenário de tamanha violência.

Em outros tempos, veríamos esse adolescente deslizando rua abaixo com seu carrinho de lomba. Ele e mais um punhado de amigos despencariam ladeira abaixo em brincadeiras sadias. Nesses carrinhos, colocavam toda a sua engenhosidade. A competição era em cima do mais bonito, mais criativo, com melhores rolamentos.

Que interessante!

Um carrinho de supermercado com um corpo dentro. Eh! O cara se ferrou!

Quem não se acostuma, quando se vive assim a maior parte do tempo. Quem não se acostuma?

O cara podia estar dentro de um saco, no fundo de um quintal. Ou no lixão, ou atirado na sarjeta. O fato em si tornou-se corriqueiro, banal. O inusitado é o carrinho de supermercado.

Com ele, geralmente, transportamos alimentos. Ou sobras, garrafas, jornais velhos, restos. Tudo, para quem necessita, virará alguma forma de subsistência.

Esse carrinho, porém, é diferente. Ele carrega, por assim dizer, a prova cabal do caos social em que se está mergulhado. É a selvageria escancarada que se abate sobre todos. Nada mais horrendo do que se olhar um semelhante em tais condições. Pior do que isso só os famintos, os seres esquálidos que se espalham em algumas regiões da África.

O que nos assusta, na cena, é o caráter de banalidade expresso pelo sorriso do garoto. Será que conseguiremos sair dessa? Estamos desconstruindo valores. Estamos voltando à barbárie. Hordas de malfeitores espalham-se, disseminam-se por entre grupos de indivíduos desprotegidos. Seres, em sua maioria, desqualificados pela miséria e ignorância, que viceja, e pela incúria de governantes.

Essa é uma sociedade que se torna mais frouxa a cada dia que passa.

Que país é esse!

Está em nossas mãos indignar-se. Está em nossas mãos exigir mudanças efetivas. E essa revolução tem sua origem na Educação que começa na família. Ela, não o fazendo, delega à Escola tal função, acrescida àquela que lhe é típica: fornecer o conhecimento formal. A Escola, por assim dizer, cumprirá também o papel da família. Para tanto, deverá ser de turno integral, mantida pelo Poder Público nas áreas de maior carência social. Desnecessário dizer-se que com um magistério motivado pela infraestrutura oferecida, dirigentes ligados aos meios acadêmicos, com formação em áreas da Educação, e professores percebendo um salário compatível com a importância de seu cargo.

Não há outro caminho. Povo culto é povo livre. É o cidadão capaz de discernir, de criticar, de desenvolver atividades produtivas, de autossustentar-se, de contribuir para melhorar a sociedade em que vive.

Se assim não for, nossas crianças, como recentemente já ocorreu, passarão a usar pó de giz embalado em saquinhos plásticos: fingindo um tijolinho de cocaína.

Teremos, aí, uma nova versão da brincadeira das cinco-marias, onde o arroz ou a areia virará pó de giz, por enquanto. Porque, no imaginário, já é o pó branco que circula de mão em mão. Novos usuários, novos traficantes, corpos desovados: é o cenário que se projeta.

E, assim, vamos ladeira abaixo, como num carrinho de lomba desgovernado, sem rumo, sem futuro. Ou melhor, com a certeza de uma infância perdida, de uma juventude corrompida e credora de uma dívida: a da sociedade brasileira para com seus filhos.

Leia as notícias : 






sexta-feira, 2 de outubro de 2009

 


POR PURA BRINCADEIRA!


O carro último tipo encosta ao lado do táxi. O trânsito é lento naquela hora. Parados, aguardam a sinaleira abrir-se para passarem. Do banco de trás, três cabeças assomam junto ao vidro lateral, que se encontra baixado. São três meninos, de idades aproximadas, em torno de onze anos. Um mais afoito pede com insistência uma moeda ao taxista. Para tanto, usa falas comuns aos pedintes. Todos riem com a cena inusitada. Os meninos, a condutora do veículo e o taxista riem. Que cena!

E as imprecações se sucedem com pedidos desesperados de quem finge necessitar. A sinaleira, em meio à cena, libera os carros e lá vão os três com a mão estendida pedindo um auxílio.

Logo, mais adiante, nova sinaleira. Ambos os carros novamente, lado a lado, juntam-se, agora, bem mais próximos. Os pedidos intensificam-se. Os meninos continuam pedindo ao tio taxista:

“- Tio, me dá uma moeda! Tô precisando.”

Antes que a sinaleira libere novamente, o tio benfeitor estende a mão e alcança uma moeda de R$ 0,50 a um dos garotos.

Aos gritos de “consegui”, o carro arranca e lá se vão todos a rirem, a divertirem-se com a cena.

Um olhar mais apurado, com certeza, extrai desse episódio um sintoma de como as coisas andam.

Ao que parece, tudo foi uma brincadeira infantil, em que todos se divertiram.

Os garotos estavam brincando de “ser pedinte”. Só pra ver como é que é.

Claro que os meninos estavam apenas brincando. E os adultos?

Estavam, também, brincando. Mas que coisa!

É..., as chagas sociais merecem outro tipo de encenação. O teatro, por exemplo, é um meio adequado para expor tais mazelas. No palco, os atores e seus papéis poderão alertar a sociedade do perigo da banalização e do deboche para com situações dramáticas, que carecem de soluções.

Quanto aos meninos, seus responsáveis deveriam orientá-los no sentido de que o escárnio não é instrumento saudável para uma sociedade que se diz fraterna e solidária.

Se assim não for, continuaremos a incorrer em cenas mais contundentes, em que a vida de um indigente ou de um índio, ou de qualquer desafortunado, nada valha.

Ou, talvez, valha a diversão de atear-se fogo em um desses infelizes. Só pra ver como é que é.

Por pura brincadeira!