segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

COMO SEMPRE... MAS E O DEVIR?

O olhar perdido no horizonte, não está tão perdido assim. As margens, de onde este olhar se lança, estão plácidas. E o céu ainda está azul. O som do mar é um acalanto e a luz, no fim do horizonte, é pura inspiração. As nuvens, lá no infinito, não parecem querer dizer grande coisa. 

Belas imagens, todas nascidas da natureza e ao dispor de quem se detenha a observá-las. Há quem confira a estes momentos, curtidos em fins de semana, ou nas férias, descanso merecido depois de um ano de trabalho, uma espécie de trégua no conflito diário da sobrevivência.

Na verdade, porém, de forma contínua, poderíamos ter estes vãos de paz com uma imaginação estendida para o infinito, chegando-se, simplesmente, à janela e erguendo nossos olhos para as copas das árvores, ou até mesmo acompanhando o caminho de volta aos ninhos dos passarinhos que dão rasantes por sobre os telhados das casas, ou sobre os edifícios que, de tão altos, exigem mais ainda imaginação. Quem sabe este recarregar de baterias esteja na audição de um som ao gosto muito pessoal de cada um, importando apenas que nos permitamos surfar no embalo de melodias as mais diversas. Ou, ainda, que a orelha daquele livro seja tão convidativa que a leitura se instale como prática constante, sempre que possível. Ou pode ser que as glicínias, no pátio do vizinho, lembrem que a arvorezinha da felicidade está precisando de mais adubo e água. Afinal, nada e ninguém sobrevive sem água.


O que se vê nos finais de ano, como sempre, são as mesmas palavras repetidas, à exaustão. O desfilar do palavreado começa nos dias que antecedem o Natal e se estende pelos dias seguintes até que, da noite para o dia, literalmente, adentra-se ao que se convencionou chamar de novo ano. Votos e mais votos são expressos, reiteradamente, a cada novo ano. Para que tudo seja melhor, para que tenhamos renovado vigor na azáfama diária do sobreviver: são os nossos desejos.

Na verdade, esquecemo-nos de reservar, diariamente, alguns instantes que sejam para pousarmos o olhar no belo que nos cerca. Quem sabe, o canto de alguma espécie urbana desperte em nós o sentimento de comunhão que une animais e pessoas. Sem pregar qualquer tipo de alienação, que sempre é danosa, reserve o olhar não apenas para as cenas dos noticiários, mas para assistir a um bom filme. Ou, melhor ainda, para a leitura de um bom livro. Aliás, é bom não esquecer que as imagens que criamos a partir do que lemos são mais ricas do que aquelas outras jogadas sobre nós, prontas, onde a emoção pura, às vezes, não nos dá tempo para refletir. E um livro proporciona, além do conhecimento, dois ingredientes fundamentais, sempre de mãos dadas, que nos enriquecem ainda mais: a imaginação e o poder criador.

Vejam o que a leitura oferece à imaginação, acompanhando os exemplos abaixo:







Também, simplesmente, podemos pousar o olhar no infinito. Ele revela muito e é para onde se ergue, nos finais de ano, um cálice de brinde ao já conquistado e ao desejo do melhor que está ainda por vir.

Agora, se o olhar revelar apenas vazio e nada de lá extrair, estará na hora de mudar. Talvez, aquela mudança sempre tão almejada, mas pouco batalhada. No fundo, tudo requer compromisso. Até para se ser feliz e desfrutar desta conquista é preciso comprometer-se consigo e com o outro. Nada melhor do que o compromisso, convictamente firmado, para mudar o panorama do “como sempre”.

O que se deseja é que o dia se apague numa lenta e contínua escuridão e renasça numa clara manhã com os primeiros raios de luz a iluminar as coisas e as gentes. Como sempre acontece todas as manhãs de todos os dias e, em especial, daquele que se apelidou de dia primeiro do novo ano.

E isto é pouco?

Não é! Claro que não!

Quem está envolvido nesta tarefa do apagar e acender as luzes do Universo é alguém, indiscutivelmente, superior: o seu próprio Criador. Ele, ao que parece, vem cumprindo com o seu compromisso, como sempre, há muito tempo.

Caberá, então, às suas criaturas despertar da letargia de um discurso do “como sempre” para o compromisso de um diferente devir. Melhores dias dependem, em grande medida, de nós mesmos.

Guardemos mais momentos para o encontro consigo próprio, como também para o convívio com os demais.

Contemplemos mais, pois isto soma, embora pareça, às vezes, perda de tempo.



Ah! As flores das glicínias do vizinho já se foram. Ficou somente a planta, que também é bonita. E a árvore da felicidade, aquela que andava com sede e meio enfraquecida, já está recuperada e pronta para iniciar o novo ano com o pé direito.

E, como sempre, de repente, da noite para o dia, estaremos em 2015. Disso o Criador se encarrega.

Ao devir, vamos dar uma mãozinha. Sensibilidade, imaginação, criatividade, muito estudo e trabalho e, sobretudo, paixão pelo que se faz são os ingredientes que farão toda a diferença no chavão “como sempre”.

Que o ano de 2015 seja melhor do que os anteriores.

Para tanto, há que ter, igualmente, fé, otimismo e esperança. Que o Criador, também ele, dê uma mãozinha no nosso devir.

Afinal, Ele sabe de tudo bem antes. E administra, muito bem, os amanheceres e anoiteceres: aqueles fenômenos por nós observados a olho nu. Os demais, também Ele e somente Ele conhece. A nós cabe apenas chamá-los de mistérios da vida.



Daí, o pedido de uma mãozinha. Se não for pedir demais, é claro!




Dias Melhores – Jota Quest 

Os Incríveis – Marcas do que se foi 






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Comentários via Facebook:

Maria Odila Menezes: Obrigada Soninha pelos momentos sublimes que tens proporcionado a todos nós leitores e admiradores das tuas inteligentes e criativas crônicas. Que conserves sempre a poesia na alma e o amor no coração! Feliz e Próspero Ano Novo!

Amelia Mari Passos: ''O que se deseja é que o dia se apague numa lenta e contínua escuridão e renasça numa clara manhã com os primeiros raios de luz a iluminar as coisas e as gentes.' Soninha Athayde. Aiii minha flor precioso é teu cuidado e esmero, que Deus continue ao teu lado te mantendo o olhar no que é essencial Amei. Tudo.Um beijo com carinho.Obrigada.




segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

UMA ÁRVORE... UMA ESTRELA...

A época do ano era a mesma, como hoje. Os dias, porém, eram outros. Mais solenes, talvez. Principalmente, aqueles que precediam o Natal.

As tradicionais árvores natalinas eram, na sua grande maioria, pinheiros verdadeiros, vendidos em vários pontos da cidade. Comprados, eram levados para casa e enfeitados para grande alegria de crianças e adultos. Os tamanhos eram variados. Aninha lembra que, aqueles erguidos na casa da avó e na sua própria casa, eram enormes. Tinham a altura do chão até quase o teto. Ficavam pousados no assoalho e, majestosos, deixavam-se adornar por mãos já acostumadas a este lidar: mãos de avó e de mãe. A árvore já grande ficava mais ainda ao receber tantos adornos para enfeitá-la. Havia como que uma veneração àquele ente que, por dias, assumia o protagonismo na casa. Era como uma visita ilustre, sempre pronta a receber os afagos e o respeito que os anfitriões lhe dispensavam.

Graças a uma máquina fotográfica de um tio, Aninha, lá pelos seus cinco anos, fez parte de uma imagem em que aparece no colo do pai, com a mão esquerda segura na da mãe. Todos estão junto à árvore, com os olhos voltados para o alto onde, embora a fotografia não registre, está fixada uma estrela. A estrela-guia está ali representada a lembrar da estrela de Belém. Aquela que trouxe a boa-nova do nascimento de Cristo.

Os fatos, datas e locais que envolvem o nascimento de Cristo, bem como os partícipes da remota época, não são objeto desta singela crônica. O que ficou para Aninha e para seus pais, como imagem, foi o convívio, naquela noite, sob a proteção “daquela árvore” e o desejo expresso por três pares de olhos de uma renovada iluminação na caminhada. A estrela-guia lá estava como a repetir igual orientação dada aos Três Reis Magos: buscar a fonte de luz para melhor orientar-se nos descaminhos da vida.

Que sensação nos dá uma árvore frondosa, esparramada de galhos? Proteção, segurança, refúgio, amparo, acolhimento? Talvez, bem mais. Quem sabe represente a própria origem, o berço, a casa. Às vezes, até alimento. Antes de mais nada, porém, ela possui raízes que lhe permitem solidez, vida longa e útil aos que dela se acercam, sendo exemplo, inclusive, para os longevos.

Olavo Bilac, poeta parnasiano, dedicou a elas, em especial às mais velhas, os versos que seguem:




E uma estrela-guia? De que nos poderá servir? De guia, como o próprio nome está a indicar. Também de orientação, um caminho, um rumo, uma busca de mais luz para que os sonhos, mesmo aparentemente inatingíveis, possam realizar-se. Uma estrela, segundo Quintana, é garantia de menos tristeza na caminhada. É dele:



DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis... Ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que tristeza os caminhos, se não fora

A presença distante das estrelas!



Daí a importância de cultivarmos mais árvores, com raízes profundas como devem ser as raízes que herdamos da família. A presença desta entidade, a exemplo da árvore, é que dá suporte para boas colheitas que alimentarão uma sociedade mais justa e fraterna. Se assim acontecer, a estrela-guia terá cumprido o seu papel.

Caso contrário, com raízes frágeis o trabalho da estrela-guia terá de ser redobrado e tão exaustivo que se tornará quase utópico. Mesmo assim, o caminho a trilhar por este viajante será menos triste se ela, mesmo embaçada por uma nuvem passageira, momentaneamente, ressurgir, logo adiante, brilhante, a indicar o rumo correto para que não perca este caminhante a chance de ser feliz.



Portanto, enquanto restar um sonho, a presença dela será desejada, mesmo na distância, para que ilumine os caminhos em busca até do inatingível. Pois isto não será motivo para não querê-lo, assim já poetara Quintana.

É! Precisamos de uma árvore e de uma estrela. Isto possibilita construirmos a nossa história pessoal de vida. 

Até, quem sabe, nós próprios, um dia, virarmos uma estrela.

Um Feliz Natal a todos!




Estrela – Maria Bethânia 






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Comentários via Facebook:

Rosangela Guerrieri Pereira: Já li, está linda. Que saudade dos pinheiros naturais. Eram muito bonitos. Parabéns, Soninha. Bjo

Maria Odila Menezes: Linda! Me encanto com as tuas crônicas. Parabéns, Soninha! Bjs

Amelia Mari Passos: " É! Precisamos de uma árvore e de uma estrela. Isto possibilita construirmos a nossa história pessoal de vida. Soninha Athayde". Obrigada!!!. Somos agraciadas com seu talento. Um beijo.


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

DE VOLTA? SÓ A BACIA...


Do interfone uma voz masculina perguntava se a calopsita, que caíra no pátio de sua casa, era de alguém do edifício. Aninha, atendendo ao celular com uma das mãos, informou que não conhecia alguém do prédio que tivesse uma calopsita. A bem da verdade, havia um vizinho, recém-chegado, que talvez fosse o dono da tal ave. Quem sabe? Forneceu o número do apartamento, então. Poderia, também, ter referido outro edifício bem próximo, com apartamento térreo e pátio, além de uma casa com um quintal imenso, também próxima, de onde poderia a calopsita ter escapado. Diante da impossibilidade de falar, ao mesmo tempo, com um celular e o interfone preferiu apenas mencionar o novo vizinho, por absoluta economia de tempo.

No dia seguinte, soube pelo tal vizinho que a calopsita fora entregue a ele dentro de uma bacia, para que se informasse ou descobrisse de onde ela partira e quem seria seu dono. Que empreitada!

Aliás, o Roberto, nome do novo vizinho, contou a Aninha que a calopsita já se encontrava na casa de sua sogra. Ao que parece, até já teriam dispensado a bacia e adquirido uma gaiola. Eh! O afeto já tinha tecido alguns fios de acolhimento ao pequeno ser.

A calopsita é um pequeno papagaio da família Cacatuidae, descrita como espécie, pela primeira vez, em 1792. Originariamente, é uma ave das áreas úmidas da Austrália.

Quando da entrega, ficou a dúvida se a calopsita tinha se perdido por aí ou se o dono não mais a queria. Pelo menos, foi esta a sensação extraída pelo Roberto do encontro com o suposto salvador, homem forte de cabeleira vasta.

Aninha sabe que comida para uma calopsita exige certo cuidado. Basicamente, são grãos misturados. Cuida-se, porém, que a porcentagem da mistura seja 20% de alpiste, 50% de painço, 15% de arroz com casca, 10% de aveia e 5% de girassol. Mas não mais de 5%, porque o dito engorda e não é muito bom para animais em cativeiro. Muito menos para calopsitas que são pequeninas em tamanho (12.8cm até 32cm de comprimento incluindo a cauda) e leves no peso (78g a 125g). Mas claro, há os alimentos balanceados para melhor controle de peso. Olha só o gasto!

O que deve ter acontecido com a calopsita? Ninguém sabe. Talvez, seu dono tenha resolvido propiciar alguns minutos de liberdade a ela, soltando-a pela casa. Bastou um descuido e ela sumiu por encanto. É o que pode ter acontecido. Que mão de obra!

Agora, Aninha tem outra versão sobre a entrega da calopsita. O tal homem de cabeleira vasta pode ter usado o expediente para livrar-se da ave.

Tempos atrás, Aninha adentrou no mundo das calopsitas, quando andava às voltas com a crônica O DONO DO ASSOBIO, publicada em 14/02/14. Na oportunidade, encontrou dois vídeos muito elucidativos. Num, a calopsita repetia frases tipo:

Papai é meu amigo...

Papai me ama...

Deus é bom pra mim...

Papai chegou...

Bate o pé, bate o pé...

Nana, nenê...



Já pensaram bem?

O indivíduo chegando em casa, exausto, e sendo cobrado “sutilmente” por atenção com a frase Papai é meu amigo, repetida à exaustão? Esta calopsita, a do vídeo, fala e não se aninha aos pés de seu dono como um cachorrinho ou um gatinho. E olha que a palavra é uma ferramenta poderosa!

Agora, quando ela é treinada para assobiar o Hino Nacional Brasileiro, o bicho pega!

Aquilo que, cantado na hora certa, é pura emoção, torna-se algo enfadonho, até irritante, dependendo do humor e das dificuldades enfrentadas, no dia a dia, pelo dono da casa e, por óbvio, da calopsita. Este assobiar, convenhamos, cheira mais a provocação do que incentivo.

E há quem esteja já treinando as calopsitas para cantarem a letra do Hino Nacional do Brasil! Já pensaram?



Se a versão da Aninha vingar, o dono verdadeiro da calopsita nunca mais vai aparecer.

De todo este imbróglio, parece que o Roberto apenas foi questionado sobre a bacia, que se encontra na casa da sogra, e que o dono virá buscar, oportunamente.

Agora, para quem não dispensa uma calopsita engaiolada em casa, Aninha pede que a deixem emitir o seu som característico, o seu arrulhar que pode transportar o seu dono para o mundo das calopsitas, ou para qualquer outro, podendo fazê-lo viajar em pensamento. Desta mesma forma é que Aninha viaja com os papagaios que habitam o Bairro Menino Deus. Todos livres, leves e soltos a marcarem local e hora: ao amanhecer e ao entardecer, especialmente. Junto a eles variados pássaros que os acompanham em voos circulares e que oferecem seu bailado como pano de fundo para os alegres papagaios.

Como Aninha poderá manter a imaginação fluindo se prenderem os papagaios?



Ah! Para finalizar, os estudiosos das calopsitas afirmam que o penacho sobre suas cabeças é tão expressivo quanto o rabo é para o cachorro. Penacho para cima significa estar nervosa ou atenta; quando emitem um som parecido com uma tosse é porque estão bravas; se for um grito, pode ser carência. 

Agora, se puderem, de vez em quando, sair da gaiola e voar por dentro de casa, será melhor ainda. Afinal, não lhe cortem as asas, pois com elas poderão voar por sobre os móveis e, talvez, seu dono possa apreciar melhor a beleza exuberante desta ave que não canta como um sabiá, mas que voa com graça. Ação esta que é própria de sua natureza.

Pois em gaiola, nem sendo dourada, os coitados dos passarinhos gostam de estar.

Olavo Bilac em O PÁSSARO CATIVO retrata bem a tristeza e a angústia que a gaiola representa para os pássaros, conforme poema transcrito abaixo.

E para ficar pela metade do século passado, um pouco após o falecimento do grande poeta parnasiano, ocorrido em 1918, a música SABIÁ LÁ NA GAIOLA, um dos hits do ano de 1950, dá o tom alegre e infantil, num vídeo animado, ao desejo de liberdade do sabiá.



Sinceramente, acho que de volta só querem mesmo é a bacia. Ainda bem! Acho que a calopsita já encontrou um novo lar. Nesta nova morada, acredita-se que a portinhola da gaiola todos os dias abrir-se-á, por um tempo, para que ela desfrute de uma liberdade protegida. Não é a ideal. Mas... 

Parece, pelo que soube Aninha, que, na nova morada, a calopsita já é a rainha do pedaço.



É! Até o momento, o único dono, que se apresentou como tal, é o dono da bacia: que virá buscá-la. Virá buscar a bacia, é claro. Será?






SABIÁ LÁ NA GAIOLA – Grupo Anima/Letras 




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Comentários via Facebook:

Rosangela Guerrieri Pereira: Ah, Soninha, que bonitinho o vídeo, a menininha chamando o pássaro com a mãozinha. O texto está muito lindo. Afinal, o dono virá ou não buscar a bacia? Bjo

Amelia Mari Passos: "O afeto já tinha tecido alguns fios de acolhimento ao pequeno ser" AiiI!!!que delicia de ler , escutar e assistir. Soninha Athayde tu nos faz bem. Um abraço

Anninha Simioni: Texto maravilhoso carregado de leveza, sensibilidade, amor e poesia, Parabéns e um abraço, Soninha!