domingo, 28 de abril de 2019

A FRASE QUE NÃO QUER CALAR...



Nunca se pensou que fossem usados com tal viés deletério.

Esse é o resultado de tornar-se um ser a serviço de outro ser que dizem ser superior.

Superior em malandragem? É isto?

Sim, também.

Estão no ápice da cadeia evolutiva. Pensam, raciocinam, refletem. Também, arquitetam, ludibriam, forjam, desviam. Todas essas últimas capacidades os colocam num patamar que desonra a espécie e o gênero ao qual pertencem.

Por outro lado, esses pobres “inocentes úteis”, os papagaios manipulados, estão desaprendendo o seu modo de comunicar-se. Eu ainda tenho o privilégio de escutá-los, nos fins de tarde, quando se recolhem. Antes, é claro, chegam e dão o último recado do dia:

- Está na hora, companheiros. Vamos nos recolher.

Seres frágeis, eles são capturados, domesticados e treinados a bel-prazer de seu dono.

Por terem uma capacidade que os tornam diferentes dos demais da espécie, demonstram, vez por outra, quando treinados, desempenhos que surpreendem pela capacidade e beleza de semelhança com a voz dos seres humanos.

Ah! Os seres humanos são os responsáveis por estas performances para o bem ou para o mal.

Aliás, nem sei se existem performances para o bem. Qualquer comportamento que o assemelhe a um ser humano contraria a sua natureza.

Prefiro os meus papagaios do bairro: livres, leves e soltos. Grazinando para mostrar que chegaram! Que ocupam, também, um espaço neste Universo que não é somente humano.

Quando cantam alguma letra de música, sob disciplina imposta pelo homem, ou quando falam a frase “Mamãe, Polícia!” estão, igualmente, sob condições impostas pelos humanos. Num e noutro caso são “escravos”. E um escravo degenera a própria espécie. É um ser vivo sem autonomia. Quando cantam, são apreciados. Ainda assim, são escravos.

Quando treinados para burlar a lei, são, também, apreciados, continuando escravos.

E aos seus manipuladores? O que resta?

Resta a capacidade flagrante de manipulação, do uso nefasto de sua superioridade, como ser pensante, direcionada ao mal, a tudo aquilo que o faz menor no conceito de cidadão. Apenas um elemento que vive a burlar o cumprimento de justas medidas por atos praticados ao arrepio da lei e dos valores morais. Aqueles valores que deveriam fazê-lo ser superior aos animais.

Pobres papagaios!

Ainda mais pobres os que deles se servem! Principalmente, para atos que depõem contra a segurança e o bem-estar de nossa sociedade.

Nunca se imaginou que, indivíduos à margem da lei, chegassem a tanto.

O pobre papagaio, responsável pelo aviso, foi apreendido, mas não ficou fichado. Foi encaminhado ao Parque Zoobotânico de Teresina, onde será avaliado por veterinários e biólogos. Vão verificar se ele tem condições de retornar à natureza.

Será que esta última frase aprendida, aquela que não quer calar, estará para sempre na memória?

E, agora, amigos?

Quem vai desprogramá-lo?

Se isto não acontecer, o coitado estará SEMPRE ALERTA!











sábado, 20 de abril de 2019

SELECIONE MELHOR...


Pois da janela vê-se uma árvore, que estende seus galhos, onde repousam alguns bem-te-vis.

No alto de um prédio, mais ao longe, chegam, em dupla, os conhecidos papagaios, comuns no bairro.

Sobre um telhado, bem mais próximo, um atento gato, vez por outra, espreguiça-se.

E o Sol a tudo e a todos ilumina na tarde que desce sobre o horizonte.

Um cachorro late ao longe.

O perfume que exala do pé de lavanda, bem mais próximo, completa o cenário.

É reconfortante sentir-se integrado nestes momentos que se sucedem frequentemente.

Ouvir o canto de um pássaro ou mesmo o silêncio é apaziguador.

Elevar o olhar e perceber, no céu, o movimento lento das nuvens e uma luz brilhante que se despede, pois o seu tempo findou. Quem sabe outra virá logo mais. Ou, talvez, a escuridão total seja o cardápio desta noite que se aproxima.

Um ciclo virtuoso que nos aproxima do nosso viver diário.

Sem esta percepção adulta, uma menininha, tempos atrás, também se encantava com esse acender e apagar de luzes. Tudo “comandado pelo céu” que cobria o pátio da sua infância.

Claro que, no escuro da noite, ficava muito difícil seguir o carreiro daquelas formiguinhas que se sumiam no porão de sua casa.

A seleção de imagens não se fazia presente naquela etapa da vida. Todas as imagens chegavam para acrescentar. Tudo era novo.

E hoje? Será tudo já tão velho, tão conhecido?

Com certeza, não.

Aquilo que encanta, que apazigua e que faz sonhar continua acrescentando, embora tais cenas sejam tão velhas quanto os olhos que hoje deparam-se com outras cenas pouco conhecidas: tão mais novas, tão mais violentas.

É fundamental para um equilíbrio no viver cotidiano que selecionemos as imagens e os cenários que nos cercam.

Tragédias reiteradas, mostradas à exaustão, devem ser vistas com cautela. Debates, em que as manifestações revestem-se de ironia, escárnio e termos chulos, tendem a se tornar desprezíveis por quem se preocupa com aquilo que tais comportamentos suscitam.

Não podemos e não somos alienados.

De forma constante, porém, ficar à mercê, em programas televisivos que se sucedem, de imagens e manifestações verbais que depõem contra os próprios participantes, nada acrescenta ao público que assiste.

Selecionar o que acrescenta, o que irmana, o que promove o conhecimento e o que encanta deve ser, cada vez mais, uma necessidade para que mantenhamos o equilíbrio corpo/mente.

É bom que sejamos um pouco crianças e possamos enxergar, no meio deste turbilhão, aquele carreiro de formigas, todas unidas, levando comida ao ninho, numa típica ação comunitária que a todas beneficiará.

Busquemos este caminho, pois somente ele nos qualificará como seres humanos dotados de pensamento crítico, reflexão e poder de decisão.

Urge que selecionemos aquilo que não ultrapasse o limite do tolerável.

Não podemos transigir com a barbárie que invade os lares pelas telas, espalhadas pelos cômodos e, igualmente, por aquelas outras constantemente manuseadas, a qualquer instante, em qualquer lugar, ao longo dos dias.

Salvemos a nossa capacidade de emocionar-se quando o olhar se perde no azul do céu, quando o som da cachoeira, seguindo seu rumo, nos leva junto ou quando o aperto de mão é o convite para uma nova amizade.

Estas são coisas que acrescentam em qualquer tempo e em qualquer idade.

Afinal, aproveitemos esta época de renovação para revermos nossos propósitos de vida e quais sentimentos, comportamentos e imagens farão parte do nosso dia a dia. 

FELIZ PÁSCOA!







quinta-feira, 18 de abril de 2019

SERIA UM SONHO?


Para as belas noites, ao lado do ser amoroso, é uma dádiva pousar o olhar sobre uma lua que despeja sensualidade e propicia palavras ardentes.

Como não usufruir desses momentos que, ao que parece, a lua ainda continua propiciando.

Como não encantar-se, mesmo através de grades de segurança, colocadas em nossos prédios, com o seu brilho e o fascínio que ainda exerce para tantas pessoas.

As grades não são empecilho. Afinal, não podemos tê-la por perto. Não podemos visitá-la e caminhar sobre os passeios que nossa imaginação crê que possam existir por lá.

Diferente de quando estas grades ou cercas impossibilitam o acesso a espaços públicos. Nossos olhos e ouvidos abastecem nosso ser do genuíno encontro com a natureza. Ela está próxima a nós. Temos o direito de usufruí-la em paz e com segurança.

É claro que podemos ser atingidos por um meteorito. Já aconteceu. Em 15 de fevereiro de 2013, a cidade russa de Chelyabinsk foi atingida por um meteorito, danificando casas e ferindo pessoas, incluindo aquelas atingidas por destroços e pelos efeitos da radiação e que apresentaram queimaduras.

Por aqui, este nosso recente visitante veio apenas para mostrar a força que a natureza impõe aos habitantes deste planeta.

Claro que escolheu a costa gaúcha só para poder colocar à prova sua força frente ao laço que poderia enfrentar, caso algum taura estivesse de plantão. Àquela hora, porém, já alta madrugada, Juvenal, reconhecido laçador, estava acolherado, nos pelegos, com aquela guria mais cobiçada que fruta temporona.

Aquele clarão, apenas um meteoro, serviu para mostrar a beleza da nossa costa gaúcha.

Caso fosse um meteorito, que são pedras que sobrevivem à entrada na atmosfera da Terra, chegaria ao chão destruindo o que encontrasse pela frente. Daí, a história seria bem diferente. Juvenal até poderia laçá-lo.

Agora, laçar um clarão: nem ele conseguiria. Está, portanto, absolvido desta sua omissão. Afinal, aquela intensa luminosidade apenas serviu para perceber, em detalhes, a beleza daquela prenda que enfeitava seus pelegos.

Agora, relembrei momentos, que já se perdem na poeira do tempo, e que nos alimentavam o corpo e alma com sons, cheiros, cores, recantos e até a presença de pequenos animais num minizoológico que existia no nosso Parque da Redenção.


Voltando aos nossos parques e praças, lembro sentir o cheiro da grama molhada: outra dádiva que nós, passantes, podemos usufruir ao atravessarmos estes espaços verdes que estão ao nosso dispor. Parques e praças sempre estiveram abertos e prontos a nos oferecer pequenos oásis para o descanso, o convívio e para nos sentirmos integrados à natureza. Precisamos dela. E ela é gratuita. É nossa parceira. Ela e nós somos indissociáveis. Nada pode estar criando obstáculo a essa possibilidade de integração.

Desta vez, nos livramos de um meteorito. O que se passa fora do planeta é imprevisível.

Embora os cientistas estejam atentos e sempre de plantão, o Universo é fascinante e imprevisível o desdobramento de suas conexões. Avançam os estudos sobre a formação de Buracos Negros, através do Event Horizon Telescope (Telescópio do Horizonte de Eventos), que aumentará o número de radiotelescópios para que as observações se ampliem e novas informações sejam coletadas.

Pois é! Desta vez, mesmo acordado, Juvenal não teria chance alguma de laçar o clarão.

E frente a um Buraco Negro? Um fenômeno que absorve a luz que é a coisa mais rápida que existe?

Acho que o vivente iria negociar a construção de um muro, separando a terra gaúcha do resto.

Não sei se o Buraco Negro iria topar...

Acho que o taura não entendeu bem esta coisa de Buraco Negro.

Ele e seu laço nada temem: muito menos algo que é um buraco.

Imagina!

Tenho pra mim que é melhor o Juvenal descansar nos braços daquela prenda e ser tomado por sonhos. Afinal, parece que ele estava mesmo a sonhar. Tudo isto logo após aquele convite aceito e retribuído sob a luz daquele luar convidativo.

Ah, Juvenal!

Depois daquela noitada, tu andas mais faceiro que guri de bombacha nova.

Ah! Por favor, esquece o Buraco Negro.

Este buraco não faz parte do teu universo, taura!

Agora, as praças e parques fazem parte do teu cotidiano, do nosso dia a dia, da nossa vida. E precisamos tê-los ao nosso dispor: sem grades, sem muros. Seria um sonho ainda possível?