domingo, 11 de agosto de 2019

RECORDAÇÕES

Um parque, do qual guardo tantas boas recordações, merece meu constante passeio dominical. Como esquecê-lo! Quando ainda pequena, passeava com o pai por entre suas veredas, tendo sido registrados estes instantes em fotos que se conservam em álbuns, resistindo ao tempo como saudosa lembrança.

Ele fez parte de histórias vividas por antigos porto-alegrenses que cresceram passeando por entre seus caminhos de um puro verde acolhedor.

E assim se manteve, bem mais tarde, quando ainda serviu de um lugar acolhedor para quem não desfrutava de um sol intenso e carecia de jogar conversa fora com a mãe já idosa, ambas sentadas em antigos bancos, até hoje existentes, marcando presença como a desafiar a poeira que o tempo traz aos mobiliários antigos.

Hoje, vê-los ainda íntegros satisfaz em parte a saudade daqueles momentos de convívio. Bancos num parque: todos com inúmeras histórias vividas por seus habituais visitantes.

Um domingo de agosto, com sol e música no Parque da Redenção, é tudo de bom para quem nasceu neste mês. E neste dia 11 de agosto, Dia dos Pais, este parque ainda é marcante, pois as lembranças afloram e comprovam que o tempo é o que resiste, sendo tudo na nossa caminhada. A sua percepção é o que nos mantém firmes e fortes.

Nosso olhar criança, embora distante, permanece na memória e traça nossa história individual naqueles primeiros tempos de vida.

E, seguindo assim, vamos acumulando momentos de olhares mais maduros, porém mais esperançosos, pois ela, a esperança, é que nos move avante.

Neste domingo, o olhar mais uma vez se deteve sobre aqueles bancos, sobre aqueles caminhos e renovou a esperança de que novos e luminosos agostos se somem a este.

A todos aqueles, que participaram destes meus antigos momentos, fica a minha eterna saudade.

Um belo domingo, uma data a ser comemorada, pois aqui estamos para reviver, pelas lembranças, tudo aquilo que a memória é capaz de guardar num tempo que se mostra íntegro para quem se detém a mantê-lo perenemente vivo e, igualmente, renovado a cada novo olhar durante a nossa caminhada.







segunda-feira, 5 de agosto de 2019

DESPACITO...


Depois de competir com uma lagartixa e uma flor, um Cuchimilco, ou um MILCO para simplificar, foi escolhido como mascote dos XVIII Jogos Pan-Americanos, um evento multiesportivo que tem como sede, neste ano de 2019, a cidade de Lima, no Peru.

A música, que encerrou a Cerimônia de Abertura da Competição, foi a conhecida Despacito. MILCO deve ter ficado muito feliz em, finalmente, tornar-se mais conhecido dos próprios peruanos atuais.

Quanto tempo passou-se desde a sua criação!

Herança da civilização Chancay, que habitou aquelas terras peruanas entre 1100 e 1470, antes ainda dos Incas, MILCO tem muita história para contar.

Há séculos, este artefato com características humanoides, feito em argila à época, tem sido encontrado em escavações, ao lado de restos mortais humanos. Este fato despertou a curiosidade de arqueólogos que interpretaram estes achados como sendo importantes nos ritos funerários daquela população. Verificaram ainda que sempre apareciam nas versões masculina e feminina, com os órgãos sexuais à mostra. Os pesquisadores, diante disso, imaginam que pudessem ser símbolos de fecundidade e fertilidade. Seus braços, sempre abertos, são vistos pelos estudiosos como um sinônimo de respeito aos deuses ou uma postura de oração.


Hoje, o MILCO dos Jogos Pan-Americanos tem os braços abertos como sinal de boas-vindas a todos os atletas que por lá passarem.

A peruana Andrea Medrano Moy, ilustradora e desenhista, confeccionou o MILCO, mascote que venceu a disputa entre uma lagartixa de nome Wayqi, que habita o deserto da costa peruana, e uma flor, típica do inverno de Lima, chamada Amantis. 


Segundo os arqueólogos, a escolha de MILCO, como mascote, favoreceu a divulgação entre os mais jovens da herança deixada pelos ancestrais que habitaram aquelas terras peruanas.

Segundo Walter Tosso, arqueólogo que dedicou os últimos 20 anos ao estudo dos achados do povo Chancay, este Pan-Americano, ao escolher MILCO como mascote, trouxe a lume aquilo que muitos peruanos desconheciam de sua própria história.

A beleza plástica da Abertura dos Jogos Pan-Americanos, que mostrou uma escultura com 20 metros de altura, em homenagem ao Monte Pariacaca, situado na Cordilheira dos Andes, próximo à cidade de Lima, foi uma excelente ideia.

Usaram com grande criatividade a escultura, pois houve representação da fauna, da flora, da cozinha peruana, inclusive transformada por último num grande tear onde se projetou um típico tecido peruano.

Os 6690 atletas participantes destes XVIII Jogos Pan-Americanos puderam, com visível alegria, representar a música oficial de Abertura Jugamos Todos.

A partir de agora, através da bela apresentação de Abertura, onde Lima expõe toda a sua cultura e riquezas, o Peru passa a ser bem mais do que as Ruínas de Machu Picchu.

Quem deve estar feliz é MILCO, mascote que tem dado boas-vindas a todos os que chegam à cidade-sede.

A música de encerramento, embora sua letra expresse forte sensualidade, seu título, por outro lado, lembra o tempo exato para que se conquiste um lugar de importância vital ao lado do ser desejado.

MILCO, sem dúvida, alcançou “DESPACITO”, após tantos séculos, seu lugar de destaque junto ao povo a quem, por tanto tempo, acompanhou até os últimos instantes por aquelas terras incas.


Jugamos Todos - Abertura dos Jogos Pan-Americanos 2019








domingo, 28 de julho de 2019

TÃO LONGE... TÃO PERTO...

E o encanto? Desapareceu?

Passaram-se cinquenta anos. Parece que foi ontem. Naquele 20 de julho de 1969, assistíamos àquela imagem de um pé que pisava aquele solo desconhecido.

Para os amantes, que se aninhavam sob sua luz acolhedora, restou uma sensação de perda de uma parceria silente, mas conivente com todas as cenas amorosas da época.

Ela sempre inspirou compositores, como Silvio Caldas e Orestes Barbosa, a transporem para melodias a sua presença quase física. Assim aconteceu com Chão de Estrelas em que a Lua, furando o zinco do barraco, salpicava de estrelas o chão, possibilitando que a amada pisasse nos astros distraída.

A partir da chegada do homem à Lua, teria ela perdido aquele apelo sensual que sempre acompanhou os momentos mais íntimos de tantos que dela se serviram para torná-los ainda “más calientes”.

Reconheço que o desconhecido traz sempre uma aura de mistério. Acredito, porém, que a sua luz e beleza são suficientes para, ainda, suscitar momentos de grande paixão. A imagem que decodificamos, a partir do olhar pessoal, é que dará a medida da sua relevância como partícipe de um enlevo amoroso.

Há quem, à época, musicasse uma letra que alertava ter chegado a hora de escrever e cantar, talvez, as derradeiras noites de luar: trecho da música Lunik 9, composta e gravada por Gilberto Gil.

A chegada à Lua não foi suficiente para matar o verso, como se questionava, pois o seu brilho não se desfez.

Havendo luz, brilho e tantas questões ainda não esclarecidas, a sua permanência no Universo, ainda não totalmente desvendado, continua sendo inspiradora.

Nossos olhos buscam-na como fonte de luz para iluminar momentos cálidos junto ao ser amado, ou mesmo no vazio da solidão, onde serve de parceria sempre que a sua luz, transformada em luar, espalha-se sobre um leito. Sua luz não foi diminuída pela pisada de Neil Armstrong em seu solo.

E o que interessa é a sua luz. Por vezes, esconde-se não por vontade própria, mas porque ela, também, segue as ordens do Universo.

Quando volta, porém, é com força total.

Despertou, desde sempre, vários letristas de músicas que se tornaram reconhecidas no meio musical internacional como Moonlight Serenade. Nesta conhecida melodia, o apaixonado aguarda no portão da casa da amada para recebê-la com uma canção de amor sob um luar inesquecível.

Pois é! Ao mesmo tempo, tão longe e tão perto!

Há pouco, novas imagens da Via Láctea foram disponibilizadas pela NASA, graças ao Observatório Chandra, instalado há 20 anos em solo lunar, na data de 23 de julho de 1999, levado pelo Ônibus Espacial Columbia.

Esperar mais o quê?

Há a possibilidade, atualíssima, quem sabe, de que o nosso instrumento mais recente de elucidação de dúvidas, o VAR, seja acionado para ver-se em que distância e movimentação giratória está o nosso satélite natural, considerando o planeta Terra.

Fazer blague é o que resta aos habitantes desta minúscula esfera, também giratória.

Apaixonados ainda existem por aqui. Não sei se a Lua ainda mantém este fascínio todo como dantes.

Nunca se sabe a reação de quem é relegado a uma menor importância. Daí, a necessidade de uma checagem. E nada melhor do que o VAR. Será?

Eu prefiro ficar com a antiga Lua. Aquela que invadia aposentos, que iluminava portões, que possibilitava, pela palavra e pela imagem, produções artístico-culturais relevantes.

E pra isto o VAR torna-se desnecessário.

Deixem-na quieta onde está. Deixem-na fazer parceria com os seus companheiros de Via Láctea. A ideia de Universo é, por demais, complexa. Usufruamos apenas dos momentos que estes corpos celestes nos oferecem, alternando dias e noites, luzes, trevas e claridades... O resto? Nossa imaginação constrói.





 Chão de Estrelas  - Silvio Caldas




Lunik 9 – Gilberto Gil


Moonlight Serenade – Frank Sinatra