terça-feira, 14 de janeiro de 2020

A FUGA DOS ESTORNINHOS...



Acompanhar as imagens, que se modificam pelas sombras e luzes e que se mostram por entre nuvens, é um exercício que traz momentos de paz interior e de incentivo à imaginação.

Vez por outra, surgem verdadeiros bailarinos que dão vida a este cenário. Pássaros que retornam em bando ou mesmo sozinhos aos seus ninhos. Saíram para passear, mas retornam ao final do dia. Ouvir seus diversos cantos é uma dádiva para nossos ouvidos. Um retorno ao lar é sempre bem-vindo, inclusive para os passarinhos.

Este é um comportamento diário, constante e pleno de significados para quem se detém a observá-lo. Saem para passear, mas, também, para buscar alimento em locais que somente os passarinhos conhecem.

Observá-los é quase voar junto. É sentir-se livre a voar num espaço livre. É dar rasantes. É pousar para cantar, desafiando o oponente ou conquistando aquela que se achegou há pouco. A fuga não é o que lhe motiva. O viver pleno é um voar, por vezes, sem rumo, mas cujo norte é bem conhecido quando chegada a hora do partir, do seguir ou do retornar.

Diferentemente dos estorninhos, pássaros oriundos da Rússia e da Europa Oriental, que fogem para Israel onde buscam passar o inverno. Escolhem o sul de Israel, a Terra Santa, chegando aos milhares e oferecendo um espetáculo deslumbrante ao girarem em alta velocidade, criando um balé belíssimo. Migram nos períodos em que a Natureza mostra-se hostil, não pedindo licença para ingressarem em território estrangeiro.

Licença? Para quê?

Cruzam os céus numa dança quase hipnótica, formando nuvens, tamanha a quantia, ajudando-se, mutuamente, a encontrarem comida e a livrarem-se de possíveis predadores.

Neste dia 7 de janeiro último, os estorninhos chegaram. O espetáculo foi apreciado por todos que se detiveram a olhar o céu de Israel.

Não houve necessidade de visto, nem de autorização. A Natureza, autora e cúmplice desses deslocamentos, permite que se cumpram seus desígnios da melhor forma possível.

Quem melhor do que ela, sábia por natureza, para saber o que é melhor para estes belos seres que enfeitam os céus e que não conhecem fronteiras.

Nós temos muito que aprender com ela. Ela nos abriga, mas não a consideramos com toda a importância que possui.

Ao contrário dos passarinhos, temos regras a cumprir que nos possibilitam conviver em harmonia.

Fronteiras são necessárias e úteis, porém tenhamos presente a importância do diálogo como forma de comunicação e entendimento.

Num ano regido pelo Sol, nosso aliado na saúde e na luz que ilumina nossos dias, que ele, soberano, nos propicie clareza maior na urgência de uma conscientização quanto ao cuidado com a Natureza. Uma tomada de posição faz-se urgente, considerando os sinais de alerta que estão chegando até nós, seres totalmente dependentes da mãe Terra e de seus coadjuvantes.

Ah! As reticências do título devem-se ao pensamento do nosso Mario Quintana, constantes do Caderno H, publicado em 2013, página 137, que diz:
As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho.

Esses passos levam-nos à caminhada pelo planeta que pede socorro, pois não suporta mais tamanha desídia e descompromisso com os efeitos nefastos de um comportamento que nos está levando de encontro à Natureza. Ela que nos acolhe e abriga como toda a mãe extremosa.

Refletindo em outro belo poema de Quintana, ESCONDERIJOS DO TEMPO, modificado, para que os estorninhos possam voar na poesia do nosso grande poeta, podemos imaginar que:

Aqueles estorninhos são pequenos poemas que voam e pousam, por algum tempo, em terras desconhecidas. Alimentam-se e, logo mais, partem. E nós, aqui, embaixo, nos sentimos vazios, embora maravilhados, por sabermos que deles obtemos inspiração para novos poemas.

Ah! Que bom se a poesia fosse capaz de despertar o homem para aquilo que está em suas mãos fazer, mas não faz.

Talvez, porque não leia poesia. Quem sabe, porque sua sensibilidade adormecida não mais quer acordar, porque ser sensível, atuante e participativo dá trabalho.

Quantas outras reticências poderíamos imaginar a partir dessa possibilidade?




Pássaros migratórios no céu de Israel

Revoada






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