segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

SORRIA...



Aprenda a sorrir com seus olhos. Embora seu sorriso, por ora, tenha se tornado invisível, não desista de sorrir. Ele é a possibilidade de desaguarmos nossas emoções. A alegria e a tristeza podem obter benefícios quando sorrimos. Através dele, aplaudimos nossas ações de mérito ou, mesmo, seguramos aquelas lágrimas que teimam em brotar por fatos alegres ou tristes.

Este recente adereço, que nos enfeita o rosto, tem possibilitado, segundo algumas jovens, a possibilidade de pousarem seus olhares sobre outros olhares, assegurando a elas certa proteção quanto à direção para onde esse olhar pousou.

Para as mais experientes, não tão jovens, este mesmo adereço do “novo normal” tem proporcionado a possibilidade de esconder as tantas rugas que já vão aparecendo.

Quem não deve estar gostando disso são as farmácias que preparam os cremes dermatológicos, pois agora seu uso tornou-se quase desnecessário. Pelo menos para quem costumava usá-los como parte da maquiagem do dia a dia.

Ah! E o alerta, nos estabelecimentos, SORRIA! VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO: perdeu total sentido.

Este adereço, porém, não é o objeto desta reflexão.

O que se impõe, nestes tempos em que o dia de amanhã encerra contínuas incertezas, é a certeza de que devemos manter nosso rosto iluminado pelo sorriso que, embora não seja visível, faz toda a diferença, principalmente, para quem o mantém como uma espécie de proteção contra os males, as injustiças e um desassossego generalizado que está a nos roubar a paz interior.

O nível de agressividade, de um transbordamento das emoções negativas, pode ser atenuado pela conscientização de que sorrir passa a ser um remédio.

Quando Belinha recebeu um bom-dia, abafado pelo novo adereço, ergueu o rosto e pousou seus olhos sobre quem a havia cumprimentado. Já com os olhos sorrindo, apertadinhos, respondeu àquele quase pedido de alguém que queria ser visto, ouvido e atendido.

Embora não conhecesse o tal passante, respondeu prontamente, pois ainda nos sobrou esta forma de interação com o outro. É claro, com a devida distância, pois a proximidade é um fator assustador. Pelo menos, por ora.

A par desse encontro real, lembrou-se de outros tantos em que a imaginação criou uma oportunidade irreal para sorrir de um momento apenas sonhado, mas que abortado da própria imaginação. Hoje, é motivo de um riso que é um desabafo. Uma frustração que se serviu desse remédio, que nos acalma, proporcionando àquela jovem a dimensão da real importância daquele olhar, que queria tivesse existido.

Hoje, este sorriso, gravado na memória e expresso num suave mexer dos lábios, devolve-lhe a esperança de que novos possíveis olhares estarão sempre de prontidão a qualquer momento, em qualquer lugar.

Sorrir-se de si próprio é um remédio ameno e sem efeitos colaterais. Ao fazê-lo, já elaboramos, previamente, todo um raciocínio em torno de nossa própria participação naquele episódio. Então, trata-se apenas de jogá-lo fora, ao vento.

Sorrir para o outro já é um novo começo.

Quem sabe...

Agora, sorrir do outro já encerra alternativas difíceis de mensurar. Somente frente às situações que ensejarem tal atitude é que se poderão antever possíveis reações.

Fiquemos com o sorriso que cumprimenta. Aquele que nos ilumina como o Sol que brilha, levando alegria através dos nossos olhos. Eles que ainda permanecem descobertos e prontos para novos encontros.

Novos olhares serão sempre bem-vindos.

E se expressarem um sorriso: melhor ainda.

 

 

 

 

 

domingo, 20 de dezembro de 2020

EM BEM MENOS TEMPO...



Passaram-se trinta anos até que, um dia, aqueles olhares se cruzaram. E nunca mais se separaram.

Tempo este visto da perspectiva de um par de olhos. Do outro par, bem mais tempo passou-se. Foram quarenta e cinco anos de espera. Mas, pelo visto, valeu a pena todo este tempo de espera, pois permaneceu sob encantamento até o final de seus dias.

Lembranças que o tempo não apaga para quem viveu intensamente tantos momentos juntos.

O tempo, como fração de segundo, é importantíssimo, pois é capaz de criar laços de admiração, afeição e amor.

O tempo estendido, ano após ano, é o grande senhor de nossa caminhada. Vão-se somando anos, que vão nos tornando capazes de senti-lo com venerável respeito.

Por consequência, vamos aprendendo a usá-lo de forma racional, com mais atenção à importância que tem no nosso dia a dia.

O ritmo atual de atividades, que nos move, é por demais desafiador.

Este infortúnio, que se abateu sobre as populações espalhadas pelo globo terrestre, trouxe a possibilidade de nos sentirmos reféns do tempo. No relógio, as horas sucedem-se, inexoráveis, com a mesma rapidez de sempre.

O que mudou ou quem mudou?

Tudo mudou. Mudamos todos.

Acredito que a valorização do tempo, por nós percebida, será o grande legado a ser deixado após este infortúnio.

Uma nova dimensão do que significa um abraço, um olhar renovado sobre uma imagem familiar, bem mais valorizada: serão dados relevantes a partir de agora.

Afinal, até no Universo, neste dia 21 de dezembro de 2020, teremos um encontro, depois de 800 anos, dos dois maiores planetas do Sistema Solar: Júpiter e Saturno.

O fenômeno, que aconteceu ainda na Idade Média, deverá ser observado nos céus, onde uma forte luz será visível a olho nu, conforme dizem os astrônomos. Este ponto brilhante faz lembrar a Estrela de Belém que teria direcionado os três reis magos até Jesus Cristo.

A chamada Grande Conjunção acontece a cada 400 anos. A última foi registrada no século 17, em 1623, mas segundo provam os cálculos não foi na época de Natal.

Segundo os estudiosos, o mais semelhante encontro aconteceu em 1226, no século 13, na época do Natal. Portanto, segundo os astrônomos, há quase 800 anos. Ainda, de acordo com estes cientistas, esta será a maior Conjunção entre Júpiter e Saturno durante os próximos 60 anos. Depois, somente em 2080.

Diante dessa medição do tempo, que ultrapassa séculos, não devemos nos assustar com este tempo em que aguardamos uma eficaz e segura proteção aos nossos corpos.

Ele, o tempo, continua a nos exigir que mantenhamos nossas atividades, que olhemos com ternura e compaixão os menos afortunados, dando-lhes oportunidades de reinserção social e que cuidemos de nossos entes queridos, como a nós mesmos.

A grande lição que fica é a conscientização da importância do tempo em nossas vidas. O que fazemos desde o amanhecer até o anoitecer. Quem e o que estamos priorizando.

Que tempo sobrará para revermos nossas atitudes no dia a dia.

Que tempo, por fim, dedicaremos àquele olhar que seduziu e que foi motivo de momentos felizes. Se acaso não mais existir, buscaremos no céu, que nos cobre, sinais para que a imaginação navegue e possa saciar-se com tanta beleza.

Mesmo que nuvens surjam repentinamente, elas passarão, assim como este momento nebuloso pelo qual passamos.

Tudo, enfim, passará. Em bem menos tempo que a Grande Conjunção.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

ELA E SUA MELHOR VESTIMENTA


Ela nos identifica, nos socializa, nos distingue dos demais seres vivos da natureza.

Com ela podemos quase tudo. Podemos trocar comunicação com o irmão, pedir auxílio, também, socorro diante de agressões. Podemos orar sempre, mesmo que não sejam tempos de pandemia. Sua oralidade é característica humana.

Ler, igualmente, requer sua presença. Ela é imprescindível.

Os variados meios de comunicação apresentam-na, às vezes, despojada, displicente, inoportuna, insensível.

Já nos embates diários, pelas ruas de uma cidade, apresenta-se em sua oralidade, muitas vezes, de forma agressiva, cercada de palavrões.

Ela é, porém, repositório de informações, de conhecimento, de cultura.

Desde o acordar até o amanhecer convivemos com ela de forma constante.

Ela é nossos pensamentos levados ao vento, ao outro ou a uma folha de papel, onde repousará para que seja lida quando alguém se dispuser a fazê-lo.

Ela aguarda, pacientemente, que a usemos por amor a ela, por necessidade, ou, mesmo, por brincadeira em algum cântico que nos afague o coração.

Amá-la é nossa obrigação. Usá-la? De que forma?

Com afeto e parceria quando for o momento adequado. Com diligência, rapidez, competência e responsabilidade quando a situação assim exigir.

Um detalhe, porém, deve se fazer presente quando alguém a deposita sobre uma folha em branco e deseja transmitir o que todos já conhecem, já sabem.

O amor por ela tornar-se-á presente, visível para o leitor quando estiver revestida daquilo que a faz mais bela: a poesia.

A vestimenta poética da palavra escrita é o diferencial para o leitor que absorverá o conteúdo, embalado em uma espécie de mel, como dizia o grande poeta Manoel de Barros. Ao falar da Poesia, dizia ele:
 
“Poesia é uma espécie de mel da palavra”.
 
Eu diria que este manto poético, que cobre a palavra, pode e deve ser usado em todos os textos que não sejam puramente informativos como os jornalísticos.

Só com esta cobertura, que nos lembra o mel, é que podemos fazer frente aos desatinos, aos reveses, aos momentos de incerteza a que estamos submetidos.

Portanto, só com ela, com esta qualidade que a Poesia possui, é que podemos ter prazer na leitura de qualquer texto que se revista desta doçura que nos mantém, durante esta caminhada terrena, em busca da utopia. Ela que, segundo Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, está no horizonte e serve para que nos movimentemos em sua direção.

Ela nos conservará sempre em busca do melhor para nós, como sociedade planetária, numa evolução como cidadãos que dialogam, que acordam, que, empaticamente, veem-se no outro como um irmão.

Com relação ao texto criativo, que a palavra poética seja nossa parceira em leituras produtivas para o nosso bem, de todos que nos cercam e que se estenda a todos aqueles que são leitores contumazes.

Que ela nos acompanhe não apenas frente a um texto considerado poema, mas que o leitor encontre esta mesma cobertura em textos como, por exemplo, crônicas do cotidiano. Este nosso dia a dia tão atribulado, tão tenso por tantas notícias negativas, pede um esforço que a palavra escrita pode oferecer. Torná-lo mais ameno, mais acolhedor, mais esperançoso para quem, ainda, acredita num amanhã promissor.

Não se está a propor o acobertamento de fatos, mas a repassá-los de forma sensível onde a cobertura poética tem o privilégio de sustentar, através da criatividade, um texto que o leitor poderá usufruir de forma amena e suave, sem as agruras que transcorrem diariamente.

Continuemos neste caminho que a cobertura poética pode nos oferecer. Ela é um elixir para que a utopia seja mantida viva e auxilie em nossa caminhada.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 29 de novembro de 2020

O ENCANTO POR ESTAS CORES




O pátio e a praça sempre foram atrativos para aquela menininha. O gramado e as pequenas árvores faziam par com o bangalô pintado de verde. Pelas ruas, observava que havia muitas árvores, todas esbanjando um verde de variados tons.

Ao amanhecer, um sol radiante despontava no horizonte, enfeitando aquele céu muito azul.

Cores que enfeitaram a infância e que se mantêm na retina até hoje. É um legado que a Natureza deixou na memória visual daquela garotinha.

Talvez, por isso, o dia 19 de novembro, dedicado à Bandeira Nacional e cujas cores são exatamente aquelas que vestiam o olhar daquela garotinha, seja por ela tão reverenciado.

Temos o verde das matas, o amarelo do sol que nos banha intensamente, pois somos um país tropical, somados ao azul que nos cobre e ao branco que simboliza a paz. Todas estas quatro cores devem nortear nossa trajetória.

Se atentarmos para o valor e para o que representam estas quatro cores, veremos que é preciso respeitar o poder advindo da Natureza, desde que haja conscientização e ordem: o que nos trará progresso.

A bandeira, que tremula sob o Hino Nacional Brasileiro, traz aos olhos e ouvidos de quem assiste o sentimento de proteção daquela que nos abriga desde o nascimento e que por nós deve ser reverenciada.

Se por alguns é vilipendiada, estes não nos representam. Devemos amá-la, respeitá-la e envidar todos os esforços para honrá-la.

Ela nos representa como cidadãos, nascidos e criados neste chão pátrio. Um civismo adormecido é o que parece estar existindo.

Investir em escolas que ministrem conteúdos necessários para o bom desempenho futuro do alunado, bem como fazer transitar valores que elevem o amor à Pátria e aos símbolos que a representam, deveria ser obrigação pedagógica dos colégios.

E a Natureza foi pródiga para conosco. Temos que nos orgulhar do que dispomos e do que podemos melhorar para que todos os cidadãos tenham acesso a benefícios que o trabalho proporciona.

O trabalho será o caminho para que o progresso apareça. Claro, desde que a ordem seja mantida para o bem de todos.

A bela letra do Hino à Bandeira é do nosso poeta Olavo Bilac (1865-1918) com música do maestro Francisco Braga (1868-1945).

Nela, há a referência à verdura sem par das matas, ao céu de puríssimo azul, ao esplendor do Cruzeiro do Sul e ao querido símbolo da terra que representa, da amada terra do Brasil.

Considerada pavilhão da justiça e do amor, traz, em sua letra, ínsitas a ordem e a paz (símbolo augusto da paz).

E o Progresso?

A estrofe que segue contempla este vaticínio:


Contemplando o teu vulto sagrado,

Compreendemos o nosso dever.

E o Brasil por seus filhos amado,

Poderoso e feliz há de ser!


Estas cores, dispostas nesta bandeira, sempre encantaram aquela que, hoje, presta homenagem ao símbolo que nos identifica como cidadãos brasileiros na origem ou mesmo daqueles que buscaram em nossa pátria o reconhecimento de uma nova cidadania.

Este é um olhar cuja emoção de hoje é fruto ainda daquele olhar de criança e, como tal, dispensa a parte histórica que dá outra origem às cores de nossa bandeira. Dados históricos, que remontam séculos passados, revelam que Portugal adotara estas cores como símbolos usados por lá. Colonizados por eles, estas cores foram transferidas até nosso país e adotadas por nós com novos significados a partir da Natureza aqui existente e da índole do nosso povo.

Particularmente, prefiro a letra de Olavo Bilac e a minha memória de criança fazendo parceria com o poeta.

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

COMO UMA ONDA...


Aquela onda foi uma primeira que encobriu o pezinho daquela garotinha que conheceu, naquela tarde, a praia de Ipanema: a nossa, a de Porto Alegre.

Muito tempo após, algumas outras poucas vezes, novas ondas encobriram aqueles pezinhos já crescidos, temerosos da força das águas. Agora, de mares nunca dantes visitados.

A força de uma onda depende de qual mar se esteja falando: o de dentro ou o de fora?

Aquela menininha nunca gostou de movimentos bruscos. Isso incluía o ir e vir de um balanço que existia no pátio de sua casa. Ficava ali sentada, fazendo um leve movimento com os pezinhos, suficiente para ficar encantada com a magia que sentia ao sentar-se naquele balanço de sua infância. Hoje, acredita que se sentia mais segura em sentar-se e deixar a imaginação correr solta. Esta, sim, sempre gostou de voar para bem longe, não importando a velocidade imprimida para tal.

Ondas volumosas, como espetáculo, oferecem belas imagens. Suaves, favorecem que o pensamento possa navegar junto. E quando este navega dessa forma, em plácidas águas, o resultado, à época, era sonhar com mundos imaginários. Hoje, ainda, acredita que estas suaves ondas sirvam para que nosso pensamento adentre no território da imaginação e nos brinde com cenas em que a esperança se concretiza em suaves encontros entre este olhar e aqueles outros que buscam a mesma harmonia e paz.

Ondas revelam-nos, também, como a vida segue este ritmo mais frenético, às vezes, ou mais tranquilo em outras. Tudo, porém, indo e voltando e, novamente, indo e voltando durante o trajeto que percorremos nesta caminhada chamada VIDA.

Realizações e superações compõem aquelas ondas positivas. Para tanto, o sonhar é fundamental.

Depois, segue-se o realizar sob quaisquer tipos de ondas: benfazejas ou de difícil transposição.

Nada como um dia após o outro. Nada como ondas que chegam e somem.

Estamos envolvidos neste torvelinho de águas, cujas ondas são contínuas. Nossos afazeres e atividades navegam neste mar de ondas favoráveis, que nos impulsionam, ou naquelas outras que podem nos fazer soçobrar.

Caberá a cada um, de forma individual, fazer frente ao potencial destrutivo, em maior ou menor grau, transformando-o numa possibilidade criativa dentro de um cenário adverso.

Busquemos, na imaginação, soluções que possam adequar-se ao momento.

Criemos situações que nos permitam desfrutar de instantes de serenidade, de reflexão, de elaboração de estratégias para o enfrentamento de energias tão negativas que navegam entre nós.

Assim como as ondas que nos atingem, de forma violenta ou nem tanto, saibamos discernir a diferença entre a onda externa e a interna. Cuidemos de nossas ondas internas, pois essas são as mais importantes, porque capazes de combater a entrega, a descrença e o total desalento.

Sabemos que tudo passa, tudo sempre passará. A conhecida letra de Como Uma Onda, dá-nos o caminho da esperança para superarmos estas ondas negativas que estão nos acometendo.

A esperança em dias melhores alimentará nossa mente com saudáveis pensamentos que permitirão uma visão da realidade que nos é oferecida a cada novo amanhecer: de que tudo passará. O que importa é sentir-se protegido por uma mente sã. O corpo, com certeza, agradecerá.

Ah! Os movimentos bruscos, que a garotinha não gostava, serviram para ter sua atenção, hoje, redobrada, atenta e capaz de discernir sobre aquilo que vem de fora.

As ondas internas devem possibilitar que se navegue em águas plácidas, mesmo que as externas estejam quase a nos fazer submergir.

Se as ondas são constantes, e o são, não nos assustemos com aquelas que poderão ainda surgir no horizonte. Elas passarão dando lugar a outras que, também, perder-se-ão mar afora, pois nossa vigilância, criatividade e fé convivem, desde sempre, com elas.

COMO UMA ONDA, nós, também, superaremos este ir e vir, pois nos assemelhamos a ela e renascemos a cada amanhecer.









segunda-feira, 2 de novembro de 2020

SOB AS ASAS...


Quem se sentiu assim, sob as asas, sabe do que se está a falar. Aquela proteção, que vamos reconhecê-la bem mais tarde, é que nos dá a dimensão do valor de quem nos protegeu.

Belinha traz viva em sua memória todos os momentos que, ao longo dos anos, somaram-se, perfazendo esta caminhada de lembranças boas; outras, nem tanto. Todas serviram, porém, para amealhar alternativas para as etapas que se sucederam neste trajeto chamado VIDA.

Toda a proteção deve ser usada para que aquele pequenino ser possa alçar voo, com segurança, quando a maturidade bater à porta.

Neste dia especial, lembremos, com saudades, de todos os que conosco estiveram durante o tempo que lhes foi permitido estar.

Não esqueçamos, porém, que ainda somos caminhantes. Embora livres e já amadurecidos pelo tempo, ainda assim precisamos de proteção. Onde estará a proteção de que precisamos para vivermos, hoje, num coletivo tão ameaçador? Onde estarão nossos defensores?

Liberdade e proteção podem e devem andar de mãos juntas. Uma não exclui a outra. A verdadeira cidadania é quando a liberdade lhe é oferecida, mediante retidão nas atitudes e a consequente proteção como contrapartida.

Conclui-se que seremos, sempre, em algum momento da caminhada, seres carentes de proteção.

Na medida em que assim nos situamos e compreendemos nossa passagem por aqui, nosso olhar deter-se-á naquele vão de escada onde jaz um igual a nós.

Terá tido sobre ele as asas que o protegessem?

Para quem as teve, as alternativas para buscar e mesmo exigir proteção para os dias de hoje são um caminho no ato da escolha dos dirigentes no pleito que se avizinha.

Belinha lembrou-se da antiga função dos pombos. Remotamente, os pombos serviram como transportadores de correspondência sob suas asas. A proteção necessária para que as cartas chegassem, de forma segura e a tempo, eram as asas desses ancestrais animais chamados, à época, de pombos-correios.

Pois, ao que parece, eles ainda permanecem com esta função. Apenas que de forma camuflada, carregando mercadorias ilícitas, com a vantagem de sua chegada ao destino de entrega ser silenciosa. Diferentemente dos drones, chegam “de mansinho”.

Pois é! SOB AS ASAS lembra-nos da proteção dos nossos pais e, também, daquela fornecida pelo Estado, com que o cidadão deve contar. Sem esquecermos, é claro, da proteção do Criador que nos sustenta no aqui e no além.

Lembremos, por oportuno, que o nosso Hino da Proclamação da República, em quatro de suas estrofes, clama para que a LIBERDADE abra as asas sobre nós, conforme segue:


Liberdade! Liberdade!

Abre as asas sobre nós!

Das lutas na tempestade

Dá que ouçamos tua voz!


Mantenhamos a parceria Liberdade e Proteção para o bem de todos os cidadãos.

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

COMO SE FOSSE HOJE... SERÁ, AINDA, POSSÍVEL?

  

A busca, a cada dia, torna-se mais presente. No balançar das folhas do arvoredo, no solitário passarinho pousado no telhado, no cheiro do capim cortado há pouco, no casal de pombos em dança de acasalamento, eis que o passado retorna nestas cenas atuais. E o som das folhas secas sob os pés daquele, ainda, pequeno ser é o que lembra Belinha quando pisa na calçada do vizinho: um verdadeiro tapete florido. Algumas flores já estão a cair para que outras surjam, pois ainda há tempo para que outras nasçam e floresçam naquela bela árvore. As estações sucedem-se, tal como nós que guardamos lembranças que se acumulam.
 
Caminhar por entre árvores, esconder-se no porão da casa só de brincadeira, arrastar os chinelinhos sobre o assoalho só para ouvir o barulho que faz.

Hoje, ainda, o olhar que busca: encontra.

Os mesmos cheiros, os mesmos sons, o mesmo passeio entre árvores, os sabores que permaneceram são a prova de que necessitamos de uma infância preservada daquilo que não expõe os nossos sentidos. Precisamos ouvir, ver, observar, trocar brincadeiras com outros iguais a nós, em idade, para que tais experiências alojem-se em nossa memória e, de lá, encontrem eco durante a caminhada pessoal de cada um.

Na ampulheta do tempo, o nosso olhar infantil mantém-se pleno de imagens que encontram hoje, em essência, os mesmos sinais reveladores de que somos o produto daquelas cenas e, portanto, nos sentimos acolhidos pelos momentos presentes.

Claro, isso para quem conheceu e reconhece ainda hoje, embora com algumas alterações, este meio sonoro e visual que ainda nos cerca.

Será que uma telinha é capaz de despertar todas essas sensações?

Uma formiguinha carregando uma folhinha, uma joaninha escondidinha entre as folhas daquele arbusto no meio-fio da calçada; ver o sabiá ou o bem-te-vi pousado, cantando, sobre o telhado da casa do vizinho.

Buscar com o olhar tudo o que nos cerca, mergulhando naquelas imagens que nos causam estranheza, deslumbramento, curiosidade, emotividade. Sensações que captamos quando aprendemos, ainda na infância, a nos deter frente a tantas cenas que permanecem em nossa memória. Lembranças que não se perdem no tempo.

Agarrem-se às emoções de ontem porque elas podem tornar-nos mais resilientes aos tropeços, acaso existam, durante a caminhada individual.

Emoções captadas em instantes que se mantiveram no baú da memória.

Caminhar por entre as roseiras do jardim, pousar o olhar no caramanchão de trepadeiras, na goiabeira com seus frutos tão cheirosos...

Talvez, não mais encontremos tais cenas, porque vivemos pendurados em blocos, frios, de cimento.

Como restaurar tais sensações?

Acredito que, ainda, haja tempo. Ouçamos o cantar dos passarinhos que teimam em permanecer nos brindando com sonoridades bastante diversas, conforme a espécie que visita as árvores de nossas ruas.

Há que se conduzir nossas crianças a que aprendam a observar, a captar imagens e sons que serão patrimônio interior de cada uma delas. Fazemos parte da natureza e com ela temos que conviver em harmonia, preservando-a.

Caso contrário, apenas botões a serem acionados é o que terão.

E se, repentinamente, aquele mecanismo falhar, o vizinho do lado, um ilustre desconhecido, talvez nem lhe atenda, pois nunca lhe deram um bom-dia.

Aproveitando o belo poema MEU CORAÇÃO DE POETA da poetisa Ilda Maria Costa Brasil, publicado no livro A Essência da Poesia, temos a demonstração da importância do olhar infantil, bem como daquele olhar poético que transforma simples gotículas de água em mensagens que permitem revermos o filme particular de cada um de nós nesta jornada que se chama VIDA.




Portanto, cultivem essas gotinhas mágicas, pois se transformarão em lembranças especiais que nos permitirão rever o filme de nossas vidas.

Quanto aos anjos, que são nossos constantes protetores, que possamos revê-los com aqueles olhos infantis que, digo eu, veem, em suas asas, a proteção estendida da mãe. Acredito que possamos ver o mundo, ainda hoje, com olhos infantis desde que preservemos nossas crianças cultivando imagens, sons, cenários que possam torná-las, num futuro, adultos resilientes, embora em harmonia com os semelhantes, conforme prevê o olhar poético da autora do belo poema.






segunda-feira, 5 de outubro de 2020

CENÁRIOS...

 

Previsíveis, esperados, reconhecidos e recebidos com naturalidade, pois representavam aquele momento do tempo presente.

O amanhecer não se confundia com o anoitecer, nem a noite transformava-se em dia com um clarão que iluminasse a cidade por instantes. Cada vez mais nos distanciamos de uma realidade que a nós parecia comum, conhecida por todos.

Onde andará o sol iluminando o alvorecer?

E a lua oferecendo-se aos enamorados? Talvez, tenha desaparecido por sentir-se, hoje, tão sem importância num cenário romântico.

E as estrelas formando desenhos inspiradores?

Eram belos cenários que a Natureza nos brindava desde sempre. Hoje, essas presenças, no céu que nos cobre, não são tão mais frequentes, tampouco previsíveis.

A imprevisibilidade parece ser a tônica que move o planeta atualmente.

Seriam nossas próprias ações imprevisíveis, também? Não deveriam ser, para que a harmonia reinasse.

A paz e a harmonia dependem de uma construção sólida em que as ações humanas, também, influenciam a própria Natureza.

Os vendavais e a temperatura oscilante, ultrapassando os limites conhecidos de cada região do planeta, são indícios de que nossas atitudes estão favorecendo esses momentos imprevisíveis em que a Natureza tem se alterado de forma, por vezes, violenta.

Os novos cenários, que surgem sobre a superfície onde vivemos, são bastante preocupantes.

Lembremos que a superfície, quando mal tratada, altera o cenário que nossos olhos acostumaram-se a ver no céu, no nosso dia a dia.

Ah! Dirão alguns que isto de olhar o céu e de contar as estrelinhas é papo de criança. Não se fala, aqui, de contar estrelas. Fala-se da beleza de um céu iluminado, de uma noite estrelada. Fala-se de um sol nascendo, generoso, com seu brilho promissor ou de um entardecer em que seu brilho nos oferece um “gostinho de quero mais”.

A Natureza é um presente divino que nos cerca e nos cobre. E todo o presente deve ser guardado com carinho para nosso encantamento diário e resguardado para tanto.

Por que cenários?

Cenários lembram teatro, apresentações, shows. São montados e, após, desmontados. Enquanto montados, exercem o seu papel de forma adequada, a encantar a plateia. Quando desmontados, deixam saudades.

O cenário com que nós, humanos, fomos agraciados estava pronto quando aqui chegamos. Nossas atitudes é que favorecem o seu desmonte.

Da mesma forma, teremos saudades quando este cenário, mesmo que aos poucos, for sumindo.

Há quem acredite, e eu me incluo, que o processo de conscientização já exista e que possamos vencer os obstáculos impostos por governantes facínoras e que a humanidade, como um todo, edite, em conjunto, uma nova Ordem Mundial, pois todos amam a Vida. E a manutenção dela é o único caminho para que a utopia se concretize.

Embora Eduardo Hughes Galeano tenha dito que a Utopia serve para que eu não deixe de caminhar, se eu atingi-la outros motivos e objetivos existirão para que eu continue caminhando em busca de um aprimoramento das condições de vida. Ela deverá estar sempre presente, pois é ela que nos move e que pode nos fazer evoluir como seres humanos melhores.

A Utopia servirá para que nos esforcemos e venhamos a montar um cenário em que ambos, governantes e governados, sejam partícipes de um sonho comum que, se concretizado, terá atingido o que almejava o Criador do belo cenário: a manutenção da Vida plena, harmoniosa e pacífica a todos que por aqui estejam ou venham a passar.

Este cenário seria uma conquista e a prova de nossa evolução.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

SOBRE... SOB...


Sobre o terreno, em que há uma casa, que foi bela, mas está abandonada, permanecem, ainda, belas árvores, plantas floridas que resistem ao frio e ao abandono de seus antigos donos. Vivem da chuva, do vento, do sol, do canto dos pássaros que lá se refugiam. Elas sobrevivem pela própria ação da natureza que as suprem do que precisam.


Sobre uma área de um apartamento de cobertura, aquela árvore imponente balança seus galhos ao sabor do vento. Por lá, seus donos cuidam-na com carinho. Nada lhe falta. Tem tudo aquilo que as outras têm e mais carinho e cuidado.

Esses são seres que podem sobreviver sozinhos.

Sob a marquise jaz alguém que necessita muito mais do que uma árvore necessita.

Sobre as notícias que chegam até nós, dos quatro cantos do mundo, todas estão, sempre, sob suspeição. Serão verdadeiras? Serão fidedignas?

Nós, humanos, habitantes deste planeta, estamos sob controle constante, sob influências passíveis de questionamento, sob-relatos desastrosos de eventos que estão acontecendo ou que podem vir a acontecer.

Sob discursos inflamados, falaciosos e inverídicos nosso dia a dia é recheado.

Ainda teremos capacidade de exercer influência sobre nosso destino?

A partir de eventos dramáticos, repetidos pelos noticiários, à exaustão, a nossa mente, o nosso emocional vê-se bombardeado cotidianamente.

Afinal, somos bem mais que árvores, mesmo aquelas bem cuidadas. Nossas necessidades não são apenas aquelas básicas, mas outras que se somam àquelas.

Nossa caminhada foi construída a partir de nossas necessidades supridas. Nesse item, tem importância fundamental nossos sentimentos, nossa vida interior, nossos encontros e desencontros, nossas alegrias, tristezas e desencantos.

Somos bem mais do que aquelas árvores que vicejam no terreno baldio ao lado.

Temos uma mente que raciocina, que elabora pensamentos a partir de fatos e sensações.

Como sobrevivermos sem a necessidade de qualquer marquise que nos proteja?

O caminho é construído palmo a palmo com o comprometimento dos pais, dos educadores, dos governantes. Aqueles em que se depositou o voto e que deles se espera uma atuação ética, honesta e capaz de suprir carências de alguns indivíduos que não tiveram todas as suas necessidades atendidas ao longo da caminhada. À Educação espera-se a oferta de escolas públicas de excelência. À Saúde, igualmente, um atendimento gratuito para quem realmente precise. À nossa Segurança todo o aparato possível para que somente a lua nos faça companhia ao voltarmos para casa.

Nossos governantes deveriam direcionar suas ações sobre essas questões, em vez de estarem, reiteradas vezes, sob investigação em relação a várias questões.

O instinto de sobrevivência, daquele que jaz sob a marquise, é pedir o que é essencial: comida.

A sobrevivência, daquele melhor afortunado, mas que, também, sofre pelo caos reinante em vários setores da sociedade, é ditada pela resiliência em encantar-se com momentos que o dia proporciona ou, mesmo, a noite.

Ler sob a luz do sol, que ilumina a janela; acompanhar a leveza do voo dos pássaros; imaginar qual desenho aparecerá no céu quando aquela nuvem chegar; observar que, também, sobre aquela marquise tinha uma pomba branca pousada; sentar-se naquele banco da praça, próxima de casa, observando os vizinhos que por lá circulam; estabelecer diálogos construtivos e esperançosos; ouvir música e, finalmente, dormir sob um manto diáfano, repleto de bons sonhos, de imagens alvissareiras e do desejo de um bem-vindo amanhecer.

Temos que fazer com que o sob e o sobre se completem.

Temos que ter esperança de que venhamos a permanecer sob encantamento. Que este nos motive a dialogar sobre novos comportamentos que venham em benefício de todos os indivíduos que compõem a nossa sociedade.

Aí, sim, valerá a pena os dias que virão.

Ah! Que as máscaras obrigatórias, colocadas sobre a nossa face, estejam sob controle rígido de sua necessidade, mas que nossos olhos permaneçam acima delas, sempre atentos, sempre confiantes, sempre cordiais e esperançosos de que por trás delas existem outros seres iguais a nós.

Falemos sobre elas com destemor, mesmo que permaneçam, para alguns, dúvidas sobre sua necessidade.

Sob o enfoque particular de cada um de nós, que haja prudência no seu uso e que nossos olhos sejam portadores e transmissores de muita fé em nosso amanhã.

Sobre ele?

Aguardemos o próximo amanhecer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

IMAGENS...



Sobre a cama, arrumadinha, da avó duas bonecas. A neta não entendia qual o motivo de estarem elas ali. Hoje, acha que entende.

Dos dois filhos, que tivera a avó, apenas um ainda estava entre nós. O desejo de ter tido alguma filha, talvez, fosse a resposta para tal enfeite.

Belinha tem uma amiga que, por solidão, tem sobre a cama um ursinho de olhos arregalados ao lado de uma almofada com uma carinha bordada, cujo sorriso é constante.

Há algo mágico nesta percepção do nosso olhar sobre as coisas, sobre as pessoas, sobre o que nos cerca.

Imagens, que permanecem em nossa retina, sejam elas boas, confortáveis ou desagradáveis e mesmo horrendas, serão de grande importância em nossa existência.

Podemos construir imagens para suprir lacunas. Por que não?

Afinal, somos mágicos do nosso viver cotidiano, criando, recriando ou, muitas vezes, tentando expurgar imagens.

Somos bem mais do que um mágico. Ele apenas cria uma imagem falsa que, logo após, se desfaz. Não se sustenta por muito tempo, pois o mágico está ali criando e desfazendo imagens.

Nós, por outro lado, podemos fixar, pelos olhos, imagens que por nós passam. Elas permanecerão em nosso olhar se quisermos, pelo tempo que permitirmos. E esse tempo poderá ser durante a nossa existência.

Podemos, igualmente, descartá-las, jogando-as no vazio que se perdeu pelo tempo afora. O que, muitas vezes, é de difícil execução.

A visão daquele olhar convidativo, que permaneceu na memória, é pura magia. Uma magia que se quer mantê-la viva porque de saudosa memória.

Um olhar tem a força de abraçar, de afagar, de aconchegar, de amar, mas, também, de menosprezar, agredir, desafiar ou até de odiar.

Devemos cuidar de nosso olhar com carinho, pois ele absorve, conecta-se e revela múltiplas facetas para o bem ou para o mal.

Lugares, que fizeram parte de uma existência, podem ser revistos, mesmo que transformados, porque não perderão a magia que os criou. Aquele olhar de outrora faz parte da nossa memória.

Nesses tempos difíceis, pousemos nosso olhar em imagens que nos passem luz. Que a luminosidade seja a porta de entrada para novas imagens.

Que nossa luz interior possa unir-se a outras luzes que chegam até nós e nos fazem repositório de um campo iluminado onde a magia não se desfaz. Pelo contrário, torna-se mais envolvente, atraindo outros olhares que persistirão para que a LUZ se mantenha e a magia permaneça, pois nós somos aqueles que mantemos a magia do Universo, sempre pulsante. Caberá somente a nós a sua constância: aquela que ilumina a nossa existência e nos faz mais semelhantes diante desta vida terrena.

Cabe, aqui, apontar como reforço, a trova da poetisa Bernadete Saidelles que nos fala desta MAGIA, quando escreve:

Na vida pós-Pandemia

terá solidariedade

se aprenderá a magia

de se ver na Humanidade.


Somente com um novo olhar, sim, aprender-se-á a MAGIA de se ver na Humanidade, não se desfazendo como qualquer mágica, pois esta MAGIA depende de cada um de nós e do TODO: que somos todos nós.