segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

SORRIA...



Aprenda a sorrir com seus olhos. Embora seu sorriso, por ora, tenha se tornado invisível, não desista de sorrir. Ele é a possibilidade de desaguarmos nossas emoções. A alegria e a tristeza podem obter benefícios quando sorrimos. Através dele, aplaudimos nossas ações de mérito ou, mesmo, seguramos aquelas lágrimas que teimam em brotar por fatos alegres ou tristes.

Este recente adereço, que nos enfeita o rosto, tem possibilitado, segundo algumas jovens, a possibilidade de pousarem seus olhares sobre outros olhares, assegurando a elas certa proteção quanto à direção para onde esse olhar pousou.

Para as mais experientes, não tão jovens, este mesmo adereço do “novo normal” tem proporcionado a possibilidade de esconder as tantas rugas que já vão aparecendo.

Quem não deve estar gostando disso são as farmácias que preparam os cremes dermatológicos, pois agora seu uso tornou-se quase desnecessário. Pelo menos para quem costumava usá-los como parte da maquiagem do dia a dia.

Ah! E o alerta, nos estabelecimentos, SORRIA! VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO: perdeu total sentido.

Este adereço, porém, não é o objeto desta reflexão.

O que se impõe, nestes tempos em que o dia de amanhã encerra contínuas incertezas, é a certeza de que devemos manter nosso rosto iluminado pelo sorriso que, embora não seja visível, faz toda a diferença, principalmente, para quem o mantém como uma espécie de proteção contra os males, as injustiças e um desassossego generalizado que está a nos roubar a paz interior.

O nível de agressividade, de um transbordamento das emoções negativas, pode ser atenuado pela conscientização de que sorrir passa a ser um remédio.

Quando Belinha recebeu um bom-dia, abafado pelo novo adereço, ergueu o rosto e pousou seus olhos sobre quem a havia cumprimentado. Já com os olhos sorrindo, apertadinhos, respondeu àquele quase pedido de alguém que queria ser visto, ouvido e atendido.

Embora não conhecesse o tal passante, respondeu prontamente, pois ainda nos sobrou esta forma de interação com o outro. É claro, com a devida distância, pois a proximidade é um fator assustador. Pelo menos, por ora.

A par desse encontro real, lembrou-se de outros tantos em que a imaginação criou uma oportunidade irreal para sorrir de um momento apenas sonhado, mas que abortado da própria imaginação. Hoje, é motivo de um riso que é um desabafo. Uma frustração que se serviu desse remédio, que nos acalma, proporcionando àquela jovem a dimensão da real importância daquele olhar, que queria tivesse existido.

Hoje, este sorriso, gravado na memória e expresso num suave mexer dos lábios, devolve-lhe a esperança de que novos possíveis olhares estarão sempre de prontidão a qualquer momento, em qualquer lugar.

Sorrir-se de si próprio é um remédio ameno e sem efeitos colaterais. Ao fazê-lo, já elaboramos, previamente, todo um raciocínio em torno de nossa própria participação naquele episódio. Então, trata-se apenas de jogá-lo fora, ao vento.

Sorrir para o outro já é um novo começo.

Quem sabe...

Agora, sorrir do outro já encerra alternativas difíceis de mensurar. Somente frente às situações que ensejarem tal atitude é que se poderão antever possíveis reações.

Fiquemos com o sorriso que cumprimenta. Aquele que nos ilumina como o Sol que brilha, levando alegria através dos nossos olhos. Eles que ainda permanecem descobertos e prontos para novos encontros.

Novos olhares serão sempre bem-vindos.

E se expressarem um sorriso: melhor ainda.

 

 

 

 

 

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