domingo, 29 de novembro de 2009


LADEIRA ABAIXO


O sorriso do adolescente assusta. Como se estivesse observando uma cena cômica, ou curiosa, ou, quem sabe, inusitada, ele sorri.

É, com certeza, uma cena inusitada. Mas o nível de banalidade, com que se encaram cenas dantes inimagináveis, causa-nos descrença de que se possa, ainda, mudar o cenário de tamanha violência.

Em outros tempos, veríamos esse adolescente deslizando rua abaixo com seu carrinho de lomba. Ele e mais um punhado de amigos despencariam ladeira abaixo em brincadeiras sadias. Nesses carrinhos, colocavam toda a sua engenhosidade. A competição era em cima do mais bonito, mais criativo, com melhores rolamentos.

Que interessante!

Um carrinho de supermercado com um corpo dentro. Eh! O cara se ferrou!

Quem não se acostuma, quando se vive assim a maior parte do tempo. Quem não se acostuma?

O cara podia estar dentro de um saco, no fundo de um quintal. Ou no lixão, ou atirado na sarjeta. O fato em si tornou-se corriqueiro, banal. O inusitado é o carrinho de supermercado.

Com ele, geralmente, transportamos alimentos. Ou sobras, garrafas, jornais velhos, restos. Tudo, para quem necessita, virará alguma forma de subsistência.

Esse carrinho, porém, é diferente. Ele carrega, por assim dizer, a prova cabal do caos social em que se está mergulhado. É a selvageria escancarada que se abate sobre todos. Nada mais horrendo do que se olhar um semelhante em tais condições. Pior do que isso só os famintos, os seres esquálidos que se espalham em algumas regiões da África.

O que nos assusta, na cena, é o caráter de banalidade expresso pelo sorriso do garoto. Será que conseguiremos sair dessa? Estamos desconstruindo valores. Estamos voltando à barbárie. Hordas de malfeitores espalham-se, disseminam-se por entre grupos de indivíduos desprotegidos. Seres, em sua maioria, desqualificados pela miséria e ignorância, que viceja, e pela incúria de governantes.

Essa é uma sociedade que se torna mais frouxa a cada dia que passa.

Que país é esse!

Está em nossas mãos indignar-se. Está em nossas mãos exigir mudanças efetivas. E essa revolução tem sua origem na Educação que começa na família. Ela, não o fazendo, delega à Escola tal função, acrescida àquela que lhe é típica: fornecer o conhecimento formal. A Escola, por assim dizer, cumprirá também o papel da família. Para tanto, deverá ser de turno integral, mantida pelo Poder Público nas áreas de maior carência social. Desnecessário dizer-se que com um magistério motivado pela infraestrutura oferecida, dirigentes ligados aos meios acadêmicos, com formação em áreas da Educação, e professores percebendo um salário compatível com a importância de seu cargo.

Não há outro caminho. Povo culto é povo livre. É o cidadão capaz de discernir, de criticar, de desenvolver atividades produtivas, de autossustentar-se, de contribuir para melhorar a sociedade em que vive.

Se assim não for, nossas crianças, como recentemente já ocorreu, passarão a usar pó de giz embalado em saquinhos plásticos: fingindo um tijolinho de cocaína.

Teremos, aí, uma nova versão da brincadeira das cinco-marias, onde o arroz ou a areia virará pó de giz, por enquanto. Porque, no imaginário, já é o pó branco que circula de mão em mão. Novos usuários, novos traficantes, corpos desovados: é o cenário que se projeta.

E, assim, vamos ladeira abaixo, como num carrinho de lomba desgovernado, sem rumo, sem futuro. Ou melhor, com a certeza de uma infância perdida, de uma juventude corrompida e credora de uma dívida: a da sociedade brasileira para com seus filhos.

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

 


POR PURA BRINCADEIRA!


O carro último tipo encosta ao lado do táxi. O trânsito é lento naquela hora. Parados, aguardam a sinaleira abrir-se para passarem. Do banco de trás, três cabeças assomam junto ao vidro lateral, que se encontra baixado. São três meninos, de idades aproximadas, em torno de onze anos. Um mais afoito pede com insistência uma moeda ao taxista. Para tanto, usa falas comuns aos pedintes. Todos riem com a cena inusitada. Os meninos, a condutora do veículo e o taxista riem. Que cena!

E as imprecações se sucedem com pedidos desesperados de quem finge necessitar. A sinaleira, em meio à cena, libera os carros e lá vão os três com a mão estendida pedindo um auxílio.

Logo, mais adiante, nova sinaleira. Ambos os carros novamente, lado a lado, juntam-se, agora, bem mais próximos. Os pedidos intensificam-se. Os meninos continuam pedindo ao tio taxista:

“- Tio, me dá uma moeda! Tô precisando.”

Antes que a sinaleira libere novamente, o tio benfeitor estende a mão e alcança uma moeda de R$ 0,50 a um dos garotos.

Aos gritos de “consegui”, o carro arranca e lá se vão todos a rirem, a divertirem-se com a cena.

Um olhar mais apurado, com certeza, extrai desse episódio um sintoma de como as coisas andam.

Ao que parece, tudo foi uma brincadeira infantil, em que todos se divertiram.

Os garotos estavam brincando de “ser pedinte”. Só pra ver como é que é.

Claro que os meninos estavam apenas brincando. E os adultos?

Estavam, também, brincando. Mas que coisa!

É..., as chagas sociais merecem outro tipo de encenação. O teatro, por exemplo, é um meio adequado para expor tais mazelas. No palco, os atores e seus papéis poderão alertar a sociedade do perigo da banalização e do deboche para com situações dramáticas, que carecem de soluções.

Quanto aos meninos, seus responsáveis deveriam orientá-los no sentido de que o escárnio não é instrumento saudável para uma sociedade que se diz fraterna e solidária.

Se assim não for, continuaremos a incorrer em cenas mais contundentes, em que a vida de um indigente ou de um índio, ou de qualquer desafortunado, nada valha.

Ou, talvez, valha a diversão de atear-se fogo em um desses infelizes. Só pra ver como é que é.

Por pura brincadeira!

domingo, 2 de agosto de 2009



E POR FALAR EM INSETOS...


Pois lá pelos idos de 1930, contava Dona Isaura, era comum, pras bandas de Santa Maria da Boca do Monte, aparecer, vez por outra, uma praga temida por todos. Os principais prejudicados eram os agricultores daquela região. As plantações ficavam devastadas. Por onde passavam, iam picotando o que encontravam. As autoridades até conseguiam avisar da invasão. Mas pouco se podia fazer. Eram os temidos gafanhotos vindos da Patagônia. Aliás, na época, dizia-se que tudo o que não prestava vinha da Argentina.

Dona Isaura lembrava de uma vez que os ditos tomaram de assalto não só a área rural como, principalmente, a cidade. Foi algo nunca visto antes. Chegavam aos magotes. Entravam janelas adentro, pelas frestas, por qualquer vão aberto. O pátio da casa onde morava foi tomado pelos bichos que, para azucrinar mais ainda os moradores, emitiam, ao baterem umas asas nas outras, um som sibilante.

As praças e os passeios transformaram-se num tapete esverdeado, para desespero de quem precisava sair à rua. Depois de algumas horas, os tais levantaram acampamento deixando um rastro de destruição.

Com o tempo, acredita Dona Isaura, medidas sanitárias foram tomadas por nossos vizinhos e tais invasões começaram a rarear, terminando por fim.

Vejam o estrago que faziam os tais gafanhotos naquela época!

Hoje, temos as baratas, as moscas, os mosquitos, as muriçocas. E por aí...

As baratas, dizem os entendidos, resistirão aos finais dos tempos. Mas, pelo menos, permanecem escondidas durante o inverno. No verão, apelamos para um spray “mata tudo”. E estamos conversados.

Já com os mosquitos, se bobearmos, acabamos morrendo, sem apelação, de tudo quanto é tipo de febre. Mas as vacinas estão aí para nos proteger. Pelo menos é o que se pensa. Desse jeito, vamos levando...

Quanto às moscas, estão se tornando presas fáceis. Já estão domesticadas. Às vezes, batemos com a pazinha próximo a alguma, para que ela vá avisar as outras do risco que está a correr. Vez por outra, funciona. Porém, quando a dita encontra um tipo Baraca pela frente, sucumbe sem nem saber de onde veio o tapa.

Quer dizer, tudo parece sob controle.

Agora, tem alguém que resolveu, ainda no século passado, criar uma subespécie do inseto chamado marimbondo, também conhecido por “maribondo”, que sofreu séria mutação e que vem nos assolando já há algum tempo.

Pois não é que os ditos assumiram uma cor mais avermelhada que os demais de sua espécie. São, por assim dizer, seres alados, constituídos de puro fogo, a voejar por sobre alguns lugares, em especial. Quando menos se espera, eles aparecem. Os lugares de ataque são, geralmente, muito parecidos uns com os outros. Tais recintos são frequentados por pessoas diferentes das demais. Poder-se-ia dizer: incomuns. Uma espécie de casta superior é o que seriam.

Pois é nesses redutos que tais insetos escolhem suas vítimas e as sangram, picam e devoram. Os “escolhidos” tornam-se tão carentes de virtudes que acabam se tornando definitivamente “incomuns”. Deixam de ser comuns. Tornam-se diferentes de seus súditos. Esses, permanecem, para sempre, comuns e com algumas virtudes. Aqueles, galgam patamares nunca dantes imaginados. E nessa posição, vão soçobrando num mar de lama. Quando dão por si, estão na boca dos súditos, que os achincalham. Seus pares, que também se entredevoram, vez por outra, os deixam sozinhos, tal o comprometimento desses pobres. E nesse ninho de cobras, os tais maribondos vão deitando o seu veneno, tão letal quanto a peçonha que se espalha pelos majestosos salões.

A situação torna-se tão insustentável que nem medidas sanitárias, como as adotadas com os gafanhotos, funcionam. São inócuas. Pois, está a falar-se de humanos.

Que pena! Nascemos, todos, puros e inocentes.
Mas, por motivos que aqui não interessa suscitar, transformamo-nos em presas fáceis de nossas próprias fraquezas.
E há quem diga que são felizes. Mas não são. Ao fim e ao cabo, tornam-se tão pequenos frente a si mesmos, que não mais podem aquietar-se. Tornam-se insones. E como zumbis procuram, em vão, o caminho do qual se perderam. E não mais o encontram.

E como consta na Homilia do Juízo Final

TENHO um encontro com Deus:
- José!
onde estão tuas mãos que eu enchi
de estrelas?
- Estão aqui, neste balde de juçaras
e sofrimentos.

Ou, alterando-se o final:
- Estão aqui, neste balde de juçaras, sofrimentos e, quem sabe, de arrependimento...

É o que os súditos imaginam que possa acontecer. Mas, nunca se sabe.
Nesse caso, parece que o criador será tragado pelas criaturas. E, desde já, clama por perdão.

IRMÃOS:
Perdoai-me.
O sonho da morte é uma nuvem
que não cobre as eternas noites da vida.

E é assim que deve andar esse ser. Estão se tornando eternas essas noites da vida.

Na verdade, consta que o outro Criador, o verdadeiro, instalará uma CPI para investigar essa criatura.
Nessa, os súditos acreditam e assinam embaixo.
Aguarda-se, é claro, o momento exato para instalá-la.
Seus súditos anseiam por esse desfecho.
Porém, quanto aos resultados dessa Comissão, por óbvio, ninguém saberá.
Pois é, as daqui dão em nada. As de lá, ninguém consegue saber os resultados.

Então, deixa pra lá...
Obs: Os destaques em itálico correspondem a trechos do livro Os Maribondos de Fogo.

quarta-feira, 17 de junho de 2009



A DECISÃO FOI DELES

Pois a história foi assim...

O Conselho estava formado. Os melhores profissionais do ramo, presentes. Todos dispostos a encarar aquele desafio. Em volta de uma mesa, perguntavam-se como sairiam daquela empreitada. Numa grande prancheta, iam esboçando suas ideias.

O senhor recomendara que fosse algo exótico, diferente, e, ao mesmo tempo, grandioso, capaz de assombrar seus próximos e satisfazer os caprichos de sua cara-metade. Teria que ser algo tão inusitado quanto nevar, pra valer, em terras brasileiras. A temperatura, na região em questão, era, em média, 21° C. E isso era mais um complicador que surgia, para que se definisse qual o projeto que se levaria adiante.

Um dos experientes profissionais dera a ideia de fazer-se uma construção com uma gigantesca abóbada. Mas teria que ter muitas saídas, muitas portas... Isso desestabilizaria os pontos de apoio da mesma. Seria algo tipo assim um iglu. Mas com essa temperatura e com tantas portas, iglu nenhum resistiria.

Foi quando Nestor, um dos especialistas, amante das matas nativas, sugeriu uma construção de mesmo formato, porém algo parecido com uma gigantesca oca. É claro, coberta de sapé. Tudo ao estilo bem brasileiro. Mas tal construção não possibilitaria, igualmente, tantas portas e janelas quantas tinham sido pedidas. Aliás, a bem da verdade, existiria, nesse novo projeto de construção, apenas uma grande porta. A ideia também se inviabilizou.

Nessas alturas, Arquimedes, chegado em cálculos matemáticos, um visionário, sugeriu uma construção de base quadrangular e quatro faces triangulares, terminada em ponta. Ou, também, podendo ser de base pentagonal com cinco faces triangulares.

A ideia, a princípio, pareceu vingar. Nas faces seriam construídas janelas e, no sopé de cada face, uma porta. Admitindo-se uma pirâmide com 4 faces e 4 janelas em cada uma das faces, teríamos precisamente 16 janelas e mais 4 portas. Por outro lado, imaginando-se uma pirâmide com 5 faces e 4 janelas em cada uma das faces, poderia chegar-se a 20 janelas e mais 5 portas, contando-se a principal.

Diante desses números obtidos, ainda assim não se conseguiria chegar ao número de janelas que solicitara o contratante da obra. Como, pelo jeito, dinheiro era o que não faltava, resolveram, então, aumentar o número de janelas por face, tomando-se por base a pirâmide de 5 faces.

Decidiram, então, colocar 6 janelas em cada face, o que resultou em 30 janelas e mais 5 portas.

Nessas alturas, já exaustos, os experientes profissionais resolveram mudar o projeto. A pirâmide, assim projetada, definitivamente não suportaria mais janelas por face. E eles não tinham conseguido chegar as 36 janelas necessárias para os 36 aposentos que o projeto deveria contemplar, pedido esse reiterado pelo dono do empreendimento. Pensando melhor, concluíram que teriam de ser mais de 36 janelas, pois havia salas e mais salas, banheiros, depósitos...

Após dias e dias de cálculos, tabelas e sabe-se lá mais o quê, decidiram pela construção de alguma coisa que lembrasse a seus donos, e a quem, porventura, lá chegasse, a morada de personagens conhecidos através dos clássicos contos infantis. Estava decidido. Seria um castelo verdadeiro. A imaginação das pessoas faria o resto.

Ali, caberiam reis e rainhas, príncipes e princesas, e todo o séquito que os acompanha. E poderia construir-se muito mais que 36 janelas; por exemplo, 275 janelas. Seria um bom número. Outro tanto de portas e, digamos, 8 torres. Alguns afirmaram, posteriormente, que eram 12 torres. Não se sabe bem ao certo. Mas 8 já era um bom número e prestou-se, à época, como letra àquela melodia, tão conhecida:


“O meu castelo tem oito torres,
Tem oito torres o meu castelo,
Se não tivesse oito torres,
Não seria o meu castelo”.

E como todo castelo, esse também teria direito a fantasmas por conta de uma ou outra má ação cometida por seus financiadores. Em oito anos de construção, muitas águas devem ter rolado. Mas isso é conversa pra outro dia.

Quanto a tal Mona Lisa, dizem que circula ainda por lá. Bem no início, ficava próxima ao crupiê, sussurrando coisas. Mas, nos últimos tempos, não tem mais função alguma. Apenas, vez por outra, deixa, numa coluna, estampado seu sorriso enigmático, como a prever que esse empreendimento será sólido, mas tão obscuro quanto seu famoso sorriso. E, assim como ela, atravessará os tempos...

- Tu achas, Maciel?
- É claro, cara! Qualquer hora, eu te conto outros detalhes dessa história da carochinha. Naquela época, tudo acabou assim: E FORAM FELIZES PARA SEMPRE. Já faz tanto tempo...

- Olha lá! Vem gente.
- São os netos do proprietário.
- Olha só que cavalos!
- É tudo puro sangue.
- Maciel, o “anexo” dos cavalos é aquele prédio lá?
- É.
- Mas que coisa imponente!
- Pois é, cara! Essa foi outra decisão deles também.
- Ah! Esses arquitetos...

- Vamos entrar. Vou te apresentar ao capataz. Afinal, és novato por aqui. Com o tempo vais aprender a medir um alqueire só com a ponta do olho. Vai por mim. Agora, cuidado! Olho grande demais é só pra criar remela. Dizem que o que não falta, por aqui, é dinheiro. Pelo menos, é o que dizem. Vamos emendar as terras do vizinho com essas daqui. Afinal, vender é o nosso negócio.

- Vamos tentar!
- Vamos conseguir. Ao trabalho!









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quarta-feira, 13 de maio de 2009

UMA HOMENAGEM

 

Sobe-se uma pequena rampa que leva ao lugar procurado por todos que dele necessitam. E todos estão meio apressados quando lá chegam.

Ao adentrar-se, como que resplandece todo o recinto. Inunda-se de luz. Exala dali, também, um perfume.

Maitê, quando lá esteve, constatou, por algum tempo, que as pessoas, ao entrarem, comentavam entre si ou murmuravam consigo mesmas expressões tipo:

-Que cheirinho bom! Que cheiro gostoso! Hum...!

As paredes revestidas de plaquetas brancas, muito limpas, demonstram o asseio com que são tratadas. De cada um dos vãos, que dividem as pequenas janelas, pendem vasos com folhagens verdadeiras, todas de uma mesma espécie, adornadas por pequenos ramos e flores artificiais, todas na cor azul e branca, combinando entre si. São dezessete vasos ao todo, espalhados por vãos e sobre as meias-paredes que dividem os espaços. Em um dos vasos, o bem central, esconde-se uma varinha de incenso. Um perfume espalha-se pelo recinto, atingindo, inclusive, alguns bancos próximos ao local. Sobre uma das paredes pende um arranjo feito com garrafas pet, na mesma tonalidade das rosas artificiais que enfeitam os vasos. No início de dezembro, essas flores são substituídas por outras de cor vermelha, a prenunciar a chegada do Natal.

É constante o cuidado com a limpeza do chão. E, ao que parece, de dois em dois dias, é feita uma lavação e escovação completa. Portanto, o ambiente é limpo e cheiroso. Quem recepciona os usuários está sempre atenta, conduzindo, informando e auxiliando quem lá chega. Veste uniforme, limpo, impecável. Do semblante brota uma luz que se despeja num sorriso.

Para quem se detém por instantes, trocando com ela algumas palavras, percebe o jeito prestativo com que é tratado. Maitê deteve-se mais do que o habitual. E pôde constatar o que é trabalhar “com amor”.

Encantada, Maitê ficou por lá conversando. Descobriu, então, que todos os enfeites (vasos, folhagens, flores, arranjo e incenso) foram comprados pela própria funcionária, com seu próprio dinheiro. No caso do incenso, a compra é constante. Mas isso é apenas um detalhe. O mais importante é seu trabalho, digamos, socioeducativo.

Assim, a comunidade indígena que circula por lá, por exemplo, (mães e seus filhos), foi aprendendo noções de higiene. Tudo graças às orientações da funcionária. Mas, quando é necessário, sabe ser “durona”. Isso acontece toda vez que certas “tribos” tentam usar o local para outros fins, que não os adequados àquele ambiente.

Agora, o principal foi o discurso da funcionária, revelador em si, e que respondeu à curiosidade de Maitê. Pois, o dito foi mais ou menos assim:

“O nosso ambiente de trabalho não é dos melhores. Recebemos todo tipo de público que, aqui, vem para fazer “suas necessidades”. Se a gente vier trabalhar suja, desleixada, não mantendo o lugar limpo, não terá vontade, incentivo de trabalhar. Ficará um ambiente “muito pesado”. E, afinal, a gente fica aqui dentro 12 horas. O nosso ambiente de trabalho deve ser constantemente limpo e a gente também deve estar limpa para poder se sentir bem. Senão, vamos nos sentir deprimidos. Sabe, todo mundo tem seus problemas. Mas temos que deixar os nossos problemas lá fora. E procurar chegar, aqui, bem. Por que é que temos que conviver com o mau cheiro, característico desses lugares? Fica muito melhor trabalhar num lugar limpo e cheiroso. Não acha?

Maitê acha que sim. Concorda, integralmente, com a postura dessa funcionária.

Pois é, está a falar-se, sabem do quê? De um banheiro existente no Parque da Redenção, em Porto Alegre. É um banheiro diferente. Ou melhor, quem ali trabalha é que faz a diferença. Maitê quer acreditar que existam outros banheiros iguais. Igualmente, acredita que existam outros funcionários semelhantes a essa dedicada trabalhadora que dignifica a classe e a Instituição a qual pertence.

De qualquer sorte, dedica a ela esta homenagem pelo Dia do Trabalho, recém- comemorado.

Dias atrás, Maitê, em suas andanças pelo Parque, esteve no referido banheiro.

Parecia que entrara em outro banheiro. Não era aquele seu conhecido. O mau cheiro, naquele dia, era característico. O chão estava todo molhado. Aquela luz, que costuma irradiar-se pelo recinto, não existia; tampouco o perfume do incenso dando as boas-vindas a quem chegasse. A funcionária presente... Bem, não falemos dela.

A homenageada, nesse dia, não se encontrava. Era seu dia de folga.







Nota: A servidora Sirlei Barreto dos Santos, a homenageada, recebeu, à época, uma medalha pelos serviços prestados ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana. A mim coube um Diploma, expedido pelo Diretor-Geral, em agradecimento pela homenagem.









segunda-feira, 20 de abril de 2009


 

A RESPOSTA ESTÁ NA FÍSICA?


Ah! O fogo do Sol... A placidez da Lua... O riso fácil de Mabel, a carranca de Orlando... Ah! A amabilidade de Ana, a grossura de Ramiro... Anita, tão íntegra; José, nem tanto... Mas complementam-se, dizem. Vivem harmonizados, parece. Tão diferentes, sussurram. Mas sempre juntos.

Já vai longe o ano de 1703, ano do Tratado de Methuen: aquele da compra do vinho português pela Inglaterra, em troca dos tecidos ingleses. Acordo bastante lesivo aos interesses de Portugal, pois os gajos importavam mais tecido do que exportavam vinho. É claro que, lá pelas tantas, houve um desequilíbrio do comércio com a Inglaterra. Sabem quem pagou a diferença? O nosso ouro. Pois é, o malfadado Tratado possibilitou a transferência da riqueza produzida no Brasil para a Inglaterra.

Já no século seguinte, a coisa ficou ainda pior. Com a abertura dos portos, saiu-se do colonialismo mercantilista português para uma dependência do capitalismo industrial inglês. Essas novas trocas comerciais em nada foram vantajosas ao Brasil. Pelo contrário, iniciaram o processo que tornaria a balança comercial do Brasil deficitária.

Circula pela Internet um relato feito pelo viajante inglês John Mawe que, naquela época, descreve a cidade do Rio de Janeiro:

“O mercado ficou inteiramente abarrotado; tão grande e inesperado foi o fluxo de manufaturas inglesas no Rio, logo em seguida à chegada do Príncipe Regente, que os aluguéis das casas para armazená-las elevaram-se vertiginosamente. A baía estava coalhada de navios, e em breve a alfândega transbordou com o volume das mercadorias. Montes de ferragens e pregos, peixe salgado, montanhas de queijos, chapéus, caixas de vidro, cerâmica, cordoalha, cerveja engarrafada em barris, tintas, gomas, resinas, alcatrão, etc., achavam-se expostos não somente ao sol e à chuva, mas à depredação geral; (...), espartilhos, caixões mortuários, selas e mesmo patins para gelo abarrotavam o mercado, no qual não poderiam ser vendidos e para o qual nunca deveriam ter sido enviados.”

Supondo-se verdadeiro esse relato, na essência, tem cheiro de atualidade essa descrição. Pois, nem sempre se compram coisas de que se precisa, como também nem sempre se dá o devido destino às mercadorias, deixando-as estocadas, entregues à incúria de quem deveria cuidá-las.

Mas, voltando...

Será que os diferentes se atraem? Que é pura atração? Será que se completam?
Ah! Aqueles dois pares de olhos tão próximos e tão diferentes! Sentados lado a lado. Estariam ali colocados por pura atração? Suspeita-se que interesses os tenham ali postados, juntos, a prenunciarem grandes acordos, grandes parcerias futuras.

Oxalá a rainha dos mares não nos reserve algum tsunami! Aqui, pelo que se alardeia se navegará em modestas marolinhas.
Com certeza, aquele par de olhos azuis fez um contraste muito especial ao lado de uns olhos escuros, também especiais. Um olhar maroto, bem ao estilo do nosso povo. Aliás, depois desse encontro tão próximo, é urgente rever esta implicância com pessoas de tão belos olhos.
E pensar que até o sangue é azul, a contrastar com o dele, vermelho, plebeu. E que, assim misturado, deve ter deixado muita gente roxa de raiva.

Mas viva a Rainha! Viva o Cara! Viva o Brasil!
Afinal, após trezentos e poucos anos, devemos ter aprendido alguma coisa.

Ah! Os casais acima citados? Acredita-se que tenham interesses pessoais em jogo.
Quanto ao Sol e à Lua: é pura sincronia para a sobrevivência do planeta Terra, do Universo... ou sei lá!
Quanto à Física? É um título instigante, mas essa lei da atração só funciona na velha experiência das limalhas de ferro.









segunda-feira, 9 de março de 2009


 

O ENJOO


A zona é conhecida. Lá pras bandas do bairro Espírito Santo. Depois de Ipanema, antes do Veludo. É por ali. Seus pais pedem ao tio que pare o carro. A menina vai vomitar. Precisa vomitar. Eram tantas as bolachinhas que comia! Todas cobertas de manteiga. A camada de manteiga era quase mais espessa que a própria bolacha. Era uma comilona de tudo. Considerando o que comia, deveria ser bem mais gordinha. Mas era levemente cheinha de corpo. Ah! Costumava misturar coisas diferentes entre si, tipo puxa-puxa com pastel, salsicha com chocolate branco e por aí afora...

Portanto, vez por outra, dava-se mal. Mas, era uma criança saudável. Tinha em torno de nove, dez anos. Estudava em escola pública. Era excelente aluna. Mas, ainda brincava de boneca. E como brincava! Sozinha, pois não tinha irmãos. Era dona do pátio, do galpão, do seu mundo.

Observadora das lides caseiras, após o café da manhã, corria para o galpão para preparar o café para os seus filhos e para o pai deles. Tudo parecendo real. Eram responsabilidades que assumia como dona daquela “casa de bonecas” montada dentro do galpão, no fundo do quintal.
Espelhava-se na mãe, seu modelo naquele instante da vida. Brigava com os bonecos, seus filhos, quando esses desobedeciam. Tudo de mentirinha. Mas parecia verdade.

O importante é que, no fundo, não era verdade. Só parecia... No instante seguinte, já se entretinha com Rex, o cachorro da família. E logo, logo estava a arrumar a pasta com o material escolar, porque, à tarde, a escola esperava por ela.

Para lá chegar, tinha que percorrer uma espécie de servidão de passagem, que a vizinhança chamava de “bequinho”. A escola era numa rua paralela, atrás de sua casa. O tal “bequinho” era o acesso mais próximo.

Pois, perigo ali não havia. Nem em sua casa, rondava o perigo.

Ir à venda da esquina, onde comprava bananas e docinhos, também não causava apreensão a ninguém.
Costumava ir à venda, mais de uma vez ao dia, só pra comprar “branquinhos”. Aí, depois, acabava ficando enjoada de tanto comer. Era um enjoo próprio de quem come demais.

Era só comida demais.

Aninha lembrou-se, hoje, dessas cenas. Acha que não foi por acaso. Sua trajetória exitosa de vida leva a crer que teve a sorte de não ter enfrentado situações de risco. Risco de ver seu mundo do faz de conta transformar-se em uma brutal realidade.
Teve tempo de escolher o momento exato de parir. E sabem de uma coisa? Nem enjoar, enjoou. Nunca soube o que foi isso.

Enjoar mesmo só na época das bolachinhas “Lili” com manteiga.

Nesse Dia da Mulher, cercado de tantas comemorações, Aninha percebe que o caminho a percorrer ainda é longo.
Mas, desde já, causa-lhe enjoo essa violência perpetrada contra nossas meninas: que andam a enjoar antes do tempo.

Que vergonha!
Até quando?


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

 


ERA UMA VEZ...

...um castelo muito bonito,
Bem mais bonito que se dizia.
Tinha tantos quartos, mas parecia
Ninguém saber sua serventia.
Lá, lá, lá, lá... Lá, lá, lá, lá...
Lá, lá, lá, lá... Lá, lá, lá, lá...

Na ponta dos pés, espicha o corpo e, com dificuldade, alcança o terceiro vão. Acomoda-se como pode.

Deita-se levemente curvado, pois sua altura ultrapassa o comprimento desse espaço. Coisa pouca, diga-se de passagem. Para uma pessoa de estatura baixa ficaria, digamos, confortável. É claro, desde que não seja gorda. Mas isso é inimaginável nesses tipos que frequentam tais lugares. A largura também deixa a desejar. É, realmente, bastante estreito o vão. Ah! Na mesma extensão do comprimento, há uma paredezinha e, depois, outro vão, bem menor em comprimento: mais ou menos a metade do primeiro vão.

No espaço menor, guardam-se os papelões, os trapos, um saco, uma caneca... Maitê acha que é isso. Pra que mais?

A altura do “beliche” é ideal: longe do chão e, principalmente, protegido da chuva. Bem, não exatamente protegido dos pingos de chuva, se eles vierem de lado. Mas, pelo menos, não se fica sobre a poça d’água.

Na verdade, essa é uma moradia para quando a lua resolve mostrar a face inteira ou por pedaços. Aí, é possível até sonhar... Acredita-se que, em dias chuvosos, ou de frio intenso, existam outros vãos bem mais protegidos.

Mas, voltemos aos vãos iniciais. A cada vão maior, segue-se um menor: parte integrante do maior. Percebe-se que assim foram divididos pelos ocupantes. Portanto, para cada vão maior adquire-se a posse também do menor. É um vão adicional, para uso exclusivo do ocupante do vão maior. Considerando-se que existem quatro vãos maiores em cada coluna, e que essas são em número de cinco, temos a equação final que chega a vinte “beliches” ou vinte “cômodos”. Ah! Não esqueçamos do vão extra: um ganho a mais para cada “beliche”.

Esse layout é de um banco que é a cara do Brasil: é uma agência do próprio BB.

Pois é, Maitê, que por lá passa todos os dias, fica a refletir...

O mármore que reveste os vãos é de “quinta”. Mas tem serventia. E que serventia! O importante é que existam os vãos. Aos moradores não interessa de que material sejam feitos. Basta que existam.

Maitê, ao deitar, da beirada da cama, espicha o olhar e a vê. Esta noite ela está lá! Redonda, prenunciando chuva. Diz a crendice que, depois de lua cheia, sempre chove. Maitê espera que isso demore a acontecer. Para que dê tempo de sonhar... Porque quando a chuva despenca lá de cima, impiedosa, molhando os trapos até os ossos, desmancha qualquer castelo de sonhos. E, ainda, é preciso sonhar.

Era uma vez
...uma casa muito estranha.
Não tinha porta, não tinha nada.
Mas muita gente ali dormia.
E bem sabia pra que servia.
Lá, lá, lá, lá...Lá, lá, lá, lá...
Lá, lá, lá, lá...Lá, lá, lá, lá...

Aos pés da cama, Capitão, enroscado, espia a lua. Embora importante no nome, é apenas o cão sarnento de um morador. Seu único e fiel companheiro.








quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009



 

MENOS, MEU DONO, MENOS...


Desde o início, ele soubera que aquilo era uma furada. Ele que, por tamanho e conformação dos músculos, permitia-se dar saltos bastante ousados, percebeu, em determinado momento, que seu dono ia acabar se enredando, porque estava ousando demais, além da conta.

E olha que seus bigodes se eriçavam todos, quando seu dono pegava o celular e ia lá pro fundo do quintal a sussurrar coisas, que ele não entendia muito bem, mas que eram respondidas por Severino. Sabia que era Severino do outro lado da linha, porque seu dono repetia esse nome, dizendo coisas tipo: “fica frio”, “não vai dar rolo”, “eu seguro”, “eu entendo do riscado”, e por aí...

Essas conversas constantes ao celular, sempre afastado do pessoal da casa, já estava deixando Dona Josefa, sua dona, desconfiada do marido. Na realidade, andava enciumada, achando que havia outra mulher no pedaço.

Mas fazer o quê? Agora, depois que se tornara funcionário público, era pessoa importante por aquelas bandas. Ainda mais com o cargo que lhe haviam dado. Precisava estar sempre conectado com a repartição.

Mas o bichano sentia que rondava o perigo. A verdade é que as sobras de comida tinham aumentado. Pra quem vivia numa cacaca federal, até que seu dono tinha melhorado. Homem fazedor de dinheiro estava ali! Andava, como se diz, por cima da carne-seca. Na real, o bichano não conseguia entender bem essas coisas que estão sempre a rondar os humanos.

Mas, um dia, algo lhe deixou preocupado. Foi quando ouviu seu nome, numa conversa pelo celular entre seu dono e Severino. Ele, que conhecia aquela família há tantos anos, ouviu seu dono dizer que, pasmem: era um recém-nascido. Ele que até já ia ser pai! Isadora estava por dar à luz.

Alguma coisa estava acontecendo. Ou, ia acontecer. Estacou, atrás do pé de cinamomo, e ficou a ouvir. Seu dono virara um mentiroso, um trambiqueiro?

E parece que, naquela casa, só ele sabia disso. Era a única testemunha, auditiva, daquela armação. Ouviu, durante um bom tempo, toda a conversa.

Começava a entender porque seu dono, de uns tempos pra cá, andava diferente. Já não era o mesmo. Reconheceu, assustado, que seu dono andava ousando demais. O pior de tudo é que, pela conversa dos dois, parecia que ele, o bichano, tinha virado um guri, com sobrenome e tudo. Não estava entendendo mais nada.

O que intrigava é que eram conversas sempre em voz baixa, ao celular, lá nos fundos do terreno. Isso começou a lhe dar nuns nervos. Era mais ou menos como se sentia, quando resolviam fazer faxina na casa: ficava muito nervoso.

Cismado com essa sensação, andava ele mais inquieto que cavalo sarnento. Foi quando, numa tardinha, tornou-se pai. Eram três filhotes ao todo. Dali em diante, pelos próximos meses, nem Isadora e nem Dona Josefa lhe deram mais bola.

Pôde então se concentrar na figura do seu dono. Vivia mais grudado no homem que pepino no baraço. Achava que ele já andava até meio desconfiado. Mas as intenções do bichano eram as melhores.

Por vezes, seu dono estacava o passo, voltava-se e fixava seu olhar naqueles grandes olhos verdes. Parecia que procurava alguma coisa. Nessas horas, o bichano bem que gostaria de aconselhá-lo. Alertá-lo para os perigos de quem não possui a esperteza refinada, a agilidade reconhecida: um DNA fraco para lances tão arriscados.

Mas faltava-lhe o que sobrava em seu dono: uma boa conversa. Assim, sem poder comunicar-se, a não ser com os olhos, o rabo e uns débeis miaus, foi percebendo a cara de preocupação que, a cada dia, seu dono demonstrava. Já sentia que ele andava encrencado como barriga de guri novo.

Até que, numa manhã, bateram à porta. O bichano, já enrodilhado nas pernas de Dona Josefa, foi com ela atender a quem batia. Enquanto se deslocava, sentiu um calafrio a subir-lhe espinha acima. Seria mau presságio? Pois não é que o homem, que batera na porta, viera buscar o guri, recém-registrado no cartório da cidade, com nome igual ao seu, para levá-lo ao Posto de Saúde. Queriam pesá-lo... Imagina!

Ainda bem que Dona Josefa não deixou. Era só o que faltava acontecer com ele! Pensavam que ele era um nenê... Ele, que já era pai!
Aliás, Dona Josefa, coitada, não sabia da falcatrua do marido. Inocentemente, afirmou ali não existir criança alguma com aquele nome, a não ser o seu gato.

Passado o susto e já recolhido ao seu esconderijo, embaixo da casa, Billy entrou em profundas reflexões: o rolo parecia grande.

Então, era verdade? Como pudera seu dono fazer tão desastrada falcatrua? Coisa de amador... Imagina, a coisa poderia ter-se estendido por muito mais tempo. E, talvez, até nem fosse trazida a público. Agora, transformá-lo em um bebê, só poderia ter dado nisso. Se ele já fosse um guri de nove anos, ninguém ia querer levá-lo ao Posto para pesar...

Foi, realmente, uma mancada imperdoável. Todo mundo ali, naquela casa, saiu perdendo. Principalmente seus três novos filhotes, que já poderiam largar, na vida, melhor alimentados. Já seriam uns reais a mais no orçamento da família, considerando-se o novo filho registrado. Um auxiliozinho do Programa Bolsa Família. Mas agora, babaus...

Imagina, se sujar por tão pouco... Se fosse por muito, até valeria a pena. Afinal, parece que quanto maior o rombo, menor o constrangimento. E, também, menor a execração. Os exemplos estão por aí aos montes.

Ele bem que gostaria de ter avisado: menos, meu dono, menos...

Brincadeiras à parte, sete vidas tem o bichano. Seu dono tem apenas uma. E com ela tentou dar uma de “joão-sem-braço”, mas se enrolou mais que carrapicho em cola de cavalo. Acabou mais por baixo que umbigo de cobra e mais sujo que pau de galinheiro.

E pensar que seu dono era um privilegiado naquele mar de miseráveis a sua volta. Que feio!



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