domingo, 24 de dezembro de 2017

É TEMPO...



As horas contadas no silêncio são mais longas e podem ser muito mais criativas.

Para quem pensa sobre o ontem, durante o hoje que se esvai e que nos leva para o amanhã, que será hoje quando lá chegar, é necessário estabelecer regras para entendê-lo.

Existirá tempo de plantar e de colher para nós humanos? Ou, nos tempos atuais, as coisas serão diferentes?

Filósofos, cientistas, sociólogos, todos já falaram sobre o tempo. Ao que parece, nada de relevante ao cidadão mediano serviram tantos conceitos emitidos por tais autoridades.

Agora, o tempo de tosquia é algo bem palpável e deve ser observado sob pena de o rebanho sofrer grave prejuízo em seu desenvolvimento.

O tempo de semeadura e o da colheita são momentos únicos para quem pretende ver o fruto acabado dessa laboriosa atividade. Claro, pronto para a comercialização e consumo.

É tempo de olhar para o ontem e ver-se no colo do pai, para que o olhar pudesse enxergar a estrela de cinco pontas a enfeitar a árvore de Natal, tal era a altura das árvores natalinas de antigamente. Todas, é claro, pinheiros verdadeiros cujo limite de altura era o teto da casa. Plantava-se ali, à época, a esperança de momentos felizes, aguardando-se as bênçãos do Criador pelas preces invocadas. Seu filho, logo abaixo, numa manjedoura, representava o tempo renovado, o futuro abençoado por sua presença.

O tempo, intangível, continua o mesmo. É o tempo do amor renovado, das renovadas promessas, do olhar que busca a mesma estrela de cinco pontas que ainda enfeita a já, agora, pequena árvore de Natal. As cinco pontas que nos lembram as quatro energias formadoras do planeta, isto é, ar, água, terra e fogo, acrescidas do espírito. Os nossos cinco sentidos, mas, também, os nossos quatro membros mais a cabeça. Também, os chamados cinco estágios da vida do homem, a saber: nascimento, infância, maturidade, velhice e o último estágio que é, na verdade, um novo início.

Quanta simbologia que nos acompanha pelos tempos afora...

A minha arvorezinha permanece comigo, renovada a cada ano. Como adorno há sempre uma estrela de cinco pontas, com uma das pontas voltada para o alto, para as alturas, a nos lembrar de que nosso tempo é infinito, pois sempre terá um fim e um recomeço.

Portanto, a esperança permanece. Aquela que nos faz refletir e melhorar a cada etapa da caminhada.

Há dois mil anos, naquele berço simples, nascia alguém que nos embala e nos impulsiona até hoje. Uma estrela, a Estrela de Belém, à época, iluminou os céus anunciando sua chegada. E com ELE a esperança de salvação para seres terrenos, frágeis e carentes.



Lembre-mo-nos de que nossa bandeira também carrega várias estrelas, todas de cinco pontas e de mesma importância, embora de tamanhos diversos.

É tempo de nos perguntarmos se podemos transmudar as tantas estrelas que nos representam em nossa bandeira, para que sirvam de anunciação de que novos e melhores tempos virão para tantos que aqui aguardam solução para seus problemas terrenos.

Para o depois, para um novo reinício? Temos AQUELE, que é o nosso salvo-conduto, para uma passagem iluminada e redentora.

Que o nosso Natal permaneça iluminado pela chama que nos habita há tantos mil anos. Que nossa fraqueza encontre força e apoio na crença de que não estamos aqui por acaso.

Que toda a inspiração e criatividade dos poetas e escritores se transformem em mensagens de esperança para um amanhã mais promissor.

Que as artes e a música, linguagens universais, façam parceria em busca do mesmo objetivo.

Que, neste Natal, busquemos a compreensão, a solidariedade, a generosidade e o amor como parceiros.

Quanto às inúmeras estrelas que representam cada Unidade da Federação é o nosso desejo de que passem a iluminar com seu brilho os caminhos percorridos por tantos sofredores.

É tempo de Natal. É tempo de uma esperança renovada nessas estrelas que compõem nosso território. Que seus dirigentes percebam que o tempo escoa: o tempo terreno, aquele que é passageiro. Quanto ao outro, o eterno, saibam que a dívida permanecerá.

Enquanto aguardamos mudanças, ouçamos conhecidas músicas natalinas ao som de um cavaquinho, bem ao gosto dos brasileiros espalhados por tantas estrelas que pavimentam nossa bandeira.

UM FELIZ NATAL A TODOS!



Músicas de Natal ao som de cavaquinho





 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

PROCURA-SE...



A bala, que Amanda ainda se lembra, não é a mesma da qual se fala hoje. Nem mais existe aquela que era um sucesso entre os mais jovens.

Os campos, pelos quais Amanda se deslocava até a escola, não mais existem. E os que ainda restam, afastem-se deles por precaução.

As portas e janelas, sempre receptivas a quem chegava ou passava por elas, não mais se deixam cumprimentar, pois trancadas sempre estão.

Os coletivos onde os corpos se deixavam descansar, em que até um cochilo poderia acontecer, é ocorrência improvável, hoje, pelo pisca sempre alerta.

O som do telefone que toca não pode ser atendido de pronto, a menos que se possa saber de onde provém. Ah! Nunca pronunciar a palavra “sim”?

Em compras no supermercado, carregar os pertences pessoais na mão ou no braço. Nem pensar em deixá-los descansando no carrinho de compras.

Marcar lugar no restaurante? Apenas uma chave ou algo sem importância. Bolsas na cadeira? Abandone a ideia.

Entrar em qualquer site? Sai da frente! O perigo ronda durante o tempo inteiro.

Assistir a um espetáculo ao ar livre ou em ambiente fechado, à noite? E a volta pra casa?


Mas o olhar do Snoopy, um cãozinho Shitsu, muito querido, continua o mesmo. Não mudou.

E o sabiá cantando na janela? Permanece fazendo a sua visita diária.

O sol que ilumina nossos dias ainda é o mesmo.

As nuvens continuam esbanjando criatividade em desenhos que se perdem nos tempos.

A lua ainda aparece em noites marcantes para quem se detém a admirá-la ou, sob sua luz, acercar-se com mais paixão da pessoa amada.

Os cantos das aves matutinas e vespertinas ainda estão presentes em nossos dias.

Este é um país pródigo em riquezas naturais e pleno de pessoas que o amam e que trabalham, incessantemente, pela sobrevivência em condições dignas.

E o sorriso do filho, há poucos meses parido, é a certeza de que o amanhã existe.

E o cumprimento do vizinho é a confirmação de que não estamos sós.

PROCURA-SE alguém que atenda às expectativas de que balas se tornem balas para consumo humano novamente; de que drogas voltem às farmácias como produtos usados para debelar doenças, salvando vidas; de que armas sejam restritas a quem delas tem competência para uso e dever de ofício para usá-las, quando necessário; que possamos ir com a certeza de que voltaremos.

Terras existem e os minerais mais valiosos do planeta aqui se encontram, como o nióbio. Água também não nos falta, bem como milhões de trabalhadores em todos os segmentos da sociedade: nossa maior riqueza.

PROCURA-SE alguém que não dissimule, que não minta, que não trapaceie, que não desvie indevidamente: que não roube.

Àqueles que estão envolvidos em todos os tipos de crimes, que se encontrem os mecanismos para pôr fim a este estado de desintegração moral e social em que nos debatemos.

Que os trabalhadores, letrados ou não, se apercebam da importância de observar-se um comportamento correto de cidadão para cidadão. Isto irá refletir-se na capacidade de melhor escolher quem irá dirigir esta sociedade, que a todos deve incluir.

Que a palavra, escrita ou falada, carregue o refrão da solidariedade, da responsabilidade, do respeito, da empatia e do desejo e empenho por construir uma nação digna para os que aqui estão e para os que virão. A todo aquele que aqui nascer, a exemplo do refrão de um conhecido samba, possa:
“Amar a liberdade, só cantar em Tom Maior e ter a felicidade de ver um Brasil melhor”.

PROCURA-SE esse alguém...

E a esperança é que nos alimenta nesses dias incertos.





 Tom Maior ao Vivo







sexta-feira, 22 de setembro de 2017

ERA PRIMAVERA...




Abri a cortina e, com surpresa, no peitoril da janela, entre o vidro e a grade, encontrei algo inusitado.

Num dos vasos ali colocados, em meio à ramagem, um presente da Natureza tinha escolhido refúgio para a vida comemorar.

A grade não foi empecilho, nem, tampouco, o espaço pequeno foi obstáculo para que três novas vidas ali se desenvolvessem. Um ninho ali se instalara. E a sabiá depositaria três ovos.

Quando poderia imaginar que acompanharia a evolução e o nascimento de três novos seres, cujo canto “me encanta”.

Pacientemente, dia após dia, ali ficava a mãe zelosa a cuidar de seus filhotes.

Passados alguns dias, que não sei precisar, avistei um novo ser que viera ao mundo. Depois de algum tempo, outro e mais outro.

Não me contive e comecei a fotografar o desenrolar dos dias e a dedicação da mãe e do pai, acredito eu, em trazer o alimento para aquelas três bocas famintas. Aliás, estavam quase sempre abertas, pedindo mais e mais comida.

Fotografei o cuidado com o ninho e com a aproximação até ele. Faziam uma espécie de reconhecimento prévio.

Era primavera e eu estava feliz.

Tinham escolhido minha janela para vivenciarem este ato que a todos nós une, independentemente de que espécie esteja a se falar.

Era Primavera.

Lembro-me que um poema dali surgiu e que dizia um pouco com estes novos seres que vieram ao mundo para voar.








Não sei bem porque usei a expressão “além-mar”. Acho que por influência do nosso Gonçalves Dias, quando do seu “exílio” físico e geográfico, pois cursava Direito em Coimbra, à época, e a saudade era imensa. Estava além-mar, mas queria retornar para ver, novamente, as palmeiras onde cantava o sabiá.

Pois este meu sabiá cantou bem próximo a minha janela e serviu de inspiração para um novo retomar.

Afinal, era Primavera!

Há, porém, aquela outra imagem de outro passarinho que não quis adentrar às grades. Achegava-se, mas ficava voando, num convite a segui-lo. Este convite tornou-se a última estrofe do poema O PASSARINHO

“Sim, és um convite para o despertar.

Não te queres enclausurar.

Por isso, não te permites adentrar.

Assim, cabe a mim te imitar... e voar...”


É! A Primavera tem este condão de nos despertar para o novo, para a vida que se renova tal como o nascimento dos meus três inquilinos que aqui estiveram por um breve tempo.

Serviram, porém, de inspiração para novos rumos tomar.

É novamente Primavera!

Aproveitemos esta aura de magia que a todos envolve.

Pois, segundo Fernando Pessoa:

“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.












 Maria Lucia Godoy – Sabiá


A Majestade o Sabiá – Jair Rodrigues




 



sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O GRANDE CÍRCULO



Impossível prendê-lo, nem segurá-lo. E é devastador!

Parte das entranhas da Terra. E de lá surge com diversas denominações. São primos e mais primos que podem surgir, inesperadamente, e levar a todos e tudo de roldão.

Há, porém, aquele outro desconhecido, imaterial, invisível, que surge não se sabe de onde, do Universo infinito, tão devastador quanto os primeiros. A diferença é que surge, normalmente, mais lentamente, sem atropelos, sem a força aparente de um cataclismo.

É com ele que lidamos desde o abrir de olhos, encerrando-se seu ciclo sem saber-se a hora e nem as circunstâncias.

Sobre os primeiros, talvez, tenhamos uma chance maior de evitá-los.

Sobre o último, nenhuma chance.

Assim, tudo que é passível de movimentação, ruído, calor, frio, dá-nos a possibilidade de preparação e, quem sabe, salvar-se de seus estragos.

Aquilo que flui, porém, não se sabendo de onde vem e nem a quem atingirá: é profundamente imprevisível.

E, quando atinge o seu alvo, tudo termina.

Terminará?

Não há ruído que o anuncie. Não há ruído pelo qual se consiga percebê-lo. Mas há um ritmo indelével, vindo de não sei onde, que nos convida a desfrutá-lo, reconhecendo seu encantamento e bailando num ritmo que nos abriga num grande círculo: o círculo da vida.

É por demais voluntarioso e nos tira do sério quando algum de nós é retirado deste círculo, descompassando a nossa dança das horas.

Aqueles primeiros aparecem quando as condições do planeta os favorecem.

E aquele segundo, chamado Tempo, aparece a qualquer momento, sob qualquer circunstância, ao alvedrio de quem tudo rege, eliminando dançarinos que já não comungam do mesmo ritmo. Aquele ritmo inaudível por todos nós.

Como todos são excelentes dançarinos, mesmo aqueles que se arrastam pelas calçadas da vida, acredita-se: todos irão mudar apenas de círculo.

Com certeza, haverá um círculo mais abrangente e bem mais sereno, pois estarão todos sob o manto de uma eterna proteção e de uma placidez, também, eterna.

Portanto, nos preocupemos com os desastres naturais, porque em parte previsíveis.

Desfrutemos, porém, do tempo que dispomos para iluminarmos o olhar, aguçarmos os ouvidos, sonharmos com uma paz que nos envolva a todos num grande círculo amoroso. Tudo ao ritmo imperceptível do Criador.

Afinal, nosso tempo é diferente do tempo de um furacão.

O nosso se propaga por ondas mais sutis, impossível ouvi-las e prever o seu desfecho.

Ah! Ia esquecendo...

E assim fica difícil de gravá-las para, depois, usá-las como argumento contra outros componentes deste grande círculo, ou a nosso favor, no ato marcado para o Dia Final, aquele da Prestação de Contas.

Aliás, convenhamos, recurso desnecessário frente ÀQUELE que tudo sabe, tudo ouve, tudo percebe.



 Oração ao Tempo - Caetano Veloso, 1979








terça-feira, 11 de julho de 2017

REFLEXÕES NO PARQUE




Olhos pousados na mandala construída pela natureza.

Um céu completamente azul e árvores que com suas ramagens, galhos e folhas desenham sobre este fundo uma imagem em que o olhar se perde.

E o som, que embala esta dádiva, vem de músicos que tocam chorinhos e sambas e que integram o Grupo Naquele Tempo. Executam composições próprias e de autores reconhecidos nacionalmente.

Instrumentos como violão, cavaquinho, bandolim, violino e outros tantos de percussão compõem este grupo de artistas que se apresenta pela cidade.

Em parques, esquinas e onde houver o povo presente, lá estarão eles a alegrar quem deles aproximar-se, difundindo a música popular brasileira mais genuína.

Estão habituados a embalar o gestual de quem se achega e que não consegue ficar inerte a tanta sonoridade e ritmo.


Quanta poesia no ar...

É de tudo o que precisamos neste domingo de trégua da chuva e do frio.

Que delicadeza de som! Faz aflorar só bons sentimentos. Impossível ficar imóvel. É um pezinho que bate no chão, tímido, acompanhando as músicas, é um mexer de ombros e quadris: um quase sair dançando.

Olhos voltados ao azul do céu. Ouvidos que vibram ao ritmo de melodias bem brasileiras. O que mais querer?

É um sentir-se conectado à mãe Natureza e aos irmãos que circulam por entre as árvores, trazendo seus afetos pelas mãos. Mãos que afagam, que direcionam, que cuidam, não importando serem animaizinhos ou gente miúda.


E a grande imagem, que abarca tudo isso, parece congelar e não mais querer sair da retina.

E o criador dessa cena?

Será o olhar de quem se detém no particular para desaguar no conjunto absorvendo a beleza ali existente?

Ou, esse olhar também é parte desse todo maior?

Sim, somos, todos, provas existenciais desse milagre de existirmos.

Somos provas vivas.


Vivemos para erguer os sonhos ao alto,

Apesar dos tombos.

No calafrio das noites escuras,

Ou no suor dos pesadelos

Das noites maldormidas.



Sonhos cujas imagens repousam

Na mandala tecida por olhos poéticos.

Sonhos que bailam ao som

De chorinhos ao entardecer no parque.



Sonhos que nos mantêm vivos.

Que nos fazem chegar próximo aos poetas.

Eles que descrevem nem sempre o que veem,

Mas sempre o que a emoção permite experimentar.



E ela só permite aquilo que temos de bom.

Mesmo que de coisas más se poetize.

Seus versos esculpirão da miséria

Aquilo de sublime que ele, o Poeta, extrair.



Música e Poesia: dupla perfeita.

Uma tarde inteira para...

Ouvir... Olhar...

Sentir... Criar...

Poetar...


Somos provas vivas de que existimos para amar e não apenas para amargar.

E sempre estaremos por aqui, porque somos provas vivas de existências que, embora transitórias, revelam uma continuidade vivencial humana que se perde no tempo do Universo. Seres humanos serão substituídos por outros seres humanos.


Muito diferentes daquelas outras provas, aquelas passíveis de destruição, sem possibilidade de substituição. Aquelas que, em princípio, não se podem enterrar vivas, porque nada vivo se enterra, incluindo-se nós: os humanos. E, por último, porque, se ocultadas ou destruídas, serão insubstituíveis. Por isso, deveriam ser esmiuçadas, apreciadas e avaliadas à exaustão.

Nem sempre eles, os juízes, estão certos. Desta vez, porém, a indignação do Senhor Juiz foi procedente. 




 Choro na Rua – Grupo Naquele Tempo



 Grupo Naquele Tempo