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domingo, 7 de fevereiro de 2021

CORES... E MAIS CORES...



Abrir grades e janelas.

Estender o olhar para além do horizonte.

Repousar braços no parapeito da janela que se oferece, pois saudosa desse movimento tão comum em dias passados.

Sentir a brisa que acaricia um rosto carente de afago.

Seguir com o olhar o voo dos passarinhos e sentir-se pronto para voar junto, imaginando-se companheiro dessas jornadas desconhecidas.

Para onde irão? Quando voltarão?

Seguirão algum rumo definido? Ou o acaso servirá de rumo?

Os sons do amanhecer serão parceiros desse olhar humano que a tudo observa.

E as cores que o céu oferece, naquele instante, serão definitivas durante aquele dia?

Claro que não!

As cores com as quais somos brindados, ao longo do dia, modificar-se-ão a todo o instante.

Ah! As cores!

Aqueles azuis límpidos, junto aos brancos, formando figuras inspiradoras. Vez por outra, alguns cinzas surgem do nada descolorindo o cenário.

Estes, por seu turno, criam formas que alimentam nossa imaginação, acrescentando possibilidades diversas ao conjunto do espetáculo.

Sim, porque é um espetáculo imaginarmos o poder da Natureza que nos cerca.

Os azuis, brancos e cinzas que nos cobrem, assim como o negro e luminoso, visível à noite, sucedem-se dia após dia, noite após noite.

E o rei Sol, com seu amarelo, que nos transmite tanta energia.

As belas cores que nos cobrem e as que nos cercam são um colírio aos nossos olhos.

As cores são tão importantes aos humanos que os clubes de futebol têm, nas cores escolhidas, a coloração impressa em suas flâmulas.

É muito bom termos tantas opções!

Belinha acredita que os sonhos coloridos, que a acompanham, sejam produto desse encantamento com as cores do céu, das árvores, do mar e dos olhares que desfruta com os amigos que encontra pelo caminho.

Ah! E há muitos que são apenas atendentes, passantes ou motoristas cujos olhares também colorem sua caminhada.

O mais relevante, porém, é conscientizar-se da importância das cores que nos cercam e, para tanto, há que se refletir, em silêncio, sobre o efeito que nos causam.

No céu, elas mudam constantemente.

Cá embaixo, elas permanecem por mais tempo.

Aquele verde da plantinha, se for regada com frequência, permanecerá por bastante tempo verdinha.

É mais ou menos como a manifestação amorosa. Se for mantida com afeto e carinho, viverá por muito tempo.

Assim como o amor pelas cores de um clube, destacamos, aqui, o amor de Silvia Grecco para com Nikollas, seu filho adotivo e deficiente visual.

Antes de ser palmeirense é mãe extremosa e teve a viagem dela e seu filho até Doha, para assistirem a Final de Clubes, paga pela FIFA. Tudo isto devido ao reconhecimento e ao fato de ter sido ele o vencedor do prêmio O TORCEDOR DO ANO DA FIFA em 2019. O troféu foi recebido na Festa de Gala da FIFA, o FIFA THE BEST, no Teatro Alla Scala, em Milão, na Itália.

A crônica QUANDO O AMOR FAZ A DIFERENÇA, publicada em 07/10/19, traz, no final, um vídeo emocionante quando da entrega do título. Vale a pena assistir.

Pois é!

Desta vez, Belinha destaca o VERDE como a cor que representa o Brasil nos Jogos do Mundial de Clubes da FIFA em Doha, no Catar.

E, por acaso, esta é uma cor que Belinha gosta demais.

 

 

 Clique aqui para ler a crônica QUANDO O AMOR FAZ A DIFERENÇA.

 

 

 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

PROCURA-SE...



A bala, que Amanda ainda se lembra, não é a mesma da qual se fala hoje. Nem mais existe aquela que era um sucesso entre os mais jovens.

Os campos, pelos quais Amanda se deslocava até a escola, não mais existem. E os que ainda restam, afastem-se deles por precaução.

As portas e janelas, sempre receptivas a quem chegava ou passava por elas, não mais se deixam cumprimentar, pois trancadas sempre estão.

Os coletivos onde os corpos se deixavam descansar, em que até um cochilo poderia acontecer, é ocorrência improvável, hoje, pelo pisca sempre alerta.

O som do telefone que toca não pode ser atendido de pronto, a menos que se possa saber de onde provém. Ah! Nunca pronunciar a palavra “sim”?

Em compras no supermercado, carregar os pertences pessoais na mão ou no braço. Nem pensar em deixá-los descansando no carrinho de compras.

Marcar lugar no restaurante? Apenas uma chave ou algo sem importância. Bolsas na cadeira? Abandone a ideia.

Entrar em qualquer site? Sai da frente! O perigo ronda durante o tempo inteiro.

Assistir a um espetáculo ao ar livre ou em ambiente fechado, à noite? E a volta pra casa?


Mas o olhar do Snoopy, um cãozinho Shitsu, muito querido, continua o mesmo. Não mudou.

E o sabiá cantando na janela? Permanece fazendo a sua visita diária.

O sol que ilumina nossos dias ainda é o mesmo.

As nuvens continuam esbanjando criatividade em desenhos que se perdem nos tempos.

A lua ainda aparece em noites marcantes para quem se detém a admirá-la ou, sob sua luz, acercar-se com mais paixão da pessoa amada.

Os cantos das aves matutinas e vespertinas ainda estão presentes em nossos dias.

Este é um país pródigo em riquezas naturais e pleno de pessoas que o amam e que trabalham, incessantemente, pela sobrevivência em condições dignas.

E o sorriso do filho, há poucos meses parido, é a certeza de que o amanhã existe.

E o cumprimento do vizinho é a confirmação de que não estamos sós.

PROCURA-SE alguém que atenda às expectativas de que balas se tornem balas para consumo humano novamente; de que drogas voltem às farmácias como produtos usados para debelar doenças, salvando vidas; de que armas sejam restritas a quem delas tem competência para uso e dever de ofício para usá-las, quando necessário; que possamos ir com a certeza de que voltaremos.

Terras existem e os minerais mais valiosos do planeta aqui se encontram, como o nióbio. Água também não nos falta, bem como milhões de trabalhadores em todos os segmentos da sociedade: nossa maior riqueza.

PROCURA-SE alguém que não dissimule, que não minta, que não trapaceie, que não desvie indevidamente: que não roube.

Àqueles que estão envolvidos em todos os tipos de crimes, que se encontrem os mecanismos para pôr fim a este estado de desintegração moral e social em que nos debatemos.

Que os trabalhadores, letrados ou não, se apercebam da importância de observar-se um comportamento correto de cidadão para cidadão. Isto irá refletir-se na capacidade de melhor escolher quem irá dirigir esta sociedade, que a todos deve incluir.

Que a palavra, escrita ou falada, carregue o refrão da solidariedade, da responsabilidade, do respeito, da empatia e do desejo e empenho por construir uma nação digna para os que aqui estão e para os que virão. A todo aquele que aqui nascer, a exemplo do refrão de um conhecido samba, possa:
“Amar a liberdade, só cantar em Tom Maior e ter a felicidade de ver um Brasil melhor”.

PROCURA-SE esse alguém...

E a esperança é que nos alimenta nesses dias incertos.





 Tom Maior ao Vivo







quarta-feira, 18 de junho de 2014

É LONGO O CAMINHO

Que primeira estrofe mais depreciativa!



Lá vem mais uma Copa.

Coração já se convoca.

A Pátria de chuteiras.

Tudo mais se joga pela ribanceira.

O trem da alegria vai levar

Toda turma do funil.

Contrabando na bagagem do cartola.

Ora bolas, é Brasil.



É o reconhecimento, plasmado na letra do hino oficial da Copa do Mundo de 2014, de práticas, ao que parece, aceitas pelos cidadãos que aqui vivem.

Expor mazelas e ainda conformar-se com isso: é demais.

Já o jingle Mostra Tua Força Brasil, encomendado pelo Itaú, banco oficial da Seleção Brasileira e da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, mostra, pelo menos, um país que reafirma as suas cinco estrelas estampadas na camisa da Seleção, exaltando o amor e a garra que a “massa” tem pelo Brasil. Destacamos dois trechos, com erro de concordância, que seguem:



Pois só a gente tem as cinco estrelas na alma verde-amarela.

E só a gente sabe emocionar cantando o hino à capela.

Mostra tua força, Brasil!

E faz da nação tua bandeira

Que a paixão da massa inteira

Vai junto com você Brasil.



Isso é pouco, mas não tão depreciativo.

Agora, Eunice, professora já aposentada, não imaginava que assistiria, durante a cerimônia de abertura oficial da Copa do Mundo de 2014, imagens que lhe trariam saudades. Lembrou-se ela que, certa vez, dirigiu, no pátio da escola, uma representação de seus alunos durante uma encenação em que criaram fantasias, confeccionadas em papel, imitando árvores, pois compunham um cenário que ilustrava a poesia de Olavo Bilac chamada Velhas Árvores. A apresentação foi muito criativa, merecendo a nota 10. Claro que, naquela circunstância e com os adereços que dispunham, aquele desempenho surpreendeu e agradou a todos os presentes.

Já na festa de abertura da Copa do Mundo de 2014, “aquelas árvores” deixaram a desejar. As árvores vivas de Eunice teriam feito bonito naquela apresentação.

A cerimônia, dividida em três partes, apresentou na primeira a riqueza natural do país, a representação da sua natureza. Num segundo momento, exaltou-se o povo através da música e da dança. Por último, homens-bola surgiram, representando o futebol brasileiro, paixão nacional. Uma paixão tão avassaladora que transformou em arte o futebol. Pelo menos, é o que, até há pouco tempo, era visto como um diferencial no futebol brasileiro. As coisas parecem estar mudando! Vamos manter, por ora, essa expectativa que pode fazer a diferença no final do certame.

A trilha sonora de toda a cerimônia esteve a cargo de Otávio de Moraes, parecendo adequada ao espetáculo e servindo para dar maior brilho aos diversos momentos que se iam sucedendo. Ele é um conhecido criador de trilhas sonoras para importantes clientes na propaganda como o Banco Itaú, patrocinador oficial da Copa do Mundo 2014.

Agora, a apresentação musical de encerramento do espetáculo foi algo triste de se ver, ouvir e assistir. Talvez, ao gosto de belgas ou congêneres. Não teve, porém, nada a ver com a tradição musical mais representativa do povo brasileiro que é o samba. Com tantos discípulos de Joãozinho Trinta, com tanta gente capacitada a projetar e montar um espetáculo genuinamente brasileiro, coube a um casal de estrangeiros essa tarefa. Só podia dar no que deu.

A coreógrafa belga Daphné Cornez e o diretor italiano Franco Dragone foram os idealizadores e criadores do espetáculo que durou apenas 25 minutos e foi considerado, por muitos nacionais e outros tantos do exterior, como um espetáculo “morno”.

Deixando de lado a apresentação e desenvolvimento do espetáculo como um todo, que ficou a desejar, acredito que o maior azarão foi a música de encerramento com a participação de três reconhecidos cantores que, sozinhos, com seus estilos e público, fazem sem dúvida grande sucesso. São ótimos artistas. Juntá-los, cantando em playback We Are One, foi desolador. E a porto-riquenha dançando “na boquinha da garrafa” foi de doer. Aqui tem gente que faz isso muito melhor, com muito mais sensualidade. 

O momento não era para isso.

Perderam uma ótima oportunidade de mostrar ao mundo o nosso samba “de partido alto”, levantando de vez a galera que assistia ao espetáculo. Mas foi a FIFA que organizou todo o espetáculo! E sabe-se lá se aquelas estruturas, as do topo da arquibancada tubular externa, aguentariam tal empolgação? Circula pela Internet a informação de que as pessoas, que estavam mais abaixo, pediam para as de cima não pularem, pois tremia tudo.

Mas, também a Internet... Tudo cabe ali.

Cabe até a manifestação de pessoas que disseram que a imagem dos jogadores brasileiros, ao ingressarem no campo, parecia de detentos voltando pra jaula, com as mãozinhas no ombro e de cabeça baixa. Outros mais, muitos mais, afirmaram que mão no ombro significaria apoio, como o de um amigo verdadeiro. Dar a mão, afinal de contas, é um ato que se faz com qualquer um. Dar o ombro? É outra coisa!

Pois é! Ela, a Internet, registra tudo, possibilitando toda e qualquer manifestação. Tudo e todos são perquiridos. Tudo meio método socrático com um interlocutor virtual. O que é bom para o desenvolvimento das ideias, quando bem dirigido. Mas isso já é outro papo. O caminho é longo para que as boas ideias materializem-se em ações individuais, transformando a “massa”, referida no hino, em cidadãos verdadeiros.

Graças à tecnologia, pudemos assistir a uma coreografia pobre, a um encerramento desvinculado da nossa exuberância musical, que sabemos de qualidade.

Pena que o pontapé inicial de abertura da Copa nos foi subtraído, tanto pela ausência da fala das autoridades que deveriam fazê-lo, como é de praxe, quanto pela exposição do jovem tetraplégico, alçado a jogador, graças à ciência e tecnologia trabalhadas por cabeças brasileiras.

É! A manipulação é perversa. 



Os FILHOS DE VERA CRUZ, música composta por Altayr Veloso e Paulo César Feital, especialmente para a Copa, e cantada por Zeca Pagodinho, bem que poderia ter sido a música escolhida para o encerramento do espetáculo. E veja o quanto de simbólico encerram os versos que seguem, transcritos da referida música:



“Ó, minha pátria amada, cuida bem dos seus guris.”

“Mete nas canetas, faz de letra meu país.”



Observa-se tanto a expressão do drible “de caneta”, quanto o pedido de que se coloquem os guris de posse das canetas, com que se escreve, fazendo de letra um país. Não somente com os pés trocados como um gol de letra, mas um gol de letra no analfabetismo funcional, que ainda grassa.

O caminho é longo, mas vale a pena investir, pois são as ideias que movimentam o mundo. Educar é o caminho.






Zeca Pagodinho fala sobre Filhos de Vera Cruz – música para a Copa do Mundo 



Clip de Zeca Pagodinho para a Copa do Mundo/Brasil





Velhas Árvores - Olavo Bilac





quarta-feira, 7 de maio de 2014

SIGAMOS O SEU EXEMPLO


A avalanche agiganta-se a cada dia que passa. Sentimo-nos já meio soterrados. E a cada noite, desfilam à nossa frente um número cada vez maior de desastres e tragédias de toda a ordem e tipo.
Elencamos, abaixo, as notícias veiculadas durante uma semana, em dois jornais televisivos de abrangência nacional. O papel da imprensa é, sem dúvida, o de informar. Daí sua importância relevante. Nada, portanto, contra a imprensa.
Vejamos, por tópicos:
  • Guerras
  • Violência
  • Crimes de todos os tipos: nas ruas, em favelas, no seio familiar.
  • Atentados, Sequestros, Desaparecimentos.
  • Terrorismo
  • Agressões de todo o tipo
  • Explosões
  • Naufrágios
  • Deslizamentos
  • Incêndios criminosos
  • Tufões, Tornados, Furacões, Tsunamis.
  • Descarrilamentos
  • Discriminações: religião, sexo, raça, cor, opção sexual.
  • Casos de pedofilia
  • Imigração Ilegal
  • Desvios de dinheiro público
  • Fraudes de todo o tipo: contaminação, adulteração, validade vencida.
  • Cenas de selvageria em estádios de futebol
  • Greves
  • Cenas de descaso com a Educação
  • Cenas de descaso com a Saúde
  • Segurança deficitária para os cidadãos
  • roblemas graves na produção de energia
  • Mananciais de água para abastecer cidades sob-risco iminente de colapso
  • Esgotamento das reservas para produção de energia
  • Custos cada vez mais altos para prospecção, em terras profundas, de materiais  combustíveis.


Em apenas sete dias, todos esses gravíssimos assuntos, recheados por imagens impactantes, mergulharam em nossos olhos e mentes.
Milhares de nós já estão submersos em muitos desses dramas. Outros tantos, não o sentem diretamente, mas são fortes candidatos a serem atingidos por alguns desses desastres. Alguns outros, talvez, demorem um pouco mais para chegar a esse nível caótico que se desenha.
Percebe-se que, na verdade, mesmo aqueles cidadãos, que ainda não se sentiram atingidos diretamente, já o são na medida em que recebem esse bombardeamento visual contínuo e diário.
Como navegar em meio a essa avalanche?
Sem olhar para trás, embora lá se encontrem experiências que não deram certo e que, por isso, não devemos repeti-las?
Sem olhar para os lados, pois nos deparamos com situações e pessoas do nosso cotidiano que, da mesma forma, nadam em meio à mesma avalanche?
E olhar para frente é ainda a solução?
Sim, ainda é o caminho. Outro, não há.
Por menor que seja o ponto luminoso à frente, é para lá que deveremos mirar.
Cada um construirá, pouco a pouco, mecanismos de defesa próprios que o livrarão, dentro do possível, da desesperança que se abate diante de tal realidade.
Lembrei-me daquela professora dedicada que, todas as manhãs, preparando-se para enfrentar um dia de trabalho, ouvia uma determinada rádio, aguardando o noticiário. Ocorre, porém, que tal noticiário era precedido por um programa, cujo apresentador, invariavelmente, atribuía aos professores, da época, todos os males da Educação. Tudo porque eles reivindicavam dignidade de tratamento, remuneração condizente com a relevância do cargo e escolas com infraestrutura adequada.
Diante desse bombardeamento diário, a tal professora passou a não ouvir mais o referido programa. E o noticiário acabou também prejudicado. Cortou ela aquele gatilho que a desestimulava, tornando o seu início de dia totalmente pesado, sombrio, carregado de inconformidades que lhe produzia uma sensação de derrota.
A receita, talvez, seja então descartar o que prejudica o nosso olhar e os nossos ouvidos. Considerando-se, aqui, aquilo que os meios de comunicação nos apresentam e não nossos irmãos que se encontram jogados nas calçadas. Esses devem ser olhados com um olhar de questionamento para com os deveres do Estado.
Michel Lacroix, conhecido filósofo, afirma em seu livro O CULTO DA EMOÇÃO, edição 2011, página 165:
“Daí a superioridade da leitura em relação ao consumo de imagens.”
Defende, igualmente, o cultivo da emoção-sentimento em detrimento da emoção-choque, que é paradigma da modernidade.
De qualquer sorte, estamos todos quase submergindo nessa avalanche de desmandos, corrupção e descompromisso com o cidadão e com o planeta.
Nada que não tenha solução, segundo Domenico De Masi, em seu livro O FUTURO CHEGOU, 1ª edição, ano 2014.
O renomado sociólogo discorre, em sua alentada obra de 736 páginas, 14 modelos de sociedade que marcaram a história social do mundo, destacando-se os modelos católico, hebraico, muçulmano, protestante, clássico, iluminista, liberal, capitalista, socialista, comunista, chegando aos dias atuais com o modelo pós-industrial. O último capítulo, o de nº 15, com 90 páginas, é dedicado ao Modelo Brasileiro, que acredita ainda em formação.
Pela leitura depreende-se que estamos com a faca e o queijo nas mãos. Há quem discorde, porém, das assertivas propostas por ele com relação ao Brasil.
Domenico De Masi acredita que ideologias já desapareceram, bem como seus líderes. Os modelos tradicionais não mais satisfazem. Estamos, portanto, segundo ele, desorientados. A sociedade planetária está sem rumo, sem um modelo a seguir.
E como imaginar um modelo único para tantas diferentes sociedades?
Lança ele a ideia de que, talvez, caiba aos intelectuais dar um sentido à vida e, consequentemente, um modelo para essa sociedade pós-industrial. Logo após, porém, diz não caber apenas aos intelectuais a busca desse novo modelo. Que as sociedades, através de suas manifestações, inclusive de rua, poderão promover mudanças necessárias que busquem a formação de um novo modelo de sociedade.
E deposita no Brasil, país que, segundo ele, possui todos os elementos reunidos para desfraldar a bandeira do novo paradigma para a sociedade planetária. Muito ambicioso? Muito ufanista? Muito irreal? Talvez, não.
O livro merece leitura e a parte relativa ao Brasil, mais ainda.
Tece elogios à mestiçagem, à natureza, às pessoas e à própria economia. Ressalta a contribuição dos cientistas sociais brasileiros na elaboração de um modelo brasileiro de sociedade.
Embora alguns contestem, há uma democracia racial. Pode não ser ainda plena, mas está longe de sociedades que cultivaram um apartheid feroz.
De Masi menciona Stefan Zweig, dramaturgo, musicólogo, jornalista e poeta austríaco, naturalizado britânico, que, em 1941, teve a possibilidade de permanecer no país por algum tempo. E encantou-se com a coexistência pacífica, considerando-se a multiplicidade de raças, classes, cores, religiões e convicções.
Corremos, porém, o risco de perdermos a possibilidade de sedimentar essas nobres qualidades. Se continuarmos repetindo modelos já esgotados e que se mostraram destrutivos para as sociedades e o planeta, não atingiremos os prognósticos de vários intelectuais que viram e, ainda, veem na nossa sociedade a possibilidade de um novo modelo societário. Repito, vale a leitura do capítulo referente ao Brasil.
Domenico ainda aponta, na página 707, os valores positivos que persistem na sociedade brasileira, bem como elementos novos, verdadeiros desafios internos, que se tornaram mais difundidos e que depõem contra esse alavancar de progresso social que estamos a merecer, a saber: corrupção, violência, desigualdades e déficit educativo, entre outros.
Afirma ele que uma pesquisa realizada pelo grupo OCA (Organização de Conhecimentos Associados) de São Paulo, em 2013, indicou que ainda persistem os seguintes valores básicos:
Ritmo, sensualidade sem complexos, festividade, exaltação das cores e dos sabores, a intercultura, a capacidade de copiar e inventar”, palavras dele.
E continua:
“O brasileiro é informal, trabalha em mangas de camisa e sabe operar em grupo, é fluido nos seus processos de decisão, não tem preconceitos ideológicos, aprende fazendo, tende a conjugar o trabalho com o divertimento, presta serviços de modo atento, afável e afetuoso.”
“O sucesso, obviamente, dependerá de sua capacidade de mobilizar-se, organizar-se, tornar explícito um projeto compartilhado, buscá-lo com tenacidade, agir com maior racionalidade sem perder a simpatia, modernizar-se sem comprometer a sustentabilidade, ser menos tolerante, superficial, improvisador sem perder a criatividade.”
E finaliza:
“Nenhum outro país é amostra igualmente representativa e metáfora igualmente significativa do mundo inteiro na sua atual fase evolutiva. A mestiçagem, que foi prerrogativa do Brasil, hoje torna-se normalidade em todo o planeta, onde está em curso a mais importante mistura de todos os tempos, determinada em nível físico pelas grandes migrações e, em nível cultural, pelos meios de comunicação e pela rede”.
“O Brasil e seus intelectuais podem contribuir em medida determinante para essa reinvenção porque – como já registrava Darcy Ribeiro – a gente brasileira “sob a influência imperceptivelmente relaxante do clima, desenvolve uma menor força de colisão, uma menor impulsividade e dinamismo” – ou seja, exatamente as qualidades que hoje são dramaticamente supervalorizadas e consideradas como valores morais de um povo”.


Portanto, acho, sinceramente, que o Brasil tem jeito, tem futuro. Bastará que sua sociedade torne-se atenta, reivindicadora, fiscalizadora e com uma postura igual a do girassol, seguindo o seu belo exemplo que é sempre o de buscar a direção de onde vem a luz. Ela é que nos alimentará, dando-nos energia, para seguirmos buscando melhores tempos.

Fiquem, agora, na companhia de Jorge Ben Jor e seu País Tropical, numa versão mais modernizada, onde o fusca da letra virou carro, o violão, guitarra cantante e a nega continua deliciante. E de acréscimo o seu Spyro Gyro, onde a sensualidade brasileira está bem representada. E, logo após, uma bela mensagem que o girassol nos transmite através da sua busca incessante pela luz do nosso astro-rei.



País Tropical – Jorge Ben Jor 


Seja um girassol