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segunda-feira, 12 de setembro de 2022

NOVAS IMAGENS




Aquela passarinha, que fazia ninho naquela janela, sumiu.

Desapareceu. Seus dois ovinhos foram levados para não sei onde.

Desistiu de ali permanecer. Talvez, o local não fosse seguro para aguardar o nascimento dos novos seres.

Seu companheiro, por alguns dias, carregou gravetinhos e raminhos para formar um ninho.

A janela, à noite, era fechada. Embora a persiana ficasse afastada, quando baixada, o movimento e o barulho foram sinais de alerta para a mãe extremosa.
 
 


O sumiço deu-se em uma manhã. Ficaram, ali, apenas os raminhos.

Diferentemente do que ocorre com o sujo cobertor daquele ser que dorme, todas as noites, sob a marquise daquele prédio de esquina de uma rua bastante movimentada.

O cobertor, que tem dono, continua no mesmo local, faça chuva ou faça sol.

Quem por ali passa desvia o olhar, para não se sentir igual, mas é um ser igual ao que jaz na calçada.

O nome do condomínio, que o acolhe, chama-se Porto Seguro. O nome, talvez, seja convidativo. Quem sabe, as marquises, por serem alongadas, oferecem uma sensação de proteção.

Quem de nós, diante do quadro que se nos apresenta, é capaz de manter-se feliz e esperançoso?

A resposta, para que o cenário mude, é que tenhamos esperança, pois isto tudo vai passar.

Algumas etapas dessa gradativa mudança aparecerão no momento adequado.

Assim como as árvores, naquele quintal abandonado, estão verdejantes, pois a chuva e o sol são remédios eficazes para mantê-las saudáveis, nossas expectativas para novos tempos estão sendo, também, monitoradas por quem detém poderes para tanto.

Mantenhamos nosso olhar em busca do belo, pois ele existe e permanece entre nós. Nosso olhar vê, enxerga, mas, também, pode criar e tornar factível o que poderia parecer improvável.

O que pensar de quem em nada contribui para uma mudança tão necessária em nossa sociedade?

Nosso olhar amoroso e solidário tem que permanecer atento. Uma palavra de conforto faz toda a diferença diante de quadros de miséria humana tão deprimentes.

Buscarmos possíveis auxílios e soluções já seria um meio para que seres humanos não permaneçam nas sarjetas da vida.

E se as chuvas aparecerem e inundarem aquelas calçadas?

Que abrigos acolham estes seres ali jogados! A chuva e estes seres fazem parte do cotidiano de nossos bairros e cidades.


Aquele imundo cobertor

Aquele imundo pé

Aquele olhar constrangedor

De quem diz ter fé


Sejamos mais partícipes. A hora está aproximando-se.

Invistamos em nomes que representem mudanças reais de atitudes.

Precisamos mudar o cenário de nossas marquises.

Que a chuva que, ainda, nos ameaça seja apenas de alimento para nossas plantações, para nossos jardins, para nossos rios, riachos e lagoas. Que não faça parte da cama daqueles que não a possuem.

Que o bem-te-vi, que canta nos finais de tarde, seja um carinho aos nossos ouvidos. Um sinal de que há a possibilidade de vermos nossos irmãos ressurgindo dessa podridão em que se encontram.

Um bem-te-vi que cante a mudança possível para aqueles que ainda permanecem nessa condição.

Um bem-te-vi que acompanhe, com seu canto, a possível inserção desses indivíduos na condição de cidadãos.

Aguardemos essas novas imagens.

Um bem-te-vi, também, está vendo.

E, igualmente, aguarda.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 18 de abril de 2021

PONTOS, CURVAS, LADEIRAS



Quantas exclamações, quantas surpresas, quantas perguntas, quantas dúvidas, quantos pensamentos escondidos sob a soma de três pontos...

A curva é logo ali à direita. Há outra à esquerda. Qual seguir?

Uma levará à ladeira abaixo. Outra, a uma íngreme ladeira. Qual escolher?

Tudo se resume a definições de rumos a tomar-se.

Quando pequena, Belinha descia uma pequena ladeira e ia, à quitanda, comprar doces.

Muito feliz, voltava com os doces.

Bem mais tarde, descia e subia ladeiras, fazia curvas no trajeto que a levava à escola.

Em um momento, porém, que não esquece, as situações apresentadas levaram-na a confiar que aqueles três pontos tinham que desaparecer, fazendo nascer uma exclamação de alívio que culminou com a certeza que aquela curva, no trajeto da caminhada, tinha que ser assumida.

Dali em diante, tudo foi sendo construído com muito esforço, obstinação, surpresa e agradecimento.

Sabemos que a tomada de decisões se faz frente a alternativas. A experiência pessoal é um ingrediente importante nesta soma de possibilidades, bem como na escolha daquela que melhor se ajusta a cada indivíduo.

Conhecer a si e ao outro é uma constante tarefa que nos possibilita escolher, quem sabe, atalhos que nos levem ao destino desejado.

Será que se precisa de estudo para isso?

Precisa-se de observação, raciocínio, lucidez e vontade de alcançar o objetivo.

Precisa-se, com certeza, do outro, de outros e da fé que chegaremos onde almejamos.

O conhecimento, através do estudo, sem dúvida, fará diferença.

Dependendo do que se pretende alcançar, ele será um facilitador.

Todos, porém, independente das condições pessoais na escala social, têm possibilidade de abandonar aquela marquise onde têm morada.

Na crônica anterior a esta, deixamos a pergunta:

- Para que catadores?

Este, sem dúvida, é o primeiro degrau numa escala a ser assumida pelo morador da marquise. O degrau seguinte, para todos os que ainda estão chegando à fase adulta, é a educação pública de qualidade, fornecida pelo governante do momento, tornando-se esta atitude uma obrigação constitucional.

Como continuar convivendo com cenas deploráveis de seres humanos “chapados”, urinando junto aos contêineres, dormindo ao relento... Cabem, aqui, todas as reticências possíveis.

Para que servem as Constituições?

Para preservar e garantir direitos aos cidadãos. E todos nós, indistintamente, somos cidadãos.

O estudo obrigatório de qualidade, pelo menos no 1° Grau, e o Ensino Médio em alguma área técnica, entregaria à sociedade indivíduos aptos a várias atividades laborais.

E a percepção de que se tem capacidade para ser aproveitado em algum posto de trabalho geraria confiança e a autoestima nasceria de imediato.

Seria isto “sonhar”?

Creio, firmemente, que podemos voltar a este modelo, pois ele já esteve presente entre nós.

Não se constrói uma sociedade mais igualitária sem o comprometimento da sociedade como um todo: governantes e governados.

Temos que perceber que estamos em “derrocada”.

É hora de subirmos a ladeira do conhecimento e fazermos todas as curvas necessárias para que lá cheguemos.

Com certeza, lá, nos aguardará a exclamação de alívio:

- Conseguimos!

Estaremos iniciando um novo momento, que a todos beneficiará. E o resgate desses “cidadãos das marquises” será a vitória de nossa sociedade como um todo.

 

 

 

 

 

 

domingo, 14 de fevereiro de 2021

APENAS UMA NOVA ROUPAGEM



O tempo muda em qualquer tempo. Não somos os responsáveis por essas mudanças.

A Natureza, a que estamos submetidos, é aquela personagem que muda a vestimenta do céu que nos cobre. E é bom que assim seja, pois se em nossas mãos estivesse essa capacidade, talvez, fôssemos manipulados por aqueles que dominassem esse poder.

Exatamente como ocorre com o foco das notícias que invadem nossos lares.

Recebemos, passivamente, uma avalanche de imagens em que são expostas todas as fragilidades humanas, os efeitos deletérios de atos que comprometem a vida em sociedade, que contribuem para um cotidiano desafiador no sentido de que não se repitam ações discriminatórias, desabonatórias, de atitudes que subvertem os bons valores, aqueles que nos dignificam como seres humanos.

Tudo isto é apresentado, reiteradamente, em detalhes com as cores da notícia filmada, fotografada, veiculada em whats.

Dissimulação, traição, desvios de bens, valores e condutas são uma constante em nosso noticiário. Afinal, a notícia existe para ser divulgada, cabendo a quem detém essa atividade fazê-la chegar, em detalhes, aos ouvintes, leitores ou telespectadores.

Agora, o que causa indignação é que se criem programas onde esses comportamentos sejam rotulados de entretenimento.

Assistir reality shows é querer redimensionar, vestindo com roupagem de espetáculo, o que deveria ser abominado e, jamais, apresentado como divertimento.

Sem entrarmos na esfera dos filmes com cenas violentas, sugeridos como diversão, porque a realidade cinematográfica prende-se, no momento, também, ao que o cotidiano apresenta de perverso, os reality shows trazem, igualmente, altas doses de comportamentos reveladores da índole malévola de seus participantes.

Seria isto entretenimento?

Ou será que a mesma matéria dos noticiários é, sob nova roupagem, apresentada como entretenimento?

Será que perdemos o bom senso de buscar aquilo que se sobreponha aos malfeitos diários e apenas nos divertimos com o digladiar de oponentes, numa “batalha” pela supremacia de um sobre o outro?

Ou será que isto está nos sendo imposto, pois se verificou que perdemos a emoção pelo belo, pela imagem que transmite paz, pela empatia com o nosso semelhante que nem mais observamos?

Ah! Até o próprio ritmo e letras, que dizem ser música, são apresentados por indivíduos de dentro de automóveis e captados por celulares que, também, registram, por vezes, a exposição de armas como símbolo de poder.

É, porém, ainda um alento ver algumas poucas emissoras reservarem seus espaços, não apenas para as notícias diárias, mas, também, para a cultura.

Entrevistas com educadores, filósofos, bem como outros profissionais, que oportunizam diálogos que nos fazem refletir, contribuindo, dessa forma, com o desenvolvimento da cultura em nossa sociedade.

Senhores, somente a EDUCAÇÃO poderá nos retirar desse atoleiro em que nos encontramos.

Ela é capaz de alavancar nossa sociedade no sentido de que nos tornemos melhores cidadãos, mais exigentes, mais perceptivos, mais seletivos e muito mais ordeiros, éticos e admiradores de programas que nos elevem e nos motivem a, cada vez mais, tornarmos realidade a nossa evolução na escala do bom cidadão. Esta “reality” entre nós e aqueles que conosco convivem, sim, valerá a pena ser desfrutada.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

SÃO DOIS... SÃO TRÊS... SÃO MUITOS...


O que dizer quando ele entra e desaparece. Permanece, por lá, vários minutos. Talvez, uns dez minutos.

Há os que, lá dentro, dormem. Este, porém, não. Saiu com um saco, vazio, na mão e tentando retirar algo dos cabelos. Algum inseto, imagino.

Cenas que se repetem exaustivamente.

Lixeiras, quase sempre abertas, representam o retrato de uma comunidade que preza a limpeza?

São imagens espalhadas que atestam o grau de necessidade e de miserabilidade de seus “visitantes” e do destino reservado a elas hoje em dia.

Que falta nos faz uma educação, fornecida pelo Estado, obrigatória e de qualidade!

Quantas mentes e capacidades desperdiçadas!

Vê-los assim é o mesmo que observamos quando os cachorros, que os acompanham, chafurdam no meio de restos de comida.

Como podemos conviver com cenas dessa sordidez, é a pergunta que não quer calar.

Belinha, que caminha por entre trajetos assim descritos, acredita ser, ainda, possível a retomada de um rumo mais humano e qualificado por seres que transitam entre nós.

Nem o Sol, que acompanha Belinha em belas manhãs ensolaradas, é capaz de colorir, com sua luz benfazeja, tamanha podridão. Ali, sua luz não terá efeito benéfico sobre tais seres.

Cenas desoladoras de seres amontoados sobre calçadas, embaixo de marquises, na intempérie, são cada vez mais comuns, tornando-se corriqueiras.

Nem os próprios abrigos são mais suficientes para um acolhimento diário.

Somente através da educação formal é que se conseguirá sair desse atoleiro. Conforme as habilidades pessoais, apresentadas durante a educação básica, alguns serão direcionados a áreas técnicas de produção, de administração, de direção ou até mesmo a algum curso superior.

Assim como somos monitorados e sabem onde fomos almoçar, o que gostamos de comprar, quais os assuntos que mais nos interessam, pergunta-se:

Por que em uma comunidade não se faz o levantamento de quantas famílias ali moram, quantos filhos, em idade escolar, cada família possui, quantas pessoas da família trabalham, etc.?

O caminho seria a adoção de uma política educacional obrigatória, com turnos inversos para a realização dos temas e com almoço para aqueles que, em face de condições adversas da família, pudessem fazer sua refeição principal na escola.

Por que não?

Impostos não faltam.

A sociedade agradeceria.

Precisamos de seres capacitados para exercerem qualquer função que se ajuste a seus perfis.

O caminho passa pela organização da família, pelos bons valores cultivados e por uma educação pública de qualidade. E já a tivemos em tempos não tão distantes.

Acredito que, então, o Sol se sentirá bem recebido e espalhará sua luz sobre as calçadas do meu bairro, do seu bairro, possibilitando que nossos olhos se iluminem e possamos enxergar as flores dos jacarandás enfeitando nossos passeios.

Ah! Com educação até os nossos contêineres poderão readquirir a sua função única que é receber o lixo que lá depositamos.

Tudo em prol de uma cidade mais limpa, mais desenvolvida, mais civilizada, mais humana.

Almejamos que esses “muitos” tornem-se verdadeiros cidadãos. Que suas atividades e trabalhos possam contribuir na construção de uma sociedade mais igualitária e justa.











segunda-feira, 2 de novembro de 2020

SOB AS ASAS...


Quem se sentiu assim, sob as asas, sabe do que se está a falar. Aquela proteção, que vamos reconhecê-la bem mais tarde, é que nos dá a dimensão do valor de quem nos protegeu.

Belinha traz viva em sua memória todos os momentos que, ao longo dos anos, somaram-se, perfazendo esta caminhada de lembranças boas; outras, nem tanto. Todas serviram, porém, para amealhar alternativas para as etapas que se sucederam neste trajeto chamado VIDA.

Toda a proteção deve ser usada para que aquele pequenino ser possa alçar voo, com segurança, quando a maturidade bater à porta.

Neste dia especial, lembremos, com saudades, de todos os que conosco estiveram durante o tempo que lhes foi permitido estar.

Não esqueçamos, porém, que ainda somos caminhantes. Embora livres e já amadurecidos pelo tempo, ainda assim precisamos de proteção. Onde estará a proteção de que precisamos para vivermos, hoje, num coletivo tão ameaçador? Onde estarão nossos defensores?

Liberdade e proteção podem e devem andar de mãos juntas. Uma não exclui a outra. A verdadeira cidadania é quando a liberdade lhe é oferecida, mediante retidão nas atitudes e a consequente proteção como contrapartida.

Conclui-se que seremos, sempre, em algum momento da caminhada, seres carentes de proteção.

Na medida em que assim nos situamos e compreendemos nossa passagem por aqui, nosso olhar deter-se-á naquele vão de escada onde jaz um igual a nós.

Terá tido sobre ele as asas que o protegessem?

Para quem as teve, as alternativas para buscar e mesmo exigir proteção para os dias de hoje são um caminho no ato da escolha dos dirigentes no pleito que se avizinha.

Belinha lembrou-se da antiga função dos pombos. Remotamente, os pombos serviram como transportadores de correspondência sob suas asas. A proteção necessária para que as cartas chegassem, de forma segura e a tempo, eram as asas desses ancestrais animais chamados, à época, de pombos-correios.

Pois, ao que parece, eles ainda permanecem com esta função. Apenas que de forma camuflada, carregando mercadorias ilícitas, com a vantagem de sua chegada ao destino de entrega ser silenciosa. Diferentemente dos drones, chegam “de mansinho”.

Pois é! SOB AS ASAS lembra-nos da proteção dos nossos pais e, também, daquela fornecida pelo Estado, com que o cidadão deve contar. Sem esquecermos, é claro, da proteção do Criador que nos sustenta no aqui e no além.

Lembremos, por oportuno, que o nosso Hino da Proclamação da República, em quatro de suas estrofes, clama para que a LIBERDADE abra as asas sobre nós, conforme segue:


Liberdade! Liberdade!

Abre as asas sobre nós!

Das lutas na tempestade

Dá que ouçamos tua voz!


Mantenhamos a parceria Liberdade e Proteção para o bem de todos os cidadãos.

 

 

 

 

 

 

sábado, 6 de outubro de 2018

AS URNAS...



Quando Aninha lá chegou, depois de uma viagem de trem, pôde vê-lo ainda. Deitado, com o semblante sereno. Lá estava seu avô tão querido. Companheiro de caminhadas quando vinha visitá-la na Capital. Ainda bem que, à época, as urnas funerárias não eram muito comuns. Caso contrário, estaria escondido e dali jamais sairia. Já seria pó. Depois de seu nome ter sido afixado ali na urna, ao pó teria voltado. Aninha não poderia tê-lo visto pela última vez.

Bem diferente das urnas que visitaremos no próximo domingo.

Ao contrário daquelas que representam o fim, estas últimas sempre indicarão alguém que permanecerá vivo. Se o seu nome foi ali digitado, um ser renovado, pelo apoio popular, nascerá mais forte ainda.

As primeiras urnas representam o fim daquele eleitor. Restarão apenas suas ideias, valores, atitudes. Se tiverem sido adequados, todos lembrarão dele com orgulho. Caso contrário, nada restará mesmo.

Em nossas urnas, nesta data cívica que se aproxima, dali sairá um ser vivo vencedor: apenas um. Os demais, metaforicamente, estarão mortos. Assim como nas primeiras urnas, restarão suas atitudes, suas obras, suas ideias, seus valores. É claro, se tiverem sido, razoavelmente, pelo menos, adequados. Caso contrário, nada restará.

Bah! Esqueci!

Como estarão todos vivos, porque esta urna, diferentemente da primeira, não põe fim à vida, haverá, portanto, a possibilidade de continuidade da prática indecorosa de tantos atos contrários aos valores que dignificam o ser humano.

Estas urnas apenas separam o joio do trigo. Não extinguem o joio. Ele continuará vivo, destruindo plantações inteiras, solapando os mais diversos valores: materiais ou espirituais.

Estas urnas, diferentemente das primeiras, são uma esperança de vida renovada pelo toque consciente e cidadão de quem aguarda o melhor para todos.

E aos não escolhidos, espera-se que repensem suas ações e atitudes para que, num futuro, possam sair vencedores de novos pleitos eleitorais, pois estes reforçam a importância da participação dos cidadãos na construção diária deste país.

Assim como Olavo Bilac, no poema A PÁTRIA, publicado em 1904, exorta a criança brasileira a amar a terra em que nasceu, também Aninha, hoje, espera que a urna confirme este amor pelo Brasil, regurgitando aqueles nomes cujos modelos não nos servem.

Segue, abaixo, o poema A PÁTRIA de Olavo Bilac, cujos dois últimos versos são por demais motivadores e ensejam um comprometimento, desde tenra idade, com o país em que se nasce.




Obs. Poema que integra a Antologia Poética de Olavo Bilac, publicada em 2015, pela L&PM POCKET, vol.38. (Revisores: Paulo Hecker Filho, Cintia Moscovich e Simone Borges).



A Pátria - Olavo Bilac







domingo, 26 de outubro de 2014

ATÉ A PRÓXIMA...

É bom retornar, de tempos em tempos, a um lugar que traz boas recordações. Embora o tempo lá passado tenha sido curto, as lembranças guardadas perduram até hoje.

Caminhando para os cem anos de existência, o referido lugar foi visitado por Regina no ano de 2008. A professora estagiária daquele estabelecimento de ensino, nos idos de 1974, pôde constatar a situação de abandono em que se encontrava a escola que completava, naquela oportunidade, 90 anos de existência.

Da visita nasceu a crônica SAMBA DE UMA NOTA SÓ, publicada em 04/09/08.


De lá para cá, algumas melhorias no entorno aconteceram. Não mais visitou o auditório. Tampouco sabe se o piano Essenfelder ainda lá se encontra. Talvez, os cupins tenham terminado o seu serviço, que já estava bastante adiantado.

Regina passa em frente ao prédio com frequência, pois a rua onde ele se encontra faz parte do trajeto de caminhada semanal.

É um lugar onde se preparam jovens para o futuro. Novas ideias, criatividade, habilidades, emoções, desejos e sonhos são ali incentivados e didaticamente explorados para que frutifiquem.

A tarefa é desafiadora e o lugar é o espaço onde o ser, o aprender e o fazer andam juntos na tarefa de aprimorar os indivíduos envolvidos nesta aprendizagem diária.

Os cidadãos que dali se lançarem pelos caminhos da vida, compondo os mais diversos segmentos da sociedade, deverão apresentar, ao longo da caminhada, claros traços de conduta irretocável e de operosidade manifesta. É o que uma educação de qualidade busca alcançar. E é o que uma escola, pública ou privada, deveria oferecer. Descontados os desvios de conduta, sempre existentes, estes deveriam ser, porém, exceção.

Agora, sem bons exemplos e com a impunidade que grassa, fica difícil construir uma sociedade justa e democrática.


Nesta volta, hoje, ao local de tantas lembranças, vejo, como de vezes anteriores, cidadãos comparecerem às urnas eleitorais ali instaladas, para celebrarem o seu direito inalienável de escolha de seus representantes.

Se os candidatos oferecidos à escolha não são os melhores, cabe aos cidadãos aprimorarem sua capacidade de crítica, para aprenderem a eleger nomes que concentrem honradez, honestidade, ética e trabalho como qualidades indispensáveis ao exercício de qualquer mandato. Candidatos que concorrem a mandatos municipais, estaduais ou federais são, todos, elementos chave na engrenagem que poderá alçá-los a futuros representantes daqueles que neles depositaram o seu voto. Com o tempo, inclusive, ao cargo máximo de chefe da nação. Daí a importância da boa escolha de nomes, independentemente da abrangência de atuação do parlamentar.


Foi bom ver algumas fisionomias que só encontramos em dia de eleição! O importante é que se mantenha este hábito saudável de participação popular, pois sem ela não sobra muito, depois, para exigir a devida contraprestação.

Por isso, a escola é fundamental no ato de capacitação do indivíduo para o exercício do pensar, comparar, avaliar, ler nas entrelinhas e, por fim, escolher o caminho que lhe pareça o mais correto. 

A melhor escolha é o que se busca.

Tomara que se consiga este objetivo!


Agora, talvez se tenha que aprender a SAMBAR DOBRADO! Ou quem sabe, uma vez mais, venhamos a curtir a letra de SOMOS TODOS IGUAIS! Assistam aos vídeos! 

Até a próxima visita, escola querida!

Até lá!




Samba Dobrado – Djavan


Somos Todos Iguais Nesta Noite – Ivan Lins





quarta-feira, 18 de junho de 2014

É LONGO O CAMINHO

Que primeira estrofe mais depreciativa!



Lá vem mais uma Copa.

Coração já se convoca.

A Pátria de chuteiras.

Tudo mais se joga pela ribanceira.

O trem da alegria vai levar

Toda turma do funil.

Contrabando na bagagem do cartola.

Ora bolas, é Brasil.



É o reconhecimento, plasmado na letra do hino oficial da Copa do Mundo de 2014, de práticas, ao que parece, aceitas pelos cidadãos que aqui vivem.

Expor mazelas e ainda conformar-se com isso: é demais.

Já o jingle Mostra Tua Força Brasil, encomendado pelo Itaú, banco oficial da Seleção Brasileira e da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, mostra, pelo menos, um país que reafirma as suas cinco estrelas estampadas na camisa da Seleção, exaltando o amor e a garra que a “massa” tem pelo Brasil. Destacamos dois trechos, com erro de concordância, que seguem:



Pois só a gente tem as cinco estrelas na alma verde-amarela.

E só a gente sabe emocionar cantando o hino à capela.

Mostra tua força, Brasil!

E faz da nação tua bandeira

Que a paixão da massa inteira

Vai junto com você Brasil.



Isso é pouco, mas não tão depreciativo.

Agora, Eunice, professora já aposentada, não imaginava que assistiria, durante a cerimônia de abertura oficial da Copa do Mundo de 2014, imagens que lhe trariam saudades. Lembrou-se ela que, certa vez, dirigiu, no pátio da escola, uma representação de seus alunos durante uma encenação em que criaram fantasias, confeccionadas em papel, imitando árvores, pois compunham um cenário que ilustrava a poesia de Olavo Bilac chamada Velhas Árvores. A apresentação foi muito criativa, merecendo a nota 10. Claro que, naquela circunstância e com os adereços que dispunham, aquele desempenho surpreendeu e agradou a todos os presentes.

Já na festa de abertura da Copa do Mundo de 2014, “aquelas árvores” deixaram a desejar. As árvores vivas de Eunice teriam feito bonito naquela apresentação.

A cerimônia, dividida em três partes, apresentou na primeira a riqueza natural do país, a representação da sua natureza. Num segundo momento, exaltou-se o povo através da música e da dança. Por último, homens-bola surgiram, representando o futebol brasileiro, paixão nacional. Uma paixão tão avassaladora que transformou em arte o futebol. Pelo menos, é o que, até há pouco tempo, era visto como um diferencial no futebol brasileiro. As coisas parecem estar mudando! Vamos manter, por ora, essa expectativa que pode fazer a diferença no final do certame.

A trilha sonora de toda a cerimônia esteve a cargo de Otávio de Moraes, parecendo adequada ao espetáculo e servindo para dar maior brilho aos diversos momentos que se iam sucedendo. Ele é um conhecido criador de trilhas sonoras para importantes clientes na propaganda como o Banco Itaú, patrocinador oficial da Copa do Mundo 2014.

Agora, a apresentação musical de encerramento do espetáculo foi algo triste de se ver, ouvir e assistir. Talvez, ao gosto de belgas ou congêneres. Não teve, porém, nada a ver com a tradição musical mais representativa do povo brasileiro que é o samba. Com tantos discípulos de Joãozinho Trinta, com tanta gente capacitada a projetar e montar um espetáculo genuinamente brasileiro, coube a um casal de estrangeiros essa tarefa. Só podia dar no que deu.

A coreógrafa belga Daphné Cornez e o diretor italiano Franco Dragone foram os idealizadores e criadores do espetáculo que durou apenas 25 minutos e foi considerado, por muitos nacionais e outros tantos do exterior, como um espetáculo “morno”.

Deixando de lado a apresentação e desenvolvimento do espetáculo como um todo, que ficou a desejar, acredito que o maior azarão foi a música de encerramento com a participação de três reconhecidos cantores que, sozinhos, com seus estilos e público, fazem sem dúvida grande sucesso. São ótimos artistas. Juntá-los, cantando em playback We Are One, foi desolador. E a porto-riquenha dançando “na boquinha da garrafa” foi de doer. Aqui tem gente que faz isso muito melhor, com muito mais sensualidade. 

O momento não era para isso.

Perderam uma ótima oportunidade de mostrar ao mundo o nosso samba “de partido alto”, levantando de vez a galera que assistia ao espetáculo. Mas foi a FIFA que organizou todo o espetáculo! E sabe-se lá se aquelas estruturas, as do topo da arquibancada tubular externa, aguentariam tal empolgação? Circula pela Internet a informação de que as pessoas, que estavam mais abaixo, pediam para as de cima não pularem, pois tremia tudo.

Mas, também a Internet... Tudo cabe ali.

Cabe até a manifestação de pessoas que disseram que a imagem dos jogadores brasileiros, ao ingressarem no campo, parecia de detentos voltando pra jaula, com as mãozinhas no ombro e de cabeça baixa. Outros mais, muitos mais, afirmaram que mão no ombro significaria apoio, como o de um amigo verdadeiro. Dar a mão, afinal de contas, é um ato que se faz com qualquer um. Dar o ombro? É outra coisa!

Pois é! Ela, a Internet, registra tudo, possibilitando toda e qualquer manifestação. Tudo e todos são perquiridos. Tudo meio método socrático com um interlocutor virtual. O que é bom para o desenvolvimento das ideias, quando bem dirigido. Mas isso já é outro papo. O caminho é longo para que as boas ideias materializem-se em ações individuais, transformando a “massa”, referida no hino, em cidadãos verdadeiros.

Graças à tecnologia, pudemos assistir a uma coreografia pobre, a um encerramento desvinculado da nossa exuberância musical, que sabemos de qualidade.

Pena que o pontapé inicial de abertura da Copa nos foi subtraído, tanto pela ausência da fala das autoridades que deveriam fazê-lo, como é de praxe, quanto pela exposição do jovem tetraplégico, alçado a jogador, graças à ciência e tecnologia trabalhadas por cabeças brasileiras.

É! A manipulação é perversa. 



Os FILHOS DE VERA CRUZ, música composta por Altayr Veloso e Paulo César Feital, especialmente para a Copa, e cantada por Zeca Pagodinho, bem que poderia ter sido a música escolhida para o encerramento do espetáculo. E veja o quanto de simbólico encerram os versos que seguem, transcritos da referida música:



“Ó, minha pátria amada, cuida bem dos seus guris.”

“Mete nas canetas, faz de letra meu país.”



Observa-se tanto a expressão do drible “de caneta”, quanto o pedido de que se coloquem os guris de posse das canetas, com que se escreve, fazendo de letra um país. Não somente com os pés trocados como um gol de letra, mas um gol de letra no analfabetismo funcional, que ainda grassa.

O caminho é longo, mas vale a pena investir, pois são as ideias que movimentam o mundo. Educar é o caminho.






Zeca Pagodinho fala sobre Filhos de Vera Cruz – música para a Copa do Mundo 



Clip de Zeca Pagodinho para a Copa do Mundo/Brasil





Velhas Árvores - Olavo Bilac