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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

SÃO DOIS... SÃO TRÊS... SÃO MUITOS...


O que dizer quando ele entra e desaparece. Permanece, por lá, vários minutos. Talvez, uns dez minutos.

Há os que, lá dentro, dormem. Este, porém, não. Saiu com um saco, vazio, na mão e tentando retirar algo dos cabelos. Algum inseto, imagino.

Cenas que se repetem exaustivamente.

Lixeiras, quase sempre abertas, representam o retrato de uma comunidade que preza a limpeza?

São imagens espalhadas que atestam o grau de necessidade e de miserabilidade de seus “visitantes” e do destino reservado a elas hoje em dia.

Que falta nos faz uma educação, fornecida pelo Estado, obrigatória e de qualidade!

Quantas mentes e capacidades desperdiçadas!

Vê-los assim é o mesmo que observamos quando os cachorros, que os acompanham, chafurdam no meio de restos de comida.

Como podemos conviver com cenas dessa sordidez, é a pergunta que não quer calar.

Belinha, que caminha por entre trajetos assim descritos, acredita ser, ainda, possível a retomada de um rumo mais humano e qualificado por seres que transitam entre nós.

Nem o Sol, que acompanha Belinha em belas manhãs ensolaradas, é capaz de colorir, com sua luz benfazeja, tamanha podridão. Ali, sua luz não terá efeito benéfico sobre tais seres.

Cenas desoladoras de seres amontoados sobre calçadas, embaixo de marquises, na intempérie, são cada vez mais comuns, tornando-se corriqueiras.

Nem os próprios abrigos são mais suficientes para um acolhimento diário.

Somente através da educação formal é que se conseguirá sair desse atoleiro. Conforme as habilidades pessoais, apresentadas durante a educação básica, alguns serão direcionados a áreas técnicas de produção, de administração, de direção ou até mesmo a algum curso superior.

Assim como somos monitorados e sabem onde fomos almoçar, o que gostamos de comprar, quais os assuntos que mais nos interessam, pergunta-se:

Por que em uma comunidade não se faz o levantamento de quantas famílias ali moram, quantos filhos, em idade escolar, cada família possui, quantas pessoas da família trabalham, etc.?

O caminho seria a adoção de uma política educacional obrigatória, com turnos inversos para a realização dos temas e com almoço para aqueles que, em face de condições adversas da família, pudessem fazer sua refeição principal na escola.

Por que não?

Impostos não faltam.

A sociedade agradeceria.

Precisamos de seres capacitados para exercerem qualquer função que se ajuste a seus perfis.

O caminho passa pela organização da família, pelos bons valores cultivados e por uma educação pública de qualidade. E já a tivemos em tempos não tão distantes.

Acredito que, então, o Sol se sentirá bem recebido e espalhará sua luz sobre as calçadas do meu bairro, do seu bairro, possibilitando que nossos olhos se iluminem e possamos enxergar as flores dos jacarandás enfeitando nossos passeios.

Ah! Com educação até os nossos contêineres poderão readquirir a sua função única que é receber o lixo que lá depositamos.

Tudo em prol de uma cidade mais limpa, mais desenvolvida, mais civilizada, mais humana.

Almejamos que esses “muitos” tornem-se verdadeiros cidadãos. Que suas atividades e trabalhos possam contribuir na construção de uma sociedade mais igualitária e justa.











quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

DÊ UM ZUM!



Você consegue perceber o que escorre pela calçada até o meio-fio? Aquela mistura fétida, da cor do azeviche, com restos de comida que forma um veio que se espraia pela calçada e que, finalmente, alcança o meio-fio daquela rua? Amanhã, quem sabe, o tal veio será visto em outra calçada, próxima desta de agora. Ou, na mesma.

Não desvie o olhar. Dê um zum!

Observe os detalhes da cena. Acompanhe de onde parte o veio.

Existe logo ali um pé, descalço, magro, que se confunde com o líquido espesso, escurecido, fétido. Ele é parte de um ser humano que sobre a calçada, junto à parede, jaz inerte sob o efeito de alguma droga.

É pena que o zum não tenha um tanto de magia e que pudesse recuar no tempo e fornecer alguma outra cena que, talvez, explicasse o motivo daquele ser estar ali jogado. E são tantos em tantos lugares, já por tanto tempo.

O DNA é o mesmo, mas os lugares de origem são diversos. E será este último dado relevante no processo que se desencadeou até atingir a cena da calçada?

Não, necessariamente. De comunidades que sobrevivem de restos, mesmo aí temos seres que ascendem. O meio é importante, a genética, também. Há algo, porém, que se instala quando da formação de alguns seres e que deposita sobre eles um perfil psicológico diferenciado. São marcas que se impõem, mais fortes do que o ambiente que os cercam, tornando-os mais aguerridos, mais batalhadores.

Seres oriundos de uma mesma família reagirão de forma diversa às vicissitudes que a vida vai impondo. Alguns membros marcados pela violência doméstica zarparão, sem temor, mundo afora, buscando melhores condições de vida. Outros quedarão sem rumo. Arrastarão, pelos dias que se sucederem, a desesperança, o medo, a rejeição que, muitas vezes, se autoimpuseram. Para estes caberá o olhar atento da comunidade e o apoio de instituições de Estado que buscarão encaminhar os que quedaram pelo caminho, atropelados pelos infortúnios de origem.

Uma comunidade carente necessita de apoio de órgãos criados para realizar este trabalho. O objetivo é evitar que mais indivíduos se arrastem por calçadas e viadutos, levando seus parcos pertences, disputados entre si.

Para os que já fizeram a rua de morada, faz-se necessário o recolhimento para Unidades de Recuperação, pois, depois de certa involução na escala social, nada mais é possível fazer-se sozinho. A recuperação deverá ser feita dentro de instituição mantida com o dinheiro público, fruto dos NOSSOS IMPOSTOS, arrecadados e direcionados com HONESTIDADE por quem detém esta tarefa, visando ao BEM DE TODOS: ao BEM DA CIDADE, por ser ela uma célula única que a todos contém.

O objetivo maior deve ser evitar que mais criaturas se espalhem pelas calçadas, num ritmo cada vez mais veloz, direcionando todos os esforços para que elas se tornem úteis, capazes de sobreviverem de forma digna. O trabalho, em todas as esferas da sociedade, deve ser fomentado como único meio de preservar a autoestima, sendo o motor propulsor para uma socialização com ganhos para todos os moradores da cidade.

É utópico? Talvez!

Agora, está mais do que na hora de que algo aconteça nesta direção. É absolutamente necessário ter a esperança de mudança.

E é a própria utopia que dará origem ao movimento de constante caminhar na solução dos problemas.

Que haja força e boa vontade em nossa aldeia para que se consiga direcionar, por outros caminhos, milhares de carentes a arrastar-se pelo lixo.

Que uma conscientização crescente da comunidade proteste por direitos e garantias a ela sonegados.

Caso contrário, não será nem mais preciso dar um zum. Você, leitor, não conseguirá mais desviar o olhar, porque a calçada estará tomada. As ruas, os parques e os canteiros, também.

Ou, quem sabe, você também tão espoliado não terminará como estes seus irmãos, menos afortunados: na calçada.

Agora, se falarmos daqueles grupos bem menores, quero crer, mas extremamente danosos, os dos corruptíveis e os dos corruptores, eles não mais estarão por aqui, neste momento, para contar a história de ERA UMA VEZ UM PAÍS RICO...

Ah! Esqueça o zum!

Tudo terá se agigantado. Seus olhos não mais precisarão deste auxílio.


Sinceramente, quero acreditar, ainda, que aquela calçada, que conheço tão bem, possa conter, num futuro não muito longínquo, apenas os restos de chuva com as flores do jacarandá da esquina. E que a água depositada no meio-fio seja de um tom violáceo, que nem as flores do mesmo jacarandá.

Segundo Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês:

A vida é suportável se nela for introduzida não apenas a utopia, mas a poesia, ou seja, a intensidade, a festa, a alegria, a comunhão, a felicidade e o amor. Há o êxtase histórico, que é um êxtase amoroso coletivo.


De ambas, utopia e poesia, Mário Quintana entende muito bem.

Eis, sua receita:





Agora, o samba MENOR ABANDONADO, cantado por Zeca Pagodinho, espelha bem a realidade que nos cerca e aquilo que pode ser feito para mudá-la.

Já o poeta Manuel Bandeira com seu poema O BICHO dá-nos um choque de realidade, quando verseja:






Fiquemos com os dois primeiros exemplos. São um alento e um alerta para que não se torne corriqueira a última cena, embora Manuel Bandeira a tenha descrito na década de 40.

Há que não se perder a esperança, porém.







Samba - Menor Abandonado – Zeca Pagodinho









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Comentários via Facebook:

Amelia Mari Passos: Soninha agradeço por me fazer refletir sobre este assunto. "apenas os restos de chuva com as flores do jacarandá da esquina. e que a água depositada no meio-fio seja de um tom violáceo, que nem as flores do mesmo jacarandá. Soninha Athayde também por este bálsamo que nos alivia desta dor . Um forte abraço

Zaira Cantarelli: Amiga, tu investes visceralmente na palavra, tuas letras ñ precisam de retoques, já chegam prontas para a reflexão. Aprecio estes teus achados tão atuais, tão próximos de nós q habitamos esta selva de pedra. Belo texto.



domingo, 17 de novembro de 2013

CRIAR: UM ATO DE AMOR

E Deus criou...
Nós, à sua imagem e semelhança, também geramos, criamos e recriamos com grande esforço, como nos diz Fernando Pessoa nos dois versos que seguem:
O esforço é grande e o homem é pequeno.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
                                     (versos extraídos do poema PADRÃO, inserido na primeira parte (O Brasão) do livro MENSAGEM, uma ode patriótica)
Mesmo assim, é nossa obrigação continuar acalentando esse ideal de criação permanente, pois ela é a prova do grande amor de que somos constituídos. E esse legado é o que nos move, é o que nos compete levar adiante. Carlos Drummond de Andrade, em seu poema AMAR, verseja assim:
Assim dessa forma é que o criar, que repousa no amor ao outro, a um ideal, ao coletivo, se defronta, muitas vezes. A uma doação ilimitada, pode seguir-se uma completa ingratidão. No plano familiar esse comportamento é até bem encontradiço, bem comum.
Felizmente, as mais das vezes, esse criar tem uma resposta pronta e receptiva e começa nas primeiras letras. E é a pessoa daquela primeira professora, que conduz os primeiros passos do seu pequenino aluno, a quem incumbe esse papel de criar condições para uma resposta positiva.
Com muito amor, pois esse criar depende desse ingrediente, o conhecimento vai sendo não apenas transmitido, mas também buscado, numa necessária simbiose, pelos parceiros dessa relação ensino/aprendizagem, isto é, professor/aluno.
Criar condições encerra uma capacidade criativa que, a cada dia, exige mais do professor, frente aos avanços da tecnologia.
Isso, porém, não é impeditivo para a obtenção de resultados positivos, mesmo a infraestrutura à disposição não sendo adequada ou suficiente para a aprendizagem.
Caberá ao professor, com criatividade, criar condições de levar o alunado a um patamar, no mínimo, satisfatório de aprendizagem.
Por isso, considero este profissional, que se dedica ao ensino, o indivíduo mais relevante no segmento social de uma comunidade.
Criar é um ato de amor e ser criativo é uma exigência imposta, principalmente nos dias atuais, em que há grandes avanços, por um lado, mas também grandes deficiências, por outro.
Numa sociedade, extremamente heterogênea em termos econômicos, ser criativo impõe-se como arma a ser usada pelos mais carentes para alcançar aquilo que a muitos outros é de fácil aquisição. E é ao professor que cabe essa tarefa: a de conduzir o alçar voo, sustentando, em pleno mar de vicissitudes, a manutenção e o alcance do destino final, qual seja, melhores chances na vida através da educação e do conhecimento.
Temos um exemplo desse mister na pessoa da Prof.ª Maria Alice Gouvêa Campesato. Docente da Escola Pública Municipal Nossa Senhora do Carmo, no Bairro Restinga, exerce sua função com grande criatividade, levando seus alunos da 6ª Série a descobrirem o prazer de ler.
Criou o Varal Literário, para que os alunos começassem a se familiarizar com os versos de conhecidos poetas, tudo visando a explorar a sensibilidade desses jovens leitores. A seguir, implantou o Clube de Leitura e os Saraus Literários que, a meu ver, é o grande trunfo, pois é aberto à comunidade, e é onde os participantes começam a sentirem-se mais confiantes. Aprendem a ler com mais desenvoltura, a declamar e a interpretar poemas de diversos autores. Assim vão, aos poucos, capacitando-se a criar os seus próprios poemas, bem como textos em prosa. Fazendo uso de música, de imagens e poesias, fica muito mais prazeroso o estudo de textos literários por essa gente miúda.
Isso capacitará esses alunos, num futuro, a uma melhor interpretação e compreensão de qualquer texto, de qualquer discurso. Aprendamos a ler. Aprendamos a pensar. Aprendamos a refletir. Discutamos mais, dialoguemos mais, tragamos à luz aquilo que já se encontra latente na própria alma. Preocupemo-nos mais com os problemas humanos, particularmente com a ética: esses são os belos ensinamentos de Sócrates.
Cidadãos forjam-se quando se lhes dá a capacidade de entendimento de qualquer tipo de discurso, seja ele vazio ou merecedor de uma reflexão maior. A seleção virá ao natural.
Portanto, parabéns à Professora Maria Alice que concorre, como finalista, ao Prêmio RBS de Educação, Projeto: Leitura: Viagens Literárias. Meu voto é para ela.
Destaco, abaixo, parte do texto da citada professora, em que, no segundo parágrafo, afirma que, “nem sempre o que se planeja dá certo, nem sempre a gente pega turmas receptivas”. Digo eu, parafraseando Drummond:
“Saber amar o inóspito, o áspero,
Um vaso sem flor. Mesmo assim, amar “essa secura toda”.
E isso não é motivo para que se desista, conforme afirma Maria Alice.
Grande verdade, professora!
A Comunidade da Restinga agradece.
Esse é o caminho para que se transforme uma comunidade, uma sociedade, um povo.

Transpondo o cântico de Fernando Pessoa à nossa aldeia:

Sabe-se que o esforço é grande e o homem é pequeno.

Sabe-se que a alma é divina e a obra imperfeita.

Sabe-se que a obra é ousada, mas é do professor a parte feita.

E o porto por achar caberá aos pupilos que, com Deus, perseguirão o por fazer, pois esse será permanente e eterno.


E Viva o Dia da Criatividade, comemorado hoje, dia 17 de novembro.





Poesia AMAR – de Carlos Drummond de Andrade
Poema PADRÃO – cantado por Caetano Veloso  

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Comentário via Facebook:
Amar...amar...amar! Eu amo, também, tuas crônicas e a tua criatividade. Parabéns! Professora Maria Alice! Parabéns, Soninha!!! 


sexta-feira, 19 de abril de 2013





VOAR...
            NAVEGAR...
                               VIVER...
 
A imaginação voa e vai construindo pontes, elevadas, adentrando, por vezes, chão abaixo, para sair logo adiante, lépida e faceira, pronta para novas rasantes.

Voar? Sim, voar é preciso.

Na imaginação, Adalberto já vestiu sua cidade de tudo o que dela espera.

De repente, vê-se num barco, navegando de lá pra cá, daqui pra lá, num vaivém contínuo, com as pequenas ondas a balançar o cansaço de mais um dia de trabalho, com a brisa acariciando-lhe o rosto, num retorno mais relaxante e mais rápido ao lar que o aguarda.

Adalberto acabou de pintar o quadro de um porto hospitaleiro que recebe e devolve, diariamente, seus trabalhadores aos seus lares.

Navegar? Sim, navegar é preciso.



Uma buzina estridente, contínua, devolve Adalberto à realidade. Espremido, não divisa qualquer movimento, nem o fim dessa peregrinação diária, estafante. Não sabe nem a que horas chegará ao seu destino. Seu sonho de consumo tornou-se um pesadelo, que se repete a cada dia, inclusive nos fins de semana, quando, eventualmente, sai a passear.

Seu veículo parado, no meio de outros milhares, todos parados, aguardando o fluxo que se arrasta.

Viver?

Não, isso não é viver.


Segundo a Presidente da Petrobras, um engarrafamento é uma coisa “linda”.

O que é uma coisa linda? Algo que desperte prazer, na sua ampla acepção.

Ela confirma, então, que sente prazer em ver milhares de carros, todos congestionados em uma rodovia.

Que maravilha! Atesta-se, aqui, o total desprezo ao outro. Claro que faz a ressalva de que a mobilidade nas cidades dependerá dos planos diretores, para que esses orientem o fluxo dos carros a favor da sociedade. Foi uma frase extremamente infeliz.


Os planos diretores das cidades esbarrarão na falta de verbas para a construção de tudo aquilo com que Adalberto sonha: a mobilidade por terra e água.

Mais carros, mais carros...

Isso é viver? Não, isso não é viver.

Mas viver é preciso!

 
A expressão “Navegar é preciso, viver não é preciso” coube à época de sua criação. Segundo historiadores, sua origem remonta ao ano 70 a.C. O general romano Pompeu teria sido incumbido de uma missão: escoltar a frota que iria transportar trigo das províncias para a cidade de Roma, que passava por séria crise de abastecimento de gêneros alimentícios, por conta de uma greve de escravos.

A viagem era arriscada em face das condições do clima em alto mar, ocasionando riscos à navegação, bem como o ataque de piratas, frequente à época.

Diante da necessidade de enfrentamento do drama por que passava a população de Roma, ele teria proferido essa famosa frase, quando o comandante da frota antevira uma tempestade, sugerindo, então, que adiassem a partida.

Ao que se sabe, a viagem foi bem sucedida. O militar, em face da empreitada exitosa, foi guindado ao posto de cônsul com apoio da população romana. Posteriormente, acaba integrando o Primeiro Triunvirato que governou todo o território romano.

Afora a questão histórica, Fernando Pessoa, celebrado poeta português, também usou a mesma expressão, no seu poema “NAVEGAR É PRECISO”.

Há algumas interpretações possíveis para o poema. O próprio autor escreve que “viver não é necessário; o que é necessário é criar.” Outra, também possível, seria a necessária precisão no ato de navegar, deixando à vida a imprecisão, por ser ela imprecisa, por natureza.

Abstraindo-se essa digressão histórico-literária, cabe a nós refutar a afirmação de que um congestionamento é algo lindo de se olhar, porque isso não traz ao cidadão felicidade alguma. O ideal é que esse cidadão possa se locomover, ou através de transporte de massa, de superfície ou não, ou de barco pelo nosso Guaíba e seus afluentes.

Soa como um deboche a afirmação de que um congestionamento é lindo de se ver.

Viver dessa maneira, sim, não é preciso. Viver assim não é viver.

Esse viver é aquele a que Fernando Pessoa se referia. É o viver por viver.

Para ele o necessário era criar algo, tornar essa vida grande para toda a humanidade.

No caso presente, tornar esse viver produtivo, criativo, em prol da comunidade. Com planejamento, torná-lo menos impreciso. Num esforço conjunto, visando ao bem comum, todos contribuiriam na busca de melhoramentos das condições ambientais que cercam essa comunidade. Dentre elas, a mobilidade de seus cidadãos.

Portanto, continue voando em sonhos, navegando nas águas serenas, tão próximas de nós, indo e vindo de forma sustentável, menos estressante, e, sobretudo,aja sempre no sentido de obter melhorias para si e para a comunidade em que está inserido.

VIVER É ISSO!

E VIVER É PRECISO!


Agora, enquanto isso, da próxima vez que pintar um congestionamento, Adalberto já decidiu: ele abrirá a porta do carro e os seus potentes alto-falantes explodirão numa batida frenética. E ele pulará para fora do carro e gritará “CON LOS TERRORISTAS” e “DO THE HARLEM SHAKE”, contorcendo-se de mil maneiras.

Tem certeza de que seus companheiros de estrada, pelo menos os mais próximos, sairão de seus carros e todos, juntos, dançarão o Harlem Shake. Assim, extravasarão todo o stress e a raiva contida através daquele meme já tão globalizado, já tão nosso também.

Só pra sacanear, para virar hit.

Só para mostrar, para o mundo todo, como é lindo um congestionamento!



Entrevista publicada no jornal Zero Hora de 14 de abril de 2013:

"Então, que maravilha! Acho lindo engarrafamento! Meu negócio é vender combustível. Só entendo que deveríamos ter sempre planos diretores para orientar o fluxo de carros a favor da sociedade. Acho lindo carro na rua, estou faturando..."

- Maria das Graças Silva Foster, Presidente da Petrobras

 
Navegar é Preciso - Fernando Pessoa
  
Não Deixe de Sonhar – Chimarruts. Clique aqui para ver a letra
 
Harlem Shake: batida eletrônica começa na Internet e vira febre no  mundo todo.