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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

TOCANDO EM FRENTE...



Apertei o botão e desliguei. Desliguei a televisão.
Fui ouvir música.

Descansei meus olhos nas belas telas de Claude Monet.

Relembrei o último movimento da Sinfonia nº 9, em Ré Menor, Opus. 125, “Coral”, de Ludwig Van Beethoven, que incorpora parte do poema À Alegria, uma ode escrita por Friedrich Schiller, que se tornou o Hino da União Europeia, mais recentemente.

Nesta esteira deslizou a também Sinfonia nº 6, em Fá Maior, Opus. 68, conhecida por Pastoral, também de Beethoven.

Presenteei meus ouvidos com outras tantas inesquecíveis músicas de um baú, publicado em 20/08/14, seleção organizada por Susanldfran, que roda pela Internet.

Acrescentei álbuns de Tom Jobim, sambas de partido alto e músicas deste meu torrão gaúcho.

 
Cores, melodias, belas imagens... Depois?

Silêncio para descansar, para sonhar, para alimentar o espírito. Se tiver uma lua sobre a cama, melhor ainda.

 
Vou me abster de dizer o que ninguém mais aguenta ler ou ouvir, para não poluir este texto.

Neste fim de noite, a Internet foi usada para encantar os olhos com telas de Claude Monet como a que retrata O Jardim do Artista em Giverny. Também com seleções de músicas inesquecíveis que alimentam os ouvidos, que fazem bem ao corpo e à alma: que preparam para um sono tranquilo. E que apontam com a certeza de um novo renascer a cada manhã. Novas possibilidades, um ânimo renovado e uma prece Àquele que a tudo assiste. ELE que é presença constante: até quando se pensa o contrário.

 
Pontos para a Internet quando o acesso é previamente selecionado, dirigido para o belo e para o bom uso.

Precisamos resgatar, urgentemente, nossa capacidade multissensorial que nos define como seres pensantes, reflexivos e, por que não, atuantes numa sociedade globalizada.

 
O indiano Indrajit Banerjee, Secretário-Geral do Centro Asiático de Informação e Comunicação de Mídia (AMIC) cunhou a expressão globalização do local. Afirmou ele: “Não é mais o global que vem e nos envolve, mas é o local que se torna global”.
Isto só foi possível através da Internet.

Mas a telinha cobra um preço. Segundo alguns, alto demais. Principalmente, quando se trata de leituras que exijam maior atenção.

E não é questão de cifras, mas questão de perda da atenção e da profundidade com que lemos o texto escrito. Nossa ligação com ele torna-se quase que provisória, semelhante às relações que se desfazem de forma líquida como ensina o recém-falecido sociólogo polonês, Zygmunt Bauman.

Um texto é lançado na tela como algo já pronto para ser descartável, em que a visão da continuidade cede à fugacidade e ao aspecto também reciclável das coisas e dos seres.

Por outro lado, a ideia de perenidade dá-nos certa tranquilidade. Permite que desfrutemos, por mais tempo, de uma paz interior.

 
Aqui, não estamos a falar de situações de seres humanos em guerra.

Fala-se de um coletivo que vive uma vida “dita normal”, dentro de padrões razoáveis de sobrevivência.

De que nos adianta saber que apenas oito (8) pessoas, neste planeta, detêm a riqueza que corresponderia a três (3) bilhões e seiscentos (600) milhões de pessoas. Apenas 1% está no topo da pirâmide. Os demais 99% são apenas o resto. Nós somos o resto. E daí?

A globalização apenas escancarou o que já se desconfiava. E daí?

 
Já Confúcio, filósofo chinês, que viveu entre 551 a.C. a 479 a.C, procurou, à sua época, recuperar valores como altruísmo, integridade, retidão, honradez e sabedoria moral por considerá-los perdidos pelos homens de sua época. Segundo ele, se o Príncipe é virtuoso, os súditos tê-lo-ão como exemplo, numa relação que se estabelece inicialmente na família: pai/filho.

Em época posterior a ele, dinastias sucederam-se e as coisas deterioraram-se novamente.

No Antigo Egito, os faraós detinham poder total sobre o povo. Na base da pirâmide social egípcia, estava o povo: pagador de pesados impostos ao Estado e sem direitos. Ganhavam o suficiente para sobreviverem, vivendo em pequenos abrigos, trabalhando a maior parte do tempo e, muitas vezes, sem remuneração, pois o faraó os chamava para trabalhar em obras públicas, cujo trabalho, nesse caso, era obrigação do cidadão.
Portanto, desde os faraós egípcios até as dinastias chinesas, com seus primeiros-ministros, nada mudou. O planeta era habitado por um número infinitamente menor de pessoas, mas, mesmo assim, havia também um número expressivo, para os padrões da época, de espoliadores.

Assim, não me adianta saber que oito (8) pessoas apenas no planeta detêm o poder econômico. O que se precisa aprender é como vamos sobreviver, de forma digna, sem corromper-se neste cenário. Acreditamos que nada mudou. Os detentores do poder, em número infinitamente menor, continuam com as rédeas da tropilha sob comando, mesmo que de forma disfarçada. Convenhamos, o homem é um ser imperfeito. Um ser que, quando no poder, permite-se aflorar toda a sua ambição desmedida, sem travas, sem ética, sem humanidade. Exceções existem? Sim, poucas. Nem é aconselhável fazer-se qualquer menção a algum nome, pois há o perigo de esbarrar-se, lá pelas tantas, em alguma falcatrua relacionada a tal nome.

O que se pode fazer então?

Cobrar atitudes daqueles que nos representam? É claro que sim.

Fiquemos, porém, no nosso pequeno universo, na nossa aldeia onde nos situamos. Cobremos melhorias.
Todos nós, cada um em sua aldeia, devemos cobrar melhorias.

 
Que esta cobrança comece conosco.

Que os nossos sentidos não se distraiam com os milhares de links que se sucedem, a cada instante, para um novo tema. Isto capta nossa atenção, quer queiramos ou não, acarretando uma continuada perda de atenção e uma consequente diminuição na compreensão em profundidade de um texto lido sobre qualquer matéria.

A Internet nos conecta com o mundo, porém nos distancia do próximo e, o que é pior, nos desconecta de nós mesmos.

E, voltando aos nossos sentidos, é saudável que usufruamos deles quando folhamos um livro. Nosso olhar que vagueia sobre as páginas, nosso toque ao virar a página e o som deste leve folhear, no cheiro de coisa nova ou de não tão nova assim: tudo isto renova nossa vida sensorial. Ou, ainda, quando ouvimos uma melodia, o canto de um pássaro ao longe, um perfume que nos invade, uma chuva mansa que cai sobre o telhado, um cachorro que late distante, um olhar de criança, a violeta que floresce num canto da sala, ou um lírio da paz fazendo par com um pé de felicidade em outro.

Fizemos parte dos noventa e nove por cento (99%) que compõem a base da pirâmide social.

Isto não vai mudar. Foi sempre assim em escala planetária.

Temos é que construir a nossa base pessoal.

Que a nossa psique possa vibrar num tom harmônico entre o físico e o que nos cerca.

Ah! O que nos cerca? Tudo. Muitas coisas indesejáveis, mas muitas facilitadoras nesta nova era tecnológica que nos brinda com o belo, mas também com o deplorável, com o que deprime e que pode desencadear a desesperança. Sejamos seletivos nas escolhas e caminhemos junto àqueles que também buscam pontes para um amanhã mais ameno e mais fraterno.

Qualifiquemos nossas emoções ao nos deparar com a beleza da natureza, com a música e os ritmos que nos fazem vibrar, com o aperto de mão, com o olhar do vizinho nos cumprimentando, com o cheiro de terra molhada, com a lua nos espiando, com as estrelas traçando figuras, com as nuvens vagando.

E para quem gosta, por que não? Com o gosto do mate bem cevado. Afinal, precisamos sentir, todos nós, o sabor da vida e tocá-la em frente.








Beethoven – 9ª Sinfonia “Coral” - Ode à Alegria


Beethoven – 6ª Sinfonia  “Pastoral” 


Bossa Nova 






 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

ESCREVER É PRECISO


Não sei se, algum dia, não mais usaremos a caneta ou o lápis para irmos juntando letra por letra e construindo palavra por palavra. Talvez, percamos a habilidade manual de desenharmos as letras. Esse construir que exige paciência e bem mais tempo do que um clicar numa tecla ou encostar o dedo sobre uma letra em uma tela.
O que sei é que precisaremos continuar a nos derramar em versos, isso para aqueles que assim se expressam. Para os demais, a correnteza de palavras, que jorra ideias em textos bem elaborados, deverá permanecer existindo, igualmente.
Nada mais humano do que pensar. Expor essa reflexão num texto, porque ainda não cercearam, pelo menos em regimes não totalitários, essa capacidade humana de expressão, é o objetivo concreto do pensar.
Escrever é preciso, porque leitores existem para todos os gêneros literários.
Há quem preferirá ler num tablet o que, para alguns tipos de textos narrativos, como um romance, por exemplo, será algo meio complicado. Acho que se perderá, dado o volume de páginas e o tipo de mídia impressa, aquela sensação de individualidade que cada um imprime no ato da leitura como virar a página, fazer observações à margem do texto, desligar-se do entorno, suspender a leitura com a devida marcação, coisas desse gênero. Para textos menores, como poesias e crônicas, não haverá maiores problemas, creio.
Esse, talvez, seja um pensamento obsoleto. Mas o homem continua o mesmo na essência. Precisa deixar suas marcas naquilo que se encontra em suas mãos. É como se fosse um carimbo individual. Poderá, um dia, voltar a folhear as mesmas páginas e lá encontrar uma mancha sobre a página 30, marca indelével de uma lágrima que lá permaneceu junto às anotações ao pé da página. Devaneio? Coisas dos séculos passados? Não sei, não!
Para mim o ser humano continua sendo o mesmo da época da escrita cuneiforme, dos hieróglifos ou já dos tipos móveis de Johannes Gutenberg. Razão e sentimentos foram, sim, aprimorando-se. O processo civilizatório trouxe esse benefício. O que não pode ocorrer é um retrocesso como a possibilidade de perder-se a capacidade de crítica por faltar o exercício do pensar. É necessário que se cultivem formas de reflexão desde tenra idade, ainda na Escola Fundamental, para que não se formem cidadãos multiplicadores de discursos impostos, ardilosamente, por quaisquer detentores de poder.
Por isso, grupos formadores de opinião, abertos ao diálogo, que propiciem esse ambiente, sempre serão bem-vindos. Programas de debates na mídia televisiva, associações culturais voltadas às artes, à literatura e projetos educativos, que visem ao desenvolvimento de capacidades na área do pensamento, são grandes alavancas para uma sociedade que busca o desenvolvimento verdadeiro para todos.
É necessário que coloquemos nossas ideias para o grupo e oportunizemos ao outro a mesma possibilidade. Assim, acredito, constrói-se uma sociedade: a partir do consenso obtido dessa exposição, através da reflexão.
E nada melhor do que aprender a pensar e refletir. Depois? Colocar no papel o produto da reflexão. Isso se aprende na escola. É para isso que ela existe. Mas, esse já é um assunto para outra crônica.
O que importa é alertar para a necessidade de se cultivar o hábito da leitura e da escrita.
Para quem aprecia versos, seguem dois tímidos exemplos.
Há, porém, quem necessite, mesmo poetando musicalmente, dizer ao seu amor que o ensine a escrever, para que ele, seu admirador, possa fazer um poema a ela, mesmo que esse não saia bonito. É o que, no vídeo abaixo, nos entrega Oswaldo Montenegro.
É! Escrever é preciso. Está no nosso DNA.
 
Do poeta Mario Quintana, de sua CARTA, publicada no Caderno H, extraímos esse trecho que descreve parte do trabalho poético, referindo-se, também, aos textos discursivos e expositivos.
“Quanto a escrever para os contemporâneos, está muito bem, mas como é que vais saber quem são os teus contemporâneos? A única contemporaneidade que existe é a da contingência política e social, porque estamos mergulhados nela, mas isto compete melhor aos discursivos e expositivos, aos oradores e catedráticos. Que sobra então para a poesia? – perguntarás. E eu te respondo que sobras tu. Achas pouco? Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano. O Profeta diz a todos: “eu vos trago a Verdade”, enquanto o poeta, mais humildemente, limita-se a dizer a cada um: “eu te trago a minha verdade”. E o poeta, quanto mais individual, mais universal, pois cada homem, qualquer que seja o condicionamento do meio e da época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano”.
 
O homem, reafirmo eu, continua o mesmo na sua essência: pensante, reflexivo e dotado da capacidade de compreender e amar. Daí sua universalidade. Cabe à sociedade, que se diz civilizada, aprimorar essas marcas que o distinguem dos demais seres.
Pensar e Escrever são características próprias desse ser. Por conseguinte, a capacidade criativa em todos os campos do pensamento é a sua marca. E são ideias e não força que mudam o mundo. É o que diz a conhecida frase, transformada em chamada provocativa pela Globo News.
Portanto, devemos nelas investir para melhorarmos a espécie humana.
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
Me ensina a escrever - Oswaldo Montenegro 

 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 1 de abril de 2014

UM DIA PARA CHAMAR DE SEU


Levados pela correnteza, mergulhamos num mar perigoso, de mil promessas. Descontos aparentes, mas na fria matemática o lucro sorrateiro, embutido, escondido, que não mostra a cara. Aliás, nem face tem. É um ser diáfano que se alça às alturas com aparência de rasteira criatura. É, isso sim, um reles ser. Um ser enganoso, dissimulado, mas fatal.
Traz consigo uma corrente de ofertas, promoções, serviços, novos modelos, novidades e outros que tais. Estamos, graças a ele, também à mercê de produtos não mais confiáveis, embora alguns tenham a idade da Terra, de tão velhos e conhecidos.
É a “dança das cadeiras” dos executivos de organismos internacionais que deveriam nos proteger da nocividade de tantos alimentos industrializados, mas que trocam de assento com executivos de grandes multinacionais que visam, exclusivamente, ao lucro.
E a macacada de Darwin continua ainda, ao que parece, no mesmo patamar de origem.
Acredito, porém, que somos bem mais do que isso. Somos seres pensantes e, portanto, é nossa obrigação estarmos atentos e vigilantes aos predadores da nossa saúde. O desequilíbrio do planeta, o exaurimento das nossas fontes de riqueza, a deterioração de culturas, a miserabilidade que grassa, historicamente, por regiões sabidamente férteis, são sinais de que tais povos são vistos como o lixo do mundo, servindo apenas como massa de manobra para objetivos sempre escusos. Mesmo aos melhores aquinhoados, falta-lhes cultura para perceber quão venenosa é a manipulação, ainda que subliminar. Esses seres, despreparados pela falta de educação e conhecimento, são incapazes de avaliar os aspectos positivos e negativos das novas tecnologias, adquirindo, com sofreguidão, todo e qualquer equipamento que surja no mercado. Tudo bem ao gosto de quem criou a obsolescência programada com o objetivo único de auferir constantes lucros às empresas que fornecem todo o tipo de consumo, dos úteis aos meramente ditos “da hora”.
É sempre desejável uma modernização constante nas áreas científica e tecnológica, pois trarão melhores condições de vida, saúde, moradia, educação e cultura para o povo. Ofertas de emprego e segurança decorrerão de políticas públicas que visem apoio a ações que impulsionem tais objetivos.
Agora, criar um aplicativo, embutido em um novo celular recentemente lançado no Brasil, para ler mil palavras em um minuto, é coisa para macaco “treinado”. O tal usuário lerá todas as palavras que se irão somando, podendo, inclusive ler, segundo a proposta da nova ferramenta, um romance de 300 páginas em pouco mais de uma hora.
E a compreensão? Onde ficará?
Ah! Esqueci que ninguém está preocupado com isso. O negócio é vender o tal aplicativo, através de um novo celular.
Segundo a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos, Rove Luiza de Oliveira Chishman:
“Ler é mais do que decodificar letras e palavras, envolve dar significado, fazer conexões”.
Concordo, plenamente. Será impossível ter uma boa compreensão do que foi lido, se esse leitor levar apenas um minuto para ler mil palavras. Além do que, cada leitor terá, pessoalmente, uma compreensão semântica diferenciada em relação a cada palavra.
Isso, porém, não interessa. Afinal, a macacada de Darwin precisa ser apenas treinada para um desempenho similar a uma máquina. Nada que precise pensar, fazer analogias, compreender o que subjaz ao texto...
Mas o que é isso?
Para a macacada vai interessar apenas a competição de quem lê mais rápido. E para os criadores do aplicativo, isso já está de bom tamanho.
 
É! Para aqueles que já se aperceberam disso, só mesmo fazendo blague!
Para os outros tantos, podem comemorar esse dia 1º de abril. Um dia para chamar de seu é o que resta.
Comemoremos todos ao som de A CASA, que se localiza na Rua dos Bobos, número zero, e que não tem teto e nem parede, construída que está sobre o nada.
Torçamos para que a Educação nos tire dessa casa inexistente para outra que repouse sobre os pilares sólidos do conhecimento.
 
 
 
A Casa – Toquinho
 
 
 
 
 
 

domingo, 17 de novembro de 2013

CRIAR: UM ATO DE AMOR

E Deus criou...
Nós, à sua imagem e semelhança, também geramos, criamos e recriamos com grande esforço, como nos diz Fernando Pessoa nos dois versos que seguem:
O esforço é grande e o homem é pequeno.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
                                     (versos extraídos do poema PADRÃO, inserido na primeira parte (O Brasão) do livro MENSAGEM, uma ode patriótica)
Mesmo assim, é nossa obrigação continuar acalentando esse ideal de criação permanente, pois ela é a prova do grande amor de que somos constituídos. E esse legado é o que nos move, é o que nos compete levar adiante. Carlos Drummond de Andrade, em seu poema AMAR, verseja assim:
Assim dessa forma é que o criar, que repousa no amor ao outro, a um ideal, ao coletivo, se defronta, muitas vezes. A uma doação ilimitada, pode seguir-se uma completa ingratidão. No plano familiar esse comportamento é até bem encontradiço, bem comum.
Felizmente, as mais das vezes, esse criar tem uma resposta pronta e receptiva e começa nas primeiras letras. E é a pessoa daquela primeira professora, que conduz os primeiros passos do seu pequenino aluno, a quem incumbe esse papel de criar condições para uma resposta positiva.
Com muito amor, pois esse criar depende desse ingrediente, o conhecimento vai sendo não apenas transmitido, mas também buscado, numa necessária simbiose, pelos parceiros dessa relação ensino/aprendizagem, isto é, professor/aluno.
Criar condições encerra uma capacidade criativa que, a cada dia, exige mais do professor, frente aos avanços da tecnologia.
Isso, porém, não é impeditivo para a obtenção de resultados positivos, mesmo a infraestrutura à disposição não sendo adequada ou suficiente para a aprendizagem.
Caberá ao professor, com criatividade, criar condições de levar o alunado a um patamar, no mínimo, satisfatório de aprendizagem.
Por isso, considero este profissional, que se dedica ao ensino, o indivíduo mais relevante no segmento social de uma comunidade.
Criar é um ato de amor e ser criativo é uma exigência imposta, principalmente nos dias atuais, em que há grandes avanços, por um lado, mas também grandes deficiências, por outro.
Numa sociedade, extremamente heterogênea em termos econômicos, ser criativo impõe-se como arma a ser usada pelos mais carentes para alcançar aquilo que a muitos outros é de fácil aquisição. E é ao professor que cabe essa tarefa: a de conduzir o alçar voo, sustentando, em pleno mar de vicissitudes, a manutenção e o alcance do destino final, qual seja, melhores chances na vida através da educação e do conhecimento.
Temos um exemplo desse mister na pessoa da Prof.ª Maria Alice Gouvêa Campesato. Docente da Escola Pública Municipal Nossa Senhora do Carmo, no Bairro Restinga, exerce sua função com grande criatividade, levando seus alunos da 6ª Série a descobrirem o prazer de ler.
Criou o Varal Literário, para que os alunos começassem a se familiarizar com os versos de conhecidos poetas, tudo visando a explorar a sensibilidade desses jovens leitores. A seguir, implantou o Clube de Leitura e os Saraus Literários que, a meu ver, é o grande trunfo, pois é aberto à comunidade, e é onde os participantes começam a sentirem-se mais confiantes. Aprendem a ler com mais desenvoltura, a declamar e a interpretar poemas de diversos autores. Assim vão, aos poucos, capacitando-se a criar os seus próprios poemas, bem como textos em prosa. Fazendo uso de música, de imagens e poesias, fica muito mais prazeroso o estudo de textos literários por essa gente miúda.
Isso capacitará esses alunos, num futuro, a uma melhor interpretação e compreensão de qualquer texto, de qualquer discurso. Aprendamos a ler. Aprendamos a pensar. Aprendamos a refletir. Discutamos mais, dialoguemos mais, tragamos à luz aquilo que já se encontra latente na própria alma. Preocupemo-nos mais com os problemas humanos, particularmente com a ética: esses são os belos ensinamentos de Sócrates.
Cidadãos forjam-se quando se lhes dá a capacidade de entendimento de qualquer tipo de discurso, seja ele vazio ou merecedor de uma reflexão maior. A seleção virá ao natural.
Portanto, parabéns à Professora Maria Alice que concorre, como finalista, ao Prêmio RBS de Educação, Projeto: Leitura: Viagens Literárias. Meu voto é para ela.
Destaco, abaixo, parte do texto da citada professora, em que, no segundo parágrafo, afirma que, “nem sempre o que se planeja dá certo, nem sempre a gente pega turmas receptivas”. Digo eu, parafraseando Drummond:
“Saber amar o inóspito, o áspero,
Um vaso sem flor. Mesmo assim, amar “essa secura toda”.
E isso não é motivo para que se desista, conforme afirma Maria Alice.
Grande verdade, professora!
A Comunidade da Restinga agradece.
Esse é o caminho para que se transforme uma comunidade, uma sociedade, um povo.

Transpondo o cântico de Fernando Pessoa à nossa aldeia:

Sabe-se que o esforço é grande e o homem é pequeno.

Sabe-se que a alma é divina e a obra imperfeita.

Sabe-se que a obra é ousada, mas é do professor a parte feita.

E o porto por achar caberá aos pupilos que, com Deus, perseguirão o por fazer, pois esse será permanente e eterno.


E Viva o Dia da Criatividade, comemorado hoje, dia 17 de novembro.





Poesia AMAR – de Carlos Drummond de Andrade
Poema PADRÃO – cantado por Caetano Veloso  

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Comentário via Facebook:
Amar...amar...amar! Eu amo, também, tuas crônicas e a tua criatividade. Parabéns! Professora Maria Alice! Parabéns, Soninha!!!