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terça-feira, 1 de abril de 2014

UM DIA PARA CHAMAR DE SEU


Levados pela correnteza, mergulhamos num mar perigoso, de mil promessas. Descontos aparentes, mas na fria matemática o lucro sorrateiro, embutido, escondido, que não mostra a cara. Aliás, nem face tem. É um ser diáfano que se alça às alturas com aparência de rasteira criatura. É, isso sim, um reles ser. Um ser enganoso, dissimulado, mas fatal.
Traz consigo uma corrente de ofertas, promoções, serviços, novos modelos, novidades e outros que tais. Estamos, graças a ele, também à mercê de produtos não mais confiáveis, embora alguns tenham a idade da Terra, de tão velhos e conhecidos.
É a “dança das cadeiras” dos executivos de organismos internacionais que deveriam nos proteger da nocividade de tantos alimentos industrializados, mas que trocam de assento com executivos de grandes multinacionais que visam, exclusivamente, ao lucro.
E a macacada de Darwin continua ainda, ao que parece, no mesmo patamar de origem.
Acredito, porém, que somos bem mais do que isso. Somos seres pensantes e, portanto, é nossa obrigação estarmos atentos e vigilantes aos predadores da nossa saúde. O desequilíbrio do planeta, o exaurimento das nossas fontes de riqueza, a deterioração de culturas, a miserabilidade que grassa, historicamente, por regiões sabidamente férteis, são sinais de que tais povos são vistos como o lixo do mundo, servindo apenas como massa de manobra para objetivos sempre escusos. Mesmo aos melhores aquinhoados, falta-lhes cultura para perceber quão venenosa é a manipulação, ainda que subliminar. Esses seres, despreparados pela falta de educação e conhecimento, são incapazes de avaliar os aspectos positivos e negativos das novas tecnologias, adquirindo, com sofreguidão, todo e qualquer equipamento que surja no mercado. Tudo bem ao gosto de quem criou a obsolescência programada com o objetivo único de auferir constantes lucros às empresas que fornecem todo o tipo de consumo, dos úteis aos meramente ditos “da hora”.
É sempre desejável uma modernização constante nas áreas científica e tecnológica, pois trarão melhores condições de vida, saúde, moradia, educação e cultura para o povo. Ofertas de emprego e segurança decorrerão de políticas públicas que visem apoio a ações que impulsionem tais objetivos.
Agora, criar um aplicativo, embutido em um novo celular recentemente lançado no Brasil, para ler mil palavras em um minuto, é coisa para macaco “treinado”. O tal usuário lerá todas as palavras que se irão somando, podendo, inclusive ler, segundo a proposta da nova ferramenta, um romance de 300 páginas em pouco mais de uma hora.
E a compreensão? Onde ficará?
Ah! Esqueci que ninguém está preocupado com isso. O negócio é vender o tal aplicativo, através de um novo celular.
Segundo a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos, Rove Luiza de Oliveira Chishman:
“Ler é mais do que decodificar letras e palavras, envolve dar significado, fazer conexões”.
Concordo, plenamente. Será impossível ter uma boa compreensão do que foi lido, se esse leitor levar apenas um minuto para ler mil palavras. Além do que, cada leitor terá, pessoalmente, uma compreensão semântica diferenciada em relação a cada palavra.
Isso, porém, não interessa. Afinal, a macacada de Darwin precisa ser apenas treinada para um desempenho similar a uma máquina. Nada que precise pensar, fazer analogias, compreender o que subjaz ao texto...
Mas o que é isso?
Para a macacada vai interessar apenas a competição de quem lê mais rápido. E para os criadores do aplicativo, isso já está de bom tamanho.
 
É! Para aqueles que já se aperceberam disso, só mesmo fazendo blague!
Para os outros tantos, podem comemorar esse dia 1º de abril. Um dia para chamar de seu é o que resta.
Comemoremos todos ao som de A CASA, que se localiza na Rua dos Bobos, número zero, e que não tem teto e nem parede, construída que está sobre o nada.
Torçamos para que a Educação nos tire dessa casa inexistente para outra que repouse sobre os pilares sólidos do conhecimento.
 
 
 
A Casa – Toquinho
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 26 de março de 2014

UMA BUSCA DIÁRIA


 
São as águas de março fechando o verão...
 
Tristeza não tem fim
Felicidade, sim...
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor.
Brilha tranquila
Depois de leve oscila.
E cai como uma lágrima de amor.
 
Quanta poesia!
 
E de quanta alegria é feita uma cidade que carrega em seu nome o adjetivo alegre?
 
 
São várias as datas comemorativas reunidas num pequeno par de dias do mês de março.
Como reuni-las e escrever sobre elas?
Pois, pensando bem, todas se encontram interligadas.
Selecionando uma delas como fonte para as outras, talvez, consigamos entendê-las no seu conjunto.
Destaquemos, então, aquela que se convencionou comemorar no dia 20 de março: a tão desejada FELICIDADE.
Ela que é breve como as nuvens, que se desfazem e se refazem a todo o instante. Mantê-la requer a capacidade de somar momentos ao longo do dia. Instantes em que o olhar acompanha, ao entardecer, um sol entre nuvens, que empresta nuances quase indescritíveis, tal a grandeza da beleza. Um poeta, porém, sabe captá-las. E isso é poesia. E é, também, desfrutar instantes de encantamento. Ou, ainda, quando os acordes daquela canção fazem-nos sonhar acordados. Quem sabe, quando sorvemos um bom chimarrão e nos perdemos em pensamentos durante minutos enriquecedores. E isso também um poeta reconhece como possibilidade criativa.
E aqueles outros instantes em que a água, escorrendo pelo corpo, propicia imagens de puro desapego, deixando deslizar pelo ralo tudo o que é além de nós. E o perfume do sabonete? E logo, logo, aquela toalha felpuda nos envolvendo, que passará a sensação de aconchego e proteção. Esses também são momentos ricos, que se somam a tantos outros, e que acontecem cotidianamente.
E que tal o abraço de um filho? Ou de um parceiro querido?
E quem sabe assistir ao pôr do sol, tão decantado, da nossa Porto Alegre?
Talvez, uma boa conversa com os amigos?
Ir somando esses momentos é a receita para a tal felicidade.
Claro que ter saúde é fundamental, bem como usufruir daquela que é a fonte de vida: a água benfazeja. Ela que nos acompanha desde a concepção e que é essencial à nossa sobrevivência.
A estação que se aproxima, o Outono, a exemplo do que ocorre com o nosso banho diário, traz um espetáculo de desapego da natureza. O tapete de folhas que cobre os parques nos dá esse sinal de renovação.
E renovação é uma palavra chave para a felicidade. Essa tal felicidade tem que ter instantes renovados, para que se mantenha constante. Ela permeia todo o nosso cotidiano. Observar o que de bom existe, ter emoção e paixão pela vida: é não perdê-la. Esse cultivo de enriquecedores instantes transformará o dia para além do trivial, embora esse aspecto  contenha elementos significativos na busca de instantes em que a felicidade pode ser, também, ali encontrada.
É! A felicidade aparece e desaparece que nem as marés, de forma constante. O que importa é captá-la. E se o engenho e arte forem bagagem criativa desse observador, transformá-la em pura poesia será seu mister.
Quanto a nossa mui leal e valerosa cidade de Porto Alegre, espero que ela se mantenha com seu sorriso estampado para sempre, porque ele é tudo para mim.
Esse sorriso é como uma bússola que me guia, diariamente, quando percorro os caminhos dessa cidade em busca da tal FELICIDADE.
Brindemos às datas, que se juntaram numa ode à manutenção do essencial à vida: SER FELIZ.
 
Uma saudação especial ao:
Dia da Felicidade, 20 de março;
Início do Outono, 20 de março;
Dia da Poesia, 21 de março;
Dia Mundial da Água, 22 de março;
Ao Aniversário de 242 anos da nossa cidade de Porto Alegre, 26 de março.
 
Diferentemente do refrão da letra de A Felicidade, música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, a tal FELICIDADE pode também não ter fim. Basta que saibamos cultivá-la.
E quanto ao sorriso de Porto Alegre, os ex-integrantes do TNT, uma das mais clássicas bandas de rock do Rio Grande do Sul, na canção Do Teu Sorriso Vou Lembrar, Porto Alegre, souberam muito bem musicá-lo, em uma homenagem aos 240 anos de Porto Alegre.
Boa audição!


A Felicidade – Tom Jobim
 
  


Do Teu Sorriso Vou Lembrar, Porto Alegre – Banda TNT
 
 
 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O DONO DO ASSOBIO


Quer algo que está em desuso? O assobio.
E eram tantos os tipos de assobio, quanto os tons diferenciados que os caracterizavam.
Havia aqueles que faziam as moças, de antigamente, quase tropeçarem. Tomadas de surpresa pelo assobio galanteador, apressavam o passo ou o diminuíam, dependendo do momento e do lugar. E a autoestima ia às alturas. Hoje, a coisa é mais explícita. O assobio cedeu lugar à palavra. Por sua vez, acredito que ela tenha perdido a carga imaginativa que o assobio despertava.
Havia, também, quem costumasse assobiar para chamar alguém ou a atenção dessa pessoa. Hoje, essa prática cedeu lugar a um clique no celular que, com certeza, despertará a rápida atenção de quem estiver sendo chamado.
Ensina o dicionário que o assobio é um som agudo produzido pelo ar comprimido entre os lábios.
Agora, se existir entre os lábios um apito, teremos, igualmente, um assobio que soará por meio do sopro. Esses apitos ainda encontram-se entre nós com grande frequência na condução de manobras, na orientação do trânsito, em jogos e competições.
Houve, porém, o conhecido apito do afiador de tesouras que, hoje, está praticamente extinto. Raramente, ouve-se algum.
Outro velho conhecido era o apito das fábricas, coisa do passado, bem como o das locomotivas, o dos bondes. Todos ficaram perdidos na poeira do tempo. Aliás, Noel Rosa compôs o famoso samba Três Apitos, em 1933, que fez grande sucesso nas vozes de cantores da época. Lá aparecem os apitos da fábrica e a referência aos apitos dos guardas-noturnos, tão conhecidos naqueles tempos. Maria Bethânia gravou esse samba, em 1966, cuja letra pode ser ouvida no vídeo abaixo.
Ah! Tem o assobio do vento, lúgubre, que causa certo desconforto e até assusta. Claro que gaúcho não se assusta fácil e está acostumado com o assobio do minuano, atravessando as frinchas dos galpões.
Tem, também, por essas plagas o famoso Milongão Pra Assobiar Desencilhando.
Ambos os assobios, transformaram-se em músicas do cancioneiro gaúcho, conforme vídeos que seguem.
Alguns pássaros, como a Calopsita, assobiam, falam e até cantam. Ouçam este pássaro assobiando o Hino Nacional Brasileiro e, logo após, “falando”, isto é, repetindo frases para as quais foi treinado, em vídeos abaixo.
Entre nós, humanos, existem aquelas pessoas que entram em casa assobiando. Conheci algumas. Parece estarem sempre de bem com a vida. De bem consigo, eu diria.
Havia, também, aquele assobio, na frente de casa, que só ela reconhecia.
Bem antigamente, o assobio de reprimenda para que o cusco não fizesse algo que não devia. O assobio, hoje, foi substituído pela voz materna de “meu amor não faça isso”.
Agora, um assobiar que não se cansa jamais de assobiar é o de um cidadão que percorre, há bastante tempo, o bairro Menino Deus, um dos mais tradicionais da nossa Porto Alegre.
É uma pessoa franzina, de baixa estatura, de meia-idade, que pedala sua bicicleta recolhendo latinhas para vender nos galpões de reciclagem. Os sacos vão pendurados ao redor da bicicleta e vão se enchendo sempre ao som do assobio de seu condutor.
Esse assobio é encantador porque nos acorda, nos sacode, nos faz refletir sobre o que sustenta um ser tão apequenado de posses materiais, mas tão grandioso no seu enfrentamento com o dia a dia.
Em conversa com o cidadão, percebe-se que é uma pessoa plenamente hígida de suas faculdades mentais, responsável, e que tem uma receita simples e básica para tanta disposição: tem saúde.
Segundo ele, quando se tem saúde, tem-se tudo. O resto vai-se arranjando, do jeito que dá. É um cidadão com residência fixa e com uma esposa que se aposentou, ao que parece, pela condição de idosa carente. Ele, por sua vez, aguarda ainda mais uns dois ou três anos para se aposentar. Não sei se será pela mesma forma.
Não me perguntem como é a casa desse cidadão. Sei onde mora, embora não tenha ido visitar tal rua, ainda. Seja de que tipo for, está lá, no mesmo endereço, por já 30 anos, segundo ele.
Pois é, esse assobio vale muito, vale ouro para ele próprio e para quem o ouve passar, vários dias na semana, pelo bairro.
E quem dá cor e vida a esse assobio, cujas melodias, embora não perfeitamente identificáveis, mas todas em tons maiores como manda a alegria, é um cidadão de bem com a vida, de bem com o mundo. Declara-se feliz, pois possui o bem maior que o trouxe até aqui, até hoje: sua boa saúde.
Acredito que ela o acompanhará até os seus últimos tempos.
Como tudo o resto que por aqui adquiriu ficará por aqui, desde as latinhas até o pouco que conseguiu juntar em haveres, o que permanecerá será mesmo a lembrança da figura singela, porém marcante. Não por possuir demais, mas por possuir a consciência do único bem maior: a nossa saúde.
A nós todos cabe, apenas, homenagear o dono desse assobio.
Que ele continue despertando a atenção, dos que com ele cruzam, para o essencial da vida: estar em paz e ser feliz.
É! Estamos precisando de mais gente assobiando.






Três Apitos  - Maria Bethânia




Quando Sopra o Minuano – Os Serranos




Milongão Pra Assobiar Desencilhando – Luiz Marenco




Calopsita assobiando o Hino Nacional Brasileiro



Calopsita falando



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Comentário via Facebook:
Maria Odila Menezes
escreveu:
 Adoro ouvir o assobio dos pássaros! Confesso que eu,também, gosto de assobiar!!!rsrsrs Parabéns, Soninha, pela bela crônica!
  

sexta-feira, 5 de julho de 2013

DE TEMPOS EM TEMPOS

Tal qual águas revoltas, que irrompem do fundo do oceano em fúria avassaladora, tal qual lava incandescente que brota do fundo da terra, despejando aquilo que não era mais suportável, o povo, igualmente, de uma praça, de um espaço público qualquer, irrompe explodindo sua inconformidade, sua insatisfação. Isto se dá quando suas necessidades chegam a um nível crítico e há a percepção nítida de um total desrespeito ao seu clamor.

Nos fenômenos da natureza é imprevisível, na maior parte das vezes, evitar-se tais cataclismos. Um vulcão que começa a trabalhar, um tsunami que chega avassalando o que tem pela frente, um furacão ou um terremoto que se formam, aleatoriamente, são fenômenos inevitáveis.

Agora, quanto aos agrupamentos humanos, os indicativos de violência em massa são bem mais fáceis de serem percebidos e evitados.

Originariamente começam lentamente, em pontos diversos de uma cidade, em diferentes regiões do país, portando cartazes onde expressam sua indignação, mas ainda movimentos dentro da lei e da ordem instituídas. Estamos falando, é claro, de povos civilizados, vivendo em pleno século XXI. Suas reivindicações, quando explodem em violência, ocorrem porque já o tinham sido exaustivamente apresentadas, ao longo de anos, aos que os representam. Não esqueçamos que somos civilizados, vivemos num Estado Democrático de Direito e estamos no século XXI. Tudo muito moderno! A tecnologia está a serviço desse homem: é o que se propaga.

Mas e quando falta a esse homem o básico para que ele se desenvolva?

Não aquele básico ao rés do chão, mas o básico no atendimento de suas necessidades, aquilo que se reserva a um ser humano, digno por representar a espécie humana e não digno por representar a casta, isto é, os melhores aquinhoados.

Essa massa, que incomoda, clama por direitos expressos em cartazes que portam quando se aventuram em passeatas, por esses rincões afora.

Tudo muito básico, muito claro, muito verdadeiro e perfeitamente realizável.

Nada de discursos, pois disso todos já estão fartos.

O que fazer? Todos sabem.

Como fazer? Todos, também, sabem.

Quem vai fazer? Aqueles que nos representam.

Rezemos para que esse povo permaneça na praça, lugar que é dele, a reivindicar aquilo que lhe é devido.

Povo alegre, bem humorado, trabalhador: um povo feliz.

Pena que seus representantes estejam, de longa data e de forma escancarada, nos últimos tempos, a pisotear, de forma deslavada, direitos fundamentais que não repousam somente na liberdade, mas no exercício da cidadania como indivíduos que têm direito a uma saúde, educação e segurança dignas e efetivas. Que suas cidades tenham transporte público de qualidade. Que haja uma política efetiva de preservação do meio ambiente, das riquezas minerais, de seus mananciais. E por aí afora...

A pauta de reivindicações está nas ruas, na Internet. O rosário de pedidos é grande, mas não maior do que a fila de zeros do imposto recolhido aos cofres públicos por esses mesmos indivíduos que estão nas ruas: os milhões de contribuintes.


Atentem para o amarelo piscante!

Gestão correta do dinheiro público e tolerância zero aos seus desvios, em qualquer esfera de poder. Mecanismos efetivos de fiscalização e punição exemplar aos transgressores.

Diante dessas medidas, todos começarão a pensar, duas vezes, antes de cometerem ilícitos.

Caso contrário, a movimentação das massas pode explodir.

Mas, diferentemente dos fenômenos naturais, tudo ainda pode ser evitado.

Oremos!


Enquanto isso, ouçamos VAI PASSAR, de Chico Buarque, que confirma a alegria de um povo, embora venha sendo ludibriado e arrastado como massa de manobra há tempos. Essa música pode ainda embalar a leitura de um poema de Castro Alves, chamado O POVO AO PODER que, entre seus versos, destaca-se aquele que diz:

A PRAÇA É DO POVO/COMO O CÉU É DO CONDOR.


Aliás, Caetano Veloso, em sua canção UM FREVO NOVO, utiliza-se dos versos do poeta Castro Alves, quando canta A Praça Castro Alves é do povo/como o céu é do avião.Já Carlos Drummond de Andrade faz uma paródia irônica quando responde ao verso de Castro Alves, dizendo:

Não, meu valente Castro Alves, engano seu.
A praça é dos automóveis. Com parquímetro.
Chico Buarque – Vai Passar













sexta-feira, 28 de junho de 2013

BEM MAIS QUE 0,20 CENTAVOS!

O olhar desolado, por vezes aflito, suplicante na maior parte do tempo. Poucos chegarão de forma diversa dessa. Poucos conseguirão manter-se dignamente após tantos anos de trabalho e contribuição aos órgãos competentes. Expliquemos melhor para entender a imagem.

Esse é o caso de Dona Mariazinha. Pessoa que trabalhou por anos a fio, perfazendo regularmente o tempo para a aposentadoria. Seus últimos vinte anos de trabalho passaram-se junto a um conhecido laboratório de análises clínicas dessa Capital. Era excelente datilógrafa, cumpria suas atribuições com assiduidade e responsabilidade, sendo elogiada pelos chefes.

Essa senhora, hoje com 83 anos de idade, contribuiu, regularmente, durante todo o tempo de trabalho exigido por lei para se aposentar sobre o valor de quatro (04) salários-mínimos. Aposentou-se, efetivamente, ganhando quatro (04) salários-mínimos. À época, era um valor razoável. Aliás, como hoje também o é. Sendo ela solteira e sem filhos, o que percebia satisfazia suas necessidades, considerando que não pagava aluguel, pois vivia na casa de um irmão.

Acontece que Dona Mariazinha foi envelhecendo. Seu irmão, que lhe auxiliava, veio a falecer antes dela. E ela, após algum tempo, percebeu que sua aposentadoria definhava a cada ano. E a diferença aumentava entre o que iniciara ganhando e aquilo que, agora, vinha percebendo mês a mês.

E a sua estupefação chegou ao clímax quando verificou que um dia, de não sei que ano, porque coisas desse tipo é preciso esquecer para não desabar, ela recebeu, no final de um mês, a quantia de um (1) salário-mínimo.

Já com a saúde abalada, com dificuldades para caminhar e alimentar-se, não mais tendo o irmão para socorrê-la, uma sobrinha resolveu assumir a posição de seu tio, irmão de Dona Mariazinha.

E essa contribuinte do INSS passou a viver em clínicas. Sua aposentadoria, de um (1) salário mínimo, não é suficiente para a compra dos remédios e das fraldas de que faz uso. A tal sobrinha de Dona Mariazinha paga a clínica e uma cunhada cobre o valor que excede do salário-mínimo para as referidas compras.

Agora, o dramático é que Dona Mariazinha se hoje ganhasse os quatro (04) salários-mínimos para os quais contribuiu e que efetivamente iniciou ganhando, teria tido condições de pagar SOZINHA a clínica onde se encontrava até a poucos dias atrás. Restaria aos parentes apenas uma contribuição para o complemento necessário de suas despesas.

Calculando:

Preço da clínica onde se encontrava: R$ 2.450,00

Valor da aposentadoria, mantidos os (04) salários-mínimos: R$ 2.712,00

CONCLUSÃO: Sobrariam R$ 262,00 para ainda colaborar na contribuição dos demais parentes, que aportariam o que faltasse para suprir as necessidades.



Seu olhar aflito, por ter nova mudança de clínica, é perfeitamente compreensível e desesperador. Há tantas outras pessoas em condições semelhantes, de verdadeira miserabilidade. Com essa aposentadoria de (01) salário-mínimo não precisaria ter ela contribuído sobre (04) salários, durante tantos anos. O mais sensato, correto e justo, no seu caso, teria sido ter contribuído apenas sobre o mínimo, pois é o que lhe sobrou hoje. Ou, se estivesse na informalidade, bastaria ter aguardado a idade prevista de 65 anos, comprovada a impossibilidade de prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua família, conforme prevê o art. 203, inciso V, da Constituição Federal, e requerido esse tal salário-mínimo.

O fato é que as modificações que estão a acontecer em nada tem melhorado a discrepância entre a contribuição paga durante a vida laboral e a contraprestação do Estado no gerenciamento de tais recursos e na destinação correta e atualizada de valores descontados, ao longo do tempo, de milhões de aposentados.

Após anos, constata-se o logro em que caíram milhões de aposentados.

Ocorreu, de verdade, uma expropriação de seus haveres.

Isso é uma vergonha nacional.


O poeta Luiz Coronel, patrono da Feira do Livro de 2012, sintetiza, através do poema SALÁRIO MÍNIMO, extraído do livro Um Querubim de Pantufas, exatamente como abaixo transcrito, as agruras de quem dele vive.

Diante dessa triste constatação, deveriam todos os aposentados, espoliados que foram, levantar cartazes onde se leriam os valores a que têm direito, levando-se em conta suas aposentadorias no exato momento de sua obtenção.

No caso de Dona Mariazinha, o seu cartaz estamparia a quantia de R$ 2.034,00, que é o que lhe tiraram ao longo do tempo. Para ela que, hoje, ganharia quatro (04) salários-mínimos, faltam-lhe exatamente R$ 2.034,00.


Para Dona Mariazinha a briga é por

                                                                                                BEM MAIS QUE 0,20 CENTAVOS!









Vanera do Aposentado – Os 3 Xirus

Pobre Aposentado – Bezerra da Silva  
Melô dos Aposentados

quinta-feira, 22 de novembro de 2012


QUANDO O MENOS É O MELHOR
 

Fisionomias que se crispam, corpos que se contorcem, gritos que não se ouvem, tudo em meio à fumaça que emerge de todos os lados.

O espaço onde tudo acontece é relativamente pequeno. Quando a porta da sala é aberta o som que se projeta é ensurdecedor. Acredita-se que em torno de 100 decibéis. Quem canta e o que se canta, não interessa muito. É um ritmo, ou melhor, uma batida que serve apenas para incentivar e acelerar os movimentos frenéticos de quem lá dentro se encontra.

Ao lado dessa espécie de estúdio, há um amplo salão, com inúmeras mesas, onde podem acomodar-se em torno de cinquenta pessoas. Também aqui, o som é tão alto que não permite uma conversa entre dois convidados, sentados lado a lado. O som, nesse espaço, deve beirar em torno dos 85 decibéis.

Pois este cenário é uma festa de aniversário de uma jovem que está completando 13 anos. Seus convidados, em torno de 30 colegas de escola, encontram-se, também, na faixa etária entre 11 e 13 anos.

No salão, antes descrito, reuniram-se, nessa festa, apenas quatro adultos. Estava, portanto, praticamente, vazio. Ainda assim, tinham esses convivas dificuldade de comunicação entre si.

Não havia, por óbvio, bebida alcoólica, mas apenas refrigerantes e água mineral. Respeitou-se, nesse particular, a legislação consubstanciada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Agora, o protagonista da festa, o principal personagem, não foi a aniversariante. Foi, meus senhores, o DJ. Nada contra os DJs, muito pelo contrário.

Os pais, que buscaram seus filhos ao final da festa, nem perceberam a altura do som, pois muitos chegaram minutos após o término. E outros tantos, que chegaram antes, compareceram, aparentemente, apenas para buscar os filhos. O que estava por ali a acontecer, não fazia parte de sua atenção.

Para quem observou, durante quatro horas, atentamente o desenrolar de todos os momentos, percebeu cenas bastante sintomáticas dos malefícios que os decibéis em excesso causavam aos jovens. A maioria deles, quando saía do estúdio para comer alguma coisa, saía aos gritos de dentro da tal discoteca e assim permanecia, aos gritos entre si, do lado de fora. Outros, já ao término da festa, pareciam extenuados, a ponto de jogarem-se nas cadeiras, no salão maior.

Ao que se sabe, é comum esse quadro repetir-se, a cada aniversário, pois hoje “som e dança” fazem parte de qualquer festa.

Por outro lado, os pais parecem ignorar os malefícios causados pelo volume excessivo do som registrado nesses locais, não parecendo estar preocupados com a saúde de seus filhos menores de idade.

Portanto, considerando-se essa omissão dos pais e da própria legislação, acredita-se que caiba às autoridades competentes a regulamentação quanto à altura do som permitida para locais fechados, que sejam frequentados por menores.

Com relação aos maiores de idade, usuários desses ambientes, seriam necessárias campanhas de conscientização. Esperamos que os malefícios, advindos de um volume de som exagerado, não os tornem, no futuro, pessoas com deficiência de audição, entre outras manifestações que o organismo poderá apresentar. 

Agora, quanto aos menores, é preciso que se assuma a responsabilidade por sua saúde, pois são absolutamente incapazes, enquadrados que estão, pelo Código Civil Brasileiro, na faixa etária até os 16 anos. (art. 3º, inciso I)

Quem sabe uma Portaria regulando o nível máximo de decibéis em “festinhas de aniversário”, promovidas em Casas de Eventos, para jovens até os 16 anos de idade, não seria a solução? Quem sabe?

O Estatuto da Criança e do Adolescente, por sua vez, em seu art. 149, § 1º, letra e, prevê que compete às autoridades judiciárias, levando em consideração, dentre outros fatores, a adequação do ambiente à eventual participação ou frequência de crianças e adolescentes, disciplinar, através de portaria, ou mediante alvará, o uso correto de tais ambientes. A solução na estaria na adoção dessa saudável medida no que tange ao volume de som permitido? O auxílio das Secretarias Municipais de Saúde e do Meio Ambiente, através de seus técnicos, seria determinante na elaboração de uma grade, e inúmeros estudos existem a respeito, com limites de decibéis compatíveis com o ouvido humano, que não causariam dano à audição desses jovens.

Paralelamente, caberia aos órgãos competentes do Município a fiscalização de tais ambientes frequentados por menores.

Essa medida seria de grande valia na preservação da saúde auditiva de nossos jovens, livrando-os, igualmente, de outras patologias advindas do impacto exagerado do som sobre o organismo humano.





 
Quanto ao gosto musical, isso já é assunto para outra crônica.

Nada contra o bate-estaca.

Há quem, porém, prefira um bate-coxa.

Assistam ao vídeo abaixo e formem sua opinião.