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quinta-feira, 22 de novembro de 2012


QUANDO O MENOS É O MELHOR
 

Fisionomias que se crispam, corpos que se contorcem, gritos que não se ouvem, tudo em meio à fumaça que emerge de todos os lados.

O espaço onde tudo acontece é relativamente pequeno. Quando a porta da sala é aberta o som que se projeta é ensurdecedor. Acredita-se que em torno de 100 decibéis. Quem canta e o que se canta, não interessa muito. É um ritmo, ou melhor, uma batida que serve apenas para incentivar e acelerar os movimentos frenéticos de quem lá dentro se encontra.

Ao lado dessa espécie de estúdio, há um amplo salão, com inúmeras mesas, onde podem acomodar-se em torno de cinquenta pessoas. Também aqui, o som é tão alto que não permite uma conversa entre dois convidados, sentados lado a lado. O som, nesse espaço, deve beirar em torno dos 85 decibéis.

Pois este cenário é uma festa de aniversário de uma jovem que está completando 13 anos. Seus convidados, em torno de 30 colegas de escola, encontram-se, também, na faixa etária entre 11 e 13 anos.

No salão, antes descrito, reuniram-se, nessa festa, apenas quatro adultos. Estava, portanto, praticamente, vazio. Ainda assim, tinham esses convivas dificuldade de comunicação entre si.

Não havia, por óbvio, bebida alcoólica, mas apenas refrigerantes e água mineral. Respeitou-se, nesse particular, a legislação consubstanciada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Agora, o protagonista da festa, o principal personagem, não foi a aniversariante. Foi, meus senhores, o DJ. Nada contra os DJs, muito pelo contrário.

Os pais, que buscaram seus filhos ao final da festa, nem perceberam a altura do som, pois muitos chegaram minutos após o término. E outros tantos, que chegaram antes, compareceram, aparentemente, apenas para buscar os filhos. O que estava por ali a acontecer, não fazia parte de sua atenção.

Para quem observou, durante quatro horas, atentamente o desenrolar de todos os momentos, percebeu cenas bastante sintomáticas dos malefícios que os decibéis em excesso causavam aos jovens. A maioria deles, quando saía do estúdio para comer alguma coisa, saía aos gritos de dentro da tal discoteca e assim permanecia, aos gritos entre si, do lado de fora. Outros, já ao término da festa, pareciam extenuados, a ponto de jogarem-se nas cadeiras, no salão maior.

Ao que se sabe, é comum esse quadro repetir-se, a cada aniversário, pois hoje “som e dança” fazem parte de qualquer festa.

Por outro lado, os pais parecem ignorar os malefícios causados pelo volume excessivo do som registrado nesses locais, não parecendo estar preocupados com a saúde de seus filhos menores de idade.

Portanto, considerando-se essa omissão dos pais e da própria legislação, acredita-se que caiba às autoridades competentes a regulamentação quanto à altura do som permitida para locais fechados, que sejam frequentados por menores.

Com relação aos maiores de idade, usuários desses ambientes, seriam necessárias campanhas de conscientização. Esperamos que os malefícios, advindos de um volume de som exagerado, não os tornem, no futuro, pessoas com deficiência de audição, entre outras manifestações que o organismo poderá apresentar. 

Agora, quanto aos menores, é preciso que se assuma a responsabilidade por sua saúde, pois são absolutamente incapazes, enquadrados que estão, pelo Código Civil Brasileiro, na faixa etária até os 16 anos. (art. 3º, inciso I)

Quem sabe uma Portaria regulando o nível máximo de decibéis em “festinhas de aniversário”, promovidas em Casas de Eventos, para jovens até os 16 anos de idade, não seria a solução? Quem sabe?

O Estatuto da Criança e do Adolescente, por sua vez, em seu art. 149, § 1º, letra e, prevê que compete às autoridades judiciárias, levando em consideração, dentre outros fatores, a adequação do ambiente à eventual participação ou frequência de crianças e adolescentes, disciplinar, através de portaria, ou mediante alvará, o uso correto de tais ambientes. A solução na estaria na adoção dessa saudável medida no que tange ao volume de som permitido? O auxílio das Secretarias Municipais de Saúde e do Meio Ambiente, através de seus técnicos, seria determinante na elaboração de uma grade, e inúmeros estudos existem a respeito, com limites de decibéis compatíveis com o ouvido humano, que não causariam dano à audição desses jovens.

Paralelamente, caberia aos órgãos competentes do Município a fiscalização de tais ambientes frequentados por menores.

Essa medida seria de grande valia na preservação da saúde auditiva de nossos jovens, livrando-os, igualmente, de outras patologias advindas do impacto exagerado do som sobre o organismo humano.





 
Quanto ao gosto musical, isso já é assunto para outra crônica.

Nada contra o bate-estaca.

Há quem, porém, prefira um bate-coxa.

Assistam ao vídeo abaixo e formem sua opinião.


 
 
 






sexta-feira, 31 de outubro de 2008


 

DAS ÁGUAS...


Estela vai desviando das poças d’água. Busca com os olhos o lugar melhor, na calçada, para pisar. Chove muito. Como tem chovido!

Uma imagem assalta seu pensamento. Aquela da crônica que, há tempos, escrevera.

A cena do redemoinho, da avalanche que se avizinha, de um movimento que começa lento e vai-se acelerando: até o irromper, por estreita passagem, de um novo ser. Lá esteve, por bom tempo, imerso em meio líquido. Seu corpo é mais de 70% composto de água. Aliás, o que une toda a humanidade, bem como toda forma de vida, é a água. A própria superfície do nosso planeta, em sua maior parte, é água.

A água é sempre benfazeja. Ela alimenta, cura, purifica, limpa. Ela faz parte de nós. Estela vai assim divagando. Seu pensamento borboleteia, buscando ideias. Esbarra em conceitos, se embaraça em teorias.

De algum lugar, um pássaro cantor interrompe seu pensar. Mas pensar ainda é próprio de sua espécie. Assim, persevera e continua estabelecendo comparações, analogias. Busca, por assim dizer, a convicção da melhor opção. Para si, para o outro ou para ambos?

Puxa, é difícil! Melhor seria ter permanecido deitada em ventre esplêndido, ao som de um mar profundo e à luz dos olhos da mamãe, que cuidava dela o tempo inteiro.

Mas, que nada! Hoje, Estela está aqui: pronta para decidir. Ela que é quase só água, não pode colaborar para o barco fazer água. Que responsabilidade! E disseram a ela que isso é ter espírito cívico. Será?

Será que ela deve depositar sempre em outras mãos a solução de problemas em que se sente tão omissa? Será que os vizinhos da sua rua não poderiam, quem sabe, resolver aqueles problemas tão próximos a si próprios? E os da rua seguinte, outros problemas próximos a eles?

Oh, quantas questões! Pensar é preciso. Temos o maior poder à nossa disposição que é o pensamento. O problema é aprendermos a usá-lo, guiando-o pelas veredas do bem comum. Há que se ter um olhar estendido ao coletivo e que ações concretas sejam implementadas. Que discurso mais bonito, Estela!

Deixa os discursos pra eles! Trata de ti, dos teus e, se fores mesmo uma cidadã consciente, cuida, dentro do possível, daqueles a tua volta. Que já fazes muito!

Quanto à chuva, tenho certeza de que esperas com ansiedade que ela lave por completo a sujeira que, porventura, tenha ficado por debaixo dos discursos. Que ela cure as ofensas ditas e as injustiças cometidas: tudo assistido por todos nós. Que ela alimente novos projetos e aqueles outros tantos em andamento.

E, principalmente, que nessa hora derradeira, irrompa, desse caldo de águas um tanto quanto turvas, um condutor à altura de Estela e de seus concidadãos.

E que se CONFIRME o acerto na escolha com a tecla CONFIRMA.