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sábado, 21 de março de 2015

RENOVAÇÃO
















Renovar é reinventar-se. É assistir ao espetáculo do chão atapetado pelas flores recém-caídas dos jacarandás da rua onde moro. É saber que este tapete se renovará, por primeiro, em novas flores exuberantes e em um novo tapete de rua no próximo Outono.

Com tantas datas a serem comemoradas no mês de março, é difícil escolher apenas uma para se comentar. Com certeza, porém, todas contêm o aspecto da renovação. Não só porque serão novamente comemoradas no ano seguinte, mas porque implicam num contínuo desejo de melhora daquilo que se está a homenagear.

Quem não quererá melhorar a situação das florestas e da água no planeta?

Para isso, porém, não basta elegerem-se os dias 21 e 22 de março para tais comemorações.

Aliás, se não cuidarmos desses dois fundamentais bens da humanidade, os nossos futuros Outonos não serão tão belos quanto os de hoje. Os jacarandás, talvez, nem mais depositem suas flores sobre os passeios porque, quem sabe, nem mais floresçam para nos dar este espetáculo.

E a nossa cidade, esta jovem de 243 anos, precisa se reinventar para que continue ainda jovem por mais 243 Outonos.

Temos que cuidar das poucas áreas de mata nativa de que ainda dispomos. Isto é absolutamente urgente.

E o nosso Guaíba? O nosso Arroio Dilúvio? Tanto se tem falado e tão pouco se tem feito.

Em A HORA É AGORA!, crônica publicada em 02/01/14, fiz referência a outra crônica, de nome RS + 25 – OH, GAIA! HAVERÁ SAÍDA?, publicada em 04/07/12, onde o vídeo anexado demonstra o que foi feito no Arroio Cheong Gye Cheon, em plena cidade de Seul, capital da Coreia do Sul.

Na mesma crônica, outro vídeo apresenta estudos iniciais feitos pela parceria UFRGS/PUC, onde as Universidades colocam todo o seu aparato humano e tecnológico à disposição dos gestores públicos, para que se leve adiante essa proposta de despoluição do Arroio Dilúvio. Tais vídeos são bastante elucidativos para a resolução de problemas como a despoluição e o cuidado com os mananciais, criando-se com estas medidas um forte apelo ao turismo na região.

Em outra crônica, À BEIRA DE UM RIO, publicada em 27/08/14, fiz uma reflexão sobre a situação do nosso Guaíba, de todos os demais rios que o compõem e dos arroios que desembocam nestes rios. A poluição hídrica é um fato gravíssimo.



Embora diante de tantas mazelas que nos cercam, é preciso ser feliz.

Não é nem preciso comemorá-la na data de 21 de março, dia dedicado a ela.

É preciso, porém, vivenciá-la diariamente. Renovando-se cada um de nós a cada amanhecer.

Na crônica UMA BUSCA DIÁRIA, publicada em 26/03/14, a felicidade é descrita como a capacidade de encantamento, de entrega, de emoção e paixão pela vida. Instantes do dia que o transformam para além do trivial, embora, como escrevi, esse aspecto contenha elementos significativos na busca de instantes em que a felicidade pode ser, também, ali encontrada. 

Como as marés, ela vem e vai. O importante é que esse movimento se estabeleça com constância. E cabe a cada um de per si captar, pelo menos, um instante diário em que o espírito, que é amor, possa sentir com o coração o poder de amar. A felicidade, neste momento, inundará aquele ser amoroso que detém o poder divino de fazer-se feliz, porque filho do Criador.

O aprendizado da felicidade requer um exaustivo trabalho do sentir. É pela capacidade de sentir que nos tornaremos mais próximos do outro e descobriremos o valor maior que representamos para nós mesmos e para o conjunto. Por isso, o embate é constante e necessita de um compromisso diário.

Torçamos para que os amanheceres sejam mais plenos e fraternos. Que novos caminhos se abram a todos que acreditam num olhar amoroso para consigo e para com o outro.

Aí estará depositada a semente da felicidade. Dela surgirá uma colheita digna de quem a plantou. 

E renovar-se será o propósito diário, a cada amanhecer...








Felicidade – Marcelo Jeneci






quarta-feira, 26 de março de 2014

UMA BUSCA DIÁRIA


 
São as águas de março fechando o verão...
 
Tristeza não tem fim
Felicidade, sim...
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor.
Brilha tranquila
Depois de leve oscila.
E cai como uma lágrima de amor.
 
Quanta poesia!
 
E de quanta alegria é feita uma cidade que carrega em seu nome o adjetivo alegre?
 
 
São várias as datas comemorativas reunidas num pequeno par de dias do mês de março.
Como reuni-las e escrever sobre elas?
Pois, pensando bem, todas se encontram interligadas.
Selecionando uma delas como fonte para as outras, talvez, consigamos entendê-las no seu conjunto.
Destaquemos, então, aquela que se convencionou comemorar no dia 20 de março: a tão desejada FELICIDADE.
Ela que é breve como as nuvens, que se desfazem e se refazem a todo o instante. Mantê-la requer a capacidade de somar momentos ao longo do dia. Instantes em que o olhar acompanha, ao entardecer, um sol entre nuvens, que empresta nuances quase indescritíveis, tal a grandeza da beleza. Um poeta, porém, sabe captá-las. E isso é poesia. E é, também, desfrutar instantes de encantamento. Ou, ainda, quando os acordes daquela canção fazem-nos sonhar acordados. Quem sabe, quando sorvemos um bom chimarrão e nos perdemos em pensamentos durante minutos enriquecedores. E isso também um poeta reconhece como possibilidade criativa.
E aqueles outros instantes em que a água, escorrendo pelo corpo, propicia imagens de puro desapego, deixando deslizar pelo ralo tudo o que é além de nós. E o perfume do sabonete? E logo, logo, aquela toalha felpuda nos envolvendo, que passará a sensação de aconchego e proteção. Esses também são momentos ricos, que se somam a tantos outros, e que acontecem cotidianamente.
E que tal o abraço de um filho? Ou de um parceiro querido?
E quem sabe assistir ao pôr do sol, tão decantado, da nossa Porto Alegre?
Talvez, uma boa conversa com os amigos?
Ir somando esses momentos é a receita para a tal felicidade.
Claro que ter saúde é fundamental, bem como usufruir daquela que é a fonte de vida: a água benfazeja. Ela que nos acompanha desde a concepção e que é essencial à nossa sobrevivência.
A estação que se aproxima, o Outono, a exemplo do que ocorre com o nosso banho diário, traz um espetáculo de desapego da natureza. O tapete de folhas que cobre os parques nos dá esse sinal de renovação.
E renovação é uma palavra chave para a felicidade. Essa tal felicidade tem que ter instantes renovados, para que se mantenha constante. Ela permeia todo o nosso cotidiano. Observar o que de bom existe, ter emoção e paixão pela vida: é não perdê-la. Esse cultivo de enriquecedores instantes transformará o dia para além do trivial, embora esse aspecto  contenha elementos significativos na busca de instantes em que a felicidade pode ser, também, ali encontrada.
É! A felicidade aparece e desaparece que nem as marés, de forma constante. O que importa é captá-la. E se o engenho e arte forem bagagem criativa desse observador, transformá-la em pura poesia será seu mister.
Quanto a nossa mui leal e valerosa cidade de Porto Alegre, espero que ela se mantenha com seu sorriso estampado para sempre, porque ele é tudo para mim.
Esse sorriso é como uma bússola que me guia, diariamente, quando percorro os caminhos dessa cidade em busca da tal FELICIDADE.
Brindemos às datas, que se juntaram numa ode à manutenção do essencial à vida: SER FELIZ.
 
Uma saudação especial ao:
Dia da Felicidade, 20 de março;
Início do Outono, 20 de março;
Dia da Poesia, 21 de março;
Dia Mundial da Água, 22 de março;
Ao Aniversário de 242 anos da nossa cidade de Porto Alegre, 26 de março.
 
Diferentemente do refrão da letra de A Felicidade, música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, a tal FELICIDADE pode também não ter fim. Basta que saibamos cultivá-la.
E quanto ao sorriso de Porto Alegre, os ex-integrantes do TNT, uma das mais clássicas bandas de rock do Rio Grande do Sul, na canção Do Teu Sorriso Vou Lembrar, Porto Alegre, souberam muito bem musicá-lo, em uma homenagem aos 240 anos de Porto Alegre.
Boa audição!


A Felicidade – Tom Jobim
 
  


Do Teu Sorriso Vou Lembrar, Porto Alegre – Banda TNT
 
 
 

sábado, 25 de janeiro de 2014

DE VERDES, AMARELOS, AZUIS E DE UM OLHAR CRIANÇA


No pátio, uma pereira, uma goiabeira, um caquizeiro e uma pequena parreira. Canteiros verdes de hortaliças e um gramado, também verde, em frente à casa. Uma casa toda verde com janelas também verdes, num tom mais claro. Hortênsias verdes e rosas sob a janela do quarto da frente.
A casa, de frente para o leste, recebia o sol que por lá acordava todos os dias, pintando de amarelo vivo o que encontrava pela frente.
E os olhos? Os olhos tinham espaço para buscar o céu, muito azul, que emoldurava a tudo e a todos.
Quando a professora solicitava um desenho, o preferido era aquele que costumava encher-lhe os olhos com referenciais que dispunha ao redor. Basicamente, duas elevações de terra, totalmente verdejantes, um sol brilhante despontando por entre os dois morros, e um céu, inteiramente azul, com algumas nuvens passeando ao deus- dará, para lá e para cá. Acrescentava uma casinha ao lado direito do desenho e, vez por outra, um laguinho, onde uma criança, de costas, jogava uma pedrinha, fazendo a água romper-se em mil círculos. Pura imaginação!
As cores básicas eram sempre o verde, o amarelo e o azul, mais umas pinceladas de marrom para representar o tronco de uma árvore, estrategicamente colocada, toda verdejante, ao sopé do morro. Tudo conforme o desenho que segue abaixo.


E não se vivia no campo, não. Era numa cidade que se vivia. E essa cidade era a capital dos gaúchos.
Foi o olhar criança ou a cidade que se modificou?
O olhar infantil, curioso, perscrutador: sinto-o ainda o mesmo. Faz parte do universo pessoal construído há muito tempo atrás. Agora, a cidade, com certeza, não é mais a mesma. Mas ela possui ainda todos os principais referenciais que a fizeram conhecida e amada.
Por que não resgatar e revitalizar todos os seus principais pontos turísticos, em especial os que dizem respeito à natureza, aqueles que se encontram a céu aberto. Os que permitam que crianças de hoje possam com ela dialogar. Que a conversa não seja apenas com a máquina, com uma natureza apenas virtual.
Olhar o céu em noite de lua cheia e, naquela esfera toda branca, por entre aquelas imagens que ela nos presenteia, enxergar, em imaginação, por exemplo, uma orquestra inteirinha, com músicos tocando! Que tal? Para quem já aprendia um instrumento musical, à época, não era muito estranho respeitar silêncios, pausas que a partitura exigia e, é claro, até imaginar uma orquestra tocando na lua.
Isso não é para qualquer criança. Ela tem que habituar-se a olhar para a natureza.
E isso não é saudosismo, nem romantismo.
É simplesmente propiciar a esse ser a possibilidade de exercitar a sua sensibilidade para aquilo que o seu olhar alcança, mesmo estando tãããoooo distante o objeto do olhar, como a lua.
O que importa é exercitar a emoção/contemplação, pois serão esses momentos que continuarão a ressoar nos pequenos tempos depois, religando-os à mãe Natureza, já que a outra se terá ido.
Diante de tantos tons enegrecidos, que nos chegam pelos noticiários do mundo, fica difícil iluminar o olhar, quando, também por aqui, observa-se tanta sujeira e tanto descaso pela cidade. Temos com urgência de procurar cultivar um olhar de admiração por aquilo que nos cerca, oferecendo espaços de convivência ao ar livre, já que os espigões nos tiram a possibilidade de enxergar um pé de goiabeira num canto do pátio. E o próprio céu está cada vez mais reduzido a estreitos pedaços ao olhar de quem o busca.
E quem o busca? Acredito que apenas aquele adulto que um dia, quando criança, teve espaço físico, orientação adequada, e até, às vezes, certo tédio que o levou a despertar a imaginação, criando-se, assim, momentos de imersão em seu próprio mundo mágico. E que teve, dessa maneira, despertada a sensibilidade para o aparentemente sem sentido, como acompanhar com o dedinho a gota de chuva que escorre pela vidraça, o seu pingar suave sobre o telhado, ou a completa sinfonia da chuva com trovões e tudo mais que a acompanha.
E cá estou eu a carecer de mais verdes, amarelos e azuis.
Como estarão nossas crianças? Como estará sendo despertada a sensibilidade para o entorno? A água que bebem, a sombra da árvore, o canto do bem-te-vi e as estrelas no céu serão objeto de admiração? Pousarão o olhar, terão a atenção voltada para esses elementos circundantes? Acompanharão as nuvens com seu desenho caprichoso que vai formando figuras conhecidas nossas? A imaginação serve para isso!
Como poderão ver despertada essa sensibilidade se estão presas a uma tela, qualquer que seja ela, recebendo um pôr do sol com a sensibilidade de quem o criou, através de um aplicativo X?
Diante desse quadro, vamos, pelo menos, melhorar os espaços de que dispomos, para que nossas crianças possam acompanhar o voo e o grasnar dos nossos papagaios selvagens, ouvir o canto dos bem-te-vis, observar o voo rasante das andorinhas em final de tarde, a gota d’água que cai daquela folha, que esteve a chorar durante a noite, aquela nuvem que corre atrás da outra só para, logo ali, juntarem-se formando um desenho que cada um vai imaginar o que é. Tudo de acordo com as suas vivências e a sua própria sensibilidade. É necessário parar um pouco de clicar, para deixar a imaginação surfar sozinha, ajudando-a a construir o universo próprio de cada um.
Governantes, é imperioso cuidarmos das nossas praças, das nossas árvores, verdadeiras reservas de ar puro, de saudável convívio e de último baluarte para que se mantenham vivos os tão necessários espaços para contemplação. Tudo em prol de uma melhor convivência consigo próprio e com o outro.
Foi por isso que, ao ver a fotografia estampada no Jornal Zero Hora, dias atrás, lembrei-me dos verdes, amarelos e azuis da minha infância. Tendo a Ponte de Pedra ao fundo, encharquei-me com aquelas cores e meus olhos tornaram-se o espelho d’água refletindo todas elas, já tão minhas conhecidas.
Pois foram essas exatamente as mesmas cores que predominaram na lindíssima fotografia, reproduzida abaixo.
E Porto Alegre?
Temos que mantê-la alegre, a qualquer custo, pois esse adjetivo é o que enfeita o substantivo, assim como a cor enfeita a pintura.
E essa, nesse caso, é natural.
Que bela imagem!
Ponte de Pedra ou dos Açores
Largo dos Açorianos 
(Foto: Dani Barcellos/Especial)
Trem das Cores – Caetano Veloso
As Cores de Abril – Vinicius e Toquinho

terça-feira, 2 de abril de 2013



CERIMÔNIA ANTECIPADA


Geralmente, prepara-se com antecedência o objeto que sofrerá as penas infligidas a quem traiu o Salvador.

Há notícias de que esse ritual data de antes de Cristo e que dizia respeito às colheitas. Primitivamente, afastaria os maus espíritos das culturas agrárias.

Há relatos, porém, que esse ritual simbolizaria a perseguição aos judeus na Idade Média, época da Inquisição. Também há quem afirme que essa manifestação remontaria às festas pagãs, na época dos romanos.

Ao que se sabe, essa cerimônia ingressou na América Latina nos primeiros séculos de colonização europeia. E, no Brasil, foi trazida pelos povos da Península Ibérica.

O fato é que aqui se instalou e até hoje, principalmente em cidades do Interior, é prática usual no Sábado de Aleluia. Trata-se da conhecida Malhação de Judas. Cerimônia, em que gente do povo, previamente, constrói um boneco do tamanho de um homem, enchendo-o de trapos, serragem, jornal, pedaços de galhos, possibilitando deixá-lo com a aparência de um indivíduo. Então, no Sábado, véspera da Páscoa, moradores levam-no para a praça pública. Lá, ele será apedrejado, tripudiado, rasgado, destruído até virar frangalhos. Por fim, ateia-se fogo, inclusive.

Isso tudo representaria o revide dos filhos de Deus contra a traição de Judas Iscariotes, um dos discípulos, a Jesus Cristo, guia deles e nosso.

A cena lembra os primitivos tempos da barbárie em que o homem esteve submerso. Algo que, em nossos dias, ao que parece, perde força. Pelo menos, falando-se dessas encenações em nossas capitais. Um parêntese: Não nos esqueçamos dos apedrejamentos das mulheres na Arábia Saudita, prática ainda usual. Isso demonstra ainda estarmos, em alguns lugares do Planeta, vivendo situações da barbárie, ainda existente.

Voltando a nossa realidade, há, com certeza, porém, cidades que ainda mantêm viva a tradição como, por exemplo, a cidade de Itu, no interior do Estado de São Paulo. O boneco deles é de tamanho avantajado, porque a tradição manda que tudo seja grande por lá. Também, ateiam fogo. Porém, há quem informe que, inclusive, colocam dinamite para promover o Estouro de Judas.

De algum tempo para cá, políticos, que caem no desagrado popular, veem estampadas suas fisionomias no Judas, para sofrerem agressões físicas e serem ridicularizados, tudo o que a cerimônia permite. Isso também ocorre com quaisquer outras personalidades, todas as que não sejam bem-vistas pela população.

Aqui pelo Rio Grande do Sul, em algumas cidades, também ocorrem essas cerimônias. Até mesmo em Porto Alegre, em alguns redutos, é tradição esse ritual.



Pois esse ano, um grupo de moradores, imbuídos do espírito da Páscoa, de renovação, resolveu antecipar a cerimônia para dois dias antes da tradicional data.

E o que se viu foi uma Malhação de Judas contra um patrimônio histórico, de valor inestimável à cidade.

Será que a ideia era destruir para, depois, renovar?

Se era essa a ideia, conseguiram. E nós, todos nós, porto-alegrenses, teremos que pagar pelos estragos deixados pelos participantes da cerimônia de Malhação contra o prédio da Prefeitura de Porto Alegre. Um prédio cuja pedra fundamental data de 05 de abril de 1898; de construção iniciada em 28 de setembro de 1898 e concluída em abril de 1901.

Numa autêntica Malhação de Judas, manifestantes munidos de paus, taquaras, pedras, bolas de gude e tinta, dirigiram-se ao Paço Municipal e lá, ensandecidos, protagonizaram cenas semelhantes ao antigo ritual.

Será que também o Paço os terá traído como fez Judas a Cristo? Ou melhor, será que o Chefe do Paço os terá traído?

Se assim ocorreu, no entendimento desses manifestantes, não podemos voltar à barbárie e destruir, a paus e pedras, o prédio que abriga o Chefe e, muito menos, por óbvio, o próprio Representante do Paço e seus colaboradores.

As regras de urbanidade, a busca pelos foros adequados, o diálogo e o espírito de renovação da Páscoa, indicam outros caminhos.

O caminho não é esse. Aprendamos a lutar com armas mais sutis. Sejamos mais inteligentes, mais criativos, mais colaborativos, mais civilizados.

Há que lutar por soluções pacíficas.

Há que lutar pela não violência.

Há que lutar pela PAZ.



E isso, absolutamente, não significa que sejamos pusilânimes no enfrentamento das questões que envolvem a comunidade por melhores condições de vida.

Continuemos a reivindicar nossos direitos a um melhor transporte público, a uma segurança pública efetiva, a uma educação e saúde, também públicas, de qualidade.

Mantenhamos, porém, a ordem.

Esse é nosso dever como cidadãos.





Recital a la Paz – Dante Ramon Ledesma
 
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 26 de março de 2013


ENTRE O VISÍVEL E O DESEJÁVEL

O sorriso anda meio amarelado. Não te vejo, nem te sinto mais tão feliz, tão leve quanto eras.

Tu que a tudo assistias ao sopé do morro, de nome de Santa. Lá, embaixo, eras plateia. Eu encenava e contracenava. Tu, já eras pura exibição. E acompanhavas meus devaneios, sussurros e juras.

Não te punhas enciumada, pois a ti, de há muito, já me entregara. Ao outro, apenas no tempo certo me entregaria. De ti já era amante, apaixonada, desde sempre.

Desde quando, na ponta dos pés, espiava pela janela o movimento e o som buliçoso que de tuas artérias ouvia. Foste para mim um desafio a conquistar, desde quando buscava, no armazém da esquina, os saborosos docinhos de leite condensado.

Aos poucos, fui contigo formando um par indissolúvel. Fiz de ti minha morada. Casei contigo e com o outro. Tu, dada a tua natureza, não te importaste. Pelo contrário. É tua missão acolher mais e mais pessoas sob esse manto hospitaleiro.

Vivendo em ti, com o outro procriei e uma nova estrela veio juntar-se a tua já tão grande constelação.

Sinto-te perene, mas confesso que ando preocupada. Sei que a tudo assistes. Silenciosa, às vezes. Esfuziante, em outras. Tu és minha deusa à beira de um rio, reverenciada a cada entardecer pelo mais belo pôr do sol.

Agora, teus filhos andam meio desleixados contigo. Por vezes, para chamar a atenção, aproveitando-se da companheira chuva, esparramas tuas lágrimas para além dos limites desejáveis. Só para “inticar”. Só para mostrar que a coisa não anda bem.

Por outro lado, teus cartões de apresentação, igualmente, não têm tido os reparos necessários, para que consigas sorrir por inteiro.

Ah! O teu parque mais antigo e famoso, que eu amo tanto, sabes bem quanto precisa de um constante olhar protetor.

Tuas artérias, antes buliçosas com o calor humano, estão esgotadas por tantas máquinas potentes que trafegam espremidas que nem bois no brete.

Teus mais lindos enfeites, as árvores, que te tornam verdejante, fértil e bela, andam assustadas. Afinal, as espécies têm diminuído e a quantidade como um todo, ao que parece, também. E como vamos respirar?

Será isso um desvario?

Será apenas uma reacomodação?

Ando preocupada com a minha amada!

Quero vê-la sempre bem, sempre feliz, sorridente. E o que ando vendo não é mais esta expressão de felicidade.

É bom que acendamos o amarelo piscante. Que ele permaneça aceso a nos lembrar da responsabilidade desses filhos e dos filhos de seus filhos para com esse chão que nos acolhe.

E tudo, como se sabe, passa pelo grau de prioridade que se deposita como objetivo maior a ser alcançado pela comunidade.

É necessário priorizar as condições de sustentabilidade da nossa cidade, para que ela abrigue cidadãos satisfeitos com as condições ambientais proporcionadas a eles, no seu dia a dia. É o que todos nós, sinceramente, desejamos.

Para tanto, as forças vivas da comunidade, em mutirão, deverão empenhar-se na solução dos problemas que a todos afligem.

Não é para qualquer um manter esse cognome de CIDADE SORRISO.

Já que adotamos essa marca, temos a responsabilidade de cinzelar, em nossa identidade, a ferro e fogo, como se faz no gado, metaforicamente falando, um sorriso estampado no semblante de nossa amada cidade.

Tomara que possa ela, com a nossa ajuda, recuperar o seu autêntico sorriso de felicidade.


Feliz Aniversário, Porto Alegre!

Parabéns pelos teus 241 anos de existência!





Porto Alegre é meu porto – Kledir/ Ramil


Porto Alegre, Porto Alegre – Hermes Aquino

 
Ramilonga – Vitor Ramil
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 26 de março de 2012











TEU SORRISO

À minha cidade!
Uma homenagem nesse aniversário de 240 anos

Há muito tempo atrás, cheguei. Tu, aqui, já te encontravas. Com o tempo, teu espaço tornou-se meu mundo, meu porto seguro.

Na Avenida América, dei meus primeiros passos. Na esquina com a Nova York, busquei meus primeiros docinhos na venda que ainda está lá.

De lá saltei para aquela rua chamada Das Caravelas. E tal qual um navio que singra o desconhecido, um dia, saí para o mundo. Que belo lugar fui escolher! O bairro dos meus amores é abençoado até no nome. Traz a pureza de um menino e o Nosso Senhor por guia. Ele é o Bairro Menino Deus. Poder acompanhar o florescer dos jacarandás e dos ipês é acompanhar a própria renovação que se processa na alma a cada nova estação que desponta.

Embora com tanta beleza, não dispenso uma caminhada até o Parque da Redenção, parque da minha infância, da minha juventude e de hoje. Aos sábados e domingos, lá estou. O verde, que entra pelas retinas, traz paz e o que divido com os amigos, chimarreando uma erva boa, reconforta o coração. Vez por outra, pouso o olhar naquele espelho d’água, que é pura poesia. Suspendo o pensamento com a pergunta:

- Espelho, espelho meu! Quem é mais linda do que eu? Reconheço que minha cidade é mais linda e continua, também, alegre. Nesse Porto dos Casais, teu pôr de sol me fascina. Foi aqui, nesse Porto Alegre, que meus sonhos atracaram e que fiz morada desde quando ao mundo cheguei. Por último, só te peço:

- Congela esse teu sorriso, que é tudo pra mim!








Kleiton e Kledir – Deu Pra Ti

Porto Alegre - por portoimagem

Breve História das Capitais Brasileiras - Porto Alegre







segunda-feira, 9 de janeiro de 2012











UM OLHAR... 
                       UM OLHARTE...

Mergulhe o olhar no muro. Extraia dali o que vê e bem mais: o que sente.

Depois da inundação, nada será como antes. Desaparecerão todos. Restará apenas concreto e muita água. Água sem vida: nem dentro, nem no entorno. Nem as lendas e histórias sobreviverão sem seu principal personagem: o rio. Um rio sem mais identidade. Um rio que terá morrido. Sobrará apenas uma imensa quantidade de água amorfa, sem saliências, declives, sombras. Suas margens não servirão mais para descanso de conhecidos frequentadores, nem suas entranhas tomadas por parceiros que nele transitam há muito tempo. Séculos de convivência respeitosa, entre o rio e aqueles ditos “selvagens”, é o que existiu. E agora? Para onde irão?

O muro está lindo. Fica nos fundos da Escola Estadual Presidente Roosevelt, local que servia de dormitório para moradores de rua. Ainda há restos de pertences deles por lá. Talvez, à noite, voltem a dormir por ali. Afinal, o lugar está mais bonito. E esses já são civilizados. Não são selvagens, mas precisam também daquele rio, ali retratado, pelo bem do ecossistema do país. Aliás, necessitam, bem antes, de um lugar para dormir. E esse ficou bem mais agradável. No silêncio da madrugada, talvez ouçam o canto de algum pássaro que se perdeu muro adentro, levado pelo som da floresta, ali evocada, que só ele consegue ouvir.

Toda arte é rica ao ponto de sensibilizar, fazer pensar, desnudar, questionar. E essa, de rua, mais ainda. Ela esbarra direto no cidadão, sem precisar esperar que ele a visite. Ela está ali, numa esquina qualquer.

Pois é, um rio sempre impressiona. São suas águas que nos atraem. Afinal, vivemos por um período em águas calmas, aconchegantes, um verdadeiro fluido denso onde nos abrigamos até despertarmos para o mundo. Nós próprios somos constituídos de aproximadamente setenta e cinco por cento de água.

Por isso o muro nos impacta. E esse rio, de nome Xingu, parece pedir socorro.

 Agora, há outro muro que nos emociona. É o muro da Avenida Mauá, pois ali repousa parte da história de nossa cidade. Ou melhor, é o Rio Guaíba e suas plácidas águas retratadas num painel de mais de cem metros de comprimento. Que bela imagem!

Já que não podemos tê-lo junto a nós, mergulhemos o olhar nessa imagem virtual. Precisamos dela.

É claro que, com a revitalização do Cais Mauá, conseguiremos desfrutar desse encanto, bem mais próximo, em bares ou no próprio píer.

Aqueles, porém, que usarem a avenida como trajeto diário, têm o direito de, pelo menos virtualmente, sentirem-se acompanhados por tão ilustre criatura.

Aliás, o Criador o que estará pensando das suas obras?

Do Xingu, do Guaíba...

E da Belo Monte?

Bem, essa não é obra sua. Deve ser do Outro.

E como na história bíblica, o Outro deve ser controlado, combatido, para que não prospere.

O que o leitor acha?











Parabéns aos autores do Coletivo, os artistas/grafiteiros Emir Sarmento, Cusco Rebel, Lidia Brancher, Seilá Pax e Pablo Etchepare.







Parabéns, igualmente, ao artista plástico Leandro Selister que, de forma virtual, interveio na paisagem nos relembrando a beleza do lugar onde moramos.









Parabéns à idealizadora, ao curador do projeto, aos patrocinadores e aos demais artistas que participam do Artemosfera, edição 2011.




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*Segue abaixo a manifestação dos artistas sobre a publicação acima:



"puxa sonia! que legal!!!
muuuuito obrigado de coração!
realmente nossa mensagem foi passada com amor. 
tudo de bom pra ti!!!
keep strong!!!"

Cusco Rebel - Alexandre Cravo




"Oi Sonia
Te agradeço muito o email e o texto também. Esse trabalho foi especial para mim.
Coloquei no meu Facebook, o link para o teu Blog.
Um grande abraço"

Leandro Selister