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segunda-feira, 17 de maio de 2021

SEMELHANÇAS...

Todos os dias pousava na mesma janela, na mesma hora. Por entre grades, acostumara-se a andar. De lá pra cá, daqui pra lá. A visita era diária. Após vários minutos, despedia-se com um até logo mais, sinalizado por um cantar conhecido.

Sua visita diária era como reconhecer-se importante, necessário e capaz de estreitar laços com não sei bem quem.

Este alguém sempre o observava e invejava este seu voejar diário. As grades não o impediam de achegar-se, sem medo, disposto a despejar ali seu mavioso canto.

Sim, grades não devem nos impedir de voar, pois voar em sonhos é também voar.

O que é o sonho? Um voo ao ainda desconhecido, mas desejado.

A observadora e seu visitante diário são semelhantes.

Um, capaz de voar graças as suas asas que o auxiliam a seguir em frente, voando em busca de alimento, parceria, refúgio.

A outra, capaz de enfrentar o cotidiano sempre em busca daquilo que a satisfaça. Por ser humana, seu capital genético é mais sofisticado. Daí, a possibilidade de voar, através da imaginação, a lugares desconhecidos, adentrando em seu próprio interior criativo e alimentando-se de emoções, prazeres e empatia com aqueles que, também, voam com esta capacidade: a que transcende os limites físicos que nos limitam.

Diante deste cenário, em que a Terra está sendo afetada por vilões vindos de todos os cantos, cabe a nossa imaginação criar redutos de refúgio onde, ainda, persista a esperança.

Como podemos salvaguardar nossa capacidade de sonhar?

Em nossas criativas reservas que se encontram resguardadas em nossa imaginação.

Portanto, imaginar é necessário, é preciso, é saudável. É o que nos permite voar em pensamento e usarmos a imaginação como veículo que nos leve a cenários mais reconfortantes.

Basta de cenas dilacerantes, de protagonistas desalmados, de indivíduos inescrupulosos, de cenas de barbárie.

A alienação não é o caminho desejado, mas há que se buscar um caminho que nos mantenha íntegros emocionalmente.

É preciso seguir o exemplo do pássaro da janela. Estreitar vínculos como forma de sentir-se necessário e capaz de modificar cenários reais pela imaginação que alimenta nossos sonhos e que nos faz voar até o próximo amanhecer. Tudo em prol da saúde que nos mantém vivos e partícipes de uma sociedade melhor para todos que a integram.

Inspire-se no passeio matinal do pássaro que não tem medo das grades. Elas não são obstáculo a quem busca, no pensamento, a reflexão necessária antes do voejar matutino.

Nada melhor do que um poema para expressar toda a importância de mantermos acesa a PAIXÃO, ela que alimenta nosso recomeço diário.

Claro, lembrando que somos bem mais do que aquele pássaro visitante, pois somos capazes de transpor quaisquer grades. Em especial, as internas que, muitas vezes, nos aprisionam.

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

DE VOLTA? SÓ A BACIA...


Do interfone uma voz masculina perguntava se a calopsita, que caíra no pátio de sua casa, era de alguém do edifício. Aninha, atendendo ao celular com uma das mãos, informou que não conhecia alguém do prédio que tivesse uma calopsita. A bem da verdade, havia um vizinho, recém-chegado, que talvez fosse o dono da tal ave. Quem sabe? Forneceu o número do apartamento, então. Poderia, também, ter referido outro edifício bem próximo, com apartamento térreo e pátio, além de uma casa com um quintal imenso, também próxima, de onde poderia a calopsita ter escapado. Diante da impossibilidade de falar, ao mesmo tempo, com um celular e o interfone preferiu apenas mencionar o novo vizinho, por absoluta economia de tempo.

No dia seguinte, soube pelo tal vizinho que a calopsita fora entregue a ele dentro de uma bacia, para que se informasse ou descobrisse de onde ela partira e quem seria seu dono. Que empreitada!

Aliás, o Roberto, nome do novo vizinho, contou a Aninha que a calopsita já se encontrava na casa de sua sogra. Ao que parece, até já teriam dispensado a bacia e adquirido uma gaiola. Eh! O afeto já tinha tecido alguns fios de acolhimento ao pequeno ser.

A calopsita é um pequeno papagaio da família Cacatuidae, descrita como espécie, pela primeira vez, em 1792. Originariamente, é uma ave das áreas úmidas da Austrália.

Quando da entrega, ficou a dúvida se a calopsita tinha se perdido por aí ou se o dono não mais a queria. Pelo menos, foi esta a sensação extraída pelo Roberto do encontro com o suposto salvador, homem forte de cabeleira vasta.

Aninha sabe que comida para uma calopsita exige certo cuidado. Basicamente, são grãos misturados. Cuida-se, porém, que a porcentagem da mistura seja 20% de alpiste, 50% de painço, 15% de arroz com casca, 10% de aveia e 5% de girassol. Mas não mais de 5%, porque o dito engorda e não é muito bom para animais em cativeiro. Muito menos para calopsitas que são pequeninas em tamanho (12.8cm até 32cm de comprimento incluindo a cauda) e leves no peso (78g a 125g). Mas claro, há os alimentos balanceados para melhor controle de peso. Olha só o gasto!

O que deve ter acontecido com a calopsita? Ninguém sabe. Talvez, seu dono tenha resolvido propiciar alguns minutos de liberdade a ela, soltando-a pela casa. Bastou um descuido e ela sumiu por encanto. É o que pode ter acontecido. Que mão de obra!

Agora, Aninha tem outra versão sobre a entrega da calopsita. O tal homem de cabeleira vasta pode ter usado o expediente para livrar-se da ave.

Tempos atrás, Aninha adentrou no mundo das calopsitas, quando andava às voltas com a crônica O DONO DO ASSOBIO, publicada em 14/02/14. Na oportunidade, encontrou dois vídeos muito elucidativos. Num, a calopsita repetia frases tipo:

Papai é meu amigo...

Papai me ama...

Deus é bom pra mim...

Papai chegou...

Bate o pé, bate o pé...

Nana, nenê...



Já pensaram bem?

O indivíduo chegando em casa, exausto, e sendo cobrado “sutilmente” por atenção com a frase Papai é meu amigo, repetida à exaustão? Esta calopsita, a do vídeo, fala e não se aninha aos pés de seu dono como um cachorrinho ou um gatinho. E olha que a palavra é uma ferramenta poderosa!

Agora, quando ela é treinada para assobiar o Hino Nacional Brasileiro, o bicho pega!

Aquilo que, cantado na hora certa, é pura emoção, torna-se algo enfadonho, até irritante, dependendo do humor e das dificuldades enfrentadas, no dia a dia, pelo dono da casa e, por óbvio, da calopsita. Este assobiar, convenhamos, cheira mais a provocação do que incentivo.

E há quem esteja já treinando as calopsitas para cantarem a letra do Hino Nacional do Brasil! Já pensaram?



Se a versão da Aninha vingar, o dono verdadeiro da calopsita nunca mais vai aparecer.

De todo este imbróglio, parece que o Roberto apenas foi questionado sobre a bacia, que se encontra na casa da sogra, e que o dono virá buscar, oportunamente.

Agora, para quem não dispensa uma calopsita engaiolada em casa, Aninha pede que a deixem emitir o seu som característico, o seu arrulhar que pode transportar o seu dono para o mundo das calopsitas, ou para qualquer outro, podendo fazê-lo viajar em pensamento. Desta mesma forma é que Aninha viaja com os papagaios que habitam o Bairro Menino Deus. Todos livres, leves e soltos a marcarem local e hora: ao amanhecer e ao entardecer, especialmente. Junto a eles variados pássaros que os acompanham em voos circulares e que oferecem seu bailado como pano de fundo para os alegres papagaios.

Como Aninha poderá manter a imaginação fluindo se prenderem os papagaios?



Ah! Para finalizar, os estudiosos das calopsitas afirmam que o penacho sobre suas cabeças é tão expressivo quanto o rabo é para o cachorro. Penacho para cima significa estar nervosa ou atenta; quando emitem um som parecido com uma tosse é porque estão bravas; se for um grito, pode ser carência. 

Agora, se puderem, de vez em quando, sair da gaiola e voar por dentro de casa, será melhor ainda. Afinal, não lhe cortem as asas, pois com elas poderão voar por sobre os móveis e, talvez, seu dono possa apreciar melhor a beleza exuberante desta ave que não canta como um sabiá, mas que voa com graça. Ação esta que é própria de sua natureza.

Pois em gaiola, nem sendo dourada, os coitados dos passarinhos gostam de estar.

Olavo Bilac em O PÁSSARO CATIVO retrata bem a tristeza e a angústia que a gaiola representa para os pássaros, conforme poema transcrito abaixo.

E para ficar pela metade do século passado, um pouco após o falecimento do grande poeta parnasiano, ocorrido em 1918, a música SABIÁ LÁ NA GAIOLA, um dos hits do ano de 1950, dá o tom alegre e infantil, num vídeo animado, ao desejo de liberdade do sabiá.



Sinceramente, acho que de volta só querem mesmo é a bacia. Ainda bem! Acho que a calopsita já encontrou um novo lar. Nesta nova morada, acredita-se que a portinhola da gaiola todos os dias abrir-se-á, por um tempo, para que ela desfrute de uma liberdade protegida. Não é a ideal. Mas... 

Parece, pelo que soube Aninha, que, na nova morada, a calopsita já é a rainha do pedaço.



É! Até o momento, o único dono, que se apresentou como tal, é o dono da bacia: que virá buscá-la. Virá buscar a bacia, é claro. Será?






SABIÁ LÁ NA GAIOLA – Grupo Anima/Letras 




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Comentários via Facebook:

Rosangela Guerrieri Pereira: Ah, Soninha, que bonitinho o vídeo, a menininha chamando o pássaro com a mãozinha. O texto está muito lindo. Afinal, o dono virá ou não buscar a bacia? Bjo

Amelia Mari Passos: "O afeto já tinha tecido alguns fios de acolhimento ao pequeno ser" AiiI!!!que delicia de ler , escutar e assistir. Soninha Athayde tu nos faz bem. Um abraço

Anninha Simioni: Texto maravilhoso carregado de leveza, sensibilidade, amor e poesia, Parabéns e um abraço, Soninha!


sábado, 25 de janeiro de 2014

DE VERDES, AMARELOS, AZUIS E DE UM OLHAR CRIANÇA


No pátio, uma pereira, uma goiabeira, um caquizeiro e uma pequena parreira. Canteiros verdes de hortaliças e um gramado, também verde, em frente à casa. Uma casa toda verde com janelas também verdes, num tom mais claro. Hortênsias verdes e rosas sob a janela do quarto da frente.
A casa, de frente para o leste, recebia o sol que por lá acordava todos os dias, pintando de amarelo vivo o que encontrava pela frente.
E os olhos? Os olhos tinham espaço para buscar o céu, muito azul, que emoldurava a tudo e a todos.
Quando a professora solicitava um desenho, o preferido era aquele que costumava encher-lhe os olhos com referenciais que dispunha ao redor. Basicamente, duas elevações de terra, totalmente verdejantes, um sol brilhante despontando por entre os dois morros, e um céu, inteiramente azul, com algumas nuvens passeando ao deus- dará, para lá e para cá. Acrescentava uma casinha ao lado direito do desenho e, vez por outra, um laguinho, onde uma criança, de costas, jogava uma pedrinha, fazendo a água romper-se em mil círculos. Pura imaginação!
As cores básicas eram sempre o verde, o amarelo e o azul, mais umas pinceladas de marrom para representar o tronco de uma árvore, estrategicamente colocada, toda verdejante, ao sopé do morro. Tudo conforme o desenho que segue abaixo.


E não se vivia no campo, não. Era numa cidade que se vivia. E essa cidade era a capital dos gaúchos.
Foi o olhar criança ou a cidade que se modificou?
O olhar infantil, curioso, perscrutador: sinto-o ainda o mesmo. Faz parte do universo pessoal construído há muito tempo atrás. Agora, a cidade, com certeza, não é mais a mesma. Mas ela possui ainda todos os principais referenciais que a fizeram conhecida e amada.
Por que não resgatar e revitalizar todos os seus principais pontos turísticos, em especial os que dizem respeito à natureza, aqueles que se encontram a céu aberto. Os que permitam que crianças de hoje possam com ela dialogar. Que a conversa não seja apenas com a máquina, com uma natureza apenas virtual.
Olhar o céu em noite de lua cheia e, naquela esfera toda branca, por entre aquelas imagens que ela nos presenteia, enxergar, em imaginação, por exemplo, uma orquestra inteirinha, com músicos tocando! Que tal? Para quem já aprendia um instrumento musical, à época, não era muito estranho respeitar silêncios, pausas que a partitura exigia e, é claro, até imaginar uma orquestra tocando na lua.
Isso não é para qualquer criança. Ela tem que habituar-se a olhar para a natureza.
E isso não é saudosismo, nem romantismo.
É simplesmente propiciar a esse ser a possibilidade de exercitar a sua sensibilidade para aquilo que o seu olhar alcança, mesmo estando tãããoooo distante o objeto do olhar, como a lua.
O que importa é exercitar a emoção/contemplação, pois serão esses momentos que continuarão a ressoar nos pequenos tempos depois, religando-os à mãe Natureza, já que a outra se terá ido.
Diante de tantos tons enegrecidos, que nos chegam pelos noticiários do mundo, fica difícil iluminar o olhar, quando, também por aqui, observa-se tanta sujeira e tanto descaso pela cidade. Temos com urgência de procurar cultivar um olhar de admiração por aquilo que nos cerca, oferecendo espaços de convivência ao ar livre, já que os espigões nos tiram a possibilidade de enxergar um pé de goiabeira num canto do pátio. E o próprio céu está cada vez mais reduzido a estreitos pedaços ao olhar de quem o busca.
E quem o busca? Acredito que apenas aquele adulto que um dia, quando criança, teve espaço físico, orientação adequada, e até, às vezes, certo tédio que o levou a despertar a imaginação, criando-se, assim, momentos de imersão em seu próprio mundo mágico. E que teve, dessa maneira, despertada a sensibilidade para o aparentemente sem sentido, como acompanhar com o dedinho a gota de chuva que escorre pela vidraça, o seu pingar suave sobre o telhado, ou a completa sinfonia da chuva com trovões e tudo mais que a acompanha.
E cá estou eu a carecer de mais verdes, amarelos e azuis.
Como estarão nossas crianças? Como estará sendo despertada a sensibilidade para o entorno? A água que bebem, a sombra da árvore, o canto do bem-te-vi e as estrelas no céu serão objeto de admiração? Pousarão o olhar, terão a atenção voltada para esses elementos circundantes? Acompanharão as nuvens com seu desenho caprichoso que vai formando figuras conhecidas nossas? A imaginação serve para isso!
Como poderão ver despertada essa sensibilidade se estão presas a uma tela, qualquer que seja ela, recebendo um pôr do sol com a sensibilidade de quem o criou, através de um aplicativo X?
Diante desse quadro, vamos, pelo menos, melhorar os espaços de que dispomos, para que nossas crianças possam acompanhar o voo e o grasnar dos nossos papagaios selvagens, ouvir o canto dos bem-te-vis, observar o voo rasante das andorinhas em final de tarde, a gota d’água que cai daquela folha, que esteve a chorar durante a noite, aquela nuvem que corre atrás da outra só para, logo ali, juntarem-se formando um desenho que cada um vai imaginar o que é. Tudo de acordo com as suas vivências e a sua própria sensibilidade. É necessário parar um pouco de clicar, para deixar a imaginação surfar sozinha, ajudando-a a construir o universo próprio de cada um.
Governantes, é imperioso cuidarmos das nossas praças, das nossas árvores, verdadeiras reservas de ar puro, de saudável convívio e de último baluarte para que se mantenham vivos os tão necessários espaços para contemplação. Tudo em prol de uma melhor convivência consigo próprio e com o outro.
Foi por isso que, ao ver a fotografia estampada no Jornal Zero Hora, dias atrás, lembrei-me dos verdes, amarelos e azuis da minha infância. Tendo a Ponte de Pedra ao fundo, encharquei-me com aquelas cores e meus olhos tornaram-se o espelho d’água refletindo todas elas, já tão minhas conhecidas.
Pois foram essas exatamente as mesmas cores que predominaram na lindíssima fotografia, reproduzida abaixo.
E Porto Alegre?
Temos que mantê-la alegre, a qualquer custo, pois esse adjetivo é o que enfeita o substantivo, assim como a cor enfeita a pintura.
E essa, nesse caso, é natural.
Que bela imagem!
Ponte de Pedra ou dos Açores
Largo dos Açorianos 
(Foto: Dani Barcellos/Especial)
Trem das Cores – Caetano Veloso
As Cores de Abril – Vinicius e Toquinho