Mostrando postagens com marcador desvios. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador desvios. Mostrar todas as postagens

sábado, 19 de maio de 2018

MÃOS... MENTES...

Maria Helena assistia àquela cena diariamente. Sempre que passava pela frente daquele estabelecimento bancário, sentado no chão, junto à grade do banco, aquele jovem lá estava com a mão estendida pedindo “um troco”. Algo deprimente.

Maria Helena achava que poderia tentar dar um encaminhamento mais digno para aquele ser humano ali jogado na calçada.

Um dia, resolveu parar para conversar.

E a conversa assim transcorreu:

- Oi, tudo bem?

- Tudo.

- Eu tenho uma ideia e vou te dizer qual é.

- Ah?

- A gente podia arranjar um emprego pra ti.

- Eu não sei fazer nada; só sei mexer em latinha.

-Pois, é isto aí mesmo: uma fábrica de processamento de resíduos sólidos, de latas... Que tal?

 
E Maria Helena continuou descrevendo as possibilidades que ele teria. Com espanto, porém, viu quando o jovem olhou para ela e disse:

-Eu não quero trabalhar.

Maria Helena, inconformada, continuou a discorrer sobre os benefícios que isso traria para ele, quando, novamente, foi interrompida pela frase:

-Eu não quero mais ouvir.

Diante dessa afirmação, dita pausadamente, Maria Helena foi-se rua afora, cabisbaixa.

Atualmente, passados uns dois anos, continua a encontrá-lo naquele lugar, tão seu conhecido, bem como em outros do bairro. Por vezes, está estirado na calçada a dormir. Quando acordado, senta-se junto aos muros.

E as suas MÃOS?

O que fazem?

Estendidas: pedem.

Recolhidas em concha: cheiram. Às vezes, fumam.



Giuseppe Artidoro Ghiaroni, poeta, radialista e jornalista carioca, escreveu o MONÓLOGO DAS MÃOS. Nele, o autor aponta inúmeras funções que nossas mãos exercem ao longo da vida.

Na realidade, depende de nós o bom ou o mau uso delas.

No caso do jovem adulto, elas são usadas para pedir, para drogar-se e não trabalhar.


Bem diferente do exemplo trazido em matéria publicada na data de 10 de maio, no jornal Zero Hora, página 22. Temos ali um exemplo de alguém que foi catador de latinhas, mas que virou empresário. Geraldo Rufino, 56 anos, foi palestrante na Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul). Expôs sua experiência de vida à plateia. Suas MÃOS, sem dúvida, foram usadas de forma inteligente. Carregava tudo o que poderia servir a si e aos outros. “O lixão, disse ele, foi um lugar “maravilhoso”. Lá, encontrava roupas, sapatos e brinquedos, além das latinhas. Eram 12 horas por dia recolhendo material que vendia para a reciclagem”.

Este é apenas um trecho do seu relato. A matéria completa pode ser vista ao final desta crônica.

E as MÃOS de Rufino?

Foram usadas para procurar, selecionar, carregar, dividir: para trabalhar.

E, assim, foi conduzindo a sua necessidade, atingindo momentos futuros que, com sua persistência e criatividade, lhe retribuíram com o sucesso de ser, hoje, um empresário. A sua frase “As pessoas agradecem muito pouco, lamentam muito e terceirizam a culpa”, revela a sua postura de um ser humano que atingiu o que buscava alcançar. Sermos construtivos, criativos, como digo eu, e responsáveis, como afirmou ele, pela própria vida, deveria ser um objetivo comum a todos.

Ah! Imaginem só!

Está feliz com o país que tem.


Não abordou a violência que grassa pelo país. Não era este o propósito de sua palestra.

Ao que parece transita, com otimismo, pela cidade em que se estabeleceu.

Cabe aos governantes resolverem o problema da violência.

E as MÃOS destes? Como estarão? Prometendo, desviando, destruindo, abandonando, iludindo, subtraindo, evadindo, entregando... (?)

Partamos para o construir, o encorajar, o trabalhar, o escrever, o reivindicar, o calcular, o exaltar, o aplaudir, o confessar, o exigir, o recusar, o condenar ou absolver, o reconciliar: verbos que constam do Primeiro Parágrafo do MONÓLOGO DAS MÃOS.

Tudo dependendo da necessidade do momento, em que se está vivendo, e dos atores envolvidos nesta nossa sociedade.

Para Rufino o Brasil é fantástico.

Concordo com ele.

Tudo depende de nós.


Agora, será que todos aqueles que estão se “dando bem”, também, não terão eles as MÃOS poluídas por algum desvio?

Maria Helena sempre se questiona. Com leis tão confusas, feitas com lacunas imensas, com meandros que exigem incursões malabarísticas, com exegeses (palavra bonita!) ou interpretações variadas: o que esperar?
MENTES esclarecidas são indispensáveis na avaliação do que nos cerca. Que elas se multipliquem e, insubmissas, não se conformem com a situação vigente.

Estarmos de prontidão para tanto é a missão que a nós todos cabe levar adiante.

Maria Helena permanece com o otimismo e o empreendedorismo de Geraldo Rufino: um exemplo a todos quantos desistem no meio da caminhada. Ou, como o jovem adulto sentado na calçada, nem ao menos tentam.






Fonte: Jornal Zero Hora de 10 de maio de 2018.





 


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

CIVILIZAÇÃO PLANETÁRIA



Chegamos a um impasse. A conquista do mundo é fato. Era a tarefa que a nós cabia, conforme pensavam Descartes e Bacon, entre outros. E ela por nós foi realizada.

Porém, não conseguimos, até o presente momento, ascender ao patamar subsequente que é tornar o povo planetário em condições de conviver fraternalmente. Urge conscientizá-lo da importância de se observar regras comuns aos habitantes do Planeta.

O barco está à deriva. Dirão alguns que possíveis hecatombes independem do gênero humano. Talvez!

O fato é que estamos fazendo esforços no sentido de uma desestabilização do planeta, visível e crescente, gerada por nós mesmos. Mais ou menos como: quanto pior, melhor. Acreditam os comandantes da nau Terra que existe ainda muito tempo pela frente até que ocorra uma desgraça de proporções planetárias. Enquanto isso, impera a ganância, o lucro desenfreado, o solapamento das riquezas naturais, o que, consequentemente, afetam o ecossistema. Extrai-se tudo o que for possível transformar-se em lucro, sob o argumento da necessidade de energia, de combustível, para a geração de novos empregos, para a produção de alimentos, etc. E que parte desses lucros reverterá em “educação”, em “saúde”, em “segurança” para a população. Esse discurso já se esgotou.

Sabe-se que riquezas foram, ao longo dos anos, retiradas de regiões que eram sabidamente prósperas, cujas comunidades não tinham suficiente educação e cultura para criar obstáculos a essa espoliação. E por quê? Porque é fácil manejar um povo inculto. Contrariamente, a tarefa seria mais árdua se entendimento houvesse das intenções escusas de seus mandantes. Mesmo considerando-se a existência sempre de uma ala podre na comunidade, sobrariam muitos outros para, quem sabe, impedir tais desmandos.

Na verdade, os comandantes da nau, de todos os matizes ideológicos, não estão interessados em que hordas de famintos e incultos sobrevivam. Portanto, esses não ocasionam receio aos timoneiros.

Agora, e aqueles ditos civilizados, cultos, o que estão a fazer? Nada.

E esses também não são motivo de apreensão para os donos do mundo. A esses: corrompe-se. Barganham-se favores, posições ideológicas, desvios, lucros escamoteados em troca de somas em dinheiro, em participações societárias e outros descaminhos.

Num visível faz de conta, criam-se Protocolos disso e daquilo, Conferências sobre isso e aquilo. O que lá se pactua, já se sabe, de antemão, não será posto em prática.

E o que sobra para aqueles que não negociam favores, que não vendem a alma? Sobra a frustração de verem grandes projetos, em prol do coletivo, serem engavetados, falando-se aqui dos Parlamentos por esse mundo afora.

Por que o desinteresse em encontrar soluções pacíficas para questões religiosas ou étnicas que se arrastam já há séculos? Há interesse evidente em manterem-se acirradas tais disputas pelo lucro com a venda de armas.

Há interesse no lucro, também, quando se fala na venda de defensivos agrícolas proibidos, na contaminação de gêneros alimentícios postos à disposição da população para consumo. E aqui não temos Parlamentos envolvidos. Temos condutores de um mísero barquinho, tal a importância desses “vendidos” na escala social.

Poder-se-ia perder a esperança com esses dados?

Sim, se nós, seres humanos, não fôssemos construídos para a reflexão. O que importa, agora, é refletir.

Nelson Mandela refletiu encarcerado durante 27 anos. Saiu melhor do que quando entrou? Saiu mais prudente, mais sábio, isso sim. Ele, que já detinha conhecimento diferenciado, considerando a média do seu povo, lapidou, ainda mais, sua capacidade de entendimento do que o cercava e de quais meios disporia, daquela hora em diante, para mudar o status quo vigente. Com essa atitude superou-se, tornando-se mais civilizado na acepção ampla do termo.

Conforme ele declarou:

-“A Educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.

E ela ensina-nos a refletir, digo eu.


Diante do impasse em que nos encontramos, há que se adotar um novo modelo educacional que repouse numa visão humanística, reflexiva, aliada às ciências exatas e à tecnologia. Unindo-se os meios de informação e de comunicação, torna-se mais fácil essa educação globalizante, o que não quer dizer que se homogeneízem as culturas nacionais e regionais. O que se busca é um enfoque transdisciplinar que possibilite entender a condição humana, os tipos de sociedades e de economias que existem, com o objetivo final de atingir-se a PAZ em todas as dimensões, a saber: cósmica, planetária, social e individual.

Temos que ter em mira a abolição da depredação do Planeta. Isso exigirá uma conscientização universal que, parece, está a caminho.

Embora tenhamos, ao que se sabe, apenas uma Fukushima a causar sobressalto constante e sem evidência de solução, acredita-se que a humanidade dispõe de instrumentos materiais poderosos para capacitar-se na obtenção de informações sobre o Planeta. E, a partir daí, compartilhar conhecimento com vistas à solução de problemas que atinjam a humanidade.

Com essa educação reflexiva poderemos perceber os avanços tecnológicos que vêm em auxílio do coletivo, daqueles outros que pretendem apenas o controle total dos indivíduos e a destruição da memória histórica dos povos. Incluindo-se, igualmente, os demais avanços que permeiam todas as guerras, mesmo as que ostentam a bandeira camuflada da paz.

O ideal nessa Educação Planetária, tão necessária, é que elaboremos uma visão de unidade do gênero somada à diversidade de culturas e de indivíduos. Daí, teremos, finalmente, uma civilização planetária.

Madiba estava certo, quando afirmou:

-“Sonho com o dia em que todos se levantarão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos”.


Por outro lado, observa-se, de forma realística, que o século que se inicia nos apresenta uma nova ordem mundial: a da economia de mercado, independente de matiz ideológico. Aliás, isso é coisa também esgotada. O que a globalização aponta é uma aparente distribuição de tecnologia salvadora, mas um visível empobrecimento de todos os países.

Os fundamentos da nova ordem, na verdade, continuam os mesmos: exploração de tudo e de todos, lucros desenfreados, depauperamento físico, psicológico, intelectual, social e ético dos indivíduos como um todo. E o Planeta em total desequilíbrio saberá dar o troco na hora da exaustão.

Nesse instante, a meia dúzia de cérebros maquiavélicos, comandantes dessa nau, sucumbirá igualmente. Tomara que consigam acordar-se em tempo de evitarem tal hecatombe.

Rezemos!


De qualquer sorte, uma educação reflexiva oferece-nos a possibilidade de não nos tornarmos alienados pela incompreensão do que acontece pelo mundo. O que não sei se serve de consolo. Talvez, sirva de despertar. Somos uma população planetária, conquistamos os mais distantes recantos, mas longe estamos, ainda, de atingirmos o patamar civilizatório.
Aguardemos o transcorrer do século.




Depende de nós - Ivan Lins

Herdeiros do Futuro – Toquinho





segunda-feira, 22 de julho de 2013

MOMENTO PROPÍCIO


   
Em termos globais, o atual momento apresenta-se em ebulição. São insatisfações de toda a ordem, expressas por aqueles que ainda podem se manifestar. Aqueles que apresentam força, ânimo e condições, embora precárias muitas vezes, têm saído às ruas. A falência das instituições, criadas pela própria sociedade, é visível pelos quatro cantos do mundo. Raríssimas são as zonas de relativo conforto mundo afora. A ganância, a inépcia, o roubo institucionalizado, a desfaçatez, a hipocrisia, o engodo, os desvios de caráter e de recursos são evidentes até em lugares, anteriormente, impensáveis para a prática de tais manobras.

Cidades abarrotadas por pessoas e veículos são uma constante. Já se observa, em alguns lugares do Planeta, um retorno de jovens ao meio rural, deixando suas profissões de origem para aventurar-se onde, ao que parece no momento, as chances de emprego são maiores. O desemprego assola muitos países europeus. Os Estados Unidos já apresentam esse desastroso quadro em alguns estados americanos.

E aqui não estamos a falar daqueles miseráveis que vivem em abrigos ou em barracas, alimentando-se por conta de organizações humanitárias que lhes alcançam alimentos. E também não estamos a falar dos sobreviventes de todas as inúmeras guerras e conflitos, que os mutilaram de forma irreversível, e que se arrastam pelos monturos daquilo que foi uma urbe.

 
Retirar forças de onde para tanta desgraça?

Como continuar sorrindo diante de tudo isso?

Mas ter fé é preciso. E é preciso, porque isso nos ilumina e nos impulsiona. E podemos, assim, dar as mãos e agir, sonhando com dias melhores.

Aos jovens atuais grandes desafios vislumbram-se. O preparo técnico não será suficiente, pois os problemas, que afetam a sociedade, ultrapassam as fronteiras da zona de conforto que todos buscam. Será necessário um novo pacto de solidariedade, de cooperação entre todos, de abolição de ranços étnicos, religiosos, de crenças e de preconceitos de todo o tipo.

O Planeta cada vez menor em termos de distâncias aproxima-nos de forma inquestionável. E aquilo que a teoria afirma de que o que acontece lá, num cantão da Ásia, repercute por aqui: é absolutamente correto.

Diante desse quadro preocupante, caberá aos jovens encontrarem os caminhos para a revolução que se impõe. Uma revolução sem armas, uma revolução do encontro, da solidariedade, da pregação de novas ideias e soluções para os problemas que afligem a todos.
 
Por isso, acredita-se que a viagem do Papa Francisco ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude, criada por João Paulo II, vem em boa hora.

A presença de milhões de peregrinos, de todos os cantos do Planeta, em cerimônias que se sucederão, deve servir para que esses jovens transformem-se em sementes multiplicadoras em seus locais de origem.

E está mais do que na hora de os governantes, que vierem a ser escolhidos por esses jovens, entenderem que o modelo atual faliu, desmoronou. Os sistemas políticos tradicionais também faliram. E que não sejam esses novos governantes, novamente, cooptados para a manutenção de guerras que se arrastam por décadas com a mortandade de milhões de seres humanos.

E que, igualmente, não compactuem, em transações vergonhosas, com a destruição do meio ambiente como um todo.

Nesse aspecto, todos sairão perdendo, inclusive os próprios vendilhões dessas riquezas
naturais.

A verdade é que o que está em derrocada são os próprios valores morais e éticos desse ser humano que anda por aí.

Devemos resgatar, com urgência, os cinco conhecidos valores humanos universais que são a Verdade, a Ação Correta, o Amor, a Paz e a Não Violência. Subdividindo-se cada um desses valores em outros subvalores ou valores relativos, apenas para exemplificar alguns deles, teríamos:

VERDADE – honestidade, coerência, justiça, reflexão, etc.

AÇÃO CORRETA – ética, dever, honradez, integridade, etc.

AMOR – caridade, igualdade, generosidade, compaixão, etc.

PAZ – tolerância, tranquilidade, contentamento, auto-aceitação, etc.

NÃO VIOLÊNCIA – valor absoluto, porque é o respeito a si mesmo, a todos os demais seres, coisas e leis naturais. É o espírito vencendo e se sobrepondo à natureza instintiva animal.

São esses fundamentos morais e espirituais da consciência humana que nos levarão à verdadeira prosperidade de nós próprios, individualmente, da nação e do mundo.

Essa percepção traz em si a chave para abrirmos, conforme vislumbra o Papa Francisco, através da juventude, uma janela para um futuro mais solidário e fraterno.

 
O Papa Francisco, pelo seu histórico, tem habilidade e perspicácia suficientes, além de carisma, para conduzir essa juventude que clama pelo fortalecimento de sua fé e de seus ideais.

E uma juventude assim conduzida só poderá dar bons frutos e ser uma excelente propagadora de um novo tempo.


Que venha o Papa Francisco! Ele que é argentino e que aprecia um bom chimarrão.

Agora, atenção! Mira, mira!

Nós, aqui do Sul, já tivemos a visita de outro Papa que se tornou gaúcho: ucho, ucho.

E que agora já é BEATO!

Quem sabe o Papa Francisco dá uma esticada até aqui embaixo.

MAS BAH!
 
 
 
Assistam, a seguir, como a gauchada do Grupo Estância Divina pretende aquerenciar-se junto ao Patrão Velho.
 


Grupo Estância Divina – Santo de Bota
 
 

 Grupo Chimarruts – Em Busca da Fé (clique aqui para ver a letra)
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

DE TEMPOS EM TEMPOS

Tal qual águas revoltas, que irrompem do fundo do oceano em fúria avassaladora, tal qual lava incandescente que brota do fundo da terra, despejando aquilo que não era mais suportável, o povo, igualmente, de uma praça, de um espaço público qualquer, irrompe explodindo sua inconformidade, sua insatisfação. Isto se dá quando suas necessidades chegam a um nível crítico e há a percepção nítida de um total desrespeito ao seu clamor.

Nos fenômenos da natureza é imprevisível, na maior parte das vezes, evitar-se tais cataclismos. Um vulcão que começa a trabalhar, um tsunami que chega avassalando o que tem pela frente, um furacão ou um terremoto que se formam, aleatoriamente, são fenômenos inevitáveis.

Agora, quanto aos agrupamentos humanos, os indicativos de violência em massa são bem mais fáceis de serem percebidos e evitados.

Originariamente começam lentamente, em pontos diversos de uma cidade, em diferentes regiões do país, portando cartazes onde expressam sua indignação, mas ainda movimentos dentro da lei e da ordem instituídas. Estamos falando, é claro, de povos civilizados, vivendo em pleno século XXI. Suas reivindicações, quando explodem em violência, ocorrem porque já o tinham sido exaustivamente apresentadas, ao longo de anos, aos que os representam. Não esqueçamos que somos civilizados, vivemos num Estado Democrático de Direito e estamos no século XXI. Tudo muito moderno! A tecnologia está a serviço desse homem: é o que se propaga.

Mas e quando falta a esse homem o básico para que ele se desenvolva?

Não aquele básico ao rés do chão, mas o básico no atendimento de suas necessidades, aquilo que se reserva a um ser humano, digno por representar a espécie humana e não digno por representar a casta, isto é, os melhores aquinhoados.

Essa massa, que incomoda, clama por direitos expressos em cartazes que portam quando se aventuram em passeatas, por esses rincões afora.

Tudo muito básico, muito claro, muito verdadeiro e perfeitamente realizável.

Nada de discursos, pois disso todos já estão fartos.

O que fazer? Todos sabem.

Como fazer? Todos, também, sabem.

Quem vai fazer? Aqueles que nos representam.

Rezemos para que esse povo permaneça na praça, lugar que é dele, a reivindicar aquilo que lhe é devido.

Povo alegre, bem humorado, trabalhador: um povo feliz.

Pena que seus representantes estejam, de longa data e de forma escancarada, nos últimos tempos, a pisotear, de forma deslavada, direitos fundamentais que não repousam somente na liberdade, mas no exercício da cidadania como indivíduos que têm direito a uma saúde, educação e segurança dignas e efetivas. Que suas cidades tenham transporte público de qualidade. Que haja uma política efetiva de preservação do meio ambiente, das riquezas minerais, de seus mananciais. E por aí afora...

A pauta de reivindicações está nas ruas, na Internet. O rosário de pedidos é grande, mas não maior do que a fila de zeros do imposto recolhido aos cofres públicos por esses mesmos indivíduos que estão nas ruas: os milhões de contribuintes.


Atentem para o amarelo piscante!

Gestão correta do dinheiro público e tolerância zero aos seus desvios, em qualquer esfera de poder. Mecanismos efetivos de fiscalização e punição exemplar aos transgressores.

Diante dessas medidas, todos começarão a pensar, duas vezes, antes de cometerem ilícitos.

Caso contrário, a movimentação das massas pode explodir.

Mas, diferentemente dos fenômenos naturais, tudo ainda pode ser evitado.

Oremos!


Enquanto isso, ouçamos VAI PASSAR, de Chico Buarque, que confirma a alegria de um povo, embora venha sendo ludibriado e arrastado como massa de manobra há tempos. Essa música pode ainda embalar a leitura de um poema de Castro Alves, chamado O POVO AO PODER que, entre seus versos, destaca-se aquele que diz:

A PRAÇA É DO POVO/COMO O CÉU É DO CONDOR.


Aliás, Caetano Veloso, em sua canção UM FREVO NOVO, utiliza-se dos versos do poeta Castro Alves, quando canta A Praça Castro Alves é do povo/como o céu é do avião.Já Carlos Drummond de Andrade faz uma paródia irônica quando responde ao verso de Castro Alves, dizendo:

Não, meu valente Castro Alves, engano seu.
A praça é dos automóveis. Com parquímetro.
Chico Buarque – Vai Passar













domingo, 12 de outubro de 2008



DESVIOS

-“Pô, cara, se a gente róba, é robo mesmo. Agora, se é os cara lá de cima, é desviu. Tu já viu?

-É..."

Pois é, a conversa foi captada por ouvidos e olhos atentos.

Os dois homens sentados no chão, em andrajos, junto à grade que circunda a
Fonte Talavera, em pleno coração da cidade, estavam ali a falar sobre os vários nomes que podemos dar às atitudes manifestadas por uns e outros.

Que exercício interessante, considerando-se os seus interlocutores!

Estavam eles, ali, desviados de sua função: que é não pensar. Como ousam!

Isso é, com certeza, um desvio. Mas são tantos os desvios... Até é temerário enumerá-los.

Desviemos o foco. Partamos para longe, porque é mais seguro.

Pois até o prêmio mais cobiçado, num mundo tão conturbado por guerras, dizem que pode ter tido seus desvios. Algumas indicações repousariam sobre interesses escusos.

Desvio também houve, quando aqueles imigrantes africanos desaparecidos, que se suspeita terem sido atirados ao mar por contrabandistas de pessoas, tiveram seus sonhos desviados por uma rota sem volta.

Desvios excessivos, também, cometeram os executivos que estavam no comando de grandes bancos internacionais. Que grandes desvios!

Comentam que até o cartel do petróleo sofreu com toda essa turbulência. Terão que fazer, provavelmente, um corte na sua produção. Haverá necessidade de reorganizar as peças do xadrez. Poderemos todos levar um xeque-mate.

O risco de uma recessão econômica mundial é assustador. Mas, seus comandantes usarão todas as suas armas, artimanhas, simulações, mentiras, todo o arsenal semântico disponível, ou até criado às pressas, para superar a tal crise avassaladora. Saberão distribuir os prejuízos dessa crise. Despejando mais sobre a base da pirâmide, como sempre.

E os dois mendigos?

Continuarão cantando o samba Deixa a Vida me Levar, até que a morte os abocanhe.

Agora, hoje, neste Dia da Criança, o desvio de um catador de latinha, do seu habitual caminho, fez-me lembrar de alguns gestos e atitudes que revelam o nosso “eu criança”.

Ele, atravessando a rua por onde habitualmente passa, deteve-se embaixo de uma cerejeira-do-mato. Saltou de sua pequena bicicleta, passando a colher suas frutinhas. Catava também as do chão, as do meio-fio, pondo-as no bolso da camisa e da calça. Comia, com sofreguidão, e saltitava ao redor da árvore como uma criança.

Pois até dizem que a tal frutinha quase não tem gosto. Mas aquele gosto, com certeza, lembrava o de sua infância. Reviveu, por instantes, o guri de outrora.

Eu, por minha vez, flagrei-me com a mão esquerda fechadinha, escondendo o polegar embaixo dos demais dedos, durante o almoço, como quando era criança. Aliás, um hábito que, vez por outra, assoma e me reporta ao passado, já distante.

Esses, com certeza, são desvios momentâneos, que iluminam nosso dia a dia.

Sua fonte é recuada no tempo e só faz bem à alma.

Saiba mais sobre alguns desvios: