Mostrando postagens com marcador necessidades. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador necessidades. Mostrar todas as postagens

domingo, 14 de janeiro de 2024

NA JANELA...



Basta o sol aparecer e iluminar aquela janela sempre aberta, embora protegida por uma tela, que ele aparece deitado sobre o parapeito.

É quentinho, seguro e fica no 2º andar de um edifício em frente ao daquela senhora que o observa, todas as manhãs, e fica feliz em ver aquele gatinho.

Suas necessidades, ao que parece, estão satisfeitas.

Quanta diferença entre os seres vivos presentes no nosso cotidiano.

Quanto mais capacidade cognitiva, mais exigências. Somos seres superiores.

Isso nos capacita, mas, também, nos aprisiona.

Temos necessidades e exigências que, embora presentes, nem sempre conseguimos satisfazê-las.

Não é suficiente ficarmos debruçados em nossa janela.

Se ainda trabalhamos, temos que sair à luta diária com segurança.

Se não mais, temos que ter segurança para caminharmos pelo bairro onde moramos.

O nosso cotidiano deve ser de pura interação com nossos semelhantes. E para isto precisamos de SEGURANÇA.

Ah! E, no final do dia, o tal gatinho retorna à janela para desfrutar do entardecer.

Ao que parece, todas as suas necessidades são satisfeitas por sua dona.

E as nossas? Estarão sendo satisfeitas?

Estaremos tendo segurança para satisfazê-las?

Caminhar pelo bairro, sentar-se no banco da pracinha próxima, dialogar com o vizinho em plena calçada sem atentar para quem se aproxima.

Aos que passeiam com o seu pet parecem estar mais seguros. Claro que o tamanho do animal impõe um certo receio para qualquer aproximação.

Pelo menos é isto que esta moradora, vizinha do gatinho, tem observado no seu entorno.

Tempos atrás, a janela dessa observadora também serviu de morada para uma bela sabiá, propiciando o poema que segue.



Nós, seres humanos, somos a maravilha da Criação Superior. Permanecemos, porém, frágeis com relação aos seres humanos desviados do caminho certo e prontos para cometerem ações deletérias. Aguardemos soluções, advindas das autoridades constituídas, que nos possibilitem termos liberdade sem riscos.








sábado, 19 de maio de 2018

MÃOS... MENTES...

Maria Helena assistia àquela cena diariamente. Sempre que passava pela frente daquele estabelecimento bancário, sentado no chão, junto à grade do banco, aquele jovem lá estava com a mão estendida pedindo “um troco”. Algo deprimente.

Maria Helena achava que poderia tentar dar um encaminhamento mais digno para aquele ser humano ali jogado na calçada.

Um dia, resolveu parar para conversar.

E a conversa assim transcorreu:

- Oi, tudo bem?

- Tudo.

- Eu tenho uma ideia e vou te dizer qual é.

- Ah?

- A gente podia arranjar um emprego pra ti.

- Eu não sei fazer nada; só sei mexer em latinha.

-Pois, é isto aí mesmo: uma fábrica de processamento de resíduos sólidos, de latas... Que tal?

 
E Maria Helena continuou descrevendo as possibilidades que ele teria. Com espanto, porém, viu quando o jovem olhou para ela e disse:

-Eu não quero trabalhar.

Maria Helena, inconformada, continuou a discorrer sobre os benefícios que isso traria para ele, quando, novamente, foi interrompida pela frase:

-Eu não quero mais ouvir.

Diante dessa afirmação, dita pausadamente, Maria Helena foi-se rua afora, cabisbaixa.

Atualmente, passados uns dois anos, continua a encontrá-lo naquele lugar, tão seu conhecido, bem como em outros do bairro. Por vezes, está estirado na calçada a dormir. Quando acordado, senta-se junto aos muros.

E as suas MÃOS?

O que fazem?

Estendidas: pedem.

Recolhidas em concha: cheiram. Às vezes, fumam.



Giuseppe Artidoro Ghiaroni, poeta, radialista e jornalista carioca, escreveu o MONÓLOGO DAS MÃOS. Nele, o autor aponta inúmeras funções que nossas mãos exercem ao longo da vida.

Na realidade, depende de nós o bom ou o mau uso delas.

No caso do jovem adulto, elas são usadas para pedir, para drogar-se e não trabalhar.


Bem diferente do exemplo trazido em matéria publicada na data de 10 de maio, no jornal Zero Hora, página 22. Temos ali um exemplo de alguém que foi catador de latinhas, mas que virou empresário. Geraldo Rufino, 56 anos, foi palestrante na Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul). Expôs sua experiência de vida à plateia. Suas MÃOS, sem dúvida, foram usadas de forma inteligente. Carregava tudo o que poderia servir a si e aos outros. “O lixão, disse ele, foi um lugar “maravilhoso”. Lá, encontrava roupas, sapatos e brinquedos, além das latinhas. Eram 12 horas por dia recolhendo material que vendia para a reciclagem”.

Este é apenas um trecho do seu relato. A matéria completa pode ser vista ao final desta crônica.

E as MÃOS de Rufino?

Foram usadas para procurar, selecionar, carregar, dividir: para trabalhar.

E, assim, foi conduzindo a sua necessidade, atingindo momentos futuros que, com sua persistência e criatividade, lhe retribuíram com o sucesso de ser, hoje, um empresário. A sua frase “As pessoas agradecem muito pouco, lamentam muito e terceirizam a culpa”, revela a sua postura de um ser humano que atingiu o que buscava alcançar. Sermos construtivos, criativos, como digo eu, e responsáveis, como afirmou ele, pela própria vida, deveria ser um objetivo comum a todos.

Ah! Imaginem só!

Está feliz com o país que tem.


Não abordou a violência que grassa pelo país. Não era este o propósito de sua palestra.

Ao que parece transita, com otimismo, pela cidade em que se estabeleceu.

Cabe aos governantes resolverem o problema da violência.

E as MÃOS destes? Como estarão? Prometendo, desviando, destruindo, abandonando, iludindo, subtraindo, evadindo, entregando... (?)

Partamos para o construir, o encorajar, o trabalhar, o escrever, o reivindicar, o calcular, o exaltar, o aplaudir, o confessar, o exigir, o recusar, o condenar ou absolver, o reconciliar: verbos que constam do Primeiro Parágrafo do MONÓLOGO DAS MÃOS.

Tudo dependendo da necessidade do momento, em que se está vivendo, e dos atores envolvidos nesta nossa sociedade.

Para Rufino o Brasil é fantástico.

Concordo com ele.

Tudo depende de nós.


Agora, será que todos aqueles que estão se “dando bem”, também, não terão eles as MÃOS poluídas por algum desvio?

Maria Helena sempre se questiona. Com leis tão confusas, feitas com lacunas imensas, com meandros que exigem incursões malabarísticas, com exegeses (palavra bonita!) ou interpretações variadas: o que esperar?
MENTES esclarecidas são indispensáveis na avaliação do que nos cerca. Que elas se multipliquem e, insubmissas, não se conformem com a situação vigente.

Estarmos de prontidão para tanto é a missão que a nós todos cabe levar adiante.

Maria Helena permanece com o otimismo e o empreendedorismo de Geraldo Rufino: um exemplo a todos quantos desistem no meio da caminhada. Ou, como o jovem adulto sentado na calçada, nem ao menos tentam.






Fonte: Jornal Zero Hora de 10 de maio de 2018.





 


quinta-feira, 20 de junho de 2013

UTOPIA OU NECESSIDADE?

Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique, quando de sua participação no Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, em 2005, exaltou os ideais de Don Quixote, utópicos, embora não desprovidos de possível concretização. E só isso já valeria a luta.
Na oportunidade, houve quem discordasse veementemente do discurso da utopia como impulsionadora de transformação de um mundo tão desigual.
José Saramago, mais precisamente, foi quem fez críticas a essa visão puramente idealista a ser alcançada. Algo que é latente no pensamento de muitos, mas que não resolve as grandes questões. Trouxe, à época, como única solução para os problemas que a sociedade enfrenta: a existência da necessidade. É a necessidade que nos impulsiona, através do trabalho e dedicação, a transformar as bases de uma sociedade.
Eu diria que, antes, devemos ter uma conscientização fundamentada em uma Educação de conteúdo crítico e não meramente próxima da cartilha apenas alfabetizadora.
Já Eduardo Galeano, escritor uruguaio, por demais conhecido nosso, presente ao evento, afirmou que “a utopia serve para caminhar”, definição essa expressa por Fernando Birri, diretor de cinema argentino, seu amigo, e adotada por ele, conforme relata em vídeo abaixo transcrito.
Acredito que ambas as expressões, utopia e necessidade, e seus significados caminham juntos.
A necessidade funcionará como gatilho para a tomada de atitudes. Se preponderar a inércia, que por si só é uma tomada de atitude, ausente estará a utopia. Aqui, encontra-se a diferença: a utopia estará presente para aquele que decide agir. A esperança de possibilidade de mudança é que caracteriza a utopia. É ela que impulsiona o caminhar. O que ocorrer, a partir desse movimento, será ditado pelas condições e circunstâncias do meio, sinalizando os possíveis passos seguintes.
Aliás, o termo utopia foi usado por Thomas More, em seu livro homônimo, escrito em latim (1515-1516), traduzido para o inglês em 1551, onde idealiza um país imaginário, no qual o povo é subordinado a um governo justo e igualitário, desfrutando de uma vida feliz e equilibrada. Uma concepção imaginária de um governo ideal que acolheria a todos, independentemente de crenças. E olhem que interessante! Excetuava os que negassem a existência de Deus e a imortalidade da alma, pois estes, segundo More, não seriam dignos de viver em um Estado perfeito.
Coitados dos ateus! Estavam ferrados naquele país imaginário.
A palavra utopia, de origem grega, é composta a partir de duas palavras: eutopia, ou seja, “lugar bom”, e outopia, que significa “em lugar nenhum”. É, portanto, um lugar imaginário, que não se sabe bem aonde é, mas acredita-se que lá seja um lugar bom, provavelmente, melhor do que aqui.
Que bom que ainda haja pessoas a acreditar que se pode mudar alguma coisa. Tanto em nossa pequena aldeia, quanto em outras tantas mundo afora.
Quantos milhões de carentes andam a arrastar-se pelo lixo!
Quantos milhões a protestar por direitos e garantias a eles sonegados!
Quantos milhões a protestar pela sanha arrecadatória de seus poucos haveres!
Quantos milhões a assistir, ao longo do tempo, a apropriação indébita de suas parcas aposentadorias!

As necessidades estão aí presentes. A indignação, também.
 

Segundo Saramago, “o que transforma o mundo não é a utopia, mas a necessidade”.
 

Isso é verdadeiro, em parte. Mas o que impulsiona a necessidade é a esperança de mudança que repousa na utopia e que serve exatamente para isso: para que haja movimento, para que se perpetue esse caminhar, pois sempre haverá o que buscar.
 

Segundo Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, a vida só é suportável se nela for introduzida não apenas a utopia, mas a poesia, ou seja, a intensidade, a festa, a alegria, a comunhão, a felicidade e o amor. Há o êxtase histórico, que é um êxtase amoroso coletivo.

Acredito que estamos iniciando uma jornada.
 

Com certeza, Necessidade e Utopia caminham juntas: se complementam.

 

Eduardo Galeano – El Derecho Al Delirio 
Gil, utópico - Breve entrevista

Manuel Bandeira – o Poeta e a Utopia
Novo Tempo – Ivan Lins