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terça-feira, 3 de março de 2015

DE RECUOS E AVANÇOS

Qual a hora certa para avançar ou recuar?

Aquela que amanhece cinzenta?

Aquela em que o sorriso alaranjado, lá no horizonte, prenuncia um dia gostoso de saborear desde os primeiros raios de sol?

Há pouco, uma amiga poetisa confidenciou-me que está há bastante tempo sem escrever. Recuou, não entendi bem o motivo.

Na verdade, se muitos eventos estiverem acontecendo, mais inspiração deve haver. Afinal, ela brota de dentro. E, bem lá dentro, tudo repercute e tende a ser devolvido com a vestimenta do belo ou do menos feio. 

Afinal:





O médico Dráusio Varella informa que nós, seres animais, não fomos feitos para o exercício. O movimento, na verdade, só é buscado em três situações:

1- Obter satisfação sexual (sexualidade)

2- Conseguir alimento (alimentação)

3- Sobreviver (enfrentamento ou fuga)


Portanto, se quisermos implantar uma rotina de exercícios físicos só se apelarmos para uma “disciplina militar”, segundo ele.

Daí, muitos recuam. Só há avanços, se houver disciplina na realização das ações propostas.



Outro amigo observou, dias atrás, que, descendendo nós dos símios, trouxemos o hábito do furto. Isto já faria parte da espécie.

Neste particular, com certeza, houve avanços. A dissimulação, a hipocrisia e o transvio de obrigações e valores avançaram ao longo do tempo. E o recuo parece quase impossível.



E a linguagem?

Estaria avançando ou recuando na proposta de comunicação entre seres dotados de capacidade intelectiva?

A poesia, a prosa poética ou mesmo o texto narrativo bem elaborado sobreviveriam frente àquilo que George Orwell, em seu livro 1984, chamou de Novilíngua? Vale a pena a leitura deste livro. Percebe-se sua atualidade, embora escrito em 1948.


George Orwell


Na Novilíngua, considerava-se a redução dos vocabulários por si só como um objetivo desejável, e não era permitida a sobrevivência de palavras das quais se pudesse prescindir. A finalidade da Novilíngua não era aumentar, mas diminuir a extensão do pensamento, finalidade que poderia ser atingida pela redução do número de palavras ao mínimo. (p.288)

Segundo o autor do livro, a adoção definitiva da Novilíngua dar-se-ia lá pelo ano de 2050. Estamos ainda a caminho.


E o duplipensar? O que seria?

O duplipensar queria dizer a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias e aceitá-las ambas. Dizer mentiras deliberadas e nelas acreditar piamente, esquecer qualquer fato que se haja tornado inconveniente, e depois, quando de novo se tornar preciso, arrancá-lo do olvido o tempo suficiente à sua utilidade, negar a existência da realidade objetiva e ao mesmo tempo perceber a realidade que se nega – tudo isso é indispensável. Mesmo no emprego da palavra duplipensar é necessário duplipensar. Pois, usando-se a palavra admite-se que se está mexendo na realidade; é preciso um novo ato de duplipensar para apagar essa percepção e assim por diante, indefinidamente, a mentira sempre um passo além da realidade. (p.206)


Acredito, dado o exposto, que não mais estamos falando de avanços e sim de recuos.

Ah! Deixa pra lá... Afinal, isto é só ficção!


E a Inteligência Artificial?

O físico britânico Stephen Hawking acredita que os esforços para criar máquinas pensantes podem significar o fim da raça humana. Disse ele:






“Quando a inteligência artificial for completamente desenvolvida pelos seres humanos, ela pode progredir por si mesma, e se redesenhar a um ritmo cada vez maior.







Segundo ele, os humanos, possuindo lenta evolução biológica, não poderão competir com estas máquinas, sendo por elas substituídos.

Seria isto um avanço ou recuo?

Em 05/03/13, publiquei a crônica UFA! onde aparecem exemplos de como está se tornando gutural a forma escrita, bem como a falada, ou melhor, cantada. 

Estaremos avançando ou recuando na forma como nos comunicamos?

São os novos tempos?

É a velocidade das coisas e fatos que estará nos fazendo engolir partes do discurso?

Já quase não nos comunicamos. Ou melhor, nos comunicamos por símbolos, através de máquinas. Qualquer dia, falar ao vivo e em cores será coisa do passado.

Com certeza, a Inteligência Artificial trabalhará muito mais veloz e de modo mais perfeito com um universo de símbolos do que os humanos poderiam fazer frente. Há um forte risco de sermos substituídos. Stephen Hawking tem razão.


E se nós próprios nos tornássemos máquinas ambulantes? Com chips implantados para as diversas funções poderíamos voltar a vagar pelas savanas, sem compromissos com nada. Num absoluto “dolce far niente”. Na hora da alimentação, apertaríamos um botão de alguma máquina especializada para este fim e saltaria de lá uma barrinha, sintética, de cereais que conteria todos os nutrientes necessários à sobrevivência. O sexo seria virtual e só para o prazer, pois a função principal estaria bloqueada. E a terceira necessidade, apontada pelo Dr. Dráusio, a de fugir ou lutar pela sobrevivência, não teria mais sentido, pois andaríamos aos magotes pelas savanas. Todos iguais, com necessidades prontamente atendidas ao apertar de um botão: no seu próprio corpo.

E a mente, o pensamento, a emoção?

Ui! Que coisa mais démodé!

Afinal, o duplipensar acabaria com este sacrifício de ter disposição e capacidade para pensar a fundo em alguma coisa. Para que liberdade intelectual, se não seria mais necessário possuir intelecto.

Seria isto um avanço ou um recuo?

Orwell sinalizou o ano de 2050 como o ano em que a Novilíngua estaria completamente implantada. Hawking não previu data para as máquinas nos substituírem.

Apenas como exercício de futurologia, descrevemos acima o novo ser, já transformado em máquina, tendo os elementos de sujeição ao sistema, imaginado por Orwell, contribuído para este novo ser.

E apenas para percebermos a complexidade destes novos tempos, o reconhecido psiquiatra Augusto Cury deu nome à torrente de informações ininterruptas que estressam e desgastam o cérebro, chamando-a de Síndrome do Pensamento Acelerado ou SPA.

Esta aceleração do pensamento impediria o desenvolvimento de funções da inteligência como, por exemplo, o ato de refletir, expor ideias, exercer o pensamento com consciência crítica e não apenas com uma visão maniqueísta.

Isto sem falar que uma mente hiperexcitada determina a morte precoce do tempo emocional. Aquele que nos permite conversar sentados num banco à sombra de uma árvore. Aquele em que acompanhamos o desenvolvimento das flores no jardim, quando se curte este jardim.

O “eu” estaria tornando-se embotado, perdendo a sua capacidade de escolha consciente, de crítica, de dúvida ou de estabelecer relações.

Segundo o Dr. Cury, a geração da era da indústria do lazer é a mais triste de que se tem notícia. A emoção genuína estaria sendo empobrecida por uma mente hiperexcitada. A emoção/contemplação, que o filósofo francês Michel Lacroix tão bem descreve como sendo aquela que nos permite usufruir o sabor do mundo, estaria com os dias contados.


Recuaremos ou avançaremos?

Tudo é uma questão de enfoque.

Avançaremos como espécie, ainda atenta, por temer o desconhecido, recuando no desenvolvimento da inteligência artificial?

Recuaremos, involuindo como espécie, ao seguir avançando por este caminho veloz e tentador? 


Acredito que, no ano de 2050, não se concretizarão as previsões de Orwell. Muito menos a transformação do homem em máquina. Bem antes, o homem recobrará a razão e nos veremos ainda como seres com as mesmas necessidades básicas descritas pelo Dr. Dráusio, porém menos predadores. O que será muito bom, pois ainda teremos a possibilidade de avançar em busca da imagem e semelhança com o Criador, reconstruindo um novo homem: mais atento e zeloso da importância da sua espécie.

Não esqueçamos que uma máquina é uma máquina.

Ela tem a mão do Homem sobre ela.

E o Homem?

Tem a mão de Deus sobre ele.




Aliás, FÉ EM DEUS, na voz de Diogo Nogueira, é o que nos motiva e dá alento nesta caminhada rumo aos novos tempos, bastante incertos.






Fé em Deus – Diogo Nogueira 




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Comentários via Facebook:

Loraine Canabarro: Vou ler...tuas crônicas são perfeitas. bj

Amelia Mari Passos: "É a velocidade das coisas e fatos que estará nos fazendo engolir partes do discurso? Soninha Athayde ". Como sempre impecável. Tu nos leva a refletir no ato, na hora do susto. E logo ali, nos enche de esperança. Gosto de teu coração e de tuas palavras Soninha.Forte abraço.



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

COMPOSITORES POR TABELA


Talvez tenhamos chegado ao momento em que tudo anda meio misturado. Não se sabe bem, pelo sentir, em qual época do ano andamos. Seria também essa a sensação nos já distantes séculos XVII e XVIII? Impossível saber-se. Mas houve quem se atrevesse a descrever, musicalmente, as estações do ano. E, ao que parece, eram já quatro as estações do ano. O que não se sabe é se seriam como as nossas de hoje, isto é, todas misturadas, independente do período. Isso, porém, não é o que nos interessa nessa reflexão de hoje.

Interessa, isso sim, destacar a importância dada a elas por um compositor italiano de nome Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741) que compôs a conhecida obra AS QUATRO ESTAÇÕES. Composta por quatro Concertos para Violino que retratam fatos que ocorrem durante cada estação do ano como, por exemplo, o aparecimento do gelo, ocasionando possíveis quedas.
Que sensibilidade aguçada deveria ter quem transpôs para notas musicais sensações tão diversas, que se iam modificando a cada nova estação do ano. É o estado da alma das diversas estações que ele transcreve musicalmente.
E, para tal, o violino é o instrumento que canta em todas as suas obras.
Posteriormente, usou da voz na sua música coral, onde também sua produção foi importante.
Agora, para um violino cantar, parecendo, por vezes, falar, substituindo a voz humana, seu compositor e instrumentistas tinham que ser muito bons.
Aliás, grandes artesãos, como, por exemplo, Antonio Giacomo Stradivari (1644-1737), entre outros, transformaram o violino em instrumento nobre.
A profusão de invenção melódica de Vivaldi foi, talvez, o que o tenha tornado mais popular. Por óbvio, não teve a densidade polifônica de um Bach. Porém, foi genial em invenção e em imaginação transpostas musicalmente.
Como compositor e violinista foi famoso na Europa inteira. Sua obra é extensa, sendo considerado um gênio no gênero típico da música instrumental barroca que é o Concerto Grosso, onde dois, três ou mais solistas alternam-se com a Orquestra de Câmara.
O que a nós importa, porém, é perceber a dimensão da dificuldade de transpor para notas musicais as sensações, as nuances, as emoções, o estado d’alma que cada estação do ano propicia individualmente. Daí a importância de um compositor. E ele soube sê-lo.
No seu tempo, na sua época, do lugar de onde vinha, suas raízes culturais, suas circunstâncias e vivências, foi ele representativo e figura ímpar.
Essas QUATRO ESTAÇÕES não foram qualquer coisa. Tornaram-se universais, pois perduram até hoje.
 
E as QUATRO ESTAÇÕES, nome original do samba-enredo Cântico à Natureza, da Estação Primeira de Mangueira, no Carnaval de 1955?
E lá vão 59 anos de existência do samba de autoria de Nelson Sargento, seu padrasto Alfredo e, dizem também, com a parceria de Jamelão (José Bispo).
Muitos outros belos sambas foram compostos por Nelson Sargento.
Abstenham-se de comparar composições e compositores.
Não estamos aqui para dizer que a segunda obra é “uma coisa” e a primeira, é “outra coisa”! Até porque nem poderíamos comparar música erudita com música popular.
Estamos, isso sim, a reverenciar a figura do compositor e a data de 15 de janeiro como a escolhida para homenageá-los. A figura do letrista que, às vezes, é também o compositor da música, contribui para o sentir de quem ouve. As palavras, quando bem escolhidas, só acrescentam beleza à melodia posta.
A música, porém, quando de excelência, preenche o ser humano, trazendo-lhe um melhor entender-se, pois repousa na emoção. Ela é pura harmonia e traz paz. É o caminho da luz.
Pode, também, nos fortalecer, nos energizar, restaurar, motivar, impulsionar, reequilibrar, dependendo do seu estilo, do seu movimento e também de suas letras, por que não? Quantas músicas fizeram parte da nossa infância, da juventude, de momentos felizes, de expectativas, de instantes tristes?
E os compositores, por certo, são os responsáveis pela música que nos liga à nossa essência, que é movimento e vibração. O equilíbrio entre ambos, alternando-se com o relaxar, o dormir e o acordar, chama-se viver. Tudo com os andamentos variados de moderato, andante, allegro, allegretto, allegro com brio, adágio e, quando possível, com muito scherzando: que é pura alegria, graça, rapidez e leveza. E por aí vai...
Música é, portanto, vida. É ela que nos ajuda a nos tornarmos, também nós, compositores de uma partitura rica em tons maiores, menores, dissonantes, às vezes, mas, também harmônicos, no mais das vezes, que é a nossa jornada.
Segundo John M. Ortiz, compositor, multi-instrumentista e psicólogo:
“Só pela música conseguimos ouvir o passado, desfrutar o presente e compor o futuro”.
E mais adiante:
“Quando uma peça musical é composta, reflete o mundo do compositor – seus pensamentos, emoções ou estado psicológico – naquele momento. Transpostos para a música, esses sentimentos – a tradução de uma emoção que, de outra forma, seria fugaz – vivem na composição. Mais tarde, por meio da música, não apenas conseguimos ouvir, mas, às vezes em determinados níveis, sentir as emoções sendo processadas pelo compositor sob nossa própria ótica. Captada pela imaginação e introduzida em nosso mundo auditivo, a música fica capturada como um gênio na garrafa. Quando é solta, torna-se ora nossa escrava, ora nossa soberana.” (excerto extraído do livro O Tao da Música)
 
Portanto, abra a garrafa e solte-a para ouvi-la. Escolha qualquer uma das QUATRO ESTAÇÕES, a que mais preferir.
Escolhemos a “PRIMAVERA” de Vivaldi (10’20’’), para fazer par com a outra, porque é essa estação, conforme se vê da letra do samba, a mais reverenciada, pelo que se observa no refrão.
Boa audição!
Parabéns a todos os compositores!
 
E para os que quiserem ouvir as demais estações do ano, na criação de Vivaldi, deixem o vídeo rolar, pois ele dura 42 minutos.

 
 
 
 
Four Seasons – Vivaldi
 
 
 
 
 
Cântico à Natureza (As Quatro Estações)
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

UTOPIA OU NECESSIDADE?

Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique, quando de sua participação no Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, em 2005, exaltou os ideais de Don Quixote, utópicos, embora não desprovidos de possível concretização. E só isso já valeria a luta.
Na oportunidade, houve quem discordasse veementemente do discurso da utopia como impulsionadora de transformação de um mundo tão desigual.
José Saramago, mais precisamente, foi quem fez críticas a essa visão puramente idealista a ser alcançada. Algo que é latente no pensamento de muitos, mas que não resolve as grandes questões. Trouxe, à época, como única solução para os problemas que a sociedade enfrenta: a existência da necessidade. É a necessidade que nos impulsiona, através do trabalho e dedicação, a transformar as bases de uma sociedade.
Eu diria que, antes, devemos ter uma conscientização fundamentada em uma Educação de conteúdo crítico e não meramente próxima da cartilha apenas alfabetizadora.
Já Eduardo Galeano, escritor uruguaio, por demais conhecido nosso, presente ao evento, afirmou que “a utopia serve para caminhar”, definição essa expressa por Fernando Birri, diretor de cinema argentino, seu amigo, e adotada por ele, conforme relata em vídeo abaixo transcrito.
Acredito que ambas as expressões, utopia e necessidade, e seus significados caminham juntos.
A necessidade funcionará como gatilho para a tomada de atitudes. Se preponderar a inércia, que por si só é uma tomada de atitude, ausente estará a utopia. Aqui, encontra-se a diferença: a utopia estará presente para aquele que decide agir. A esperança de possibilidade de mudança é que caracteriza a utopia. É ela que impulsiona o caminhar. O que ocorrer, a partir desse movimento, será ditado pelas condições e circunstâncias do meio, sinalizando os possíveis passos seguintes.
Aliás, o termo utopia foi usado por Thomas More, em seu livro homônimo, escrito em latim (1515-1516), traduzido para o inglês em 1551, onde idealiza um país imaginário, no qual o povo é subordinado a um governo justo e igualitário, desfrutando de uma vida feliz e equilibrada. Uma concepção imaginária de um governo ideal que acolheria a todos, independentemente de crenças. E olhem que interessante! Excetuava os que negassem a existência de Deus e a imortalidade da alma, pois estes, segundo More, não seriam dignos de viver em um Estado perfeito.
Coitados dos ateus! Estavam ferrados naquele país imaginário.
A palavra utopia, de origem grega, é composta a partir de duas palavras: eutopia, ou seja, “lugar bom”, e outopia, que significa “em lugar nenhum”. É, portanto, um lugar imaginário, que não se sabe bem aonde é, mas acredita-se que lá seja um lugar bom, provavelmente, melhor do que aqui.
Que bom que ainda haja pessoas a acreditar que se pode mudar alguma coisa. Tanto em nossa pequena aldeia, quanto em outras tantas mundo afora.
Quantos milhões de carentes andam a arrastar-se pelo lixo!
Quantos milhões a protestar por direitos e garantias a eles sonegados!
Quantos milhões a protestar pela sanha arrecadatória de seus poucos haveres!
Quantos milhões a assistir, ao longo do tempo, a apropriação indébita de suas parcas aposentadorias!

As necessidades estão aí presentes. A indignação, também.
 

Segundo Saramago, “o que transforma o mundo não é a utopia, mas a necessidade”.
 

Isso é verdadeiro, em parte. Mas o que impulsiona a necessidade é a esperança de mudança que repousa na utopia e que serve exatamente para isso: para que haja movimento, para que se perpetue esse caminhar, pois sempre haverá o que buscar.
 

Segundo Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, a vida só é suportável se nela for introduzida não apenas a utopia, mas a poesia, ou seja, a intensidade, a festa, a alegria, a comunhão, a felicidade e o amor. Há o êxtase histórico, que é um êxtase amoroso coletivo.

Acredito que estamos iniciando uma jornada.
 

Com certeza, Necessidade e Utopia caminham juntas: se complementam.

 

Eduardo Galeano – El Derecho Al Delirio 
Gil, utópico - Breve entrevista

Manuel Bandeira – o Poeta e a Utopia
Novo Tempo – Ivan Lins




sábado, 8 de maio de 2010


 

NO PRINCÍPIO, ERA A COR


Elaboração de texto sobre imagens obtidas com pingos de tinta jogados, ao acaso, sobre folha de papel em branco. Ênfase no aspecto da "cor", tendo como tema o título acima.


Uma lágrima escorre. A imagem enternece, comove. Despede-se Misha do público. Sem palavras, só uma imagem colorida. A imagem de um ursinho, símbolo dos Jogos Olímpicos de 1980.

Cor, imagem e movimento em perfeita sincronia, alcançando-se uma comunicação perfeita.

Desvio o olhar da tela e vejo, através da vidraça, um céu que se modificou. Está plúmbeo, ameaçador. Pela manhã, estivera tão azul, tão convidativo para uma caminhada. Porém, eu queria assistir ao encerramento dos jogos. Por isso, fiquei em casa. Perdi os raios matutinos, de um sol meio avermelhado, a prenunciar um belo dia. Quisera ter podido caminhar entre o verde do parque, pisando nos raios de sol. Uma sombra de mulher caminhando entre árvores e clareiras, num revezamento de claros e escuros.

Tudo isso veio à mente a partir de imagens construídas com as tintas lançadas, ao acaso, sobre folha em branco, formando um quadro que se poderia chamar de “O Carnaval dos Animais”. Passo a descrevê-lo como se fosse pura animação.


A bicharada toda presente, toda em festa. Concentro-me num par de olhos verdes que se juntam a outro par. São dois gatinhos com as patinhas erguidas a segurar um belo arco, todo cor-de-rosa, como numa performance circense. Acompanhados estão por outros dois animaizinhos com olhinhos de um azul profundo, e de orelhas bem alertas. Brincam como os demais.

E como nesse cenário, terra, água e ar se misturam, vejo um golfinho e também um peixinho a circularem por entre os convivas, dando um show particular.

Sobrepairando a todos, um lindo pássaro com uma envergadura de asas invejável. Seus voos rasantes abrilhantam ainda mais essa bela festa.

E nessa alucinada comemoração, onde tudo vale, até uma garrafa de champanhe, com gargalo e rolha por estourar, aparece no meio da alegoria.

E nada melhor que, no auge da festa, fogos de artifício lancem uma chuva colorida sobre todos os convidados, coroando tão feliz encontro.

Quanto ao champanhe, não se assustem. Foi bebido com moderação por todos que, das arquibancadas, assistiam, como eu, a esse Carnaval dos Animais.


As cores do espetáculo estão guardadas ainda na retina. Da mesma forma, a lágrima de Misha, as nuances do sol sobre o passeio do parque, aquela noite estrelada, o verde-azulado do mar de Maceió, o amarelado das folhas caídas sobre o antigo pátio, até mesmo o tom rosa do antigo berço. Tudo absorvido sempre com lentes coloridas, para que tudo se ilumine com as cores da Criação.

Pois, no princípio, era a cor.