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quinta-feira, 20 de junho de 2013

UTOPIA OU NECESSIDADE?

Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique, quando de sua participação no Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, em 2005, exaltou os ideais de Don Quixote, utópicos, embora não desprovidos de possível concretização. E só isso já valeria a luta.
Na oportunidade, houve quem discordasse veementemente do discurso da utopia como impulsionadora de transformação de um mundo tão desigual.
José Saramago, mais precisamente, foi quem fez críticas a essa visão puramente idealista a ser alcançada. Algo que é latente no pensamento de muitos, mas que não resolve as grandes questões. Trouxe, à época, como única solução para os problemas que a sociedade enfrenta: a existência da necessidade. É a necessidade que nos impulsiona, através do trabalho e dedicação, a transformar as bases de uma sociedade.
Eu diria que, antes, devemos ter uma conscientização fundamentada em uma Educação de conteúdo crítico e não meramente próxima da cartilha apenas alfabetizadora.
Já Eduardo Galeano, escritor uruguaio, por demais conhecido nosso, presente ao evento, afirmou que “a utopia serve para caminhar”, definição essa expressa por Fernando Birri, diretor de cinema argentino, seu amigo, e adotada por ele, conforme relata em vídeo abaixo transcrito.
Acredito que ambas as expressões, utopia e necessidade, e seus significados caminham juntos.
A necessidade funcionará como gatilho para a tomada de atitudes. Se preponderar a inércia, que por si só é uma tomada de atitude, ausente estará a utopia. Aqui, encontra-se a diferença: a utopia estará presente para aquele que decide agir. A esperança de possibilidade de mudança é que caracteriza a utopia. É ela que impulsiona o caminhar. O que ocorrer, a partir desse movimento, será ditado pelas condições e circunstâncias do meio, sinalizando os possíveis passos seguintes.
Aliás, o termo utopia foi usado por Thomas More, em seu livro homônimo, escrito em latim (1515-1516), traduzido para o inglês em 1551, onde idealiza um país imaginário, no qual o povo é subordinado a um governo justo e igualitário, desfrutando de uma vida feliz e equilibrada. Uma concepção imaginária de um governo ideal que acolheria a todos, independentemente de crenças. E olhem que interessante! Excetuava os que negassem a existência de Deus e a imortalidade da alma, pois estes, segundo More, não seriam dignos de viver em um Estado perfeito.
Coitados dos ateus! Estavam ferrados naquele país imaginário.
A palavra utopia, de origem grega, é composta a partir de duas palavras: eutopia, ou seja, “lugar bom”, e outopia, que significa “em lugar nenhum”. É, portanto, um lugar imaginário, que não se sabe bem aonde é, mas acredita-se que lá seja um lugar bom, provavelmente, melhor do que aqui.
Que bom que ainda haja pessoas a acreditar que se pode mudar alguma coisa. Tanto em nossa pequena aldeia, quanto em outras tantas mundo afora.
Quantos milhões de carentes andam a arrastar-se pelo lixo!
Quantos milhões a protestar por direitos e garantias a eles sonegados!
Quantos milhões a protestar pela sanha arrecadatória de seus poucos haveres!
Quantos milhões a assistir, ao longo do tempo, a apropriação indébita de suas parcas aposentadorias!

As necessidades estão aí presentes. A indignação, também.
 

Segundo Saramago, “o que transforma o mundo não é a utopia, mas a necessidade”.
 

Isso é verdadeiro, em parte. Mas o que impulsiona a necessidade é a esperança de mudança que repousa na utopia e que serve exatamente para isso: para que haja movimento, para que se perpetue esse caminhar, pois sempre haverá o que buscar.
 

Segundo Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, a vida só é suportável se nela for introduzida não apenas a utopia, mas a poesia, ou seja, a intensidade, a festa, a alegria, a comunhão, a felicidade e o amor. Há o êxtase histórico, que é um êxtase amoroso coletivo.

Acredito que estamos iniciando uma jornada.
 

Com certeza, Necessidade e Utopia caminham juntas: se complementam.

 

Eduardo Galeano – El Derecho Al Delirio 
Gil, utópico - Breve entrevista

Manuel Bandeira – o Poeta e a Utopia
Novo Tempo – Ivan Lins