Mostrando postagens com marcador humanos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador humanos. Mostrar todas as postagens

domingo, 14 de janeiro de 2024

NA JANELA...



Basta o sol aparecer e iluminar aquela janela sempre aberta, embora protegida por uma tela, que ele aparece deitado sobre o parapeito.

É quentinho, seguro e fica no 2º andar de um edifício em frente ao daquela senhora que o observa, todas as manhãs, e fica feliz em ver aquele gatinho.

Suas necessidades, ao que parece, estão satisfeitas.

Quanta diferença entre os seres vivos presentes no nosso cotidiano.

Quanto mais capacidade cognitiva, mais exigências. Somos seres superiores.

Isso nos capacita, mas, também, nos aprisiona.

Temos necessidades e exigências que, embora presentes, nem sempre conseguimos satisfazê-las.

Não é suficiente ficarmos debruçados em nossa janela.

Se ainda trabalhamos, temos que sair à luta diária com segurança.

Se não mais, temos que ter segurança para caminharmos pelo bairro onde moramos.

O nosso cotidiano deve ser de pura interação com nossos semelhantes. E para isto precisamos de SEGURANÇA.

Ah! E, no final do dia, o tal gatinho retorna à janela para desfrutar do entardecer.

Ao que parece, todas as suas necessidades são satisfeitas por sua dona.

E as nossas? Estarão sendo satisfeitas?

Estaremos tendo segurança para satisfazê-las?

Caminhar pelo bairro, sentar-se no banco da pracinha próxima, dialogar com o vizinho em plena calçada sem atentar para quem se aproxima.

Aos que passeiam com o seu pet parecem estar mais seguros. Claro que o tamanho do animal impõe um certo receio para qualquer aproximação.

Pelo menos é isto que esta moradora, vizinha do gatinho, tem observado no seu entorno.

Tempos atrás, a janela dessa observadora também serviu de morada para uma bela sabiá, propiciando o poema que segue.



Nós, seres humanos, somos a maravilha da Criação Superior. Permanecemos, porém, frágeis com relação aos seres humanos desviados do caminho certo e prontos para cometerem ações deletérias. Aguardemos soluções, advindas das autoridades constituídas, que nos possibilitem termos liberdade sem riscos.








terça-feira, 11 de outubro de 2022

EMOÇÕES...



O céu que nos cobre entrega toda a sorte de sinais. A luz de um sol que brilha ou das estrelas que nos brindam com um espetáculo noturno, sempre que possível que isso aconteça.

Os sons do bar da esquina que, às sextas-feiras, alegra-nos com os sons conhecidos de músicas atuais e, também, aquelas que marcaram época.

Imagens e sons que alimentam nossas emoções, pois despertam um espetáculo visual ou auditivo de grande importância nos dias atuais.

Para o enfrentamento de tantos problemas que recaem sobre nós, seres humanos, é urgente que nos apeguemos às boas emoções. São elas que nos propiciam resiliência e esperança para enfrentarmos o cotidiano.

Busquemos alimentar nossas emoções com aquilo que nos faz melhores, mais solidários, mais partícipes.

Urge que retomemos, quando for possível, nossos encontros. Somos seres sociáveis, por essência, e nossas emoções comandam nossos bons e maus momentos.

Estamos carentes de bons momentos?

Acredito que não.

O cantar dos passarinhos, o bom-dia risonho do nosso vizinho, o olhar do pequenino que nos fita e até já nos sorri, o pet que se achega aos nossos pés são evidências de que estamos cercados por seres que nos complementam e que nos alimentam das boas emoções que nos fazem tanto bem.

Ao vermos os estádios de futebol lotados de torcedores, alegres e dispostos a torcerem pelo seu time do coração, é a prova de que as emoções fazem parte do nosso ser.

E é bom que elas existam, pois são elas que nos elevam ao patamar de seres humanos.

Cuidemos, porém, para que as telas não substituam nossos encontros, nossas conversas, ao vivo e em cores, bem como nossos abraços e beijinhos.

E as emoções de um dia por inteiro podem estar concentradas em teu próprio olhar, como o poema que segue.
 
 







 
 

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

DE PASSAGEM...



A formiguinha que apareceu sobre aquela grama, que cobre a calçada, não foi por acaso. Está ali em busca de algo. Seu instinto sabe o que procura. De repente, encontra.

E aquele outro ser, aquele pet!

Sua dona o conduz com carinho, fazendo-lhe todas as vontades. Ele, praticamente, comanda todas as idas e vindas sobre a calçada, embora preso a uma coleira toda enfeitada.

Ah! Sua roupa de proteção contra o frio está bem ajustada a ele.

E nós, seres humanos, estaremos protegidos?

Aqueles que caminham, trabalham ou estudam terão uma liberdade assegurada?

E aqueles que dormem sobre as calçadas terão algum tipo de proteção?

A necessidade de proteção faz parte do ato do nascimento. Os pais são os responsáveis pelo correto encaminhamento de seus filhos.

A falência desse comprometimento atinge uma expressiva parcela de nossa população.

Como chegaram a este estágio de deterioração de seus corpos e mentes?

O progresso de uma nação tem que estar atrelado a uma ordem estabelecida e a valores que dignifiquem seus habitantes.

Aquele imundo pé, que enxergamos ao passar próximo, foi, um dia, gracioso.

Aquelas famílias que proporcionam aos filhos a proteção necessária, para que se desenvolvam, serão recompensadas pela alegria de vê-los prosperarem. E o Estado deve oferecer a segurança necessária para o ir e vir.

Aos que não dispõem dos meios necessários para a proteção e o encaminhamento de seus filhos para uma vida produtiva, o Estado deve fazer-se presente criando alternativas para um trabalho honesto e produtivo. E, igualmente, disponibilizar meios seguros para o ir e vir.

O Estado é um ser político, extremamente importante, na preservação de valores morais para que uma sociedade prospere em todos os sentidos.

Não menos importante na defesa de seu território e na preservação de seu bioma, sem dúvida, são suas florestas.

Estamos de passagem por este planeta.

O que já tivemos e o que temos agora é um indicativo do nosso descomprometimento com tudo aquilo que nos cerca.

Nós, seres humanos, os animais, nossas florestas, nossas matas, nossos mares e rios fazem parte da nossa história de vida.

Éramos tão predadores como somos hoje?

Quem sabe a tecnologia, hoje, mostra-nos o que sempre existiu?

Talvez, num sentido macro, hoje tenhamos melhores e permanentes possibilidades de mostrar o que o Planeta está a sofrer.

E os cobertores, colocados sob a marquise, existiriam há alguns anos atrás?

Hoje, a casa planetária, que nos abriga, está repleta de indivíduos cujas ações trazem sérios danos aos que habitam as calçadas, bem como aos demais que possuem uma morada.



A cada esquina, vejo seres deitados.

Não importa a hora, nem o local.

Estarão salvos de todo o mal?

Seus amigos, sem coleiras, também ali deitados,

Permanecem juntos guardando seus trapos.




É bom que, embora de passagem, reflitamos sobre as cenas que acompanham nosso cotidiano.

Adquiramos consciência, durante o tempo em que vivemos, de que é preciso atitudes serem tomadas para que a sociedade vislumbre um futuro mais acolhedor.

Que as nossas emoções, frente aos desmandos, não nos tornem insensíveis aos momentos de profunda tristeza com que nos defrontamos diariamente.

Afinal, embora estejamos de passagem, que ela seja de esperança e promissora para quem assumir os futuros papéis de cidadãos de uma sociedade mais justa e igualitária.

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 24 de junho de 2022

OLHARES...


O movimento da cortina esconde alguém que olha o vizinho ao lado. Da janela próxima, alguém satisfaz sua curiosidade, mesclando audácia e uma imaginação propensa à criação de cenas possíveis.

Ao caminhar, aquela senhora olha com atenção para quem está próximo. Também, por vezes, olha para trás, pois nunca se sabe...

O enfrentamento dentro e fora dos estádios propicia olhares de raiva, menosprezo, indignação, capazes de desaguarem em uma corrente de agressões verbais ou físicas.

Os olhares cansados de quem aguarda atendimento, em filas de postos de saúde, são o retrato do descaso para com o nosso bem maior.

O olhar de quem se sentiu tocada, sem tê-lo permitido, é de repulsa e indignação.

Ah! Mas tem o olhar do bebê que se sentiu protegido. A mãe carinhosa sabe reconhecê-lo no instante em que ambos os olhares se encontram.

Hoje, mais do que nunca, a ida a um caixa eletrônico é uma aventura. Cuidemos, portanto, dos olhares que nos seguem, nos observam.

Ah! Tem o olhar do “pet” que pede carinho e, é claro, alimento.

Ao dono do “pet” compete alimentá-lo e, também, afagá-lo. Afinal, seres vivos necessitam dessa comunicação afetiva.

Tem o olhar que nos questiona, nos surpreende, nos emociona e até nos atrai.

Resta distingui-los para afastá-los ou recebê-los com carinho. Ou, também, para interpretá-los como algo saudável ou danoso.

Emocionante é aquele olhar que não vê, mas que enxerga através do olhar amoroso de quem exerce essa função, trazendo a alegria para aquele deficiente visual.

Este é o exemplo que nos foi passado, tempos atrás, por Silvia Grecco, mãe de Nickollas.

Pois, no último sábado, dia 18 de junho, outra mãe extremosa narrou o jogo entre Santos e Bragantino. O resultado foi um empate de 2 a 2. Seu filho Matheus, torcedor do Santos, pôde acompanhar o jogo graças à narração feita pela mãe.

Olhares que motivam, que auxiliam, que substituem aqueles outros incapazes de verem, de assistirem, de interagirem por deficiência visual.

Olhares que pousam sobre roupas, atiradas ao chão, naquele canto da esquina, e se sensibilizam ao saberem que seres humanos ali deitam à noite.

Olhares que, também, enxergam o belo na árvore que balança seus galhos sobre a calçada, ao assistirem o voo dos sabiás, ao verem o Sol e a companheira Lua, enfeitando nosso céu, coberto por estrelas em noites de luar.

Quantos olhares, que substituem palavras, enfrentamos no nosso dia a dia.

Até o sorriso podemos demonstrar com o nosso olhar.

Que bom será se, nesses difíceis tempos, pudermos manter nosso olhar em busca, sempre, de imagens que embelezem nosso cotidiano.

Desviemos de olhares agressivos, invejosos, dissimuladores.

Saibamos perceber o quão importante é um olhar humano encontrar-se com outro humano olhar.

Por trás desta imagem, encontraremos um sentido maior e mais verdadeiro para encontros de quaisquer tipos.






terça-feira, 8 de dezembro de 2020

ELA E SUA MELHOR VESTIMENTA


Ela nos identifica, nos socializa, nos distingue dos demais seres vivos da natureza.

Com ela podemos quase tudo. Podemos trocar comunicação com o irmão, pedir auxílio, também, socorro diante de agressões. Podemos orar sempre, mesmo que não sejam tempos de pandemia. Sua oralidade é característica humana.

Ler, igualmente, requer sua presença. Ela é imprescindível.

Os variados meios de comunicação apresentam-na, às vezes, despojada, displicente, inoportuna, insensível.

Já nos embates diários, pelas ruas de uma cidade, apresenta-se em sua oralidade, muitas vezes, de forma agressiva, cercada de palavrões.

Ela é, porém, repositório de informações, de conhecimento, de cultura.

Desde o acordar até o amanhecer convivemos com ela de forma constante.

Ela é nossos pensamentos levados ao vento, ao outro ou a uma folha de papel, onde repousará para que seja lida quando alguém se dispuser a fazê-lo.

Ela aguarda, pacientemente, que a usemos por amor a ela, por necessidade, ou, mesmo, por brincadeira em algum cântico que nos afague o coração.

Amá-la é nossa obrigação. Usá-la? De que forma?

Com afeto e parceria quando for o momento adequado. Com diligência, rapidez, competência e responsabilidade quando a situação assim exigir.

Um detalhe, porém, deve se fazer presente quando alguém a deposita sobre uma folha em branco e deseja transmitir o que todos já conhecem, já sabem.

O amor por ela tornar-se-á presente, visível para o leitor quando estiver revestida daquilo que a faz mais bela: a poesia.

A vestimenta poética da palavra escrita é o diferencial para o leitor que absorverá o conteúdo, embalado em uma espécie de mel, como dizia o grande poeta Manoel de Barros. Ao falar da Poesia, dizia ele:
 
“Poesia é uma espécie de mel da palavra”.
 
Eu diria que este manto poético, que cobre a palavra, pode e deve ser usado em todos os textos que não sejam puramente informativos como os jornalísticos.

Só com esta cobertura, que nos lembra o mel, é que podemos fazer frente aos desatinos, aos reveses, aos momentos de incerteza a que estamos submetidos.

Portanto, só com ela, com esta qualidade que a Poesia possui, é que podemos ter prazer na leitura de qualquer texto que se revista desta doçura que nos mantém, durante esta caminhada terrena, em busca da utopia. Ela que, segundo Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, está no horizonte e serve para que nos movimentemos em sua direção.

Ela nos conservará sempre em busca do melhor para nós, como sociedade planetária, numa evolução como cidadãos que dialogam, que acordam, que, empaticamente, veem-se no outro como um irmão.

Com relação ao texto criativo, que a palavra poética seja nossa parceira em leituras produtivas para o nosso bem, de todos que nos cercam e que se estenda a todos aqueles que são leitores contumazes.

Que ela nos acompanhe não apenas frente a um texto considerado poema, mas que o leitor encontre esta mesma cobertura em textos como, por exemplo, crônicas do cotidiano. Este nosso dia a dia tão atribulado, tão tenso por tantas notícias negativas, pede um esforço que a palavra escrita pode oferecer. Torná-lo mais ameno, mais acolhedor, mais esperançoso para quem, ainda, acredita num amanhã promissor.

Não se está a propor o acobertamento de fatos, mas a repassá-los de forma sensível onde a cobertura poética tem o privilégio de sustentar, através da criatividade, um texto que o leitor poderá usufruir de forma amena e suave, sem as agruras que transcorrem diariamente.

Continuemos neste caminho que a cobertura poética pode nos oferecer. Ela é um elixir para que a utopia seja mantida viva e auxilie em nossa caminhada.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 28 de abril de 2019

A FRASE QUE NÃO QUER CALAR...



Nunca se pensou que fossem usados com tal viés deletério.

Esse é o resultado de tornar-se um ser a serviço de outro ser que dizem ser superior.

Superior em malandragem? É isto?

Sim, também.

Estão no ápice da cadeia evolutiva. Pensam, raciocinam, refletem. Também, arquitetam, ludibriam, forjam, desviam. Todas essas últimas capacidades os colocam num patamar que desonra a espécie e o gênero ao qual pertencem.

Por outro lado, esses pobres “inocentes úteis”, os papagaios manipulados, estão desaprendendo o seu modo de comunicar-se. Eu ainda tenho o privilégio de escutá-los, nos fins de tarde, quando se recolhem. Antes, é claro, chegam e dão o último recado do dia:

- Está na hora, companheiros. Vamos nos recolher.

Seres frágeis, eles são capturados, domesticados e treinados a bel-prazer de seu dono.

Por terem uma capacidade que os tornam diferentes dos demais da espécie, demonstram, vez por outra, quando treinados, desempenhos que surpreendem pela capacidade e beleza de semelhança com a voz dos seres humanos.

Ah! Os seres humanos são os responsáveis por estas performances para o bem ou para o mal.

Aliás, nem sei se existem performances para o bem. Qualquer comportamento que o assemelhe a um ser humano contraria a sua natureza.

Prefiro os meus papagaios do bairro: livres, leves e soltos. Grazinando para mostrar que chegaram! Que ocupam, também, um espaço neste Universo que não é somente humano.

Quando cantam alguma letra de música, sob disciplina imposta pelo homem, ou quando falam a frase “Mamãe, Polícia!” estão, igualmente, sob condições impostas pelos humanos. Num e noutro caso são “escravos”. E um escravo degenera a própria espécie. É um ser vivo sem autonomia. Quando cantam, são apreciados. Ainda assim, são escravos.

Quando treinados para burlar a lei, são, também, apreciados, continuando escravos.

E aos seus manipuladores? O que resta?

Resta a capacidade flagrante de manipulação, do uso nefasto de sua superioridade, como ser pensante, direcionada ao mal, a tudo aquilo que o faz menor no conceito de cidadão. Apenas um elemento que vive a burlar o cumprimento de justas medidas por atos praticados ao arrepio da lei e dos valores morais. Aqueles valores que deveriam fazê-lo ser superior aos animais.

Pobres papagaios!

Ainda mais pobres os que deles se servem! Principalmente, para atos que depõem contra a segurança e o bem-estar de nossa sociedade.

Nunca se imaginou que, indivíduos à margem da lei, chegassem a tanto.

O pobre papagaio, responsável pelo aviso, foi apreendido, mas não ficou fichado. Foi encaminhado ao Parque Zoobotânico de Teresina, onde será avaliado por veterinários e biólogos. Vão verificar se ele tem condições de retornar à natureza.

Será que esta última frase aprendida, aquela que não quer calar, estará para sempre na memória?

E, agora, amigos?

Quem vai desprogramá-lo?

Se isto não acontecer, o coitado estará SEMPRE ALERTA!











domingo, 3 de fevereiro de 2019

IMAGENS... SENSAÇÕES... LEMBRANÇAS...



Quando pequena, ainda uma menininha, a escada onde se colocava, sob o olhar da mãe zelosa, era fora do pátio. Sua casa ficava abaixo do nível da rua.

Depois, mais grandinha, eram os vãos da cerca que fazia divisa com a casa da melhor amiga de infância.

Bem mais tarde, vieram os campos por onde se deslocava até a escola.

Sabe, hoje, que aprendeu, naquela época, que o olhar sobre as coisas e as gentes é um legado que permanecerá na memória como algo extremamente importante. As imagens deixam marcas durante a nossa caminhada. Elas estão presentes, são pessoais e intransferíveis. São criações próprias em parceria com o outro e com a Natureza.

Bem depois ainda, as manhãs, tarde e noites, cada uma delas, do jeito com que as enfrentamos, foram acumulando mais imagens.

Confesso que as imagens de hoje são bem diferentes das de ontem, mas não menos importantes. Muitas delas, ainda belas. Imagens vividas, sentidas ao vivo e a cores. O real é, ainda, o melhor meio de fixá-las na mente, pois contam com nossa emoção ao vê-las, ao participar delas. Fixam-se na memória para sempre. A nossa história de vida, pelo nosso visual, é plena de significados. E com tantas imagens poderíamos traçar o trajeto que percorremos desde o momento em que percebemos o nosso entorno até, tardiamente, quando resgatamos estas imagens e acrescentamos outras tantas, sempre diferenciadas das anteriores. Por isso, sempre ricas de conteúdo.

Todas as imagens que nos acompanham deixam um legado. Alegria, tristeza, desespero, medo, surpresa, perplexidade, afeto, carinho, amor, paixão e tantos outros sentimentos.

Imagens como este corredor de árvores que me acompanham, há algum tempo, em breve desaparecerá. Um pátio arborizado com muitas árvores cederá lugar para um prédio de apartamentos. Mas esta imagem permanecerá em minha memória visual, assim como faz parte da capa de meu livro, recém-publicado. Ao fundo, acompanho uma árvore plantada no último andar de um prédio. Parece querer alcançar o céu, tamanha a vontade com que cresce.

Bela imagem que permanecerá como uma referência do desafio da Natureza em meio a tantos obstáculos. Um ser vivo se impondo pela grandiosidade e pela admiração que inspira. Tal qual um ser humano, obra do Criador, apresenta-se como um ser ainda sobrevivente neste universo de concreto.

Como se esquecer daquele pátio onde imagens se sucediam, ano após ano, com uma interação sempre pessoal com a Natureza, embora se vivesse na cidade.

O afiador de facas e seu chamado com o apito não mais assusta. A imagem ainda é a mesma. Continua passando pelas ruas do bairro atual.

Já o assobio do catador de latinhas é algo novo. De uns tempos para cá, começou a assobiar. Acho que para tornar seu caminhar mais leve. São imagens que se encontram com as antigas. Todas presentes numa interação ser humano/ser humano. Não há barreiras, nem telas a separar. Tudo é tangível. Esta interação é primordial em algum momento da vida. E a infância é o melhor momento para que isto se sedimente na memória de cada um de nós. Esta interação nos acompanha já na fase adulta. Uma amiga bem próxima revelou que, durante suas viagens, não tem mais registrado no seu celular paisagens pelas quais passa. Tem dado preferência a fixar as imagens através de seus olhos, guardando-as naquele compartimento secreto que aciona quando quer lembrar ou sentir aqueles momentos desfrutados junto à Natureza. Tem pensado, inclusive, em voltar a bater fotografias com sua máquina fotográfica tradicional, revelando após estas imagens. Com certeza, elas não se perderão na nuvem. As imagens fixadas em sua mente serão confirmadas pelas fotos que guardar nos álbuns que possui. E olha que esta afirmação é de uma pessoa jovem.

Hoje, com uma bagagem suficiente de belas imagens parceiras, pergunto como não chocar-se com as recentes imagens de devastação que se abateu sobre um lugar considerado ponto turístico, envolto pelas brumas da região, daí a origem de seu nome.

Como fazer frente a tantas imagens chocantes que nos cercam hoje?

Acredito que o caminho é buscar, no fundo do baú da memória, imagens que nos deem algum alento e que possam fazer frente a cenas tão esvaziadas de amor: amor ao próximo, amor à Natureza.

Quem ainda consegue buscar a beleza que existe no céu estrelado, no sol que acorda ou que se põe, nas nuvens que bailam, na chuva mansa, no voejar dos pássaros, no canto do bem-te-vi? Todo aquele que ainda se importa consigo, com o outro e com a Natureza.

A comunidade aguarda que os poetas, os escritores, os compositores, os músicos instrumentistas, os pintores, os paisagistas, todos aqueles cuja sensibilidade clama pela apreciação do belo: se manifestem. É um pedido de socorro, em forma criativa, que deve chegar aos que administram as cidades, o país.

Se nada for feito pela preservação e respeito à Natureza: todos perecerão.

Estaremos envolvidos pelas brumas que escondem as tragédias, pela devastação de nossa Natureza, pela poluição de nossas fontes hídricas.

Mostremos a importância dos sons que nascem das fontes, da luz que repousa, ao entardecer, no horizonte dos rios, dos animais que compõem a Natureza.

Preservemos estas belas imagens para que nossas crianças também possam tê-las como lembranças de uma infância saudável.

Que seus olhos infantis guardem imagens, sons, cheiros e tantas outras sensações que lhes servirão de referenciais para um caminhar suave sobre a terra em que nasceram. Que esta terra sirva a seus filhos como uma mãe zelosa que cuida para que nada falte ao seu pleno desenvolvimento, tornando-os cidadãos responsáveis.

Tudo para que nossos olhos não se turvem com as lágrimas diante de cenas de devastação que se estão tornando corriqueiras.

Que imagens estamos deixando para olhos infantis que assistiram cenas de tamanho impacto?

Somos seres vivos carentes de outros seres vivos. Sobrevivemos nesta cadeia de interação, bem como perpetuamos a espécie.

Tudo o que avassala os nossos bens, oriundos da mãe Terra, nos torna vulneráveis física e espiritualmente.

Desastres possíveis e alguns previsíveis não podem ser mais tolerados.

É! O tempo dos campos floridos, do cheiro do jasmim no jardim, do leve piu-piu ao longe, do rom-rom na calçada, do grasnar no telhado, do leve som que cai sobre as pedras, abaixo da cachoeira... Tudo isto está fadado a desaparecer? Será?

Acordemos dessa letargia.






Apesar de tudo...

Fixemos o olhar no que ainda resta.

E ainda resta o bastante para que nos empenhemos em sua preservação.

Que as imagens, sensações e lembranças dos que sobreviveram possam ser superadas por novas imagens que se sobreponham e indiquem a possibilidade de construção de novos modelos para a economia da região.

Talvez os olhinhos infantis daquela bela região possam ainda usufruir de novas e belas imagens que façam parte de suas lembranças. Porque lembrar faz parte de nossa caminhada. E é muito bom quando estas lembranças só nos fazem bem.



Ah! A Banda São Sebastião, fundada em 13 de maio de 1929, formada por músicos da região devastada, encontra, nas músicas que continuam a executar, lenitivo para tanto sofrimento que se abateu sobre a cidade. (Depoimento prestado por um de seus músicos ao Fantástico neste domingo, dia 3 de fevereiro)