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sexta-feira, 24 de junho de 2022

OLHARES...


O movimento da cortina esconde alguém que olha o vizinho ao lado. Da janela próxima, alguém satisfaz sua curiosidade, mesclando audácia e uma imaginação propensa à criação de cenas possíveis.

Ao caminhar, aquela senhora olha com atenção para quem está próximo. Também, por vezes, olha para trás, pois nunca se sabe...

O enfrentamento dentro e fora dos estádios propicia olhares de raiva, menosprezo, indignação, capazes de desaguarem em uma corrente de agressões verbais ou físicas.

Os olhares cansados de quem aguarda atendimento, em filas de postos de saúde, são o retrato do descaso para com o nosso bem maior.

O olhar de quem se sentiu tocada, sem tê-lo permitido, é de repulsa e indignação.

Ah! Mas tem o olhar do bebê que se sentiu protegido. A mãe carinhosa sabe reconhecê-lo no instante em que ambos os olhares se encontram.

Hoje, mais do que nunca, a ida a um caixa eletrônico é uma aventura. Cuidemos, portanto, dos olhares que nos seguem, nos observam.

Ah! Tem o olhar do “pet” que pede carinho e, é claro, alimento.

Ao dono do “pet” compete alimentá-lo e, também, afagá-lo. Afinal, seres vivos necessitam dessa comunicação afetiva.

Tem o olhar que nos questiona, nos surpreende, nos emociona e até nos atrai.

Resta distingui-los para afastá-los ou recebê-los com carinho. Ou, também, para interpretá-los como algo saudável ou danoso.

Emocionante é aquele olhar que não vê, mas que enxerga através do olhar amoroso de quem exerce essa função, trazendo a alegria para aquele deficiente visual.

Este é o exemplo que nos foi passado, tempos atrás, por Silvia Grecco, mãe de Nickollas.

Pois, no último sábado, dia 18 de junho, outra mãe extremosa narrou o jogo entre Santos e Bragantino. O resultado foi um empate de 2 a 2. Seu filho Matheus, torcedor do Santos, pôde acompanhar o jogo graças à narração feita pela mãe.

Olhares que motivam, que auxiliam, que substituem aqueles outros incapazes de verem, de assistirem, de interagirem por deficiência visual.

Olhares que pousam sobre roupas, atiradas ao chão, naquele canto da esquina, e se sensibilizam ao saberem que seres humanos ali deitam à noite.

Olhares que, também, enxergam o belo na árvore que balança seus galhos sobre a calçada, ao assistirem o voo dos sabiás, ao verem o Sol e a companheira Lua, enfeitando nosso céu, coberto por estrelas em noites de luar.

Quantos olhares, que substituem palavras, enfrentamos no nosso dia a dia.

Até o sorriso podemos demonstrar com o nosso olhar.

Que bom será se, nesses difíceis tempos, pudermos manter nosso olhar em busca, sempre, de imagens que embelezem nosso cotidiano.

Desviemos de olhares agressivos, invejosos, dissimuladores.

Saibamos perceber o quão importante é um olhar humano encontrar-se com outro humano olhar.

Por trás desta imagem, encontraremos um sentido maior e mais verdadeiro para encontros de quaisquer tipos.






domingo, 9 de maio de 2021

NAVEGUE...

 


Pouse o olhar naquela nuvem.

Acompanhe o voo do bem-te-vi entre as árvores.

Siga a mão que oferece amparo. E a outra que pede...

Navegue entre as águas turvas que cobrem aquele arroio tão conhecido.

Procure não contaminar teu olhar com o que vê.

Procure o belo que se encontra no céu que carrega aquela nuvem.

Olhe para o alto!

Olhe para baixo, também, pois cuide para não pisar em falso e cair sobre a calçada imunda que macula o olhar.

Navegue, mesmo que solitariamente, num mar de incertezas.

Navegar é preciso. O navegar dá-nos a impressão que as águas nos ajudam a seguir em frente. O caminhar parece que, atualmente, está proibido. Navegar, porém, mantém nossos sonhos, expectativas, possibilidades, alternativas e desafios na esfera do plenamente possível, pois viver é preciso.

Como viver sem sonhos?

Nosso eu interior clama por construir caminhos que nos possibilitem seguir em frente.

Somos um e todos ao mesmo tempo.

Carecemos do olhar do outro.

Como subsistir individualmente?

Temos no convívio humano nossa sobrevivência psíquica frente aos dilemas do cotidiano.

Navegar é preciso. Não importam quais sejam as águas. Importa, sim, quem nos acompanhará nesta caminhada. O confinamento não serve a ninguém.

Que nossos olhos e mãos nos sirvam para olharmos o irmão e dar-nos as mãos em busca de soluções.

Troquemos as lágrimas de desalento por outras de satisfação e alegria pelos encontros nas esquinas deste caminhar cotidiano.

Navegue pelos pensamentos positivos, pois eles são muitos e, somente eles, levar-nos-ão ao encontro das respostas aos nossos anseios e questionamentos.

Abra a janela e navegue o olhar sobre o pomar do vizinho que encobre belezas que, antes, não te despertavam qualquer sensação.

Hoje, porém, recluso a quatro paredes, o olhar encontra alento numa beleza que sempre estivera ali.

Momentos negativos, que se somam, podem e devem ser banhados por ondas positivas que facilitem nosso navegar por águas tão turvas que nos cercam.

O brilho do Sol, mesmo em meio a nuvens, oferece a luz que nos anima, reconforta, regenera e alegra nossos momentos solitários em que o “eu” emerge e alimenta de sonhos nosso viver cotidiano.

Belinha, neste final de tarde, está reclusa, porém presente às energias que chegam até ela do Sol, pela janela, que lhe é oferecido, gratuitamente.

É a Natureza a nos acarinhar. Ela que é, também, nossa mãe.

Este Universo, ainda desconhecido, tem, nos astros que o integram, segredos que devemos admirar, pousando nosso olhar e abastecendo nosso “eu” com perguntas, indagações ou, simplesmente, com um puro êxtase tamanha a beleza que apresentam.

Neste Dia das Mães, nossa Terra e toda a Natureza que a compõe, devem ser homenageadas.

Agradeçamos a elas que nos oferecem guarida neste caminhar cotidiano.

De dentro de nossas casas, agora restritos, navegamos em pensamentos e percebemos a importância de construirmos juntos condições melhores à Natureza, considerando que todos nós dela dependemos para uma sobrevivência plena e saudável.

Ela é uma mãe que acaricia, mas que, também, impõe regras e limites para um convívio harmônico com todos os seres que habitam este planeta.

Este pequeno ponto no Universo merece, igualmente, nosso respeito e cuidado.

À Natureza, que o faz vivo e pleno, nosso agradecimento e saudação respeitosa neste Dia das Mães. Devolvamos a ela todo o carinho com que, um dia, nos acolheu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 8 de julho de 2019

DESAFIOS...


Desafios fáceis de serem atendidos são aqueles que impactam pela leveza, pelo carinho que almejam, pela postura que apresentam, pela emoção que despertam. Disso bem sabe aquele pequenino ser que se deita aguardando os carinhos que sempre recebe de quem passa. É conhecido naquela rua de meu bairro. Nem ronrona mais.

Pra quê? O silêncio e o espreguiçar-se são suficientes para que obtenha tudo o que deseja.

Comida? Esta é fornecida pelo dono de uma Pet, bem em frente onde costuma deitar-se para os afagos que lhe são dispensados.

Outros seres enfrentam desafios mais contundentes como reproduzir a fala humana para auxiliar, esconder ou simplesmente alegrar seus donos. Não se sabe bem qual a recompensa por tal esforço. Mais comida? Algum afago?

Há os que cumprem sua jornada diária, enfeitando o céu de meu bairro, grasnando sobre os telhados mais altos: um desafio próprio deles. Livres, não possuem donos. Acho que são autossuficientes. Com certeza, em algum lugar, encontrarão alimento.

E os demais pássaros e aves, que nos brindam com seus cantos, servem para enfeitar os espaços em que o céu ainda é possível ser admirado. Aqueles vãos em que o concreto ainda permite que nossos olhos possam acompanhar um voo libertário: próprio de quem não precisa voar para imaginar o desafio e a beleza de um voo assim observado. Desafios daquele que voa e daquele cuja imaginação também voa.

São contribuições que interagem entre si. De um lado, seres humanos aptos a apreciar o belo, o intangível que é substituído pela possibilidade criativa de armazenar tais momentos através da palavra poética. Uma possibilidade de torná-los vivos a qualquer nova leitura.

Há, porém, desafios mais difíceis de serem aceitos.

Exemplo disso foi o caso do galináceo chamado Natal, mencionado na crônica UMA MANHÃ PARA ESQUECER, publicada no dia 20/08/14 neste blog.

Naquele caso, ocorrido no Rio de Janeiro, em plena Copacabana, parece que o Natal foi preso por ordem judicial.

Ele cantava de 8 em 8 segundos, o que parece um exagero, durante a madrugada, considerando a hora e o lugar em que o dito resolveu desafiar não se sabe bem a quem: se a si próprio ou a algum oponente. Isto não ficou esclarecido. Daí, foi demais.

Com certeza, há desafios e desafios.

Agora, o desafio de Maurice, acredito, permanecerá diário, a cada amanhecer. Embora haja contra ele um processo por poluição sonora na Ilha de Oléron, que fica na Costa Atlântica da França, não acredito em sua condenação.

Imaginem! Já há até o movimento “EU SOU MAURICE”, criado para defendê-lo, que conta com o apoio até da chefe do governo local.

Neste caso, Maurice não vive em Copacabana, mas numa zona rural. Não canta de 8 em 8 segundos durante a madrugada. Canta, isto sim, ao amanhecer. Mais precisamente às 6h30min, ele anuncia o novo dia que está chegando.

Ah! Não esqueçamos que a figura do GALO e sua história remonta ao tempo da Revolução Francesa que o tinha como símbolo de vigilância e valentia, dado histórico relatado na crônica “ESTE” TEM HISTÓRIA, publicada em 16/07/18 neste blog.

Por tudo isso, acredito que será inocentado de qualquer acusação, principalmente de cantar ao amanhecer: seu maior prazer. Eu imagino...

Os desafios permanecem para os nossos companheiros de caminhada, em maior ou menor grau de dificuldade. Quando geram prazer a ambos os lados: tudo bem. Quando ocasionam algum problema: vamos, então, discutir a relação. Afinal, algo tão em moda!

Convenhamos!

Os nossos desafios diante de outros iguais a nós, porque seres humanos, estão pra lá de difíceis. Tudo porque não somos todos iguais.

Que Movimento deveríamos iniciar?

“EU SOU BRASILEIRO”.

Todos iriam aderir?

Enquanto esta pergunta permanece ecoando, pousemos o olhar nos vãos, que ainda restam, que nos permitem vislumbrar, nem que seja pela imaginação, um caminho que, mesmo sendo desafiador, nos conduza a dias melhores. Dias em que sejamos todos MAIS IGUAIS.






domingo, 10 de maio de 2015

PRESENÇA CONSTANTE

Com chuva, com sol, não importava o tempo, aquele compromisso era cumprido com grande satisfação por mim e por quem me acompanhava.

Afinal, a leitura de livros e revistas era complementada por outra leitura: a da pauta musical.

Ler, algum tempo atrás, era percorrer com os olhos o caminho das letras, as pausas e interrogações, as reticências... Para mim era também reproduzir com o toque dos dedos as notas absorvidas pelo olhar e transformadas em sons que brindavam os ouvidos, que alimentavam o corpo e o espírito.

Ler e imaginar, ler e sonhar, ler e interpretar um texto sempre foi prazeroso.

Agora, reproduzir a pauta musical em sonoridades que convidam o próprio corpo ao movimento e que, também, carregam a imaginação pra bem longe é uma capacidade que nos oferece um sabor diferenciado ao trivial do cotidiano. Treinar o ouvido à beleza dos sons do mundo musical é um importante suporte para que enfrentemos alguns momentos de maior ou menor inquietação espiritual. Ser capaz de sentir emoção no ato de ouvir determinada melodia é bastante reconfortante. Nem é preciso entender de pauta musical. Basta aprender a sentir a beleza que brota de sonoridades as mais diversas. E isto fica por conta do momento, do tipo de música e do humor daquele que está em busca.



Retornando à caminhada, sob chuva ou sol, agradeço àquela que me acompanhou nesta jornada por longos sete anos. De ônibus, lá íamos duas vezes por semana, nos primeiros tempos, e uma vez no restante, até o local onde as aulas eram ministradas. Tempos inesquecíveis. Claro, este é apenas um trecho da caminhada. Outros existiram antes e depois deste. Alguns outros, posteriores, bem mais desafiadores.

Todos, porém, com esta presença fundamental, constante, incentivadora e colaborativa na acepção mais ampla da palavra. Além de ter sido uma guerreira de longas batalhas ao meu lado.

O meu carinho e saudade àquela que me acompanhou até quando pôde. E que, acredito, ainda olha por mim de longe. Quem sabe... Talvez, de bem perto.



Ah! Ia esquecendo...

Hoje, a sigla LER, não o verbo, representa um dos motivos de consulta ao ortopedista. A síndrome chamada Lesão de Esforço Repetitivo tem levado vários jovens, segundo informação de um médico ortopedista, a serem atendidos após sentirem dores nos dedos e pulsos pelo ato de uso repetitivo de comunicação pelo WhatsApp ou What’s Up, o que seria mais correto. Além do uso compulsivo de celulares, tablets e smartphones que, comprovadamente, geraram a chamada Dependência Digital, já considerada um transtorno mental.

Isto, porém, é assunto para outro momento.

Hoje, é o dia delas: o Dia em Homenagem às Mães. O meu agradecimento e saudades à Dona Sirene, minha mãe.

As saudades, no meu caso, revelam que a distância no tempo não interfere no sentimento de falta. Ele ainda está presente. 



Minha homenagem às Mães com a Turma do Balão Mágico cantando MINHA MÃE, letra sempre atual e que serve a todas nós mães de hoje, às futuras e, também, àquelas que já se foram.






Minha Mãe – Balão Mágico 








sábado, 26 de outubro de 2013

NADA SERÁ COMO ANTES




Quem diria! Os cabelos e a roupa completamente sujos de ovos e farinha. Isso é uma comemoração de aniversário em uma escola da Capital. Um ritual de passagem, quase tribal. Coitado do aniversariante!
Vestia-se aquilo que se tinha de melhor na data do aniversário. Esse detalhe não tem a menor importância hoje. Isso foi assim em outro século.
Ser um vencedor, não apenas sentir-se um, também é coisa do passado.
Hoje, basta sentar-se em frente a uma tela. Com os olhos brilhando de ansiedade, jogar-se na cadeira e comandar com as mãos, freneticamente, o avançar de posições, o ultrapassar o concorrente, evitando a derrapagem, para, finalmente, atingir, em primeiro lugar, o marco de chegada. Quem sabe, em segundo. Ou, talvez, em terceiro, mesmo. É a falácia de que eu venci, portanto sou um vencedor.
O máximo que isso, talvez, propicie seja uma maior habilidade para dirigir, o que, em última análise, contribui para a desova dos milhares de automóveis que superlotam o pátio das montadoras. E apenas isso.
Quantos adolescentes, hoje, têm o hábito da leitura? E será que compreendem o que leem?
Quantos são capazes de elaborar um texto com introdução, desenvolvimento, argumentação e conclusão, atendo-se ao tema proposto?
E os bons programas de televisão, e eles existem, serão assistidos por eles?
E os filmes? Serão apenas os violentos aqueles que os motivam?
Cinema/Arte? Isso também é coisa do século passado.
E seus ouvidos conseguirão ainda captar algum som abaixo de 100 decibéis? Se conseguirem, avisa-se que, as coisas seguindo esse rumo, daqui a alguns anos não mais terão essa capacidade.
É claro que nada será como antes.
Mas precisava ser tão ruim?
 
Será que o abraço virtual, mandado via facebook, substitui aquele outro verdadeiro, real, que aconchega o aniversariante, parabenizando-o? Será que o abraço tornou-se virtual? Será que tudo é virtual hoje?
 
Claro que a tecnologia veio para auxiliar, para disponibilizar um mundo de possibilidades nunca dantes imaginado.
Aninha, por exemplo, esteve assistindo ao Campeonato Master de Atletismo e lá encontrou uma senhora mexicana, de 67 anos, muito simpática, de nome Maria de Jesus Lopez. Iniciaram, a propósito da cuia de chimarrão que Ana portava, uma conversa bastante agradável que, com certeza, terá desdobramentos, pois trocaram os e.mails pessoais. Isso é maravilhoso! Despediram-se, ao final do encontro, num contato bem conhecido por ambas: o contato humano do abraço. Ambas são de outra geração, é claro.
Mas estamos em 2013. E o abraço virtual, ao que parece, tem substituído o único e verdadeiro: aquele que aproxima corações, literalmente falando.
Como se explica um pai ou uma mãe mandarem, via facebook, morando na mesma cidade, um abraço virtual a um filho aniversariante?
São os tempos atuais a transformar o nosso dia a dia em algo extremamente solitário, embora haja multidões conectadas entre si.
O ser humano, porém, é bem mais do que isso: uma massa de manobra, virtual, disponível.
Ao que se saiba não há ainda uma geração virtual em que bata um coração. Tampouco artérias e veias em que circule o sangue, herança de nossos antepassados, herança Dele.
A letra da música COMO UMA ONDA expressa a realidade com correção. Nada é exatamente igual no instante seguinte ao de sua origem. No que concerne ao ser humano, embora modificado pelo tempo, mantém ele as características da espécie humana que são ainda a dependência no início e fim da existência, as necessidades de amor, carinho, proteção, bons exemplos que vão desaguar num indivíduo ético, idôneo e responsável. O coletivo dos dias atuais deveria superar as hordas dos primórdios.
Em que direção estamos indo?
Aninha ainda tem esperança. Aquela tão bem expressa na poesia de Mario Quintana, que segue.
 

 
 
Ou naquela outra esperança, descrita em poesia por Carlos Drummond de Andrade, chamada CORTAR O TEMPO, abaixo transcrita.
 


Aninha, com certeza, ainda prefere o abraço forte, coração com coração, para desejar um Feliz Aniversário aos seus e aos outros, também. Por que não?
 
 
 
 
Como Uma Onda no Mar - Lulu Santos
 
 
Cortar o Tempo – Carlos Drummond de Andrade – na voz de Gabriel Chalita
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 12 de maio de 2013


MÃE: AMOR, CARINHO, REFÚGIO E PROTEÇÃO


Circula, circula, circula sem parar. Necessidade de se ocupar. Aquela sensação de abandono. Onde estará mamãe?

O poço é alto, bem alto. O tamanho é tão grande que seu olhar não consegue enxergar o lado contrário. Por que caminha sem parar? Caminha ao redor do poço, não ao longo do pátio. Por quê? O que representaria o poço? Um círculo onde não há começo, nem fim. A perda da mãe é o sentimento primeiro e o fim não se apresenta. Há um temor pelo fim. Daquele movimento do caminhar em círculo subjaz um devir, tal qual na Terra. À noite sucede o dia, o frio ao calor. É um devir constante. E é ele que mantém acesa a esperança. Alternam-se tempestade e bonança. Não tem fim o devir, por isso se mantém. É a impermanência de tudo, é a permanência do devir. É a possibilidade de a mãe chegar a qualquer momento. É a espera da chegada.

Mas àquela criança, naqueles instantes, interessa apenas saber onde estará sua mãe.

Repentinamente, saíra do universo de seus brinquedos e seres imaginários e não encontrara sua proteção, seu refúgio, sua mãe. Chorar pra quê? Naquele momento, o importante é ocupar-se, não se desesperar. Claro, nada disso é consciente. Seu ir e vir em derredor, também não.

Quantos minutos se passaram? Impossível saber, não só pela intensidade da emoção do abandono, como pela angústia do andar em círculo ao redor do poço, única referência concreta. A obsessão do andar em círculos é que mantém a esperança do repentino encontro. Espaço reduzido em redor do poço. Tempo suspenso pela emoção profunda da perda.

De repente, vislumbra a imagem da mãe chegando. Como que se desfazem todas as engrenagens de ir e vir, como que se escondem, com um safanão, todos os medos, angústias, como que se desarmam todos os gatilhos da autossobrevivência. O círculo desfaz-se. A linha agora é de direção reta, a largos passos ao encontro da mãe, que sorri surpresa com o susto ocasionado.


O POÇO
(Uma homenagem a minha mãe)




Mãe é símbolo de proteção que se carrega por toda a vida e da qual nunca se prescinde de todo. Que o diga Carlos Drummond de Andrade com o seu poema PARA SEMPRE, onde se Rei do Mundo fosse baixaria uma lei que teria, digo eu, um único artigo, a saber:

- Mãe não morre nunca.

Ou ainda como o nosso Mário Quintana que, em seu poema MÃE, compara a palavra céu, onde cabe o infinito, à palavra mãe, que também é do tamanho do céu, em número de letras, apenas perdendo em tamanho para Deus. Tamanho da palavra, ou tamanho em importância? Nunca saberemos, nem importa.

Demos a ela, não apenas no seu dia, mas em todos os dias, o nosso bem-querer porque, ainda segundo Quintana, nunca há de ser tão grande como o bem que ela nos quer.


 



Minha Mãe – Balão Mágico

 
Choro de Mãe - Wagner Tiso

 
Um Feliz Dia das Mães a todas nós.
(inclusive àquelas que deram todo o seu amor ao filho de outra mulher, cuidando-o e protegendo-o ao longo da vida, embora não o tendo concebido)