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domingo, 30 de janeiro de 2022

O JEITO É ... DRIBLAR!


Aquele pezinho, sempre, pula aquela pocinha d’água.


E as calçadas irregulares? Paulinha caiu de cara no chão, depois de tropeçar naquele desnível de calçada por onde transitava.

E aquele pezinho que tenta imitar o jogador, ídolo do seu time?

Tem aquele outro pé que não pisa na joaninha que se atravessa na calçada. Paulinha já conhece o caminho daquela joaninha que passeia todas as manhãs, buscando alimento.

E a resposta daquela senhora ao telefone? Nunca diz a palavra “sim” ao atendê-lo. Somente diz “pronto”?

E aquele pé já treinado em deslocar o parceiro de uma jogada e que busca o fundo da rede?

E aquela troca de calçada quando surge um elemento de estranhas atitudes?

Também tem aquele olhar que, driblando o parceiro ao lado, alcança outro olhar que se aproxima, lançando, quem sabe, a esperança de um encontro algum dia?

E aquela peça de roupa mais folgada que dribla uma “gordurinha” indesejada?

Tem, também, aquela voz sensual que atende ao telefone e que dribla o seu interlocutor, parecendo uma jovem quando, de fato, não é.

E aquela voz que responde a um cumprimento, driblando a vontade de não o fazer.

Tem, também, aquela manifestação favorável ao status quo, mas que dribla a verdadeira vontade de, efetivamente, xingar seu oponente.

Paulinha tem percebido, com intensidade, situações de drible dos participantes de nossa sociedade.

Talvez, a própria pandemia tenha favorecido esses momentos em que as atitudes se misturam ao medo, ao receio, ao fato de que driblar certas situações é o que resta fazer, para que ações sejam recebidas sem conteúdo ideológico.

No futebol, o drible é muito bem-vindo, sendo um atributo de qualidade do jogador que possui esta característica valiosa para um profissional da bola.

Na época atual, como nunca dantes, esta característica humana tem sido de extrema valia.

Há quem não tenha tomado a “famosa” vacina e pense ter driblado a doença.

Há quem tenha tomado e pense ter driblado, mas ao que parece o drible falhou.

Há quem tenha certezas, mas que não se confirmam, tendo, igualmente, o drible falhado.

Nunca a “figura” do drible foi tão sugestiva em várias situações do nosso cotidiano.

Há quem pensou ter um aumento, mas os reajustes foram tantos que ficou no prejuízo. Foi, com certeza, driblado por governantes inescrupulosos.

E aquela compra que nunca chegou?

E aquela declaração de amor que era apenas um drible na confiança de um dos parceiros?

Portanto, drible bom é aquele que leva a bola ao fundo da rede, com goleiro e tudo.

O melhor de todos, porém, é aquele em que a mente, habilmente, dribla situações estressantes, libertando o cidadão dos pensamentos negativos, da tibieza frente aos obstáculos inerentes ao seu cotidiano.

Paulinha acredita que este é, no momento, o mais importante de todos os dribles.

Persistir de forma resiliente, driblando situações estressantes para que a sobrevivência seja algo gratificante.

Que possamos alcançar, ao final de um dia, o fundo da rede que nos liga a tantas pessoas e situações, marcando um golo diário nesta caminhada que nos religa a tudo e a todos. Sempre sob a luz DAQUELE que nos fornece, diariamente, os instrumentos para que nossa mente elabore os passos certeiros para os dribles diários que nos são exigidos.

E se alguém perguntar à Paulinha:

E as tristes imagens de ontem?

Responderá que as driblou, transformando-as em sementes que, jogadas em um novo canteiro da imaginação, florescerão quando os novos tempos vierem.

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 9 de maio de 2021

NAVEGUE...

 


Pouse o olhar naquela nuvem.

Acompanhe o voo do bem-te-vi entre as árvores.

Siga a mão que oferece amparo. E a outra que pede...

Navegue entre as águas turvas que cobrem aquele arroio tão conhecido.

Procure não contaminar teu olhar com o que vê.

Procure o belo que se encontra no céu que carrega aquela nuvem.

Olhe para o alto!

Olhe para baixo, também, pois cuide para não pisar em falso e cair sobre a calçada imunda que macula o olhar.

Navegue, mesmo que solitariamente, num mar de incertezas.

Navegar é preciso. O navegar dá-nos a impressão que as águas nos ajudam a seguir em frente. O caminhar parece que, atualmente, está proibido. Navegar, porém, mantém nossos sonhos, expectativas, possibilidades, alternativas e desafios na esfera do plenamente possível, pois viver é preciso.

Como viver sem sonhos?

Nosso eu interior clama por construir caminhos que nos possibilitem seguir em frente.

Somos um e todos ao mesmo tempo.

Carecemos do olhar do outro.

Como subsistir individualmente?

Temos no convívio humano nossa sobrevivência psíquica frente aos dilemas do cotidiano.

Navegar é preciso. Não importam quais sejam as águas. Importa, sim, quem nos acompanhará nesta caminhada. O confinamento não serve a ninguém.

Que nossos olhos e mãos nos sirvam para olharmos o irmão e dar-nos as mãos em busca de soluções.

Troquemos as lágrimas de desalento por outras de satisfação e alegria pelos encontros nas esquinas deste caminhar cotidiano.

Navegue pelos pensamentos positivos, pois eles são muitos e, somente eles, levar-nos-ão ao encontro das respostas aos nossos anseios e questionamentos.

Abra a janela e navegue o olhar sobre o pomar do vizinho que encobre belezas que, antes, não te despertavam qualquer sensação.

Hoje, porém, recluso a quatro paredes, o olhar encontra alento numa beleza que sempre estivera ali.

Momentos negativos, que se somam, podem e devem ser banhados por ondas positivas que facilitem nosso navegar por águas tão turvas que nos cercam.

O brilho do Sol, mesmo em meio a nuvens, oferece a luz que nos anima, reconforta, regenera e alegra nossos momentos solitários em que o “eu” emerge e alimenta de sonhos nosso viver cotidiano.

Belinha, neste final de tarde, está reclusa, porém presente às energias que chegam até ela do Sol, pela janela, que lhe é oferecido, gratuitamente.

É a Natureza a nos acarinhar. Ela que é, também, nossa mãe.

Este Universo, ainda desconhecido, tem, nos astros que o integram, segredos que devemos admirar, pousando nosso olhar e abastecendo nosso “eu” com perguntas, indagações ou, simplesmente, com um puro êxtase tamanha a beleza que apresentam.

Neste Dia das Mães, nossa Terra e toda a Natureza que a compõe, devem ser homenageadas.

Agradeçamos a elas que nos oferecem guarida neste caminhar cotidiano.

De dentro de nossas casas, agora restritos, navegamos em pensamentos e percebemos a importância de construirmos juntos condições melhores à Natureza, considerando que todos nós dela dependemos para uma sobrevivência plena e saudável.

Ela é uma mãe que acaricia, mas que, também, impõe regras e limites para um convívio harmônico com todos os seres que habitam este planeta.

Este pequeno ponto no Universo merece, igualmente, nosso respeito e cuidado.

À Natureza, que o faz vivo e pleno, nosso agradecimento e saudação respeitosa neste Dia das Mães. Devolvamos a ela todo o carinho com que, um dia, nos acolheu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

COMO UMA ONDA...


Aquela onda foi uma primeira que encobriu o pezinho daquela garotinha que conheceu, naquela tarde, a praia de Ipanema: a nossa, a de Porto Alegre.

Muito tempo após, algumas outras poucas vezes, novas ondas encobriram aqueles pezinhos já crescidos, temerosos da força das águas. Agora, de mares nunca dantes visitados.

A força de uma onda depende de qual mar se esteja falando: o de dentro ou o de fora?

Aquela menininha nunca gostou de movimentos bruscos. Isso incluía o ir e vir de um balanço que existia no pátio de sua casa. Ficava ali sentada, fazendo um leve movimento com os pezinhos, suficiente para ficar encantada com a magia que sentia ao sentar-se naquele balanço de sua infância. Hoje, acredita que se sentia mais segura em sentar-se e deixar a imaginação correr solta. Esta, sim, sempre gostou de voar para bem longe, não importando a velocidade imprimida para tal.

Ondas volumosas, como espetáculo, oferecem belas imagens. Suaves, favorecem que o pensamento possa navegar junto. E quando este navega dessa forma, em plácidas águas, o resultado, à época, era sonhar com mundos imaginários. Hoje, ainda, acredita que estas suaves ondas sirvam para que nosso pensamento adentre no território da imaginação e nos brinde com cenas em que a esperança se concretiza em suaves encontros entre este olhar e aqueles outros que buscam a mesma harmonia e paz.

Ondas revelam-nos, também, como a vida segue este ritmo mais frenético, às vezes, ou mais tranquilo em outras. Tudo, porém, indo e voltando e, novamente, indo e voltando durante o trajeto que percorremos nesta caminhada chamada VIDA.

Realizações e superações compõem aquelas ondas positivas. Para tanto, o sonhar é fundamental.

Depois, segue-se o realizar sob quaisquer tipos de ondas: benfazejas ou de difícil transposição.

Nada como um dia após o outro. Nada como ondas que chegam e somem.

Estamos envolvidos neste torvelinho de águas, cujas ondas são contínuas. Nossos afazeres e atividades navegam neste mar de ondas favoráveis, que nos impulsionam, ou naquelas outras que podem nos fazer soçobrar.

Caberá a cada um, de forma individual, fazer frente ao potencial destrutivo, em maior ou menor grau, transformando-o numa possibilidade criativa dentro de um cenário adverso.

Busquemos, na imaginação, soluções que possam adequar-se ao momento.

Criemos situações que nos permitam desfrutar de instantes de serenidade, de reflexão, de elaboração de estratégias para o enfrentamento de energias tão negativas que navegam entre nós.

Assim como as ondas que nos atingem, de forma violenta ou nem tanto, saibamos discernir a diferença entre a onda externa e a interna. Cuidemos de nossas ondas internas, pois essas são as mais importantes, porque capazes de combater a entrega, a descrença e o total desalento.

Sabemos que tudo passa, tudo sempre passará. A conhecida letra de Como Uma Onda, dá-nos o caminho da esperança para superarmos estas ondas negativas que estão nos acometendo.

A esperança em dias melhores alimentará nossa mente com saudáveis pensamentos que permitirão uma visão da realidade que nos é oferecida a cada novo amanhecer: de que tudo passará. O que importa é sentir-se protegido por uma mente sã. O corpo, com certeza, agradecerá.

Ah! Os movimentos bruscos, que a garotinha não gostava, serviram para ter sua atenção, hoje, redobrada, atenta e capaz de discernir sobre aquilo que vem de fora.

As ondas internas devem possibilitar que se navegue em águas plácidas, mesmo que as externas estejam quase a nos fazer submergir.

Se as ondas são constantes, e o são, não nos assustemos com aquelas que poderão ainda surgir no horizonte. Elas passarão dando lugar a outras que, também, perder-se-ão mar afora, pois nossa vigilância, criatividade e fé convivem, desde sempre, com elas.

COMO UMA ONDA, nós, também, superaremos este ir e vir, pois nos assemelhamos a ela e renascemos a cada amanhecer.









sexta-feira, 24 de abril de 2015

O VAZIO PLENO

O cheiro de bergamota, o do caqui-chocolate e o da laranja no pé...

O barulho do balde batendo na água, no fundo do poço...

O banco de praça servindo de mesa para o café da manhã da Mariazinha e do Joãozinho, bonecos tão amados...

O galpão que guarda tantas quinquilharias...

O balanço que carrega Juquinha de cá pra lá, de lá pra cá...

A cortina que esconde o presente de Papai Noel...

A parreira que quase não dá uva, mas compensa com uma sombra benfazeja...

Um cachorro que cuida do pátio e caça minhocas quando essas se aventuram para fora do canteiro das hortaliças...

Um olhar que procura a lua, pois sabe que é de lá que vem aquela luz que fascina e que mostra o caminho do céu...

Um caramanchão de flores que enfeita o portão de entrada do jardim...

Uma parede de hortênsias, quase sempre florida, enfeitando a janela do quarto...

Um porão que guarda um pote de manteiga, em dias extremamente quentes, para conservá-la fresquinha, pois não se tinha ainda adquirido o tão sonhado refrigerador... 

E que guarda mistérios, por vezes...

A cerca que esconde por entre as tábuas a figura da amiguinha que, de quando em quando, aparece para brincar...

Os pintinhos que acompanham a galinha Mindinha, todos juntinhos, na caminhada matinal...

A colmeia, muito respeitada, existente no fundo do quintal e só visitada por quem sabe colher o mel...

A pata Isadora que acabou morrendo por causa do galo Teodoro. Evento que, à época, ultrapassou a compreensão infantil...

Uma casa, um pátio, um jardim, um céu...

Uma menina sozinha e muitos livros: um universo para viver e sonhar.



Era uma solidão plena. Plena de imaginação, de cenas criativas, de sonhos e também, por vezes, do medo do desconhecido que se colocava fora do portão de entrada da casa. Nada tão assustador, porém, que não se desintegrasse pela alegria de percorrer poucos metros até alcançar outro portão: o da primeira escola que a menina passou a frequentar a partir do 1° ano.

Uma solidão que se desfez no encontro com os colegas de aula e na relação com os professores, que sempre tanto prezou.

E tudo mais ainda melhorou quando iniciou os estudos de música. Como afirmava Arthur da Távola, reconhecido jornalista, escritor, professor e um grande conhecedor da música clássica e erudita:

“Música é vida interior. E quem tem vida interior jamais padecerá de solidão.”

Um aparente vazio. Nada que um pátio desafiador, que a música, os livros, a lua e as estrelas não tenham preenchido.

E quando o dia anoitecia a imaginação percorria os campos férteis, lavrados ao sol e regados pelo suor das atividades desenvolvidas ao longo desse dia.

E assim caminhava a menina.



Nos embates do cotidiano, ela continua ouvindo, lendo e criando, sempre que possível.

E, principalmente, olhando, observando, conversando... E, novamente, olhando, percebendo, sentindo...

Sentindo, como se naquele pátio ainda estivesse.

Imaginando, como se aquela lua e aquela estrela fossem suas companheiras permanentes. E elas o são, ainda.

Criando, como se tivesse por missão preencher o constante vazio que deve estar para sempre pleno. Pleno de sonhos e de ações concretas. Pois é isto o que somos: aquilo que sonhamos. Para tanto, a menina acredita que deve fazer acontecer.

Esta é a verdadeira solidão plena e produtiva: aquela em que se tem espaço para sonhar e para fazer acontecer. Reconstruir com os pedaços um novo todo: é sempre desejável. 

É o que se busca com o poema RESCALDO. Transpondo-se para o universo infantil, AQUELE BICHINHO traz o desejo expresso de “reconstrução” e “continuidade” por quem tem nas mãos tal possibilidade. Neste, a ternura e a fantasia andam de mãos dadas. Em ambos, é bom estar preparado, sempre, para um novo recomeço. Um lugar em que o vazio não se instale, pois um recomeço é a capacidade de torná-lo pleno: pleno de sonhos e de realizações.

Vazio? Que vazio?

Seres pensantes nunca se encontram vazios. Pensar já é um exercício. E que exercício!

Há quem considere a possibilidade concreta do vazio pleno ou do alcance de uma espiritualidade profunda, desapegada de tudo e de todos. Deixemos isto, porém, para o depois. O depois que não exija nada mais de nós: nem o ato de pensar. Aí, quem sabe, o vazio finalmente apareça. Isto, porém, deve ter existência em outra dimensão.

Fiquemos, por ora, com a capacidade única de sermos criaturas e criadores de novas criaturas. E isto, com certeza, torna o nosso vazio totalmente pleno. “Dá um trabalho danado”, mas é extremamente gratificante.

Trazermos os sonhos de infância e a imaginação criativa, que nos acompanha desde sempre, para um cotidiano de realizações pessoais. Este é o nosso destino por aqui. Ou não é?


Relembrem a música VELHA INFÂNCIA, composta por Arnaldo Antunes, integrante do Trio Tribalistas, que busca na letra aqueles referenciais infantis do amigo, do canto, da dança, das brincadeiras, do clarão da lua, da escuridão, tudo o que nos torna seres sonhadores, pois de sonhos somos construídos. E é na infância onde eles brotam. E temos de tê-los, mesmo que utópicos.


Eduardo Galeano, nosso reconhecido escritor sul-americano, recentemente falecido, afirmou que a utopia serve para que não deixemos de caminhar. Caminhar, digo eu, em busca deles: os sonhos.









Velha Infância – Marisa Monte 









domingo, 2 de novembro de 2014

O DIA DA SAUDADE

A percepção do primeiro canto de algum passarinho, o cheiro do doce de abóbora, o gosto da massa crua, que restava na vasilha, do bolo que ia ao forno, o passeio pelo parque, o olhar sobre aquelas luzes, que teimavam em piscar sem parar, naquela árvore bem verdinha todos os Natais: estes são momentos que permanecem na minha retina e, quem sabe, também, na de outros tantos de nós.

Uma trajetória faz-se com uma superposição de imagens. Muitas restarão no emaranhado invisível do nosso interior. Outras permanecerão sempre prontas a emergir, vindo à tona, não importando serem acolhedoras ou devastadoras. Tudo dependerá das circunstâncias e do momento em que foram captadas.

Aquelas imagens que nos trazem a beleza, a emoção, o encantamento, o carinho, o convívio, a surpresa agradável, todas estarão junto a nós, lembrando-nos de quem conosco participou desses momentos. A memória é a soma de pensamentos que criarão as pontes necessárias para a travessia que estamos a empreender desde o nascer até a derradeira hora.

Lembranças que continuarão a enfeitar o caminho que cada um irá trilhar. Elas serão renovadas a cada evento em que haja similitude de momentos. E todas aquelas pessoas que participaram daqueles instantes estarão presentes como se vivas estivessem. Será como uma repetição de cenas que nos fizeram tanto bem há tempos atrás.

Assim, também, permanecerão vivas aquelas imagens que nos marcaram de forma negativa e que não são esquecidas. Estão em nossa bagagem e devem servir de reflexão, para que não se repitam conosco e nem com os de nosso convívio. Nesses episódios negativos, pessoas participaram, gerando conflitos ou sofrendo suas consequências.

Sendo assim, os registros que nos acompanham, desde tenra idade, são por demais importantes ao longo da caminhada.

Na medida em que foram bons, nós e os que já se foram estaremos juntos numa saudade boa de curtir. E isto é o que acredito deva ser lembrado a cada dia de Finados. 

Quanto aos maus momentos deixados por quem os ocasionou: que sirvam de alerta a todos nós. Cuidemos dos bons momentos de convívio, pois serão eles que deverão ficar na memória dos que aqui permanecerem. E, com certeza, aqueles que propiciaram tais instantes serão lembrados com amor por cada um de nós.



Nós, que somos A MORADA DOS AUSENTES, dedicamos este dois de novembro para homenageá-los. Não esquecendo, porém, que eles nos acompanham no dia a dia. Sem eles não existiríamos. Sem eles lições não teriam sido aprendidas. Eles guiaram nossos passos e ainda caminham conosco nesta jornada pautada pelas boas e más lembranças.

Pela importância do que a memória representa, busquemos cultivar momentos agradáveis junto aos próximos a nós. As boas lembranças nascerão dos bons registros que deixarmos.

O nosso conhecido poeta Luiz Coronel, no poema A MORADA DOS AUSENTES, transcrito abaixo, chama de saudade a este espaço das lembranças boas que nos acompanham desde a nossa infância, sempre de mãos dadas com os ausentes a quem devotamos amor.



Boas lembranças a todos neste Dia da Saudade.

Uma homenagem especial à minha mãe, através da música MÃE, de Caetano Veloso. Particularmente nos versos que dizem:

“Eu sou um homem tão sozinho,
Mas brilhas no que sou”.





A Morada dos Ausentes - Poema de Luiz Coronel



Mãe – Caetano Veloso







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Comentários via Facebook:

Amelia Mari Passos: "E, com certeza, aqueles que propiciaram tais instantes serão lembrados com amor por cada um de nós. Soninha Athayde" Belo e tocante texto. A poesia . A música. Grata, me fez bem passear no teu Blog. Um abraço.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

TAREFA INDELEGÁVEL


Aquela menininha que ouvia o bater de folhas secas, caídas das árvores, sobre um chão batido e que formava figuras quando olhava o passeio das nuvens no céu, só pode, hoje, encantar-se com imagens como as que seguem:
Que no céu só vi tudo quieto, só um moído de nuvens (...) e tantas cordas de chuvas esfriavam as cacundas daquela serra.
Olhei para cima: pegaram nas nuvens do céu com as mãos de azul.
O luar que põe a noite inchada.
Saí de lá aos grandes cantos, tempo de verde no coração, numa alegria feito nuvem de abelhas em flor de araçá.
Me lembrei da luzinha de meio mel, no demorar de olhares dela, (...) a docicez da voz, os olhos tão em sonhos.
                
(Trechos da obra GRANDE SERTÃO VEREDAS de João Guimarães Rosa)

Ou, quem sabe:
É uma sombra verde, macia e vã.
                                                        (Carlos Drummond de Andrade)

Ou, ainda:
Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma
Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce...
Oh! Sonora audição colorida do aroma!
                                                          (Alphonsus de Guimaraens)

Ou, também:
A noite dorme um sono entrecortado, alfinetado de grilos.
Há sempre, afastada das outras, uma nuvenzinha preguiçosa que ficou sesteando no azul.
As águas riem como raparigas
À sombra verde-azul das samambaias.
                                                 (CADERNO H – Mario Quintana)
                        
Essas são imagens ligadas à Natureza descritas não apenas por poetas, mas por escritores que usam da infinita possibilidade que ela oferece a quem se detém a observá-la.
Mas será que hoje, ainda, será possível manter-se essa capacidade de observação diante do uso da Internet, quase que dia e noite?
Já Quintana escrevera em seu CADERNO H, sob o título O MUNDO, o seguinte:
A coisa começou desde os dias já remotos da invenção do telégrafo. Depois foi o TSF, o rádio, a TV, etc. E o Tempo, atônito, engolindo o Espaço. E esse vasto mundo diminuindo, diminuindo, diminuindo... até se vir esconder covardemente dentro do nosso quarto.
E para piorar, quando esse jovem sai do quarto, o que encontra pelo caminho, no bairro onde mora? Lixo espalhado, árvores que teimam em sobreviver, seres humanos atirados pelas calçadas a dormir o sono dos anestesiados pela fome, pela droga, pelo desamparo, pelo “nem aí” do coletivo que desvia, sem muito olhar.
À noite, o céu ficou reduzido a faixas entre um edifício e outro. E ela, a noite, está perigosa, muito perigosa. Sentar na calçada é coisa de antigamente. A coisa de hoje é trancar-se dentro de casa, de preferência no quarto, em frente à Internet. Mas existe muito mais além dessa tela.
Existem:
Uma rãzinha verde no gris da manhã...
Um sorriso na face de um ceguinho...
Uma nota aguda como uma pergunta de criança...
Um cheiro agradecido de terra molhada...
Um olhar que nos enche subitamente de azul...
                                                         (COISAS – CADERNO H)

E, também, muito tempo atrás:
Havia um tempo de cadeiras na calçada. Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as crianças brincavam sob a claraboia da lua. E o cachorro da casa era um grande personagem. E também o relógio de parede! Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo.
                                                          (TEMPO PERDIDO – CADERNO H)

E, ainda, Quintana:
Aprendi a escrever lendo, da mesma forma que se aprende a falar ouvindo. Naturalmente, quase sem querer, numa espécie de método subliminar. Em meus tempos de criança, era aquela encantação. Lia-se continuamente e avidamente um mundaréu de histórias (e não estórias) principalmente as do Tico-Tico. Mas lia-se corrido, isto é, frase após frase, do princípio ao fim.
Ora, as crianças de hoje não se acostumam a ler correntemente, porque apenas olham as figuras dessas histórias em quadrinhos, cujo “texto” se limita a simples frases interjetivas e assim mesmo muitas vezes incorretas. No fundo, uma fraseologia de guinchos e uivos, uma subliteratura de homem das cavernas.
Exagerei? Bem feito! Mas se essas crianças, coitadas, nunca adquiriram o hábito da leitura, como saberão um dia escrever?
                         (O QUE ACONTECE COM AS CRIANÇAS - CADERNO H)

Competiria aos pais dessas crianças, não a nós, incutir-lhes o hábito das boas leituras. Ora essa! Mas se eles também não leem... Vivem eternamente barbiturizados pelas novelas da Televisão.
                     (O QUE ACONTECE COM OS PAIS – CADERNO H)


Mas o que tem isso a ver com a tela do computador, com o acesso ilimitado a todos os sites possíveis, durante um tempo ilimitado, sob um bombardeamento de assuntos, propagandas, mensagens subliminares e por aí?
Pois a questão de fundo é mais grave do que se pensa.
E aqui chegamos ao excelente livro de Nicholas Carr, traduzido para o português, em dezembro de 2011, com o título A Geração Superficial: o que a Internet está fazendo com os nossos cérebros. Vale a pena lê-lo. É um livro de grande profundidade onde Carr analisa as influências negativas que a Internet exerce sobre quem a usa.
Na obra, Carr comprova, por experiência própria, a considerável diminuição da sua capacidade de concentração e contemplação. Ele próprio afirma que estava se tornando incapaz de prestar atenção a uma coisa por mais do que uns poucos minutos. Conforme narra em seu livro:
“Comecei a perceber que a net estava exercendo uma influência muito mais forte e mais ampla sobre mim do que o meu velho PC solitário jamais tinha sido capaz. Não era apenas que eu estava despendendo muito mais tempo defronte a uma tela de computador. Não era apenas que tantos dos meus hábitos e rotinas estavam mudando porque me tornei mais acostumado com, e dependente dos, sites e serviços da net. O próprio modo como o meu cérebro funcionava parecia estar mudando. Foi então que comecei a me preocupar com a minha incapacidade de prestar atenção a uma coisa por mais do que uns poucos minutos. Primeiramente tinha imaginado que o problema era um sintoma de deterioração mental da meia-idade. Mas o meu cérebro, percebi, não estava apenas se distraindo. Estava faminto. Estava exigindo ser alimentado do modo como a net o alimenta – e, quanto mais era alimentado, mais faminto se tornava. Mesmo quando eu estava longe do meu computador, ansiava por checar meus e-mails, clicar em links, fazer uma busca no Google. Queria estar conectado. Assim como o Word da Microsoft havia me transformado em um processador de texto de carne e osso, a Internet, eu sentia, havia me transformado em algo como uma máquina de processamento de dados de alta velocidade, um HAL humano”. (p.31 do citado livro)

O autor do livro destaca, segundo sua própria experiência, vários efeitos que a Internet ocasiona em quem dela faz uso constante. Entre tantos, ressalta a distração do usuário, a alteração da sua estrutura cerebral, a modificação na maneira de pensar e agir, bem como a perda do autocontrole e da calma interior. A partir dessas conclusões, teríamos uma leitura descuidada, um aprendizado superficial e o cultivo de um pensamento distraído e apressado.
A Internet, conforme estudos, cerca-nos de estímulos sensoriais e cognitivos intensos, repetidamente, de forma interativa e aditiva, levando-nos à condição de um viciado, sofrendo esse intensas e rápidas alterações dos circuitos e funções cerebrais.
Com isso, estamos perdendo a capacidade de ler profundamente.
Jakob Nielsen, dinamarquês, cientista da computação com PhD em interação homem-máquina, já em 1997, afirmara que os usuários da web não leem. E isso seria, segundo Carr, uma involução da civilização, pois estaríamos passando da condição de cultivadores de conhecimento pessoal para os ancestrais caçadores e coletores da floresta dos dados eletrônicos. (p.192 do citado livro)
Se a web consegue fragmentar nossos pensamentos, desconcentrar-nos, levando-nos a perder o foco, ou melhor, pulverizando-o para multitarefas, o que acarretará uma diminuição na capacidade de pensar e raciocinar sobre uma questão, perderemos a originalidade e a possibilidade criativa de um cérebro livre, não dominado.
E ao que parece ninguém está muito interessado em uma leitura vagarosa, num pensamento concentrado. O negócio, que é um negócio, é mesmo a distração dirigida aos produtos que estão em oferta no mercado para serem vendidos e consumidos.
E isso compromete a cultura, pois ela não pode ser volátil e sim renovada nas mentes daqueles seres que compõem cada geração.
Carr, ainda afirma, na página 293 do citado livro:
“Quando alguém escavando valas troca a sua pá por uma escavadeira, os músculos dos seus braços se enfraquecem mesmo que a sua eficiência aumente. Uma troca semelhante pode acontecer ao automatizarmos o trabalho da mente.”

E, mais adiante, ainda afirma na página 299, que experimentos indicam que quanto mais distraídos nos tornamos, menos aptos somos a experimentar as formas mais sutis, mais distintamente humanas, de empatia, compaixão e outras emoções. Seria precipitado concluir que a Internet está solapando nosso senso moral. Não seria precipitado sugerir que, à medida que a net está fazendo o roteamento dos nossos caminhos vitais e diminuindo a nossa capacidade de contemplação, está alterando a profundidade de nossas emoções, assim como de nossos pensamentos.
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E, na página 301, finaliza citando Martin Heidegger, filósofo alemão que, já na década de 50, observara que:
“A onda de revolução tecnológica iminente poderia cativar, enfeitiçar, deslumbrar e distrair de tal forma o homem que o pensamento calculista poderia um dia vir a ser aceito e praticado como o único modo de pensar. A nossa capacidade de engajamento no pensamento meditativo, que ele via como a essência mesma de nossa humanidade, poderia se tornar vítima de um progresso desenfreado. O avanço tumultuado da tecnologia poderia abafar as percepções, pensamentos e emoções refinados que somente surgem com a contemplação e a reflexão.”

A constatação de Carr, ao sentir-se como uma máquina de processamento de dados de alta velocidade, corrobora estudos que conduzem à conclusão de que seus usuários constantes, alvos de estímulos sensoriais e cognitivos intensos, são levados à condição de viciados.
Ao que parece, por aqui, já começaram a surgir casos de drogadição por uso constante da Internet, como demonstra a reportagem do Jornal Zero Hora, de 02 de fevereiro de 2014, juntada abaixo. Nela, a psicóloga, que atende a paciente, afirma que no processo de reabilitação os sintomas são os mesmos de um viciado em drogas.
Então, meus caros, trabalhos como o citado na crônica ATÉ QUE ENFIM..., publicada em 19/10/13, são de vital importância para a manutenção, no ser humano, daquilo que lhe é próprio. A capacidade de expressar em palavras o sentimento que se instala pela junção de todos os sentidos convergidos, transpondo para o papel todo um poder de contemplação, de observação, de ligação entre o eu e o outro, entre o eu e a Natureza. Nada virtual. Tudo bem real.
Chuva é uma gota que cai do céu.
Paz é quando a gente fica quieto. Daí conseguimos escutar a paz.
                                    (trabalhos de alunos de escolas da Capital, inseridos numa Amostra de W. Carol, artista plástica). 

Uma iniciativa de grande valor.
Ah! Levem suas crianças para os parques, para locais onde possam manter contato com a Natureza. Isso será de grande valia para elas e seus descendentes.
Portanto, crianças, saiam do quarto, façam o contrário do descrito por Quintana em seu O MUNDO, transcrito acima.
E, uma vez mais, Quintana:
As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas... Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada.
                                                 (NADA SOBROU – CADERNO H)

Sendo assim, Quintana, novamente, estava certo, quando escreveu:
O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.
                                                  (A ARTE DE LER – CADERNO H)

É! A menininha, que ouvia as folhas secas caírem, concorda com Nicholas Carr, integralmente: contemplação e reflexão ainda são fundamentais. A máquina é APENAS uma ferramenta a nos auxiliar. O ser humano e a Natureza, caminhando juntos, evoluirão de forma gradual e sustentável. A tecnologia deverá ser mantida e garantida como uma conquista do homem, mas não levada a causar-lhe uma gradual deterioração da sua capacidade de pensar, de refletir, e, principalmente, de sentir, de emocionar-se, de criar afetos.
Convenhamos, máquinas não sentem.
E, muito menos, apaixonam-se.
Deixem essa tarefa para os humanos, pois nisso são competentes criadores e criaturas.
Não esqueçam, porém, de manter viva a criança interior. Imaginem-se...
Pegando carona na cauda de um cometa
Indo ver a Via Láctea
Estrada tão bonita...
                                           LINDO BALÃO AZUL (GUILHERME ARANTES)
 
Boa audição!

Lindo Balão Azul – Guilherme Arantes
 
Reportagem ZH – Dia 02/02/14 – p.30 – SEM DESCONECTAR


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Comentário via Facebook:
Maria Odila Menezes escreveu:
Com certeza, Soninha!" Sentar na calçada é coisa de antigamente." Adorei tua crônica!!!Bjs