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terça-feira, 23 de março de 2021

DEIXE-SE ABRAÇAR...


Naquele galpão, Belinha ouvia os barulhos que ela própria fazia preparando a comidinha para a Mariazinha, sua boneca preferida.

O silêncio fazia parte da rotina dessa menina. Vivia pelo pátio, pelo jardim, espiando embaixo da casa e junto às árvores frutíferas.

Este silêncio era rompido pelo cantar dos bem-te-vis, dos quero-queros e de outros pássaros cujos cantos enfeitavam aquele silêncio habitual.

Acredito que esta menina, a partir deste cotidiano “silencioso”, adestrou sua audição a ouvir sons mínimos, mesmo vindos de longe.

Hoje, reconhece que o silêncio é audível e necessário para o refletir sobre tudo que a cerca.

Com ele pode-se dar asas à imaginação.

Ele permite que pousemos o olhar sobre uma tela e possamos absorver suas nuances, o significado do traçado escolhido, a expressão facial de uma figura humana. Enfim, com ele é possível olhar para uma imagem e sobre ela refletir, aflorando nossa sensibilidade à apreciação do belo.

A partir dele, também, podemos apreciar, de olhos bem abertos, o céu que nos cobre, percebendo quão pequenos somos. Imaginar e sonhar são propiciados pelo silêncio, também.

Os sonhos de Belinha eram sustentados pelo silêncio. E sua imaginação construía, então, cenários possíveis que transformariam, num futuro ainda distante, aquele galpão em um lugar mais acolhedor para uma convivência mais real e fraterna. Sua Mariazinha cresceu e representou todas aquelas pessoas com as quais conviveu por muito tempo.

Dessa forma, o silêncio, que nos acompanha, é um bem maior, pois possibilita que percebamos outros tantos bens que são importantes e que fazem parte do nosso dia a dia.

O silêncio permite que ouçamos a Sinfonia nº 40 em Sol Menor, o conhecido 1° Movimento, Molto Allegro, de Mozart, sem interrupções.

O silêncio permite que troquemos ideias com a amiga que veio nos visitar.

O silêncio, que nos permite orar, é também aquele em que ouvimos nosso próprio choro, oportunizando um refletir sobre quais motivos nos levaram a este momento.

O silêncio, que precede um beijo apaixonado, será sempre lembrado.

Aquele silêncio, imediatamente anterior ao primeiro choro do ser que acaba de nascer, é inesquecível.

O silêncio recebe, também, aquele teu conhecido visitante que vem te cumprimentar todas as manhãs em tua janela, cantando: bem-te-vi!

O silêncio permite que leias aquele poema que transborda palavras sonoramente ajustadas, fazendo dele, o silêncio, um ingrediente necessário para um sentir d’alma reconfortada.

O silêncio faz parte de nós desde antes do nascimento até o depois do apagar das luzes.

Deve ser curtido, porém, durante a nossa caminhada, pois traz inúmeros benefícios.

Serve para refletirmos sobre nossos comportamentos frente a insultos, inveja, mas, também, diante das saudações e ao apreço dos amigos, bem como às expressões de amor dos nossos entes queridos.

Sem dúvida, o silêncio pressupõe um tanto de solidão. Não muito! Basta deixar o celular off line por algum tempo.

Se tiver à disposição uma paisagem, melhor ainda. Nada sofisticado. Pode ser um fundo de quintal, uma área da qual se possa enxergar o céu.

Ah! O céu! Quantas imagens, quantos matizes diferentes, quantos tesouros escondidos nos reserva. Basta que tenhamos ou cultivemos a capacidade de sonhar. Isso vai nos alimentar com pensamentos criativos que colaboram para um bem viver consigo e com os demais.

Aos escritores e aos poetas, em especial, o silêncio possibilita a imaginação navegar por entre aquelas nuvens e, com criatividade, repassar ao leitor toda a sua emoção.

O poeta sabe como fazê-lo. A palavra poética é um remédio para a alma.

E o poeta precisa do silêncio.

Portanto, siga a receita em que o silêncio é um importante ingrediente.

O resto virá: seja você poeta ou não.

Não o temas.

Assim, deixe-se abraçar pelo SILÊNCIO.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

O VAZIO PLENO

O cheiro de bergamota, o do caqui-chocolate e o da laranja no pé...

O barulho do balde batendo na água, no fundo do poço...

O banco de praça servindo de mesa para o café da manhã da Mariazinha e do Joãozinho, bonecos tão amados...

O galpão que guarda tantas quinquilharias...

O balanço que carrega Juquinha de cá pra lá, de lá pra cá...

A cortina que esconde o presente de Papai Noel...

A parreira que quase não dá uva, mas compensa com uma sombra benfazeja...

Um cachorro que cuida do pátio e caça minhocas quando essas se aventuram para fora do canteiro das hortaliças...

Um olhar que procura a lua, pois sabe que é de lá que vem aquela luz que fascina e que mostra o caminho do céu...

Um caramanchão de flores que enfeita o portão de entrada do jardim...

Uma parede de hortênsias, quase sempre florida, enfeitando a janela do quarto...

Um porão que guarda um pote de manteiga, em dias extremamente quentes, para conservá-la fresquinha, pois não se tinha ainda adquirido o tão sonhado refrigerador... 

E que guarda mistérios, por vezes...

A cerca que esconde por entre as tábuas a figura da amiguinha que, de quando em quando, aparece para brincar...

Os pintinhos que acompanham a galinha Mindinha, todos juntinhos, na caminhada matinal...

A colmeia, muito respeitada, existente no fundo do quintal e só visitada por quem sabe colher o mel...

A pata Isadora que acabou morrendo por causa do galo Teodoro. Evento que, à época, ultrapassou a compreensão infantil...

Uma casa, um pátio, um jardim, um céu...

Uma menina sozinha e muitos livros: um universo para viver e sonhar.



Era uma solidão plena. Plena de imaginação, de cenas criativas, de sonhos e também, por vezes, do medo do desconhecido que se colocava fora do portão de entrada da casa. Nada tão assustador, porém, que não se desintegrasse pela alegria de percorrer poucos metros até alcançar outro portão: o da primeira escola que a menina passou a frequentar a partir do 1° ano.

Uma solidão que se desfez no encontro com os colegas de aula e na relação com os professores, que sempre tanto prezou.

E tudo mais ainda melhorou quando iniciou os estudos de música. Como afirmava Arthur da Távola, reconhecido jornalista, escritor, professor e um grande conhecedor da música clássica e erudita:

“Música é vida interior. E quem tem vida interior jamais padecerá de solidão.”

Um aparente vazio. Nada que um pátio desafiador, que a música, os livros, a lua e as estrelas não tenham preenchido.

E quando o dia anoitecia a imaginação percorria os campos férteis, lavrados ao sol e regados pelo suor das atividades desenvolvidas ao longo desse dia.

E assim caminhava a menina.



Nos embates do cotidiano, ela continua ouvindo, lendo e criando, sempre que possível.

E, principalmente, olhando, observando, conversando... E, novamente, olhando, percebendo, sentindo...

Sentindo, como se naquele pátio ainda estivesse.

Imaginando, como se aquela lua e aquela estrela fossem suas companheiras permanentes. E elas o são, ainda.

Criando, como se tivesse por missão preencher o constante vazio que deve estar para sempre pleno. Pleno de sonhos e de ações concretas. Pois é isto o que somos: aquilo que sonhamos. Para tanto, a menina acredita que deve fazer acontecer.

Esta é a verdadeira solidão plena e produtiva: aquela em que se tem espaço para sonhar e para fazer acontecer. Reconstruir com os pedaços um novo todo: é sempre desejável. 

É o que se busca com o poema RESCALDO. Transpondo-se para o universo infantil, AQUELE BICHINHO traz o desejo expresso de “reconstrução” e “continuidade” por quem tem nas mãos tal possibilidade. Neste, a ternura e a fantasia andam de mãos dadas. Em ambos, é bom estar preparado, sempre, para um novo recomeço. Um lugar em que o vazio não se instale, pois um recomeço é a capacidade de torná-lo pleno: pleno de sonhos e de realizações.

Vazio? Que vazio?

Seres pensantes nunca se encontram vazios. Pensar já é um exercício. E que exercício!

Há quem considere a possibilidade concreta do vazio pleno ou do alcance de uma espiritualidade profunda, desapegada de tudo e de todos. Deixemos isto, porém, para o depois. O depois que não exija nada mais de nós: nem o ato de pensar. Aí, quem sabe, o vazio finalmente apareça. Isto, porém, deve ter existência em outra dimensão.

Fiquemos, por ora, com a capacidade única de sermos criaturas e criadores de novas criaturas. E isto, com certeza, torna o nosso vazio totalmente pleno. “Dá um trabalho danado”, mas é extremamente gratificante.

Trazermos os sonhos de infância e a imaginação criativa, que nos acompanha desde sempre, para um cotidiano de realizações pessoais. Este é o nosso destino por aqui. Ou não é?


Relembrem a música VELHA INFÂNCIA, composta por Arnaldo Antunes, integrante do Trio Tribalistas, que busca na letra aqueles referenciais infantis do amigo, do canto, da dança, das brincadeiras, do clarão da lua, da escuridão, tudo o que nos torna seres sonhadores, pois de sonhos somos construídos. E é na infância onde eles brotam. E temos de tê-los, mesmo que utópicos.


Eduardo Galeano, nosso reconhecido escritor sul-americano, recentemente falecido, afirmou que a utopia serve para que não deixemos de caminhar. Caminhar, digo eu, em busca deles: os sonhos.









Velha Infância – Marisa Monte 









quinta-feira, 13 de junho de 2013


DIÁRIO DE UM POETA


O que é um diário?

Marina Colasanti, em seu livro Uma Nova Mulher, indaga se um diário seria um amigo ou uma companhia. Também é isso. E acrescenta a autora:

“Mas é, sobretudo, uma duplicação da gente mesma, espelho que não se apaga quando o rosto se retrai ou muda, álbum de retratos que conserva muito mais que um belo sorriso e a paisagem ao fundo”. E ela prossegue descrevendo os benefícios de um diário.

“A verdade é que um diário não pode ser lido por ninguém, a não ser pelo autor. E só será válido se escrito despreocupadamente, as coisas ditas às claras, sem metáforas ou jogos verbais criados para encobrir verdades a olhos curiosos.”


Agora, para José Saramago, em Cadernos de Lanzarote, a definição para diário é a que segue:

“Por muito que se diga, um diário não é um confessionário, um diário não passa de um modo incipiente de fazer ficção. Talvez pudesse chegar mesmo a ser um romance se a função da sua única personagem não fosse a de encobrir a pessoa do autor, servir-lhe de disfarce, de parapeito. Tanto no que declara como no que reserva, só aparentemente é que ela coincide com ele. De um diário se pode dizer que a parte protege o todo, o simples oculta o complexo. O rosto mostrado pergunta dissimuladamente: Sabeis quem sou?, e não só não espera resposta, como não está a pensar em dá-la.”

Para um poeta a definição acima é bastante adequada. É o que se depreende da leitura do poema/letra, de autoria de Chico Buarque de Holanda, Querido Diário, uma das músicas de seu mais novo CD.

Após ler inúmeras interpretações acerca da letra, desde aquelas que, ainda, vislumbram um viés político, àquelas outras que depreciam o poeta/compositor, colocando-o ao rés da mediocridade e sob o peso da decrepitude, filio-me àqueles outros que o enxergam como alguém que ainda acrescenta qualidade às letras da nossa música popular brasileira.

E por que esse alvoroço?

Porque o autor da letra usou, no décimo segundo verso, a expressão:

-“Amar uma mulher sem orifício”.

Valendo-me do conceito de Saramago, o tal diário do Chico, com seus versos metafóricos, aparentemente simples em seu conteúdo, ocultaria o complexo, protegeria o todo através das verdades ditas a conta-gotas. E a ele, autor, não interessaria se estão a entender ou não. O que quer é jorrar verdades que, com certeza, espelham nossas próprias dificuldades. Principalmente, quando a idade chega inexoravelmente, mostrando a cara sem enfeites. Porém, para um poeta isso ainda será mote para muita poesia. E é o que fez Chico, como sempre, de forma magistral, possibilitando interpretações diversas. E é isso que universaliza o texto, que o torna por demais humano, pois se amolda a qualquer um de nós.

À semelhança de uma quadra, construída em 5 estrofes de 4 versos cada, com rima alternada, vai sobrepondo imagens de uma realidade que se apresenta a cada dia (observe a expressão “Hoje”, usada repetidamente), exigindo-lhe uma reflexão diária , o que em nada o desmotiva ou arrefece o seu ímpeto de luta, quando afirma, quase num tom desafiador: “Mas eu não quebro”.

Constata, inicialmente, que seus conhecidos expressam um sentimento de pena, quando o encontram, por percebê-lo vivendo em solidão.

Arrastado pela cidade afora, vai, como todos, de roldão. Na volta para casa, porém, recolhe um cão de rua. Dar-lhe-á afeto? Receberá afeto? Não sabe, ainda. Logo depois, constata que esse ser lhe arranca um pedaço, de quando em quando. É! O amor é um sentimento que dá e exige. Talvez o olhar desse cão reforce mais ainda a constatação da solidão que o cerca. Com humanos, porém, o convívio é bem mais trabalhoso.

Busca, na caminhada, algo que lhe inspire ao sacrifício. Ter, quem sabe, uma religião a professar, com todos os seus símbolos, mártires e santos protetores. Quem sabe amar uma mulher sem orifício? Uma santa?

Não, acho que não é por aí. O autor também não acredita que esse seja o caminho.

Tanto que, de repente, afinal, conhece o amor. Constata, porém, que esse tal amor é difícil de entender. É, na verdade, uma obscura trama, como diz.

Chico, que dizem ser um grande conhecedor do universo feminino, em entrevista, transcrita abaixo, diz ser um desconhecedor do sexo dito frágil. Acredito nessa assertiva.

Ele não consegue entender, porque sem nunca bater nela (mulher) nem com uma flor, se ela vier a chorar, seu desejo, sua libido aflorará. Essa tal libido acordará, quando ele, ao vê-la chorar, pensar em protegê-la. Serão necessários gatilhos mais contundentes, de ora em diante, para tal despertar?

De qualquer maneira, quando o inimigo (?) (libido- porrete- símbolo fálico) vier espreitar, armando tocaia “pra mó de lhe quebrar”, vai avisando que não se quebra fácil, no máximo irá vergar-se. Porque é macio, viu? Não se desespera o poeta frente à incapacidade momentânea.

Pois o poeta, esse homem frente à solidão e às inúmeras carências que vão se somando à idade, busca alento, refúgio, companhia na figura de um cão que o afague com o olhar, de uma religião que o ampare ou de uma mulher sem orifício que, quem sabe, seja a solução.



Porém, encontra, ao final, aquela que o transforma. Aquela que lhe inflama o desejo.

Mas, digo eu, muito provavelmente, terá essa nova parceira que acompanhá-lo nas suas incertas e imprevisíveis investidas. Isso, se tiver orifício. Caso não tenha, até que seria uma solução. Depois de certo tempo de vida, o que interessa mesmo, para ambos, é o companheirismo, a amizade, a cumplicidade, o carinho, o zelo.

Talvez, finalmente, Chico passe a entender as mulheres.

Pois é, dentre tantas interpretações, essa é apenas mais uma.

VIU?

 
 

Ah! Ia esquecendo:

Para aqueles que criticaram o autor pela pobreza da rima sacrifício/orifício, acredito ser absolutamente ajustada. Tenho para mim que esse casal de Adão e Eva vai ter que encontrar outro “approach”, porque esse já se esgotou. Depois de certo tempo na estrada, alguns prazeres passam a ser um problema, quase um sacrifício.

 
 
 
 
 
Bastidores da gravação da música Querido Diário - Chico Buarque 
 
 
 Chico Buarque e a Internet – Velho e Bêbado
 
 
 
Chico Buarque – o desconhecedor de mulheres 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

DESPLUGUE!

Aproveite a semana a eles dedicada e conecte-se aos dois. Inebrie os ouvidos, os olhos, todo o ser num contato mais íntimo com eles. Tenho certeza de que você sairá ganhando. Faz bem para a alma, faz bem ao espírito e um bem enorme ao corpo. Um corpo cujos ouvidos e olhos são, diariamente, tão massacrados por tantas poluições. Não aguarde para descansar apenas quando o sono se instala e o leito chama.
 
Desplugue, ainda, durante algum momento do dia. Quem sabe, ao entardecer. Leia ao som de uma boa música. Ou melhor, primeiro leia, depois ouça a boa música. Epa! Não se assuste. Não precisa ser algo hermético. Um bom conto, uma poesia, uma crônica, uma reportagem que o faça refletir: seria já um bom começo.
 
Sim, porque o prazer no ato exige que você se desconecte por um tempo da lide diária, mas não exige que você se desconecte da sua capacidade intelectiva. Essa, pelo contrário, deverá sair dessa prática mais capaz de encontrar, através do entendimento, que se construiu naquele breve distanciamento, a resolução para os embates diários: com muito mais clareza e criatividade.
 
Ah! Quanto à música, há quem consiga tê-la como pano de fundo para uma boa leitura. Há, porém, quem, absolutamente, não consiga misturá-la à leitura. Tudo dependerá do grau de envolvimento que uma e outra ensejam a você. Se a adesão ao som e suas nuances, seus acordes maiores e menores forem tão absorventes do seu ser, restrinja-se a um e depois outro. Quem sabe, a música depois da leitura. Afinal, ela apazigua todo e qualquer ressaibo de indignação que, porventura, a leitura tenha ocasionado. Por exemplo, ouçamos do nosso cancioneiro o conhecido Choro ou o popular “Chorinho”. Talvez, nessa hora, não devamos ouvir a lindíssima e magistral Overture “1812”, Opus 49, de Peter Ilich Tchaikovsky (com os canhões, inclusive). Esta audição caberá em outro momento.
 
 
Por ora, nesse dia 23 de abril, Dia Nacional do Choro, deleitemo-nos com a malemolência oriunda do Lundu, que fez tão popular entre nós o Chorinho. Heitor Villa-Lobos, o conhecido autor clássico das Bachianas Brasileiras compôs inúmeros choros e serestas. Aliás, participou da Semana de Arte Moderna, contribuindo com sua música extremamente inovadora e revolucionária para os padrões da época.
 
No meio popular, tivemos choros clássicos compostos por reconhecidos compositores e instrumentistas, como Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Jacob do Bandolim e tantos outros.
 
Agora, como também se comemora, neste dia 22 de abril, o Dia Internacional do Livro, repouse o olhar sobre obras-primas ou, quem sabe, excertos de conhecidas obras, porque assim, aos poucos, vai-se sorvendo e absorvendo idéias inovadoras, à época, mas ainda pertinentes nos dias atuais, porque universais no seu conteúdo, na sua essência.
 
Comece, quem sabe, por algum conto de Machado de Assis, ou trechos da obra Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. Ou, do nosso atual e festejado escritor Milton Hatoum, a Cidade Ilhada. Temos, também, As Seis Propostas para o Próximo Milênio, de Ítalo Calvino. E a lista seria interminável, acrescentando-se Jorge Luis Borges, Jorge Mario Vargas Llosa, Gabriel José García Márquez, José de Sousa Saramago, Julio Cortázar, J.M.Coetzee, Mia Couto, e por aí afora. Ainda, por aqui, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Érico Verissimo, João Simões Lopes Neto, Armindo Trevisan, Moacyr Scliar, Ferreira Gullar, Millôr Fernandes, e tantos mais. Talvez, melhor seja mesmo começar pelas crônicas de Luis Fernando Verissimo, pela poética de Mário Quintana e por incontáveis outros escritores gaúchos e nacionais de excelente qualidade.
 
Vá a uma livraria de porte e se embrenhe por seus corredores cobertos de livros. Escolha um, busque uma poltrona e se transporte a um mundo paralelo ao seu, que se movimenta ao toque da mão que vira a página seguinte. E outra..., e mais outra.
 
E para não sair de mãos abanando, escolha um e o leve para casa. Reserve um tempo para lê-lo, para senti-lo, para dialogar com ele. Ele não fala, mas se desnuda a cada página que é lida e adora ser tocado. É a sua forma de comunicar-se. Procure desvesti-lo com carinho, demorando-se na análise de cada parágrafo. O autor a essa cena gostaria de estar presente. Seria um deleite para ele, com certeza. E para você, leitor, protagonista maior desse ato de amor pelo livro, garanto-lhe que a emoção de sorver página a página é muito compensadora.
 
Experimente esse prazer. Ele é solitário no ato, porém dá frutos que o ajudará no convívio com os demais semelhantes.
 
Então, depois dessa transa com o livro, um bom descanso com a música é aconselhável.
 
Daí, então, refeito, plugue-se novamente.
 
Chega de ócio: esse ócio criativo que faz tão bem.
 
 
 
Então, quem sabe, para começar a entender esse tal de ócio criativo, leia o trecho a seguir, extraído do livro O Ócio Criativo do conhecido sociólogo Domenico De Masi:
 
“Educar para o ócio significa ensinar a escolher um filme, uma peça de teatro, um livro. Ensinar como se pode estar bem sozinho, consigo mesmo, significa também habituar-se às atividades domésticas e à produção autônoma de muitas coisas que até o momento comprávamos prontas. Ensinar o prazer do convívio, da introspecção, do jogo e da beleza. Inculcar a alegria.
 
A pedagogia do ócio também tem sua própria ética, sua estética, sua dinâmica e suas técnicas. E tudo isso deve ser ensinado. O ócio requer uma escolha atenta dos lugares justos: para se repousar, para se distrair e para se divertir. Portanto, é preciso ensinar aos jovens não só como se virar nos meandros do trabalho, mas também pelos meandros dos vários possíveis lazeres. Significa educar para a solidão e para o convívio, para a solidariedade e o voluntariado. Significa ensinar como evitar a alienação que pode ser provocada pelo tempo livre, tão perigosa quanto à alienação derivada do trabalho. Há muito o que ensinar!”(in verbis, páginas 313 e 314, 2ª edição, Editora Sextante)
 
 
 
Agora, dê uma olhada nas sugestões que seguem.
 
Boa leitura e boa audição.

 

 A) LITERATURA


Milton Hatoum: A literatura exige uma entrega passional


Luis Fernando Verissimo: Exigências da Vida Moderna


Mário Quintana:

Os Arroios



Pé ante Pé




Passeio Suburbano





B) MÚSICA
 
 
Choro Típico nº 1 – de Heitor Villa-Lobos
 
 
Bachianas Brasileiras nº 5 – Heitor Villa-Lobos – Canallondres Música Brasileira em Londres

 
  Izaías e seus Chorões – Pedacinho do Céu (Waldir Azevedo)

 
Brejeiro (Ernesto Nazareth) – Conjunto Época de Ouro

 
Apanhei-te Cavaquinho – Conjunto Época de Ouro 

 
Roda de Choro – Noites Cariocas (Jacob do Bandolim)
 

Roda de Choro - Chorinho na Gafieira (Astor Silva)
 
 
Altamiro Carrilho – Pedacinho do Céu/Delicado/Brasileirinho (Waldir Azevedo)

 
 Altamiro Carrilho – Urubu Malandro (Loro)