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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

PARCERIA QUE SE IMPÕE




O que melhor do que a poesia para dizer o indizível. Por rimas tortas ou até sem elas, aventura-se no mundo do inexplicável. Apresenta-se como quem soçobra, mas que emerge, logo ali, travestida de cara nova, porque só ela, a poesia, pode transitar incólume entre o nefasto e o que ainda pulsa de esperança latente.

Em tempos assim, ela tem este condão de fazer imaginar e criar em cada indivíduo uma mensagem que ampara, que consola, que nos torna mais reflexivos.

Sorver a palavra poética é como degustar gota a gota, palavra por palavra, com seus intervalos para perder-se o olhar no entorno e no interior de cada um que está a ler.

A cada leitura de um mesmo poema sempre uma surpresa, porque refletir é o que nos faz humanos.

Seres humanos são polos de energia que concentram força e poder e, portanto, possibilidades de interação com seus semelhantes.

Mesmo sem rima, o ritmo está presente. E a parceria com a música é inevitável.

Difíceis tempos em que a imersão faz-se necessária.

Embora os temas, por vezes, sejam por demais destituídos de beleza, a poesia pode torná-los carregados de sonoridade, de ritmo, o que os torna passíveis de serem harmoniosamente descritos. E qualquer coisa que os torne palatáveis é um bom indicador.

A prosa poética, assim como a poesia, pode emergir de qualquer cena, por mais degradante que se apresente.

Nesta semana, os papagaios, conhecidos também por louros, que enfeitam com seu canto as manhãs do bairro, não se assustaram com o barulho dos helicópteros que sobrevoaram, em mesmo tempo e lugar, os domínios dessas alegres aves.

Permaneceram sobre os telhados, desafiadores como sempre.

Imprimiram som e ritmo para preservar seu território.

Tal qual eles, a palavra poética também, com menor alarde, é capaz de penetrar o subjetivismo de cada um e passar um recado: reflitamos e avaliemos.

Nada é claro, nada é explícito, embora verdadeiro.

A palavra poética, porém, pode explicar o inexplicável e, com certeza, abrir possibilidades de entendimento sobre fatos absolutamente nefastos.

Claro, tudo com as metáforas que dão colorido e até divertem àqueles que se debruçam sobre tais peças literárias.

Nestes tempos obscuros, haja muita prosa poética e música para nos manter informados com aquela dose de encantamento tão útil ao nosso equilíbrio físico/emocional.

Afinal, não podemos soçobrar.

 




Uma bela imagem que inspirou esta breve peça poética.

Que a força daquele canto, tornada melodia, corrobore a parceria.

Que ambas nos salvem desses difíceis tempos.









quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SEU SONHO ERA BEM OUTRO!

Foi muita frustração! Estava tudo acertado. Ele seria ela. Bela, colorida, variada nos matizes. Por um erro, que não sabe bem de quem, acabou na mesma família delas, mas com atributos que dispensaria, sinceramente.
Com certeza até abriria mão da coroa que lhe outorgaram, só para ser admirada, olhada, cultivada com todo o carinho.
Por vezes, se insurge, pois destoa, em beleza, da família a qual pertence.
Se a coroa não lhe traz benefício algum, o que adianta ser rei!
É um rei frustrado, pois seus súditos, embora gostando dele, por vezes, machucam-se ao tocá-lo. E ele gosta de ser tocado, puxa vida!
Tem o corpo todo espinhoso e ressequido e sua maciez está tão escondida que causa esforço e grande cuidado a quem precisa desnudá-lo. Possui farpas pelo corpo afora.
Na verdade, nunca conseguiu conformar-se com essa situação.
Além disso, guarda uma estória bem desagradável, que lhe contaram há anos atrás.
Pois um irmão seu foi causador, sem querer, de um ferimento, que teve como consequência a eliminação desse pobre irmão da vida daquela pequena vítima.
Existia uma menininha que gostava tanto desse seu irmão, mais tanto, que o consumia diariamente. Era um, inteiro, por dia. Ao final de vinte e poucos dias, na língua da pequena vítima surgiram pequenos cortes com pontos de sangue.
Vejam se isso aconteceria com o consumo diário de uma banana, uma maçã, uma pera ou uma ameixa. Poderia estar comendo até hoje sua porção diária, sem problema.
Mas a paixão é cega. Atirou-se, de cabeça, no consumo diário de um abacaxi. E deu no que deu.
Na realidade, esse coitado, pertencente à família das Bromélias, vive acabrunhado. Não é belo como suas irmãs, nem tampouco benquisto.
Vejam bem o que registra o "amansa-burros" sobre este vocábulo:

* Bras.Gír. – coisa trabalhosa, complicada, embrulhada, intrincada (Antes de viajar, teve vários abacaxis para resolver);
* “Dois meses depois, ela telefona em pânico: ‘Vou ser mãe!’ Do outro lado da linha, Sandoval explode: ‘Que abacaxi!’ E, então, começa a evitar a pequena.” (Nélson Rodrigues, 100 Contos Escolhidos. A Vida Como Ela É, II, pp. 57-58);
* Descascar um abacaxi: resolver uma dificuldade, um problema.
                                            (Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 5ª edição)


Na verdade, nem sabe bem por que existe.
É gostoso? É.
É cheiroso? É.
É de difícil trato? Reconhece que sim.
Pergunta-se, até hoje, por que não lhe deixaram seguir o caminho das companheiras da espécie, por que o impediram de servir de enfeite nos avarandados?
Já tentou convencer-se de que vale mais, de que é mais importante do que as belas da sua espécie.
Analisa-se e percebe que cada um de seus “olhos”, que estão espalhados pelo seu corpo, corresponde a uma flor. Ele é, portanto, um conjunto de flores que se fundiram em um grande fruto de um só corpo. E pra compensar sua transformação em um fruto, e não uma flor, puseram-lhe no topo do corpo uma coroa.  Foi só pra enganar. Ela não lhe serve pra nada. Pelo contrário, é por ali que começam os primeiros sinais de sua destruição. É quando lhe arrancam esse sinal de nobreza, à força, ou ele apodrece, indicando a sua já próxima e completa deterioração. Por conta da beleza dessa coroa, ele é conhecido como o rei dos frutos. Alguns o chamam de rei das frutas. Imaginem! É pra enlouquecer!
Não tem certeza, mas acha até que vive menos tempo do que sua irmã, a bromélia em flor. Esse pensamento, que o atormenta, deve ser por conta da baixa autoestima que carrega consigo.
Ela até é nome de música da Bidê ou Balde, conhecida banda gaúcha.
Ele, depois de muito procurar, só encontrou referência a sua existência através da música Piuí Abacaxi. Assim mesmo foi só pra rimar com “por aí”.
Vejam:
“Piuí Piuí, Piuí Abacaxi,
Choc, choc, choc, choc por aí."

É! Pelo menos a letra da música fala em sino que toca. Acredita que aquele seu irmão, que salta da frente do vagão na descida do trem, é o tal apito: o Piuí.
O barulho do trem, por outro lado, lembra o som cadenciado do seu nome: abacaxi... abacaxi... abacaxi... abacaxi...
Isso não é o bastante, porém.
Ainda vai conferir melhor aquele vídeo.
Que tristeza!
Diante desse quadro, confessa que portar uma coroa é muito pouco.
Inconformado, declara-se ser uma fruta a contragosto.
Seu sonho era bem outro!

*Crônica elaborada a partir da frase “O ABACAXI É FRUTA A CONTRAGOSTO”, ideia guardada no baú da memória de Luis Fernando Veríssimo e revelada na crônica de sua autoria publicada, em 16 de fevereiro de 2014, no jornal O Estado de São Paulo, Caderno Cultura.
Em face da sua confissão de não ter a menor ideia do que pretendia dizer com ela, o que eu duvido por conta da genialidade que o faz meu ídolo, tentei achar uma explicação para a referida frase. Espero ter conseguido.


Bromélias – Bidê ou Balde


Piuí Abacaxi – Patati Patatá 



sexta-feira, 26 de abril de 2013

DESPLUGUE!

Aproveite a semana a eles dedicada e conecte-se aos dois. Inebrie os ouvidos, os olhos, todo o ser num contato mais íntimo com eles. Tenho certeza de que você sairá ganhando. Faz bem para a alma, faz bem ao espírito e um bem enorme ao corpo. Um corpo cujos ouvidos e olhos são, diariamente, tão massacrados por tantas poluições. Não aguarde para descansar apenas quando o sono se instala e o leito chama.
 
Desplugue, ainda, durante algum momento do dia. Quem sabe, ao entardecer. Leia ao som de uma boa música. Ou melhor, primeiro leia, depois ouça a boa música. Epa! Não se assuste. Não precisa ser algo hermético. Um bom conto, uma poesia, uma crônica, uma reportagem que o faça refletir: seria já um bom começo.
 
Sim, porque o prazer no ato exige que você se desconecte por um tempo da lide diária, mas não exige que você se desconecte da sua capacidade intelectiva. Essa, pelo contrário, deverá sair dessa prática mais capaz de encontrar, através do entendimento, que se construiu naquele breve distanciamento, a resolução para os embates diários: com muito mais clareza e criatividade.
 
Ah! Quanto à música, há quem consiga tê-la como pano de fundo para uma boa leitura. Há, porém, quem, absolutamente, não consiga misturá-la à leitura. Tudo dependerá do grau de envolvimento que uma e outra ensejam a você. Se a adesão ao som e suas nuances, seus acordes maiores e menores forem tão absorventes do seu ser, restrinja-se a um e depois outro. Quem sabe, a música depois da leitura. Afinal, ela apazigua todo e qualquer ressaibo de indignação que, porventura, a leitura tenha ocasionado. Por exemplo, ouçamos do nosso cancioneiro o conhecido Choro ou o popular “Chorinho”. Talvez, nessa hora, não devamos ouvir a lindíssima e magistral Overture “1812”, Opus 49, de Peter Ilich Tchaikovsky (com os canhões, inclusive). Esta audição caberá em outro momento.
 
 
Por ora, nesse dia 23 de abril, Dia Nacional do Choro, deleitemo-nos com a malemolência oriunda do Lundu, que fez tão popular entre nós o Chorinho. Heitor Villa-Lobos, o conhecido autor clássico das Bachianas Brasileiras compôs inúmeros choros e serestas. Aliás, participou da Semana de Arte Moderna, contribuindo com sua música extremamente inovadora e revolucionária para os padrões da época.
 
No meio popular, tivemos choros clássicos compostos por reconhecidos compositores e instrumentistas, como Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Jacob do Bandolim e tantos outros.
 
Agora, como também se comemora, neste dia 22 de abril, o Dia Internacional do Livro, repouse o olhar sobre obras-primas ou, quem sabe, excertos de conhecidas obras, porque assim, aos poucos, vai-se sorvendo e absorvendo idéias inovadoras, à época, mas ainda pertinentes nos dias atuais, porque universais no seu conteúdo, na sua essência.
 
Comece, quem sabe, por algum conto de Machado de Assis, ou trechos da obra Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. Ou, do nosso atual e festejado escritor Milton Hatoum, a Cidade Ilhada. Temos, também, As Seis Propostas para o Próximo Milênio, de Ítalo Calvino. E a lista seria interminável, acrescentando-se Jorge Luis Borges, Jorge Mario Vargas Llosa, Gabriel José García Márquez, José de Sousa Saramago, Julio Cortázar, J.M.Coetzee, Mia Couto, e por aí afora. Ainda, por aqui, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Érico Verissimo, João Simões Lopes Neto, Armindo Trevisan, Moacyr Scliar, Ferreira Gullar, Millôr Fernandes, e tantos mais. Talvez, melhor seja mesmo começar pelas crônicas de Luis Fernando Verissimo, pela poética de Mário Quintana e por incontáveis outros escritores gaúchos e nacionais de excelente qualidade.
 
Vá a uma livraria de porte e se embrenhe por seus corredores cobertos de livros. Escolha um, busque uma poltrona e se transporte a um mundo paralelo ao seu, que se movimenta ao toque da mão que vira a página seguinte. E outra..., e mais outra.
 
E para não sair de mãos abanando, escolha um e o leve para casa. Reserve um tempo para lê-lo, para senti-lo, para dialogar com ele. Ele não fala, mas se desnuda a cada página que é lida e adora ser tocado. É a sua forma de comunicar-se. Procure desvesti-lo com carinho, demorando-se na análise de cada parágrafo. O autor a essa cena gostaria de estar presente. Seria um deleite para ele, com certeza. E para você, leitor, protagonista maior desse ato de amor pelo livro, garanto-lhe que a emoção de sorver página a página é muito compensadora.
 
Experimente esse prazer. Ele é solitário no ato, porém dá frutos que o ajudará no convívio com os demais semelhantes.
 
Então, depois dessa transa com o livro, um bom descanso com a música é aconselhável.
 
Daí, então, refeito, plugue-se novamente.
 
Chega de ócio: esse ócio criativo que faz tão bem.
 
 
 
Então, quem sabe, para começar a entender esse tal de ócio criativo, leia o trecho a seguir, extraído do livro O Ócio Criativo do conhecido sociólogo Domenico De Masi:
 
“Educar para o ócio significa ensinar a escolher um filme, uma peça de teatro, um livro. Ensinar como se pode estar bem sozinho, consigo mesmo, significa também habituar-se às atividades domésticas e à produção autônoma de muitas coisas que até o momento comprávamos prontas. Ensinar o prazer do convívio, da introspecção, do jogo e da beleza. Inculcar a alegria.
 
A pedagogia do ócio também tem sua própria ética, sua estética, sua dinâmica e suas técnicas. E tudo isso deve ser ensinado. O ócio requer uma escolha atenta dos lugares justos: para se repousar, para se distrair e para se divertir. Portanto, é preciso ensinar aos jovens não só como se virar nos meandros do trabalho, mas também pelos meandros dos vários possíveis lazeres. Significa educar para a solidão e para o convívio, para a solidariedade e o voluntariado. Significa ensinar como evitar a alienação que pode ser provocada pelo tempo livre, tão perigosa quanto à alienação derivada do trabalho. Há muito o que ensinar!”(in verbis, páginas 313 e 314, 2ª edição, Editora Sextante)
 
 
 
Agora, dê uma olhada nas sugestões que seguem.
 
Boa leitura e boa audição.

 

 A) LITERATURA


Milton Hatoum: A literatura exige uma entrega passional


Luis Fernando Verissimo: Exigências da Vida Moderna


Mário Quintana:

Os Arroios



Pé ante Pé




Passeio Suburbano





B) MÚSICA
 
 
Choro Típico nº 1 – de Heitor Villa-Lobos
 
 
Bachianas Brasileiras nº 5 – Heitor Villa-Lobos – Canallondres Música Brasileira em Londres

 
  Izaías e seus Chorões – Pedacinho do Céu (Waldir Azevedo)

 
Brejeiro (Ernesto Nazareth) – Conjunto Época de Ouro

 
Apanhei-te Cavaquinho – Conjunto Época de Ouro 

 
Roda de Choro – Noites Cariocas (Jacob do Bandolim)
 

Roda de Choro - Chorinho na Gafieira (Astor Silva)
 
 
Altamiro Carrilho – Pedacinho do Céu/Delicado/Brasileirinho (Waldir Azevedo)

 
 Altamiro Carrilho – Urubu Malandro (Loro)