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quarta-feira, 17 de junho de 2020

MAIS UMA? MAIS UM?


Na Estação aglomeravam-se pessoas à espera de uma condução que as levaria a destinos diversos. Alguns cabisbaixos, outros falantes entre si. Diferentes em seu modo de vestir, de falar, de olhar.

Aguardavam a partida para um rumo definido. Cena que se repete por um largo tempo de vida de cada um daqueles passageiros. A eles interessa chegar ao destino o mais rápido possível. Pela manhã, para cumprir obrigações. À noite, para um retorno merecido. Um descanso junto aos seus. Um tempo que dura vinte e quatro horas. Um tempo em que a luz e a escuridão conversam.

Conversam, assim como fazem os passageiros daquela Estação. Algumas vezes, bem alegres com a própria luz e com uma escuridão bordada pelo luar. Outras, cabisbaixos, tristes, difíceis até de serem reconhecidos por quem os espera diariamente.

Outra Estação, a Espacial Internacional, é bem menos tomada por seres, porque apenas três astronautas por lá permanecem. Construída a partir de cifras na casa dos trilhões, encontra-se, silenciosamente, aguardando a visita de outros três astronautas, num sistema de revezamento.

Que tristeza!

Uma tristeza que deveria tomar conta de cada um dos seres que habita este nosso planeta. Tristeza de que tamanho investimento deposite-se numa Estação que navega no espaço e que nada acrescenta a já nossa combalida Terra.

Ela será visitada por uma cápsula de passageiros chamada Crew Dragon. Dragon seria a figura de um dragão, um monstro fabuloso que é representado por garras, asas e cauda de serpente. Crew seria a tripulação composta por dois astronautas.

Não cabe, aqui, mencionar quem financiou esta cápsula, tampouco a anterior ou anteriores que lá estiveram. Searas em que o poder político e econômico são prevalentes, em detrimento do bem-estar de todos nós, habitantes deste planeta.

Recentemente, no dia 6 de janeiro do corrente ano, foi anunciada a descoberta de novo planeta do tamanho da Terra, que está a 100 anos-luz de distância e está sendo chamado de “TOI 700d”.

Alguns pesquisadores indicam a possibilidade deste planeta ser coberto por oceanos e com uma atmosfera densa, dominada por dióxido de carbono. Outros, ainda supõem ser este planeta uma versão da Terra, porém sem oceanos.

Quer dizer, ninguém sabe nada ainda. Somas incalculáveis serão gastas para chegarem a uma possível e viável conclusão.

Assim, alguns governos deste nosso planeta continuarão gastando para obterem a primazia do descobrimento.

Claro, tudo bem diferente dos descobrimentos de terras distantes sobre o solo do nosso planeta.

Viajar por mares nunca dantes navegados: é uma coisa.

Viajar pelo infinito do firmamento: é outra coisa.

Os problemas, que afligem os habitantes desta nossa amada Terra, são infinitos. Requerem conscientização, aprimoramento de técnicas, união de povos, solidariedade e investimento em pessoas e recursos para o enfrentamento de graves situações de saúde, de meio ambiente, de educação e de conhecimento acadêmico de elevado nível.

Mais uma Cápsula viajando para o infinito?

Mais um Planeta?

Mais? Pra quê?

Que nossas Estações daqui, da nossa cidade, sejam pontos de encontro para trocas de cumprimentos, de ideias, enquanto aguarda-se aquele coletivo que nos conduzirá ao nosso destino com segurança.

Ah! Que o tempo de espera não seja longo e que os órgãos fiscalizadores funcionem.

Que, por aqui, baste uma Estação no nosso Planetário, pois ele pode nos oferecer imagens que despertem o poder criador de seus espectadores.

Ou, quem sabe, haja um poeta por lá que possa transformar aquelas imagens em momentos de raro prazer poético, devolvendo aquele espetáculo em palavras tecidas com a imaginação e a sensibilidade de quem parece ter por lá, no infinito, passeado, sem nunca ter lá estado.

Agora! Se for para brincar com a imaginação, acho que, a exemplo do nosso poeta Manuel Bandeira com o seu conhecido e sempre lembrado poema VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA, poder-se-ia imaginar este outro que segue e que, ao final de forma oposta, não admite reis, nem as benesses daqueles amigos do rei.




De verdade, o que esta simples poeta busca neste planeta Terra ou naquele outro, apenas imaginário, que não custa bilhões para lá alguém aportar, a exemplo deste recém-descoberto, é um momento de descanso para retomar a vida pulsante depois de por lá ficar durante o sono. É o que nos oferece este outro poema, publicado em 2009, pela Editora Litteris do Rio de Janeiro, que, a partir de um concurso literário, escolheu poemas que fizeram parte do livro UMA VIAGEM PRA PASÁRGADA. Esta publicação somou-se às homenagens prestadas ao poeta Manuel Bandeira, durante a sétima edição da Festa Literária de Paraty.



Amigos, por fim, convenhamos que apenas um REI reinará sobre um único REINO.

E para este o ingresso será gratuito.










quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SEU SONHO ERA BEM OUTRO!

Foi muita frustração! Estava tudo acertado. Ele seria ela. Bela, colorida, variada nos matizes. Por um erro, que não sabe bem de quem, acabou na mesma família delas, mas com atributos que dispensaria, sinceramente.
Com certeza até abriria mão da coroa que lhe outorgaram, só para ser admirada, olhada, cultivada com todo o carinho.
Por vezes, se insurge, pois destoa, em beleza, da família a qual pertence.
Se a coroa não lhe traz benefício algum, o que adianta ser rei!
É um rei frustrado, pois seus súditos, embora gostando dele, por vezes, machucam-se ao tocá-lo. E ele gosta de ser tocado, puxa vida!
Tem o corpo todo espinhoso e ressequido e sua maciez está tão escondida que causa esforço e grande cuidado a quem precisa desnudá-lo. Possui farpas pelo corpo afora.
Na verdade, nunca conseguiu conformar-se com essa situação.
Além disso, guarda uma estória bem desagradável, que lhe contaram há anos atrás.
Pois um irmão seu foi causador, sem querer, de um ferimento, que teve como consequência a eliminação desse pobre irmão da vida daquela pequena vítima.
Existia uma menininha que gostava tanto desse seu irmão, mais tanto, que o consumia diariamente. Era um, inteiro, por dia. Ao final de vinte e poucos dias, na língua da pequena vítima surgiram pequenos cortes com pontos de sangue.
Vejam se isso aconteceria com o consumo diário de uma banana, uma maçã, uma pera ou uma ameixa. Poderia estar comendo até hoje sua porção diária, sem problema.
Mas a paixão é cega. Atirou-se, de cabeça, no consumo diário de um abacaxi. E deu no que deu.
Na realidade, esse coitado, pertencente à família das Bromélias, vive acabrunhado. Não é belo como suas irmãs, nem tampouco benquisto.
Vejam bem o que registra o "amansa-burros" sobre este vocábulo:

* Bras.Gír. – coisa trabalhosa, complicada, embrulhada, intrincada (Antes de viajar, teve vários abacaxis para resolver);
* “Dois meses depois, ela telefona em pânico: ‘Vou ser mãe!’ Do outro lado da linha, Sandoval explode: ‘Que abacaxi!’ E, então, começa a evitar a pequena.” (Nélson Rodrigues, 100 Contos Escolhidos. A Vida Como Ela É, II, pp. 57-58);
* Descascar um abacaxi: resolver uma dificuldade, um problema.
                                            (Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 5ª edição)


Na verdade, nem sabe bem por que existe.
É gostoso? É.
É cheiroso? É.
É de difícil trato? Reconhece que sim.
Pergunta-se, até hoje, por que não lhe deixaram seguir o caminho das companheiras da espécie, por que o impediram de servir de enfeite nos avarandados?
Já tentou convencer-se de que vale mais, de que é mais importante do que as belas da sua espécie.
Analisa-se e percebe que cada um de seus “olhos”, que estão espalhados pelo seu corpo, corresponde a uma flor. Ele é, portanto, um conjunto de flores que se fundiram em um grande fruto de um só corpo. E pra compensar sua transformação em um fruto, e não uma flor, puseram-lhe no topo do corpo uma coroa.  Foi só pra enganar. Ela não lhe serve pra nada. Pelo contrário, é por ali que começam os primeiros sinais de sua destruição. É quando lhe arrancam esse sinal de nobreza, à força, ou ele apodrece, indicando a sua já próxima e completa deterioração. Por conta da beleza dessa coroa, ele é conhecido como o rei dos frutos. Alguns o chamam de rei das frutas. Imaginem! É pra enlouquecer!
Não tem certeza, mas acha até que vive menos tempo do que sua irmã, a bromélia em flor. Esse pensamento, que o atormenta, deve ser por conta da baixa autoestima que carrega consigo.
Ela até é nome de música da Bidê ou Balde, conhecida banda gaúcha.
Ele, depois de muito procurar, só encontrou referência a sua existência através da música Piuí Abacaxi. Assim mesmo foi só pra rimar com “por aí”.
Vejam:
“Piuí Piuí, Piuí Abacaxi,
Choc, choc, choc, choc por aí."

É! Pelo menos a letra da música fala em sino que toca. Acredita que aquele seu irmão, que salta da frente do vagão na descida do trem, é o tal apito: o Piuí.
O barulho do trem, por outro lado, lembra o som cadenciado do seu nome: abacaxi... abacaxi... abacaxi... abacaxi...
Isso não é o bastante, porém.
Ainda vai conferir melhor aquele vídeo.
Que tristeza!
Diante desse quadro, confessa que portar uma coroa é muito pouco.
Inconformado, declara-se ser uma fruta a contragosto.
Seu sonho era bem outro!

*Crônica elaborada a partir da frase “O ABACAXI É FRUTA A CONTRAGOSTO”, ideia guardada no baú da memória de Luis Fernando Veríssimo e revelada na crônica de sua autoria publicada, em 16 de fevereiro de 2014, no jornal O Estado de São Paulo, Caderno Cultura.
Em face da sua confissão de não ter a menor ideia do que pretendia dizer com ela, o que eu duvido por conta da genialidade que o faz meu ídolo, tentei achar uma explicação para a referida frase. Espero ter conseguido.


Bromélias – Bidê ou Balde


Piuí Abacaxi – Patati Patatá