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terça-feira, 8 de dezembro de 2020

ELA E SUA MELHOR VESTIMENTA


Ela nos identifica, nos socializa, nos distingue dos demais seres vivos da natureza.

Com ela podemos quase tudo. Podemos trocar comunicação com o irmão, pedir auxílio, também, socorro diante de agressões. Podemos orar sempre, mesmo que não sejam tempos de pandemia. Sua oralidade é característica humana.

Ler, igualmente, requer sua presença. Ela é imprescindível.

Os variados meios de comunicação apresentam-na, às vezes, despojada, displicente, inoportuna, insensível.

Já nos embates diários, pelas ruas de uma cidade, apresenta-se em sua oralidade, muitas vezes, de forma agressiva, cercada de palavrões.

Ela é, porém, repositório de informações, de conhecimento, de cultura.

Desde o acordar até o amanhecer convivemos com ela de forma constante.

Ela é nossos pensamentos levados ao vento, ao outro ou a uma folha de papel, onde repousará para que seja lida quando alguém se dispuser a fazê-lo.

Ela aguarda, pacientemente, que a usemos por amor a ela, por necessidade, ou, mesmo, por brincadeira em algum cântico que nos afague o coração.

Amá-la é nossa obrigação. Usá-la? De que forma?

Com afeto e parceria quando for o momento adequado. Com diligência, rapidez, competência e responsabilidade quando a situação assim exigir.

Um detalhe, porém, deve se fazer presente quando alguém a deposita sobre uma folha em branco e deseja transmitir o que todos já conhecem, já sabem.

O amor por ela tornar-se-á presente, visível para o leitor quando estiver revestida daquilo que a faz mais bela: a poesia.

A vestimenta poética da palavra escrita é o diferencial para o leitor que absorverá o conteúdo, embalado em uma espécie de mel, como dizia o grande poeta Manoel de Barros. Ao falar da Poesia, dizia ele:
 
“Poesia é uma espécie de mel da palavra”.
 
Eu diria que este manto poético, que cobre a palavra, pode e deve ser usado em todos os textos que não sejam puramente informativos como os jornalísticos.

Só com esta cobertura, que nos lembra o mel, é que podemos fazer frente aos desatinos, aos reveses, aos momentos de incerteza a que estamos submetidos.

Portanto, só com ela, com esta qualidade que a Poesia possui, é que podemos ter prazer na leitura de qualquer texto que se revista desta doçura que nos mantém, durante esta caminhada terrena, em busca da utopia. Ela que, segundo Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, está no horizonte e serve para que nos movimentemos em sua direção.

Ela nos conservará sempre em busca do melhor para nós, como sociedade planetária, numa evolução como cidadãos que dialogam, que acordam, que, empaticamente, veem-se no outro como um irmão.

Com relação ao texto criativo, que a palavra poética seja nossa parceira em leituras produtivas para o nosso bem, de todos que nos cercam e que se estenda a todos aqueles que são leitores contumazes.

Que ela nos acompanhe não apenas frente a um texto considerado poema, mas que o leitor encontre esta mesma cobertura em textos como, por exemplo, crônicas do cotidiano. Este nosso dia a dia tão atribulado, tão tenso por tantas notícias negativas, pede um esforço que a palavra escrita pode oferecer. Torná-lo mais ameno, mais acolhedor, mais esperançoso para quem, ainda, acredita num amanhã promissor.

Não se está a propor o acobertamento de fatos, mas a repassá-los de forma sensível onde a cobertura poética tem o privilégio de sustentar, através da criatividade, um texto que o leitor poderá usufruir de forma amena e suave, sem as agruras que transcorrem diariamente.

Continuemos neste caminho que a cobertura poética pode nos oferecer. Ela é um elixir para que a utopia seja mantida viva e auxilie em nossa caminhada.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 16 de novembro de 2014

CONSUMA... SEM MODERAÇÃO!


Encante-se com as nuanças das cores que brincam entre as nuvens. Elas escondem um sol sonolento que já dá sinais de exaustão depois de um dia escaldante. E nada melhor do que um bom descanso.

Acompanhe a aproximação do papagaio galanteador que se achega à parceira, sussurra algo e, juntos, bebem a água que se deposita na gateira próxima ao telhado, para voarem, logo após, ao refúgio noturno. E só eles sabem onde fica.

Exercite o ouvido com os mais diversos sons, ruídos e sussurros. Eles podem nos alegrar, nos alertar ou nos trazer cálidas lembranças. Precisamos muito delas. Elas nos alimentam, muitas vezes, mais do que um alimento próprio para tal.

Veja o que o vento enraivecido causa à árvore da esquina. E o que a leve brisa faz com as flores, recém-desabrochadas, daquele pé de jasmineiro.

Perceba o outro que perdeu o olhar no nada e nem lhe enxerga.

Atente que o hoje, às vezes, se parece com o ontem. Projete, se assim lhe aprouver, o hoje no amanhã. Ou o contrário. Você pode tudo.

Invente, reinvente, ressignifique, crie seu próprio dialeto para um mundo que se transforma a todo o instante. Assim, será mais fácil compreendê-lo e internalizá-lo do seu jeito. Afinal, somos individualidades pensantes. Precisamos apenas adocicar o nosso pensar, tornando palatáveis os novos comportamentos e atitudes.

Precisamos de muito açúcar para enfrentar o dia a dia com um renovado estoque de otimismo. Não aquele, o vilão da saúde, mas aqueloutro. Aquele que o poeta das insignificâncias, Manoel de Barros, chamava de mel das palavras: a poesia. Use dela em abundância. Ela reveste as palavras de significados diversos do habitual. Sendo assim, uma enseada, isto é, um aspecto da geografia do terreno, pôde se transformar na imagem de uma cobra de vidro mole que fazia a volta atrás da casa do poeta. E isto era para todos, que por ali moravam, apenas uma volta que o rio dava atrás da casa do poeta. Para ele, muito mais do que isto. Era a imagem de um animal vivo a circundar a sua propriedade. Nele era comum a coisificação do humano ou do animal e a humanização das coisas.

Como, por exemplo, em:

Borboleta é uma cor que avoa.

Para encontrar o azul eu uso pássaros.

Vi a manhã de pernas abertas para o Sol.


Poesia para ele “era a armação de palavras com um canto dentro, um gorjeio: daí a harmonia”.

Segundo ele a razão é a última coisa que deve entrar na poesia. Ela não serve para descrever, senão para descobrir e para ser incorporada através da imaginação que transvê o mundo.

O poeta, com sua sensibilidade, decodifica o que o olho simplesmente vê, a lembrança revê e ele com a imaginação, que lhe é peculiar, vai transver o mundo através das palavras. Seu único objetivo é produzir encantamento. Quem sabe, chegando ao grau de brinquedo retirado lá da infância, pois é lá, segundo Manoel de Barros, onde se encontra a melhor fonte de poesia que existe. Na verdade, porque troca o sentido das coisas. Talvez, por isso, se classificasse como o poeta das insignificâncias do mundo e das coisas.

Claro que o seu humor, sua ironia, por vezes, e o seu jeito de transver o mundo alçaram sua poesia, quer tenha querido ou não, a um patamar superior.

São suas estas palavras:

O poeta não tem compromisso com a verdade.

Senão que, talvez, com a verossimilhança.

Quem descreve não é dono do assunto.

Quem inventa é.


E quão importante foi como criador de palavras, desvirtuando-lhes o sentido original, fazendo uma artesania, como dizia, própria para revelar imagens através de palavras que se mostravam carentes para tanto. Daí a necessidade de criá-las incessantemente, através da percepção de imagens do cotidiano. De imagens das coisas menos significativas, das pequenas coisas que, no seu exercício de transver, transformavam-se em grandiosas e surpreendentes.

Deixou ele uma obra de um verdadeiro poeta. Aquele ser cuja natureza pensa por imagens e que aguça o olhar pela cosmovisão, como dizia ele próprio. E que foi capaz de afirmar:

Só as coisas rasteiras me celestam.


Com certeza, só um verdadeiro esticador de horizontes e um abridor de amanheceres pode nos adocicar e nos preparar para o enfrentamento diário com esta coisa rasteira que são os nossos problemas cotidianos: destituídos de qualquer encantamento para nós que não somos poetas.

Guardemos um tempo do dia para sorvermos um pouco deste mel que nos traz satisfação pessoal, encantamento e a descoberta da importância do leitor para a obra poética e do quanto de poesia existe em cada um de nós. Coisa que o nosso poeta Mário Quintana lança como alerta a nós todos no poema que segue:




Para lembrar o poeta Manoel de Barros que se foi para além do azul, onde continuará sua nobre missão de transver aquilo que daqui levou e que, com certeza, receberá novos olhares e interpretações, destacamos alguns poemas e frases que, entre nós, continuarão a oferecer o mel para seus ávidos leitores.










Viagem – Emílio Santiago 






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Comentários via Facebook:

Rosangela Guerrieri Pereira: Soninha, li tudo, gostei muito, a música que escolheste não poderia ser melhor. Parabéns.

Amelia Mari Passos: Soninha Athayde Aprecio muito suas crônicas, sempre nos levam a sentimentos bons. Manoel de Barros e Mário Quintana ... seu olhar, trouxe sensibilidade e leveza , complementado na excelente escolha da canção de Emilio Santiago.Obrigada querida.

Floreny Avila Ribeiro: Muito lindo,amiga.

Maria Odila Menezes: "Adocicar o nosso pensar..." E Tu Soninha! Adocicas nossos dias com teus pensamentos!! Adorei tua crônica, sábias e poéticas palavras! Parabéns!

Elizabeth Remor: Parabéns Soninha Athayde. Bela crônica, escrita com tua anima.Abraço dourado.

Zaira Cantarelli: Soninha Athayde tem uma maneira aguçada de escrever.