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terça-feira, 24 de abril de 2018

SIGNIFICADOS...




Há quem ainda se surpreenda. Para aqueles não habituados às lides da escrita: causa espanto. Nesse mundo das palavras, a avalanche de significados para uma mesma palavra é assombrosa.

De acordo com Othon M. Garcia, em seu livro Comunicação em Prosa Moderna, é o contexto que, a despeito da variedade de sentidos de que a palavra seja suscetível, lhe impõe um valor “singular”; é o contexto também que a liberta de todas as representações passadas, nela acumuladas pela memória, e que lhe atribui um valor “atual”.

Quando aquela água toda inundou a casa de Belinha, ela já uma garotinha, lembra bem. Aquela cena ficou guardada no baú da memória da menininha.

Hoje, fica surpreendida com a palavra “lavagem” usada, a torto e a direito, pelo noticiário. Vem-lhe à mente aquela cena de água em profusão. Confessa que tem feito um esforço para imaginar tantas notas de real, milhões de notas tomadas pela água.

Cadê a água, Belinha? Ninguém sabe: ninguém viu.

Belinha tem visto, ultimamente, malas e malas de notas de real: todas sequinhas.

Pois é! Esta lavagem nem de água precisa. Precisa, isto sim, de mãos imundas que as levem para tomar banho de “licitude”. De preferência, em outras terras.

Na sua casa, Belinha lembra ter havido um vazamento. Daí a inundação pela água ter ficado visível.

Agora, o vazamento não gerou inundação alguma. Gerou, sim, abertura das comportas de delações.

Cadê a água, Belinha? Nem na lavagem, nem no vazamento a pobre água apareceu.

Episódios bem sugestivos para Belinha voltar ao passado. Sua criancice torna-se cada dia mais um remédio contra estes novos significados para palavras tão suas conhecidas.

A propósito, um poema, que se aventurou a escrever, sobre PEDRAS registra a importância que dá para o significado metafórico, eivado de afeto e lirismo, desobrigado de qualquer lavagem para disfarçar seu conteúdo.






Ah, ia esquecendo!

E as Operações Estruturadas?

Que coisa mais sofisticada! Uma verdadeira organização em que as tarefas são divididas, organizadas e coordenadas, visando ao desvio de valores públicos para distribuição entre os membros da tal organização. Sempre com a aquiescência de setores públicos e privados, garantidores do chamado “investimento no comércio futuro”.

Belinha precisa aprender um pouco mais ainda sobre economia para entender melhor estas estratégias.

Pensando bem, não adiantaria.

Para tal, precisaria adentrar neste mundo lamacento que, aliás, é outro significado que se tem tornado muito atual em nossos dias.

Belinha acha melhor ficar com a poesia. Ela é que nos torna mais humanos na expressão dos sentimentos. E, com certeza, menos profissionais nas lides obscuras dos “capitais” sonegados da sociedade.

É! Belinha prefere enlamear-se de poesia. Ela, sim, é capaz de ser portadora de significantes plenos de significados elevados, bem mais reconhecidos e poeticamente relevantes a todos os amantes.

O poema, transcrito abaixo, apresenta uma água que traz uma missão nobre: tornar-se um oásis para quem deposita nela um olhar amoroso e já entregue.















domingo, 16 de novembro de 2014

CONSUMA... SEM MODERAÇÃO!


Encante-se com as nuanças das cores que brincam entre as nuvens. Elas escondem um sol sonolento que já dá sinais de exaustão depois de um dia escaldante. E nada melhor do que um bom descanso.

Acompanhe a aproximação do papagaio galanteador que se achega à parceira, sussurra algo e, juntos, bebem a água que se deposita na gateira próxima ao telhado, para voarem, logo após, ao refúgio noturno. E só eles sabem onde fica.

Exercite o ouvido com os mais diversos sons, ruídos e sussurros. Eles podem nos alegrar, nos alertar ou nos trazer cálidas lembranças. Precisamos muito delas. Elas nos alimentam, muitas vezes, mais do que um alimento próprio para tal.

Veja o que o vento enraivecido causa à árvore da esquina. E o que a leve brisa faz com as flores, recém-desabrochadas, daquele pé de jasmineiro.

Perceba o outro que perdeu o olhar no nada e nem lhe enxerga.

Atente que o hoje, às vezes, se parece com o ontem. Projete, se assim lhe aprouver, o hoje no amanhã. Ou o contrário. Você pode tudo.

Invente, reinvente, ressignifique, crie seu próprio dialeto para um mundo que se transforma a todo o instante. Assim, será mais fácil compreendê-lo e internalizá-lo do seu jeito. Afinal, somos individualidades pensantes. Precisamos apenas adocicar o nosso pensar, tornando palatáveis os novos comportamentos e atitudes.

Precisamos de muito açúcar para enfrentar o dia a dia com um renovado estoque de otimismo. Não aquele, o vilão da saúde, mas aqueloutro. Aquele que o poeta das insignificâncias, Manoel de Barros, chamava de mel das palavras: a poesia. Use dela em abundância. Ela reveste as palavras de significados diversos do habitual. Sendo assim, uma enseada, isto é, um aspecto da geografia do terreno, pôde se transformar na imagem de uma cobra de vidro mole que fazia a volta atrás da casa do poeta. E isto era para todos, que por ali moravam, apenas uma volta que o rio dava atrás da casa do poeta. Para ele, muito mais do que isto. Era a imagem de um animal vivo a circundar a sua propriedade. Nele era comum a coisificação do humano ou do animal e a humanização das coisas.

Como, por exemplo, em:

Borboleta é uma cor que avoa.

Para encontrar o azul eu uso pássaros.

Vi a manhã de pernas abertas para o Sol.


Poesia para ele “era a armação de palavras com um canto dentro, um gorjeio: daí a harmonia”.

Segundo ele a razão é a última coisa que deve entrar na poesia. Ela não serve para descrever, senão para descobrir e para ser incorporada através da imaginação que transvê o mundo.

O poeta, com sua sensibilidade, decodifica o que o olho simplesmente vê, a lembrança revê e ele com a imaginação, que lhe é peculiar, vai transver o mundo através das palavras. Seu único objetivo é produzir encantamento. Quem sabe, chegando ao grau de brinquedo retirado lá da infância, pois é lá, segundo Manoel de Barros, onde se encontra a melhor fonte de poesia que existe. Na verdade, porque troca o sentido das coisas. Talvez, por isso, se classificasse como o poeta das insignificâncias do mundo e das coisas.

Claro que o seu humor, sua ironia, por vezes, e o seu jeito de transver o mundo alçaram sua poesia, quer tenha querido ou não, a um patamar superior.

São suas estas palavras:

O poeta não tem compromisso com a verdade.

Senão que, talvez, com a verossimilhança.

Quem descreve não é dono do assunto.

Quem inventa é.


E quão importante foi como criador de palavras, desvirtuando-lhes o sentido original, fazendo uma artesania, como dizia, própria para revelar imagens através de palavras que se mostravam carentes para tanto. Daí a necessidade de criá-las incessantemente, através da percepção de imagens do cotidiano. De imagens das coisas menos significativas, das pequenas coisas que, no seu exercício de transver, transformavam-se em grandiosas e surpreendentes.

Deixou ele uma obra de um verdadeiro poeta. Aquele ser cuja natureza pensa por imagens e que aguça o olhar pela cosmovisão, como dizia ele próprio. E que foi capaz de afirmar:

Só as coisas rasteiras me celestam.


Com certeza, só um verdadeiro esticador de horizontes e um abridor de amanheceres pode nos adocicar e nos preparar para o enfrentamento diário com esta coisa rasteira que são os nossos problemas cotidianos: destituídos de qualquer encantamento para nós que não somos poetas.

Guardemos um tempo do dia para sorvermos um pouco deste mel que nos traz satisfação pessoal, encantamento e a descoberta da importância do leitor para a obra poética e do quanto de poesia existe em cada um de nós. Coisa que o nosso poeta Mário Quintana lança como alerta a nós todos no poema que segue:




Para lembrar o poeta Manoel de Barros que se foi para além do azul, onde continuará sua nobre missão de transver aquilo que daqui levou e que, com certeza, receberá novos olhares e interpretações, destacamos alguns poemas e frases que, entre nós, continuarão a oferecer o mel para seus ávidos leitores.










Viagem – Emílio Santiago 






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Comentários via Facebook:

Rosangela Guerrieri Pereira: Soninha, li tudo, gostei muito, a música que escolheste não poderia ser melhor. Parabéns.

Amelia Mari Passos: Soninha Athayde Aprecio muito suas crônicas, sempre nos levam a sentimentos bons. Manoel de Barros e Mário Quintana ... seu olhar, trouxe sensibilidade e leveza , complementado na excelente escolha da canção de Emilio Santiago.Obrigada querida.

Floreny Avila Ribeiro: Muito lindo,amiga.

Maria Odila Menezes: "Adocicar o nosso pensar..." E Tu Soninha! Adocicas nossos dias com teus pensamentos!! Adorei tua crônica, sábias e poéticas palavras! Parabéns!

Elizabeth Remor: Parabéns Soninha Athayde. Bela crônica, escrita com tua anima.Abraço dourado.

Zaira Cantarelli: Soninha Athayde tem uma maneira aguçada de escrever.