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domingo, 12 de julho de 2020

ESPERANDO O TEMPO PASSAR


Nesse tempo em que as notícias superam, negativamente, os momentos tranquilos, os esportes ganharam a primazia da assistência de telespectadores que passam seu tempo a assisti-los em suas várias modalidades.

Diante dessa realidade, um poeta, com certeza, terá melhor chance de expressar sua emoção.

Portanto, vamos a uma breve reflexão.




Ah! Ia esquecendo...

Belinha dá uma sugestão para o tempo passar mais depressa.

Faça do seu espaço, do seu campo como mandante, um reduto de livros, onde lê-los somará pontos, tornando-o vencedor.

Assim, este tempo, que o autor aguarda por leitura, diminuirá. Ambos, então, sairão vencedores neste campo do aprimoramento, do conhecimento, do prazer estético, do encontro de si com o outro e com a cultura que, sem dúvida, aprimora o ser humano, tornando-o mais humano e civilizado.





segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

UMA PALAVRA QUE FAZ A DIFERENÇA


Após tantas cenas impactantes, tantos momentos em que o tempo de um antes e um depois pode ser o fim de um caminhar, em que o olhar pode representar um desafio, enfrentado antes que a clareza se estabeleça e permita o diálogo, todos esses breves instantes tornaram-se parte da rotina de todos nós.

Sempre existiram, dirão alguns. Muitos outros, porém, observam um recrudescimento e um avolumar-se de situações extremamente estressantes. Poder-se-ia dizer que vivenciamos, hoje, uma passagem do tempo mais rápida, porque carente de harmonia, de encantamento, de prazer estético.

Percebe-se, salvo raras exceções, que os seres nascidos nestes novos tempos não mais pousam o olhar sobre a vida pulsante que a natureza nos oferece como espetáculo diário: tudo isto gratuitamente. O céu que nos cobre, as árvores que enfeitam nossas ruas, a chuva mansa que molha nossas vidraças, o som do vento acariciando nossos ouvidos, o sol que ilumina nossos dias, a lua, companheira noturna que, com o seu séquito de estrelas, embala nosso sono e que, também, é parceira de momentos amorosos que se guardam na memória: tudo isto é possível se pudermos nos adaptar aos avanços tecnológicos sem abandonar o puro prazer estético.

Para todos aqueles que percebem o impacto negativo que a carência dessas cenas acarreta a um viver cotidiano mais harmonioso, sugere-se que sejam resilientes e busquem no canto dos sabiás, pousados nas árvores que enfeitam nossas ruas, o reiterado esforço de seres que teimam em cantar, exaustivamente, para alertar os demais companheiros ou conquistar a amada, pousada logo ali, que aguarda o convite para juntos saírem voando para bem longe ou, quem sabe, para aquele caramanchão já tão conhecido. Ele que fica naquele terreno baldio: pronto para acolhê-los.

Ah! Quando o silêncio fizer parte do cenário: respeite-o. No silêncio, dizem, é que acontecem os melhores momentos a dois.

Para quem não teme a idade e encontrou nela momentos de realização pessoal, tudo é possível. Como exemplo, temos aquele cidadão de 65 anos de idade, português de nascimento, que corre de um lado para o outro, na beira do campo, gritando, dando ordens e sendo exemplo de competência e obstinação. Nem precisamos dizer seu nome. Todos sabem.

Da mesma forma obstinada, poder-se-ia citar nomes consagrados na música, na regência, no canto, na literatura e nas artes em geral.

O foco, porém, não são os nomes. O foco é o que os move, o que os mantêm firmes, com objetivos definidos e plenos no ato de criar, transformando as desilusões e agruras em páginas motivadoras para um viver cotidiano mais prazeroso.

Há uma palavra que, com certeza, faz parte do universo pessoal de cada um.

Resiliência é o seu nome.

A patronesse da Feira do Livro de Novo Hamburgo, edição 2019, é um exemplo dessa capacidade de ser resiliente às dificuldades que deve ter enfrentado ao longo de todo este tempo de vida. Isto, porém, não foi empecilho para que mantivesse seus sonhos vivos, indo sempre em busca de oportunidades de desenvolvimento pessoal. No alto de seus 103 anos de idade, Maria Emília de Mendonça acaba de publicar seu primeiro livro.

Sim, seu primeiro livro. Por que não? Um sonho que se tornou realidade. Histórias que compõem uma trajetória de vida. Com certeza, suas experiências servem de exemplo e motivação para os seus próximos, que são muitos, pois teve 7 filhas, e para os demais que lerem as narrativas literárias que fazem parte de sua biografia cujo título é Encontro das Águas. Possuidora de uma memória privilegiada, que permanece igual, diga-se de passagem, para fatos recentes. Surpresa pela indicação de seu nome, afirmou:

“Eu acho que vou ter que escrever outro livro para contar essa história maravilhosa”.


Uma palavra, tão em voga, serve para qualificar figuras que despontam no cenário cotidiano e que servem de exemplos a tantos outros desconhecidos que compõem este tecido social, por ora, tão fragilizado. Um tecido que parece romper-se a todo instante e que vai exigir que esta palavra seja usada constantemente. Embora diante de um quadro preocupante, um ser resiliente é capaz de readquirir o equilíbrio emocional suficiente para fazer frente a todo o tipo de pressão.

Acredito que, de verdade, um ser resiliente, que é ter esta capacidade de manter uma visão positiva diante da vida e dos percalços que ela proporciona, torna-se mais resistente fisicamente.

Entenda-se que ser resiliente também é adaptar-se aos avanços da tecnologia, embora não deixando que a tela fria possa assenhorear-se do nosso olhar humano que enxerga o semelhante como um irmão e, portanto, capta pelo olhar as emoções que os unem, que os fazem humanos e não máquinas ou meros olhares robóticos. É o que se almeja construir através da leitura, de uma educação inclusiva, humanizada e redentora: capaz de verter lágrimas de felicidade pelo encantamento com o belo e com a natureza que nos cerca. Tudo objetivando alcançar as mais variadas áreas do conhecimento.

Que o firmamento, esse ainda desconhecido, continue servindo de inspiração, pois a curiosidade e a imaginação criadora lá irão encontrar motivos para o desabrochar de cientistas, músicos, poetas, escritores, artistas e todos os demais que, cá embaixo, resistem, através da sua capacidade de resiliência, à destruição dos sonhos e das capacidades humanas em prol do bem comum.








sábado, 24 de novembro de 2018

ADIANTA, SIM!


Pela rua, com uma pequena mochila às costas, caminhava e falava. Não gesticulava. Apenas falava. Às vezes, num tom mais alto. As palavras eram repetidas à exaustão. Tive minha atenção despertada, pois eu caminhava alguns passos atrás. Ao ultrapassá-lo, lentamente, pude observar que não portava celular, nem fones de ouvido. Questionava o fato, demonstrando não se conformar com o ocorrido.

E o que ocorrera?

Parece que haviam roubado um verso. Mais precisamente o 5° verso.

Exasperado, repetia e repetia:

-Roubaram o quinto verso. Não adianta escrever!

Incrível ter ouvido esta frase de um transeunte sozinho, andando por uma calçada do bairro onde moro, longe de onde eles, os versos, flutuam por entre os jacarandás da praça que os acolhe.

Quem teria roubado o tal 5º verso?

De qual poema?

Quem seria o seu autor?

O próprio transeunte?

Ou estaria ele impregnado pela atmosfera de magia, própria daquela praça “dos livros”, que foi capaz de torná-lo tão imaginativo a ponto de transformar-se em um poeta.

Estaria nascendo um novo poeta?

Afinal, cantar e escrever, dizem, é só começar.

E quem teria roubado o seu 5º verso?

Seria apenas imaginação sua?

Quem sabe, uma desculpa para não escrever. Teria tentado escrever um poema, mas ao ver-se sem ideia alguma para tanto, alardeava, agora, que não escreveria mais. Seria apenas uma desculpa para encobrir a sua incapacidade.

Pessoalmente, não creio nessa possibilidade.

Um poema pode nascer desse seu caminhar que se deixa acompanhar pela sua própria voz. Basta sentir desperta esta vontade de expressar-se. E o verbo roubar, talvez, esteja tão em moda que o usou querendo dizer que este 5º verso sumiu da publicação. Um problema da editora.

Brincadeiras à parte, talvez o poema INSPIRAÇÃO represente, de forma plena, o amálgama entre o poeta e a sua criação. Uma completude que o sustenta, que o alimenta e que dá frutos para quem de sua obra puder sorvê-la.

Imagine se, acaso, sumisse o meu 5° verso da estrofe que segue. Ficaria ela, a Poesia, sem a definição do que ela é pra si mesma. Raciocínio que se completa no verso seguinte.

Ela, com certeza, é muito pra mim mesma, pois ela própria reforça a certeza de ser tudo pra mim.

Acompanhe a segunda estrofe e seu 5º verso:


Eu sou tua amada transfigurada.

Eu sou tua inspiração.

Então, vê se, qualquer dia,

Busca, em outra amada, mais do que sou:

Porque eu sou apenas POESIA.

Mas sou TUDO pra ti.


E se esta aprendiz de poeta, neste outro poema, descobrisse o sumiço do 5º verso que encerra a última estrofe do seu poema POETAR. Veja a falta que faria.


É saber-se artífice da palavra,

Mas não seu dono.

Pois essa arte de sua lavra,

Se a muitos puder encantar,

Aí, sim, valerá a pena poetar.



Agora, impensável seria o sumiço dos 5ºs versos do poema ISTO, do poeta/maior Fernando Pessoa. Imaginem a falta da confissão poética que tudo esclarece ao final.



(Poesia Completa, página 165)




Por isso, meu conselho ao transeunte/poeta é que persevere porque de uma perda poderá nascer uma ideia que resgatará esta frustração. Uma nova inspiração, um novo olhar, outro ângulo, outro enxergar.

Tenho pra mim que a atmosfera da Feira do Livro desceu sobre esta cidade uma aragem renovada, plena de emoções afloradas.

Todos ganharam. Os que escrevem, aqueles que leem, aqueles que apenas circulam, timidamente, por entre as bancas, mas absorvem as sensações que encontram pelo caminho, bem como as conversas que despertam a atenção.

Alguns, quem sabe, sentirão despertados em si o poder criador pela necessidade de exprimir suas emoções, preenchendo aquela folha em branco que há tempo jaz sobre a escrivaninha.

Outros se perderão no meio de tantos livros comprados, mas que serão apreciados pela leitura rotineira.

Aos que habitualmente escrevem, com certeza, terão seu prazer recompensado pela leitura e exposição de seus livros àqueles muitos que puderem encantar.

E ao nosso transeunte/poeta, que vive “off-line”, parece este mês de novembro ter trazido a ele a possibilidade de sentir-se poeta: o que não é de todo mau negócio.

Dizem alguns que “de poeta e louco todos têm um pouco”.

E isto ficou provado neste encontro inusitado com alguém que perdera o 5° verso.

Acredito, porém, que tenha ganhado momentos de êxtase com sua criação mental: o que já é um bom início para o nascimento de um poeta.

Portanto, siga em frente!

Afirmo com convicção, meu caro transeunte/poeta:

ADIANTA, SIM!


Pois, saiba que versos, mesmo sendo “Simples Versos”, feitos de coração, são um presente para quem os recebe. Veja o que a música VERSOS SIMPLES, cantada por uma das componentes do Grupo Chimarruts (vídeo abaixo), deixa como recado a todos nós.



Versos Simples - Chimarruts









quarta-feira, 5 de outubro de 2016

DE RETROVISORES, PORTÕES, PAREDES E CAMINHOS FLORIDOS.






Conhecido no bairro há muito tempo, lá vem ele empurrando o carrinho com sobras que vai recolhendo pelo caminho. Vez por outra, a mão fechada aproxima-se do nariz, num típico ato de quem cheira algo. Sim, é uma substância que lhe detona o corpo, mas que o mantém falante. Conhece todos pelas ruas por onde passa. Dá “oi” aos conhecidos mais antigos. Porém, por vezes, descola-se da realidade que o circunda e conversa com o retrovisor de um carro parado. Dialoga com um portão que o acolhe por instantes.

São histórias que vai criando ao sabor da imaginação, ao estado de espírito do momento, com perguntas e respostas cujo enredo vai construindo.

Quem o conhece e o assiste “cheirar”, frequentemente, não se surpreende com estas conversas dirigidas a alguém, digamos, virtual. Credito este comportamento aos efeitos nocivos da droga.



Surpreendente, porém, é encontrar a cena que segue.

Encostada à parede, fala em voz alta. É perfeitamente audível e compreensível o diálogo que desenvolve. Calça botas e está bem vestida. Em torno de quarenta anos, é a idade que aparenta. Com papéis nas mãos, questiona e responde o que lhe perguntam. Às vezes, demonstra exasperação. Em outros momentos, parece dar maior atenção ao que ponderam. Por vezes, desencosta da parede e caminha alguns passos. Retorna, porém, à posição inicial. De quando em vez, apresenta suas razões com veemência, alterando o tom de voz.

Alguns passantes a ignoram. Outros detêm o olhar sobre ela, imaginando alguma situação de conflito que esteja acontecendo.

Há quem, porém, tenha se detido com mais atenção a esta cena. E juntou-se a outro alguém que já estava, há mais tempo, observando a tal senhora. O primeiro observador concluiu que a conversa, que já se estendia por um bom tempo, era uma conversa totalmente virtual.

Ante a surpresa do recém-chegado observador, que imaginava existir um celular escondido sob a roupa, bem como um fone de ouvido, pôde ele ver quando a loquaz senhora dirigiu-se à parede de vidro, empunhando o tal papel e mostrando o que nele havia escrito. Tudo como se olhos dali brotassem e pudessem ler o que ali estava escrito. Esta cena aconteceu em um supermercado da nossa Capital. E esta pessoa não parecia ter envolvimento com drogas.

Ah! Segundo um funcionário do supermercado, ela é conhecida por tal comportamento.

Algo surreal! Ou melhor, tão real àquela mente que o Pokémon GO estaria já defasado no tempo. Uma realidade virtual que dispensaria o aplicativo, porque construído e elaborado na própria mente do indivíduo.

É muita loucura? É!!!

Mas o que dizer de quem procura o tal bonequinho por lugares tão estranhos como junto a minas terrestres? Ou do outro lado da rua, na lateral direita de um poste? E que, para lá chegar, desconecta-se do que está ao redor e numa volúpia de alcançar o tal boneco atravessa a rua sem olhar para os lados?

A realidade virtual é, sem dúvida, um avanço tecnológico de grande utilidade, por exemplo, na medicina e em outros campos do saber. Ela está presente em nossa vida toda vez que projetamos um elemento virtual em nosso mundo de verdade.



Pois é! Quanto ao catador de quase tudo o que encontra, a sua realidade mistura-se à imaginação desaguando numa realidade mais rica, pelo menos para ele. Por que não? É criatura e criador ao mesmo tempo!

E a senhora do supermercado? Acredito que vá pelo mesmo caminho. É criadora e criatura igualmente. Cada um em um território totalmente pessoal e único.

Para que Pokémon? Para que realidade aumentada?



Eu, apostando no hardware e software internos, prefiro caminhar pelo parque descobrindo por trás de alguma árvore, de repente, um cachorro vira-lata marcando território.

Ou, quem sabe, na curva do caminho, esbarre num olhar mais atento, promissor até. Ou, ainda, um conhecido, de há muito, que inicia por um “oi” uma nova aproximação.

Melhor mesmo é caminhar de mãos dadas com aquele alguém. Outra possibilidade é, também, caminhar de mãos dadas com o vento. Ele poderá nos conduzir, mansamente, para a próxima curva do caminho onde nos aguarda a surpresa pelo inusitado: um tapete de flores onde nosso software vai colorir uma nova narrativa para mais um dia no parque.

Somos criaturas criadoras que percorrem caminhos diversos. Nossa origem, porém, é igual na essência.

E quando O VENTO transforma-se em música, como no vídeo abaixo, sua letra apenas confirma a origem que a nós todos une.







Os Monarcas – O Vento