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segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

UMA PALAVRA QUE FAZ A DIFERENÇA


Após tantas cenas impactantes, tantos momentos em que o tempo de um antes e um depois pode ser o fim de um caminhar, em que o olhar pode representar um desafio, enfrentado antes que a clareza se estabeleça e permita o diálogo, todos esses breves instantes tornaram-se parte da rotina de todos nós.

Sempre existiram, dirão alguns. Muitos outros, porém, observam um recrudescimento e um avolumar-se de situações extremamente estressantes. Poder-se-ia dizer que vivenciamos, hoje, uma passagem do tempo mais rápida, porque carente de harmonia, de encantamento, de prazer estético.

Percebe-se, salvo raras exceções, que os seres nascidos nestes novos tempos não mais pousam o olhar sobre a vida pulsante que a natureza nos oferece como espetáculo diário: tudo isto gratuitamente. O céu que nos cobre, as árvores que enfeitam nossas ruas, a chuva mansa que molha nossas vidraças, o som do vento acariciando nossos ouvidos, o sol que ilumina nossos dias, a lua, companheira noturna que, com o seu séquito de estrelas, embala nosso sono e que, também, é parceira de momentos amorosos que se guardam na memória: tudo isto é possível se pudermos nos adaptar aos avanços tecnológicos sem abandonar o puro prazer estético.

Para todos aqueles que percebem o impacto negativo que a carência dessas cenas acarreta a um viver cotidiano mais harmonioso, sugere-se que sejam resilientes e busquem no canto dos sabiás, pousados nas árvores que enfeitam nossas ruas, o reiterado esforço de seres que teimam em cantar, exaustivamente, para alertar os demais companheiros ou conquistar a amada, pousada logo ali, que aguarda o convite para juntos saírem voando para bem longe ou, quem sabe, para aquele caramanchão já tão conhecido. Ele que fica naquele terreno baldio: pronto para acolhê-los.

Ah! Quando o silêncio fizer parte do cenário: respeite-o. No silêncio, dizem, é que acontecem os melhores momentos a dois.

Para quem não teme a idade e encontrou nela momentos de realização pessoal, tudo é possível. Como exemplo, temos aquele cidadão de 65 anos de idade, português de nascimento, que corre de um lado para o outro, na beira do campo, gritando, dando ordens e sendo exemplo de competência e obstinação. Nem precisamos dizer seu nome. Todos sabem.

Da mesma forma obstinada, poder-se-ia citar nomes consagrados na música, na regência, no canto, na literatura e nas artes em geral.

O foco, porém, não são os nomes. O foco é o que os move, o que os mantêm firmes, com objetivos definidos e plenos no ato de criar, transformando as desilusões e agruras em páginas motivadoras para um viver cotidiano mais prazeroso.

Há uma palavra que, com certeza, faz parte do universo pessoal de cada um.

Resiliência é o seu nome.

A patronesse da Feira do Livro de Novo Hamburgo, edição 2019, é um exemplo dessa capacidade de ser resiliente às dificuldades que deve ter enfrentado ao longo de todo este tempo de vida. Isto, porém, não foi empecilho para que mantivesse seus sonhos vivos, indo sempre em busca de oportunidades de desenvolvimento pessoal. No alto de seus 103 anos de idade, Maria Emília de Mendonça acaba de publicar seu primeiro livro.

Sim, seu primeiro livro. Por que não? Um sonho que se tornou realidade. Histórias que compõem uma trajetória de vida. Com certeza, suas experiências servem de exemplo e motivação para os seus próximos, que são muitos, pois teve 7 filhas, e para os demais que lerem as narrativas literárias que fazem parte de sua biografia cujo título é Encontro das Águas. Possuidora de uma memória privilegiada, que permanece igual, diga-se de passagem, para fatos recentes. Surpresa pela indicação de seu nome, afirmou:

“Eu acho que vou ter que escrever outro livro para contar essa história maravilhosa”.


Uma palavra, tão em voga, serve para qualificar figuras que despontam no cenário cotidiano e que servem de exemplos a tantos outros desconhecidos que compõem este tecido social, por ora, tão fragilizado. Um tecido que parece romper-se a todo instante e que vai exigir que esta palavra seja usada constantemente. Embora diante de um quadro preocupante, um ser resiliente é capaz de readquirir o equilíbrio emocional suficiente para fazer frente a todo o tipo de pressão.

Acredito que, de verdade, um ser resiliente, que é ter esta capacidade de manter uma visão positiva diante da vida e dos percalços que ela proporciona, torna-se mais resistente fisicamente.

Entenda-se que ser resiliente também é adaptar-se aos avanços da tecnologia, embora não deixando que a tela fria possa assenhorear-se do nosso olhar humano que enxerga o semelhante como um irmão e, portanto, capta pelo olhar as emoções que os unem, que os fazem humanos e não máquinas ou meros olhares robóticos. É o que se almeja construir através da leitura, de uma educação inclusiva, humanizada e redentora: capaz de verter lágrimas de felicidade pelo encantamento com o belo e com a natureza que nos cerca. Tudo objetivando alcançar as mais variadas áreas do conhecimento.

Que o firmamento, esse ainda desconhecido, continue servindo de inspiração, pois a curiosidade e a imaginação criadora lá irão encontrar motivos para o desabrochar de cientistas, músicos, poetas, escritores, artistas e todos os demais que, cá embaixo, resistem, através da sua capacidade de resiliência, à destruição dos sonhos e das capacidades humanas em prol do bem comum.