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sábado, 27 de junho de 2020

OLHANDO PARA O CÉU



Belinha sempre buscou, lá, inspiração. E continua igual como outrora.

Por incrível que pareça, talvez, hoje, acredita ter os sentidos ainda mais apurados apesar do tempo já transcorrido.

Aquele voo e canto dos pássaros, que visitam seu bairro, são seus companheiros cotidianamente. O bater das asas, próximo às janelas, aponta que o dia já rompeu, que o amanhecer se faz presente.

Movimento e canto beneficiam nosso corpo e mente e nos impulsionam ao belo, ao prazer estético, ao entender-se melhor como ser humano.

Quando o amanhecer apresenta nuvens ameaçadoras, sabe-se que elas despejarão, logo adiante, uma chuva benfazeja que nutre nossos campos. Aquela chuva que escorre pela vidraça e que banha, igualmente, nossos olhos com esperança de que se possa tornar mais limpo e claro o nosso caminhar.

Olhar para o céu é sempre uma possibilidade de nos surpreender.

E o movimento das nuvens é algo inspirador e criativo a quem se detém a acompanhar seu trajeto. Figuras e imagens que navegam para todos os lados, em que o Sol também participa.

Ultimamente, porém, olhar para o céu tornou-se uma prática nada tranquila, nem inspiradora.

Teme-se a chegada de uma nuvem que esconderá as nossas conhecidas nuvens, trazendo uma praga que já esteve por aqui, em 1917.

O som que a acompanhará não será melodioso, nem inspirador. Será, ao que tudo indica, um som ensurdecedor, que causará pânico entre aqueles que estiverem sob esta nuvem. Gafanhotos famintos que poderão devorar lavouras, plantações e que assustarão os moradores da cidade próxima onde pousarem.

Dizer dessa invasão o quê?

Que teve a participação do ser humano? Talvez, sim. Pelo descaso com a Natureza que se transforma e que não a cuidamos como devíamos.

E aquela outra nuvem, a de poeira desértica que vem do Saara? Bem, esta parece ser anual e até benéfica para a floresta amazônica. O que se observou este ano, porém, foi que seu volume aumentou consideravelmente.

É a Natureza em movimento. E isto interfere em nossas vidas, pois vivemos nela e nos abastecemos dela. Devemos, portanto, cuidá-la.

Enquanto esta nuvem, talvez, não chegue até o nosso Rio Grande, eu, na minha Porto Alegre, ilumino meu olhar com as belas flores dos Ipês que florescem nesta fase do ano. E são tantas as linhagens, tantas as cores. Eu prefiro o Rosa, mas a árvore considerada símbolo do Brasil é o Ipê-Amarelo.

Belas cores que enfeitam o nosso inverno, tornando-o menos rigoroso, pois estas flores adornam nossas calçadas e praças.

Se as coisas por aqui, por baixo, andam em ebulição, quem sabe aprendamos com as nuvens que o movimentar-se é uma constante e que, somente assim, vamos nos adequando às circunstâncias e pondo em execução projetos que beneficiem a todos que estão sob estes céus que nos cobrem: pelos continentes afora.

Elas apontam, ensinam e, também, quem sabe, observam.








quarta-feira, 5 de outubro de 2016

DE RETROVISORES, PORTÕES, PAREDES E CAMINHOS FLORIDOS.






Conhecido no bairro há muito tempo, lá vem ele empurrando o carrinho com sobras que vai recolhendo pelo caminho. Vez por outra, a mão fechada aproxima-se do nariz, num típico ato de quem cheira algo. Sim, é uma substância que lhe detona o corpo, mas que o mantém falante. Conhece todos pelas ruas por onde passa. Dá “oi” aos conhecidos mais antigos. Porém, por vezes, descola-se da realidade que o circunda e conversa com o retrovisor de um carro parado. Dialoga com um portão que o acolhe por instantes.

São histórias que vai criando ao sabor da imaginação, ao estado de espírito do momento, com perguntas e respostas cujo enredo vai construindo.

Quem o conhece e o assiste “cheirar”, frequentemente, não se surpreende com estas conversas dirigidas a alguém, digamos, virtual. Credito este comportamento aos efeitos nocivos da droga.



Surpreendente, porém, é encontrar a cena que segue.

Encostada à parede, fala em voz alta. É perfeitamente audível e compreensível o diálogo que desenvolve. Calça botas e está bem vestida. Em torno de quarenta anos, é a idade que aparenta. Com papéis nas mãos, questiona e responde o que lhe perguntam. Às vezes, demonstra exasperação. Em outros momentos, parece dar maior atenção ao que ponderam. Por vezes, desencosta da parede e caminha alguns passos. Retorna, porém, à posição inicial. De quando em vez, apresenta suas razões com veemência, alterando o tom de voz.

Alguns passantes a ignoram. Outros detêm o olhar sobre ela, imaginando alguma situação de conflito que esteja acontecendo.

Há quem, porém, tenha se detido com mais atenção a esta cena. E juntou-se a outro alguém que já estava, há mais tempo, observando a tal senhora. O primeiro observador concluiu que a conversa, que já se estendia por um bom tempo, era uma conversa totalmente virtual.

Ante a surpresa do recém-chegado observador, que imaginava existir um celular escondido sob a roupa, bem como um fone de ouvido, pôde ele ver quando a loquaz senhora dirigiu-se à parede de vidro, empunhando o tal papel e mostrando o que nele havia escrito. Tudo como se olhos dali brotassem e pudessem ler o que ali estava escrito. Esta cena aconteceu em um supermercado da nossa Capital. E esta pessoa não parecia ter envolvimento com drogas.

Ah! Segundo um funcionário do supermercado, ela é conhecida por tal comportamento.

Algo surreal! Ou melhor, tão real àquela mente que o Pokémon GO estaria já defasado no tempo. Uma realidade virtual que dispensaria o aplicativo, porque construído e elaborado na própria mente do indivíduo.

É muita loucura? É!!!

Mas o que dizer de quem procura o tal bonequinho por lugares tão estranhos como junto a minas terrestres? Ou do outro lado da rua, na lateral direita de um poste? E que, para lá chegar, desconecta-se do que está ao redor e numa volúpia de alcançar o tal boneco atravessa a rua sem olhar para os lados?

A realidade virtual é, sem dúvida, um avanço tecnológico de grande utilidade, por exemplo, na medicina e em outros campos do saber. Ela está presente em nossa vida toda vez que projetamos um elemento virtual em nosso mundo de verdade.



Pois é! Quanto ao catador de quase tudo o que encontra, a sua realidade mistura-se à imaginação desaguando numa realidade mais rica, pelo menos para ele. Por que não? É criatura e criador ao mesmo tempo!

E a senhora do supermercado? Acredito que vá pelo mesmo caminho. É criadora e criatura igualmente. Cada um em um território totalmente pessoal e único.

Para que Pokémon? Para que realidade aumentada?



Eu, apostando no hardware e software internos, prefiro caminhar pelo parque descobrindo por trás de alguma árvore, de repente, um cachorro vira-lata marcando território.

Ou, quem sabe, na curva do caminho, esbarre num olhar mais atento, promissor até. Ou, ainda, um conhecido, de há muito, que inicia por um “oi” uma nova aproximação.

Melhor mesmo é caminhar de mãos dadas com aquele alguém. Outra possibilidade é, também, caminhar de mãos dadas com o vento. Ele poderá nos conduzir, mansamente, para a próxima curva do caminho onde nos aguarda a surpresa pelo inusitado: um tapete de flores onde nosso software vai colorir uma nova narrativa para mais um dia no parque.

Somos criaturas criadoras que percorrem caminhos diversos. Nossa origem, porém, é igual na essência.

E quando O VENTO transforma-se em música, como no vídeo abaixo, sua letra apenas confirma a origem que a nós todos une.







Os Monarcas – O Vento 









sexta-feira, 10 de outubro de 2014

UMA SOMA VALIOSA

Uma parede de hortênsias adornava a janela do quarto. Belas flores azuladas também cobriam a parede lateral da casa, que se enfeitava ao longo de praticamente o ano inteiro. Tudo para contrastar com a cor da parede verde-musgo e com uma janela de cor verde-clara, parecendo mar. Vez por outra, apareciam algumas florzinhas cor-de-rosa, para ainda mais bonito ficar o conjunto. 

Uma imagem fotografada pelo olhar ao longo dos anos. Registrada para sempre ficou. Tornou-se repetida em desenhos com paisagens que Aninha reproduzia, quando solicitada pela professora nas aulas de desenho. Seus desenhos de céus e morros verdejantes primavam pelos azuis e verdes intensos, embora as hortênsias não aparecessem. Restara apenas a combinação de cores e a sua intensidade.

Aninha e a Natureza sempre dialogaram muito bem. Embora citadina, a sensibilidade para o movimento seu e de outros seres a sua volta sempre esteve presente. Os sentidos aguçados sempre tiveram lugar na primeira classe de suas observações e sensações.

Como explicar o ouvido tão apurado a ponto de ouvir uma folha seca bater de encontro ao chão? 

E os barulhos e sons facilmente percebidos e diferenciados por ouvidos tão despertos?

E o cheiro de terra molhada a prenunciar chuva próxima, detectado a tempo de correr a recolher as bonecas para lugar seguro?

E o constante colocar-se na ponta dos pés como se uma dança estivesse por iniciar-se a qualquer momento? O pediatra reconhecera, à época, que a tal menina seria uma boa dançarina, tranquilizando a mãe preocupada com este gesto habitual da filha. Tal ritmo à flor da pele seria fundamental nas aulas de música, que se sucederiam anos após.

E o que dizer da Mindinha?

Entre frutas, hortaliças e galinhas, ela, a Mindinha, sobressaía como a preferida da menina. De tão velhinha, um dia desapareceu. Ao que parece, foi entregue a uma vizinha para que não fosse sacrificada pela família de Aninha. Lá, deve ter se transformado em um suculento prato.

As emoções iam-se somando e capacitando Aninha ao enfrentamento com o inesperado.

E a Isabel, vizinha de cerca, com quem trocava aneizinhos que acompanhavam as balas azedinhas da época? 

E a colmeia de abelhas, bem no fundo do pátio? Aquele zumbido que Aninha respeitava, não chegando próximo por cautela?

E o canto do galo junto à cerca do vizinho? Altissonante, esbanjando charme, com aquela crista bem vermelha, não deixando dúvidas de quem era o mandachuva por ali? Parecido com alguns humanos. Aninha até lembrou-se daquela música chamada Bicho Gente, do CD Arca de Noé, de Kleiton e Kledir, que diz:

“Todo mundo é um pouco bicho, todo bicho é um pouco gente, tem olho, tem nariz, tem dente, tem pai e mãe e até parente, tem amor que nem a geeente!” 

E o que dizer da habilidade de andar de bicicleta de duas rodas pelo pátio, em meio a tudo isso?

E o jardim com rosas plantadas, que abrigava uma gruta com a imagem de Nossa Sra. Aparecida?

E a mãozinha que sentia a aspereza do salpique de cimento que revestia o poço?

E a figueira, que dava figo de verdade todos os anos, com um balanço bem ao lado que oferecia colo para Aninha, enquanto ela dava o seu para a boneca Mariazinha nanar bem devagarzinho?



Imagens, sons, cheiros, sensações: um universo real que se tornava lúdico a cada amanhecer.

Experiências que sedimentam lembranças, permitindo manter olhares sempre renovados sobre o que nos cerca. Tudo, a cada dia, será novo se o lúdico permanecer em nós. Ao que parece, a interação entre Aninha e todo o universo ao seu alcance continua capaz de fazê-la alçar voos para aquele outro, não visível, mas que a acompanha durante o sono daquela criança, que ainda persiste.

Emocionar-se com a melodia de uma sinfonia, ou com uma nuvem que desliza ao sabor do vento, é produto de sensibilidade despertada bem antes, ainda na época em que o olhar se detinha nas imagens oferecidas no seu entorno.

Neste conjunto de vivências, caberá aos pais fornecerem orientação sobre justiça, caráter, honestidade e demais valores necessários ao bem coletivo. 

Daí a importância de que às crianças sejam fornecidos meios e situações vivenciais que, juntos, formarão uma soma valiosa, capaz de propiciar elementos de qualidade para o futuro que a elas pertence.

A rua poderá tornar-se menos perigosa se conseguirmos buscar no lastro de qualidade, cultivado na infância, os passos corretos para encontros que valham a pena.

Quanto aos elementos modernos de comunicação, caberá, novamente, aos pais a dosagem adequada, pois a interação pessoa/pessoa deverá priorizar o diálogo à frieza e ao automatismo das máquinas. Ainda não se inventou nada melhor do que o homem. Devemos continuar apostando em seu potencial humano, para que se torne mais humanizado a cada dia.

Um Feliz Dia das Crianças para nós todos que ainda conseguimos manter um espírito brincalhão: apesar de tudo.



E, agora, um haicai pra Aninha comemorar este já tão distante O PÁTIO, guardado na lembrança, mas ainda presente no seu universo lúdico: como se fosse hoje.




Bicho Gente – Kleiton e Kledir





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Amelia Mari Passos: "Tornar o cotidiano lúdico é uma tarefa e tanto." Uau. Gostei. Conheci teu blog. Bravo!