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domingo, 2 de agosto de 2009



E POR FALAR EM INSETOS...


Pois lá pelos idos de 1930, contava Dona Isaura, era comum, pras bandas de Santa Maria da Boca do Monte, aparecer, vez por outra, uma praga temida por todos. Os principais prejudicados eram os agricultores daquela região. As plantações ficavam devastadas. Por onde passavam, iam picotando o que encontravam. As autoridades até conseguiam avisar da invasão. Mas pouco se podia fazer. Eram os temidos gafanhotos vindos da Patagônia. Aliás, na época, dizia-se que tudo o que não prestava vinha da Argentina.

Dona Isaura lembrava de uma vez que os ditos tomaram de assalto não só a área rural como, principalmente, a cidade. Foi algo nunca visto antes. Chegavam aos magotes. Entravam janelas adentro, pelas frestas, por qualquer vão aberto. O pátio da casa onde morava foi tomado pelos bichos que, para azucrinar mais ainda os moradores, emitiam, ao baterem umas asas nas outras, um som sibilante.

As praças e os passeios transformaram-se num tapete esverdeado, para desespero de quem precisava sair à rua. Depois de algumas horas, os tais levantaram acampamento deixando um rastro de destruição.

Com o tempo, acredita Dona Isaura, medidas sanitárias foram tomadas por nossos vizinhos e tais invasões começaram a rarear, terminando por fim.

Vejam o estrago que faziam os tais gafanhotos naquela época!

Hoje, temos as baratas, as moscas, os mosquitos, as muriçocas. E por aí...

As baratas, dizem os entendidos, resistirão aos finais dos tempos. Mas, pelo menos, permanecem escondidas durante o inverno. No verão, apelamos para um spray “mata tudo”. E estamos conversados.

Já com os mosquitos, se bobearmos, acabamos morrendo, sem apelação, de tudo quanto é tipo de febre. Mas as vacinas estão aí para nos proteger. Pelo menos é o que se pensa. Desse jeito, vamos levando...

Quanto às moscas, estão se tornando presas fáceis. Já estão domesticadas. Às vezes, batemos com a pazinha próximo a alguma, para que ela vá avisar as outras do risco que está a correr. Vez por outra, funciona. Porém, quando a dita encontra um tipo Baraca pela frente, sucumbe sem nem saber de onde veio o tapa.

Quer dizer, tudo parece sob controle.

Agora, tem alguém que resolveu, ainda no século passado, criar uma subespécie do inseto chamado marimbondo, também conhecido por “maribondo”, que sofreu séria mutação e que vem nos assolando já há algum tempo.

Pois não é que os ditos assumiram uma cor mais avermelhada que os demais de sua espécie. São, por assim dizer, seres alados, constituídos de puro fogo, a voejar por sobre alguns lugares, em especial. Quando menos se espera, eles aparecem. Os lugares de ataque são, geralmente, muito parecidos uns com os outros. Tais recintos são frequentados por pessoas diferentes das demais. Poder-se-ia dizer: incomuns. Uma espécie de casta superior é o que seriam.

Pois é nesses redutos que tais insetos escolhem suas vítimas e as sangram, picam e devoram. Os “escolhidos” tornam-se tão carentes de virtudes que acabam se tornando definitivamente “incomuns”. Deixam de ser comuns. Tornam-se diferentes de seus súditos. Esses, permanecem, para sempre, comuns e com algumas virtudes. Aqueles, galgam patamares nunca dantes imaginados. E nessa posição, vão soçobrando num mar de lama. Quando dão por si, estão na boca dos súditos, que os achincalham. Seus pares, que também se entredevoram, vez por outra, os deixam sozinhos, tal o comprometimento desses pobres. E nesse ninho de cobras, os tais maribondos vão deitando o seu veneno, tão letal quanto a peçonha que se espalha pelos majestosos salões.

A situação torna-se tão insustentável que nem medidas sanitárias, como as adotadas com os gafanhotos, funcionam. São inócuas. Pois, está a falar-se de humanos.

Que pena! Nascemos, todos, puros e inocentes.
Mas, por motivos que aqui não interessa suscitar, transformamo-nos em presas fáceis de nossas próprias fraquezas.
E há quem diga que são felizes. Mas não são. Ao fim e ao cabo, tornam-se tão pequenos frente a si mesmos, que não mais podem aquietar-se. Tornam-se insones. E como zumbis procuram, em vão, o caminho do qual se perderam. E não mais o encontram.

E como consta na Homilia do Juízo Final

TENHO um encontro com Deus:
- José!
onde estão tuas mãos que eu enchi
de estrelas?
- Estão aqui, neste balde de juçaras
e sofrimentos.

Ou, alterando-se o final:
- Estão aqui, neste balde de juçaras, sofrimentos e, quem sabe, de arrependimento...

É o que os súditos imaginam que possa acontecer. Mas, nunca se sabe.
Nesse caso, parece que o criador será tragado pelas criaturas. E, desde já, clama por perdão.

IRMÃOS:
Perdoai-me.
O sonho da morte é uma nuvem
que não cobre as eternas noites da vida.

E é assim que deve andar esse ser. Estão se tornando eternas essas noites da vida.

Na verdade, consta que o outro Criador, o verdadeiro, instalará uma CPI para investigar essa criatura.
Nessa, os súditos acreditam e assinam embaixo.
Aguarda-se, é claro, o momento exato para instalá-la.
Seus súditos anseiam por esse desfecho.
Porém, quanto aos resultados dessa Comissão, por óbvio, ninguém saberá.
Pois é, as daqui dão em nada. As de lá, ninguém consegue saber os resultados.

Então, deixa pra lá...
Obs: Os destaques em itálico correspondem a trechos do livro Os Maribondos de Fogo.