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quarta-feira, 13 de maio de 2009

UMA HOMENAGEM

 

Sobe-se uma pequena rampa que leva ao lugar procurado por todos que dele necessitam. E todos estão meio apressados quando lá chegam.

Ao adentrar-se, como que resplandece todo o recinto. Inunda-se de luz. Exala dali, também, um perfume.

Maitê, quando lá esteve, constatou, por algum tempo, que as pessoas, ao entrarem, comentavam entre si ou murmuravam consigo mesmas expressões tipo:

-Que cheirinho bom! Que cheiro gostoso! Hum...!

As paredes revestidas de plaquetas brancas, muito limpas, demonstram o asseio com que são tratadas. De cada um dos vãos, que dividem as pequenas janelas, pendem vasos com folhagens verdadeiras, todas de uma mesma espécie, adornadas por pequenos ramos e flores artificiais, todas na cor azul e branca, combinando entre si. São dezessete vasos ao todo, espalhados por vãos e sobre as meias-paredes que dividem os espaços. Em um dos vasos, o bem central, esconde-se uma varinha de incenso. Um perfume espalha-se pelo recinto, atingindo, inclusive, alguns bancos próximos ao local. Sobre uma das paredes pende um arranjo feito com garrafas pet, na mesma tonalidade das rosas artificiais que enfeitam os vasos. No início de dezembro, essas flores são substituídas por outras de cor vermelha, a prenunciar a chegada do Natal.

É constante o cuidado com a limpeza do chão. E, ao que parece, de dois em dois dias, é feita uma lavação e escovação completa. Portanto, o ambiente é limpo e cheiroso. Quem recepciona os usuários está sempre atenta, conduzindo, informando e auxiliando quem lá chega. Veste uniforme, limpo, impecável. Do semblante brota uma luz que se despeja num sorriso.

Para quem se detém por instantes, trocando com ela algumas palavras, percebe o jeito prestativo com que é tratado. Maitê deteve-se mais do que o habitual. E pôde constatar o que é trabalhar “com amor”.

Encantada, Maitê ficou por lá conversando. Descobriu, então, que todos os enfeites (vasos, folhagens, flores, arranjo e incenso) foram comprados pela própria funcionária, com seu próprio dinheiro. No caso do incenso, a compra é constante. Mas isso é apenas um detalhe. O mais importante é seu trabalho, digamos, socioeducativo.

Assim, a comunidade indígena que circula por lá, por exemplo, (mães e seus filhos), foi aprendendo noções de higiene. Tudo graças às orientações da funcionária. Mas, quando é necessário, sabe ser “durona”. Isso acontece toda vez que certas “tribos” tentam usar o local para outros fins, que não os adequados àquele ambiente.

Agora, o principal foi o discurso da funcionária, revelador em si, e que respondeu à curiosidade de Maitê. Pois, o dito foi mais ou menos assim:

“O nosso ambiente de trabalho não é dos melhores. Recebemos todo tipo de público que, aqui, vem para fazer “suas necessidades”. Se a gente vier trabalhar suja, desleixada, não mantendo o lugar limpo, não terá vontade, incentivo de trabalhar. Ficará um ambiente “muito pesado”. E, afinal, a gente fica aqui dentro 12 horas. O nosso ambiente de trabalho deve ser constantemente limpo e a gente também deve estar limpa para poder se sentir bem. Senão, vamos nos sentir deprimidos. Sabe, todo mundo tem seus problemas. Mas temos que deixar os nossos problemas lá fora. E procurar chegar, aqui, bem. Por que é que temos que conviver com o mau cheiro, característico desses lugares? Fica muito melhor trabalhar num lugar limpo e cheiroso. Não acha?

Maitê acha que sim. Concorda, integralmente, com a postura dessa funcionária.

Pois é, está a falar-se, sabem do quê? De um banheiro existente no Parque da Redenção, em Porto Alegre. É um banheiro diferente. Ou melhor, quem ali trabalha é que faz a diferença. Maitê quer acreditar que existam outros banheiros iguais. Igualmente, acredita que existam outros funcionários semelhantes a essa dedicada trabalhadora que dignifica a classe e a Instituição a qual pertence.

De qualquer sorte, dedica a ela esta homenagem pelo Dia do Trabalho, recém- comemorado.

Dias atrás, Maitê, em suas andanças pelo Parque, esteve no referido banheiro.

Parecia que entrara em outro banheiro. Não era aquele seu conhecido. O mau cheiro, naquele dia, era característico. O chão estava todo molhado. Aquela luz, que costuma irradiar-se pelo recinto, não existia; tampouco o perfume do incenso dando as boas-vindas a quem chegasse. A funcionária presente... Bem, não falemos dela.

A homenageada, nesse dia, não se encontrava. Era seu dia de folga.







Nota: A servidora Sirlei Barreto dos Santos, a homenageada, recebeu, à época, uma medalha pelos serviços prestados ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana. A mim coube um Diploma, expedido pelo Diretor-Geral, em agradecimento pela homenagem.