sexta-feira, 2 de outubro de 2009

 


POR PURA BRINCADEIRA!


O carro último tipo encosta ao lado do táxi. O trânsito é lento naquela hora. Parados, aguardam a sinaleira abrir-se para passarem. Do banco de trás, três cabeças assomam junto ao vidro lateral, que se encontra baixado. São três meninos, de idades aproximadas, em torno de onze anos. Um mais afoito pede com insistência uma moeda ao taxista. Para tanto, usa falas comuns aos pedintes. Todos riem com a cena inusitada. Os meninos, a condutora do veículo e o taxista riem. Que cena!

E as imprecações se sucedem com pedidos desesperados de quem finge necessitar. A sinaleira, em meio à cena, libera os carros e lá vão os três com a mão estendida pedindo um auxílio.

Logo, mais adiante, nova sinaleira. Ambos os carros novamente, lado a lado, juntam-se, agora, bem mais próximos. Os pedidos intensificam-se. Os meninos continuam pedindo ao tio taxista:

“- Tio, me dá uma moeda! Tô precisando.”

Antes que a sinaleira libere novamente, o tio benfeitor estende a mão e alcança uma moeda de R$ 0,50 a um dos garotos.

Aos gritos de “consegui”, o carro arranca e lá se vão todos a rirem, a divertirem-se com a cena.

Um olhar mais apurado, com certeza, extrai desse episódio um sintoma de como as coisas andam.

Ao que parece, tudo foi uma brincadeira infantil, em que todos se divertiram.

Os garotos estavam brincando de “ser pedinte”. Só pra ver como é que é.

Claro que os meninos estavam apenas brincando. E os adultos?

Estavam, também, brincando. Mas que coisa!

É..., as chagas sociais merecem outro tipo de encenação. O teatro, por exemplo, é um meio adequado para expor tais mazelas. No palco, os atores e seus papéis poderão alertar a sociedade do perigo da banalização e do deboche para com situações dramáticas, que carecem de soluções.

Quanto aos meninos, seus responsáveis deveriam orientá-los no sentido de que o escárnio não é instrumento saudável para uma sociedade que se diz fraterna e solidária.

Se assim não for, continuaremos a incorrer em cenas mais contundentes, em que a vida de um indigente ou de um índio, ou de qualquer desafortunado, nada valha.

Ou, talvez, valha a diversão de atear-se fogo em um desses infelizes. Só pra ver como é que é.

Por pura brincadeira!

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