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terça-feira, 3 de outubro de 2023

COMPANHEIROS DIÁRIOS?


Lurdinha, na companhia do avô, passeava pela vila onde residia.

Eram outros tempos...

Visitavam o armazém onde encontravam vários conhecidos de longa data.

A conversa sempre trazia alguma estória de parceria que, ainda mais, os unia.

A jovem ia recolhendo visões de eventos que não assistira. Portanto, eram registros que ficariam em sua memória para sempre.

O contato direto com outro ser humano era sempre proveitoso e agradável.

Afinal, nossa origem humana nos aproximava e, muitas vezes, nos assemelhavam em manias, superstições, datas festivas e um cotidiano sem muitas surpresas.

Tudo muito previsível e comum a todos os dessa época.

A tranquilidade era um traço que os unia no viver diário.

As casas construídas eram protegidas por cercas ou muros, dispensando-se alarmes ou qualquer outro sistema de proteção.

Nos quintais, alguns animais eram cercados em espaços apropriados para o seu desenvolvimento.

Os cães de guarda eram mantidos soltos pelo pátio. Estavam ali para, se necessário, afugentar algum intruso.

Não saíam para passear com seus donos. Seus donos passeavam com seres iguais a si, humanos.

As notícias, veiculadas à época, vinham pelos jornais, rádios e no convívio diário com outros seres humanos.

A diferença, hoje, é flagrante nos companheiros que desfrutam o convívio, pelas ruas, com os humanos.

Temos os animais que, pela coleira, passeiam com seus donos.

São seres vivos, porém não humanos. Não dialogam. Não trocam ideias.

Provavelmente, acrescentam a esses seres humanos uma companhia. O que é, até certo ponto, elogiável.

Agora, pior ainda é aquela tela que persiste em ser constante até em caminhadas.

A paisagem, árvores existentes pelas ruas, o cantar dos passarinhos nem são observados, pois o importante é seguir as imagens das telas e as frequentes Fake News.

Talvez, este estágio não retroceda.

Não retrocedendo, o nosso cotidiano transformar-se-á em algo melhor?

Só o tempo dirá.

Uma conscientização desses comportamentos, talvez, surja quando as pessoas começarem a sentir os efeitos desastrosos, através de sensações negativas, da falta de contato constante e presente com outros seres humanos.

Aguardemos...

O fato é que estes peludos companheiros são, atualmente, muito bem-vindos junto a pessoas solitárias, bem como amigos muito queridos por casais que os tratam quase como filhos. São amigos e não mais apenas animais.

Ah! Quanto às telas...

Nem tudo está perdido.

Pega teu celular e coloca O Melhor de Tom Jobim e descobrirás 20 belíssimas músicas. Todas cantadas por Tom Jobim. Um belo presente que poderá te acompanhar a qualquer momento que desejares. Menos, durante a caminhada. Ficarás tão envolvido pelas belas letras, que os obstáculos das calçadas poderão ocasionar uma queda.

Reserva um momento adequado para ouvir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

SOBRE... SOB...


Sobre o terreno, em que há uma casa, que foi bela, mas está abandonada, permanecem, ainda, belas árvores, plantas floridas que resistem ao frio e ao abandono de seus antigos donos. Vivem da chuva, do vento, do sol, do canto dos pássaros que lá se refugiam. Elas sobrevivem pela própria ação da natureza que as suprem do que precisam.


Sobre uma área de um apartamento de cobertura, aquela árvore imponente balança seus galhos ao sabor do vento. Por lá, seus donos cuidam-na com carinho. Nada lhe falta. Tem tudo aquilo que as outras têm e mais carinho e cuidado.

Esses são seres que podem sobreviver sozinhos.

Sob a marquise jaz alguém que necessita muito mais do que uma árvore necessita.

Sobre as notícias que chegam até nós, dos quatro cantos do mundo, todas estão, sempre, sob suspeição. Serão verdadeiras? Serão fidedignas?

Nós, humanos, habitantes deste planeta, estamos sob controle constante, sob influências passíveis de questionamento, sob-relatos desastrosos de eventos que estão acontecendo ou que podem vir a acontecer.

Sob discursos inflamados, falaciosos e inverídicos nosso dia a dia é recheado.

Ainda teremos capacidade de exercer influência sobre nosso destino?

A partir de eventos dramáticos, repetidos pelos noticiários, à exaustão, a nossa mente, o nosso emocional vê-se bombardeado cotidianamente.

Afinal, somos bem mais que árvores, mesmo aquelas bem cuidadas. Nossas necessidades não são apenas aquelas básicas, mas outras que se somam àquelas.

Nossa caminhada foi construída a partir de nossas necessidades supridas. Nesse item, tem importância fundamental nossos sentimentos, nossa vida interior, nossos encontros e desencontros, nossas alegrias, tristezas e desencantos.

Somos bem mais do que aquelas árvores que vicejam no terreno baldio ao lado.

Temos uma mente que raciocina, que elabora pensamentos a partir de fatos e sensações.

Como sobrevivermos sem a necessidade de qualquer marquise que nos proteja?

O caminho é construído palmo a palmo com o comprometimento dos pais, dos educadores, dos governantes. Aqueles em que se depositou o voto e que deles se espera uma atuação ética, honesta e capaz de suprir carências de alguns indivíduos que não tiveram todas as suas necessidades atendidas ao longo da caminhada. À Educação espera-se a oferta de escolas públicas de excelência. À Saúde, igualmente, um atendimento gratuito para quem realmente precise. À nossa Segurança todo o aparato possível para que somente a lua nos faça companhia ao voltarmos para casa.

Nossos governantes deveriam direcionar suas ações sobre essas questões, em vez de estarem, reiteradas vezes, sob investigação em relação a várias questões.

O instinto de sobrevivência, daquele que jaz sob a marquise, é pedir o que é essencial: comida.

A sobrevivência, daquele melhor afortunado, mas que, também, sofre pelo caos reinante em vários setores da sociedade, é ditada pela resiliência em encantar-se com momentos que o dia proporciona ou, mesmo, a noite.

Ler sob a luz do sol, que ilumina a janela; acompanhar a leveza do voo dos pássaros; imaginar qual desenho aparecerá no céu quando aquela nuvem chegar; observar que, também, sobre aquela marquise tinha uma pomba branca pousada; sentar-se naquele banco da praça, próxima de casa, observando os vizinhos que por lá circulam; estabelecer diálogos construtivos e esperançosos; ouvir música e, finalmente, dormir sob um manto diáfano, repleto de bons sonhos, de imagens alvissareiras e do desejo de um bem-vindo amanhecer.

Temos que fazer com que o sob e o sobre se completem.

Temos que ter esperança de que venhamos a permanecer sob encantamento. Que este nos motive a dialogar sobre novos comportamentos que venham em benefício de todos os indivíduos que compõem a nossa sociedade.

Aí, sim, valerá a pena os dias que virão.

Ah! Que as máscaras obrigatórias, colocadas sobre a nossa face, estejam sob controle rígido de sua necessidade, mas que nossos olhos permaneçam acima delas, sempre atentos, sempre confiantes, sempre cordiais e esperançosos de que por trás delas existem outros seres iguais a nós.

Falemos sobre elas com destemor, mesmo que permaneçam, para alguns, dúvidas sobre sua necessidade.

Sob o enfoque particular de cada um de nós, que haja prudência no seu uso e que nossos olhos sejam portadores e transmissores de muita fé em nosso amanhã.

Sobre ele?

Aguardemos o próximo amanhecer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 30 de maio de 2016

CUIDADO! SE CONTINUAR, LEVÁ-LO-ÃO EMBORA!



Foram três meses de puro desrespeito com quem tem direito ao descanso durante a noite. Beatriz foi testemunha auditiva das investidas a qualquer hora do dia ou da noite.

Diferentemente daquele seu irmão, o EPA, que teve sua triste história contada em 20/08/14, na crônica do sugestivo título UMA MANHÃ PARA ESQUECER, este nem nome tem e não vive num rincão distante.

Este, na verdade, está mais para aquele transgressor de Copacabana que sofreu um processo e teve que cumprir uma decisão prolatada pelo 4º Juizado Especial Criminal do Rio de Janeiro que determinou sua prisão durante o horário entre às 22 horas e às 6 horas da manhã.

Pelo que Beatriz tem ouvido, estão tentando mandá-lo embora, para ir cantar noutra freguesia. Já faz alguns dias que não dá o ar da graça. Até então, era, dia e noite, aquela cantoria a plenos pulmões. Não só quando anoitecia, mas durante a noite. E, claro, pela manhã afora. Não queria nem saber. Quando dava na telha, abria o bico. Até elas, moradoras do mesmo chão, já não aguentam mais. Embora sempre em maioria, não têm voz ativa para detê-lo. Elas, que também cantam, assumem com este proceder a autoria de um ato sublime: a possibilidade de gerarem um novo ser. E este anúncio, geralmente, acontece em pleno dia.

Beatriz, sem querer ser feminista, porque politicamente incorreto, acredita que este galináceo já se excedeu. É um macho muito metido, pensa que é grande coisa. Aliás, Beatriz soube por elas, que residem no terreiro, que há outros machos que poderiam tomar este lugar com folga de popularidade. Porque um cargo de mando, assim, precisa de competência e de capacidade de agregar. Afinal, ser competente é vital. Convenhamos, há espaço para todos, desde que cisquem cada um no seu quadrado.

Na verdade, elas não aguentam mais aquela história de “daqui não saio, daqui ninguém me tira”. E continuam fazendo comparações com outros que circulam pelo mesmo terreiro. Há outro, muito conhecido, que não perturba à noite. Vive às claras. Não faz conchavos.

Pois, vejam vocês, Beatriz e os demais vizinhos não sabiam disto. Só quem está mesmo no galinheiro é que pode chegar a estas constatações. Somente vivendo ali o dia a dia, para saber desses detalhes.

Parece que a incompetência é tamanha do tal ser que elas e os outros poucos, que existem por ali, levá-lo-ão para fora do cercado, de qualquer maneira. Se não for à custa de muita conversa e de aconselhamento, será por força de alguma medida do “dono” do cercado, ou de quem o represente: em caso de impedimento. 

O fato é que os vizinhos das redondezas do cercado poderão, acredita-se, em curto prazo, voltar a dormir em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo.

Talvez, uma ordem judicial apresente-se como solução. De qualquer maneira, aquele “galo” de Copacabana e este de um bairro bem próximo ao centro da Capital, terão seus comportamentos corrigidos ou, pelo menos, disciplinados para o bem de todos.



Viva o galo EPA! Aquele do nosso rincão.

Quanto aos outros, cuidem-se dos maus procederes. A enxurrada poderá levá-los de roldão. Ou ela, a enxurrada, LEVÁ-LOS-Á de roldão, uma mesóclise tão ao gosto do momento.



Agora, galo bom é aquele que se junta a outros tantos galos e todos juntos vão tecendo o alvorecer de uma nova época, de uma nova manhã livre de armação. Uma manhã que se eleve por si numa luz balão, numa luz que a todos ilumine. Uma manhã tecida ao canto dos galos e poeticamente captada pelo nosso grande poeta João Cabral de Melo Neto. (trecho extraído e adaptado do poema – Tecendo a Manhã)








TECENDO A MANHÃ – poema de João Cabral de Melo Neto














segunda-feira, 6 de julho de 2015

DESDE SEMPRE... NADA SERÁ COMO ANTES



Pezinhos aproximam-se, ligeirinho, do portão da rua e descem pelo caminho que leva ao pequeno armazém da esquina que vendia docinhos. Na bandeja, ao final do dia, restavam alguns farelos adocicados. Nada mais.

Tudo tão tranquilo, tão livre, tão natural.

Uma criança de tão pouca idade, nos seus cinco anos de vida, saía pelo portão para comprar docinhos.

Hoje, é absolutamente proibido tal comportamento pelo perigo real que ronda todos e tudo: não mais só as crianças.

Apenas a saudade será sempre igual.
A saudade daquilo que existiu, daquilo que foi.

Ir à escola pelos campos afora, sozinha, caminhando sem preocupação, cabelos ao vento e a pasta com os cadernos. Sem celular, porque não existia.

Hoje, impossível tal aventura diária.

Apenas a saudade será sempre igual.
A saudade daquilo que existiu, daquilo que foi.

Caminhar por ruas centrais daquela Cidade, ainda toda Sorriso, era um prazer. A jovem adulta, toda feliz, com um rubi pendurado ao pescoço, presente da avó, caminhava despreocupada com aqueles que, porventura, lhe observassem. Fossem conhecidos ou não, estivessem caminhando ao lado ou nas proximidades, isto era indiferente.

Hoje, impossível tal atitude.

Apenas a saudade será sempre igual.
A saudade daquilo que era, que tinha sido, que fora.

Deslocar-se a pé, em plena meia-noite, saindo de um show no Gigantinho e indo para casa, acompanhada pela mãe já idosa, seria isto possível?

Sim, elas e outras tantas pessoas, moradoras do bairro, percorriam ruas em plena madrugada, despreocupadamente. Todas ainda sob o impacto do belo espetáculo assistido, com os olhos ainda impregnados daquelas imagens que nos fazem vibrar por dentro, que nos enlevam. E tudo isto pela rua, rumo ao lar.

Lares cujas cercas ou muros não existiam. Onde a grama encostava na porta da frente e se estendia até o meio-fio da calçada. Sem grades, sem cercas, sem medo. Algo desconhecido hoje.

Apenas a saudade será sempre igual.
A saudade daquilo que tinha sido, daquilo que fora.

Ah! Como seria na Idade Média?

Por aqui, não sabemos.

Ainda não existíamos.

Um pouco depois, porém, já se enfrentaria a realidade do dia a dia. Pulando-se os primeiros trezentos anos, por volta de 1800, a título de passeio pela memória, com certeza existiram dificuldades. Quem sabe, incompreensíveis para a época. E a saudade dos séculos anteriores se estabelecia como consequência.

Apenas a saudade será sempre igual.
A saudade daquilo que tinha sido, daquilo que existira.

O tempo traz mudanças, mas todas, em certa medida, fizeram-se presentes em todas as épocas. O homem poderia, portanto, ir somando experiências e melhorando o seu interior no sentido de uma maior empatia com o seu semelhante. Salvaria com isto o outro que é a sua própria semelhança. Todos ganhariam. A Humanidade ganharia. A Cidade Sorriso ganharia.

E a saudade, talvez, nem tivesse assento, pois, a cada dia, seríamos melhores, mais humanos, mais civilizados.

Não sendo esta a realidade, permanece a saudade daquilo que antes era bem melhor.

E como nós humanos somos imperfeitos, a perfeição, talvez, nunca se alcance. E para sempre haja “aquela saudade” dos tempos antigos, em que parecíamos melhores do que somos hoje.

Na verdade, parece utópico perseguir-se tal caminho: o da perfeição.

Mas o que nos faz caminhar é justamente a busca pela utopia. Eduardo Galeano, escritor uruguaio recentemente falecido, estava certo. Ela serve para isso: para que não deixemos de caminhar.



E o título se comprova.

Desde sempre, nada será como antes. E os sonhos, por mais distantes que pareçam estar, servirão para que caminhemos em busca deles.

E a saudade daqueles tempos mais antigos, daqueles melhores tempos nunca cessará. Todas as mudanças geram desconforto e uma ponta de nostalgia dos tempos passados. Ainda mais quando elas dizem respeito à própria evolução do ser humano.

Portanto, enfrentemos os novos tempos, pois eles são, em essência, os mesmos velhos tempos, travestidos, porém, de modernos. E, por isso, novos para os olhares desse novo/velho homem.

Basta nascer, abrir os olhos e já preparar-se para sentir saudade do conforto que era aquele cálido berço em que se encontrava deitado o pequeno ser, até então.

Temos um esplêndido passado pela frente?
Para os navegantes com desejo de vento, a memória é um ponto de partida.                
                                                                     (Palavras Andantes – Eduardo Galeano)

E, em cada novo tempo, a saudade estará presente, mas a esperança, que com ela faz par, será sempre um caminho que se deixa de herança, conforme versos da música Novo Tempo, parceria de Ivan Lins e Vitor Martins.

Agora, vale a leitura de dois epigramas que seguem, criações de Mario Quintana, publicadas em seu Caderno H, que mencionam, de forma jocosa, o tempo e a percepção do homem sobre a relação sua com ele.








Novo Tempo – Ivan Lins