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sábado, 7 de abril de 2012












AO MESTRE DAS CURVAS, NOSSOS CUMPRIMENTOS!
                                
AO “OUTRO”, NOSSA REPULSA!

Que arrojada arquitetura! Um verdadeiro mestre a projetou!

Como dois seios, duas semiesferas, colocadas lado a lado, em posições inversas uma da outra, uma convexa e outra côncava, dão uma visão de acolhimento.

Uma, à semelhança de um ninho, abriga um expressivo número de representantes do nosso povo. A outra, menor, mas não menos importante, protegida pela sua característica convexa, abriga um menor número de indivíduos que, lá estão, graças também ao nosso voto. Nessas duas Casas, estão abrigadas todas as espécies de garantias, imunidades, privilégios: um verdadeiro ninho protetor.

O que acontece no interior dessas fortalezas do poder? Sequer podemos imaginar.

Quando, porém, vem a lume algum malfeito, vê-se quão inimaginável é a verdadeira realidade, quão vergonhosos são os meandros do poder.

Sim, porque, onde há poder, há possibilidade de transgressão por seus integrantes da ética, da moral e de outros pilares em que se deve assentar uma sociedade justa, equânime e solidária.
Agora, quando a possibilidade torna-se uma prática constante, cotidiana, isso depõe contra toda a Instituição. E isso é gravíssimo. E mais grave ainda se torna quando tais comportamentos perpassam todos os escalões dessa sociedade.

Pergunta-se:

Como ficam os “modelos”, aí presentes, aos olhos dos mais jovens?

Como ficam os verdadeiros mestres diante “do mestre” em maracutaias?

Quando os exemplos de retidão, de honestidade, de integridade encontram-se diminuídos e definhando a cada dia, o que resta? Um salve-se quem puder? Será essa a receita?

Quando escândalos acontecem, nessa proporção, são como bombas de efeito devastador e que deixam à mostra o pedaço mais torpe, o lado escuro do ser humano, aquele que deve ser abortado por nós.

Que nessa Páscoa, termo que em hebraico (Pessach) quer dizer passagem, possamos ultrapassar o desencanto e a descrença nas Instituições.

Que mantenhamos acesa a esperança por dias melhores e a expectativa do surgimento de lideranças probas, capazes de dar bons exemplos às novas gerações.

Que renasçamos, num futuro, como uma sociedade de indivíduos dignos de representá-la. E que, sobretudo, percamos o hábito do famoso “jeitinho brasileiro”.


Aliás, o Coelhinho da Páscoa assim se manifestou, cantando, quando perguntado:







Só de Sacanagem/Brasil Corrupção – Ana Carolina - Ao vivo 













quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009



 

MENOS, MEU DONO, MENOS...


Desde o início, ele soubera que aquilo era uma furada. Ele que, por tamanho e conformação dos músculos, permitia-se dar saltos bastante ousados, percebeu, em determinado momento, que seu dono ia acabar se enredando, porque estava ousando demais, além da conta.

E olha que seus bigodes se eriçavam todos, quando seu dono pegava o celular e ia lá pro fundo do quintal a sussurrar coisas, que ele não entendia muito bem, mas que eram respondidas por Severino. Sabia que era Severino do outro lado da linha, porque seu dono repetia esse nome, dizendo coisas tipo: “fica frio”, “não vai dar rolo”, “eu seguro”, “eu entendo do riscado”, e por aí...

Essas conversas constantes ao celular, sempre afastado do pessoal da casa, já estava deixando Dona Josefa, sua dona, desconfiada do marido. Na realidade, andava enciumada, achando que havia outra mulher no pedaço.

Mas fazer o quê? Agora, depois que se tornara funcionário público, era pessoa importante por aquelas bandas. Ainda mais com o cargo que lhe haviam dado. Precisava estar sempre conectado com a repartição.

Mas o bichano sentia que rondava o perigo. A verdade é que as sobras de comida tinham aumentado. Pra quem vivia numa cacaca federal, até que seu dono tinha melhorado. Homem fazedor de dinheiro estava ali! Andava, como se diz, por cima da carne-seca. Na real, o bichano não conseguia entender bem essas coisas que estão sempre a rondar os humanos.

Mas, um dia, algo lhe deixou preocupado. Foi quando ouviu seu nome, numa conversa pelo celular entre seu dono e Severino. Ele, que conhecia aquela família há tantos anos, ouviu seu dono dizer que, pasmem: era um recém-nascido. Ele que até já ia ser pai! Isadora estava por dar à luz.

Alguma coisa estava acontecendo. Ou, ia acontecer. Estacou, atrás do pé de cinamomo, e ficou a ouvir. Seu dono virara um mentiroso, um trambiqueiro?

E parece que, naquela casa, só ele sabia disso. Era a única testemunha, auditiva, daquela armação. Ouviu, durante um bom tempo, toda a conversa.

Começava a entender porque seu dono, de uns tempos pra cá, andava diferente. Já não era o mesmo. Reconheceu, assustado, que seu dono andava ousando demais. O pior de tudo é que, pela conversa dos dois, parecia que ele, o bichano, tinha virado um guri, com sobrenome e tudo. Não estava entendendo mais nada.

O que intrigava é que eram conversas sempre em voz baixa, ao celular, lá nos fundos do terreno. Isso começou a lhe dar nuns nervos. Era mais ou menos como se sentia, quando resolviam fazer faxina na casa: ficava muito nervoso.

Cismado com essa sensação, andava ele mais inquieto que cavalo sarnento. Foi quando, numa tardinha, tornou-se pai. Eram três filhotes ao todo. Dali em diante, pelos próximos meses, nem Isadora e nem Dona Josefa lhe deram mais bola.

Pôde então se concentrar na figura do seu dono. Vivia mais grudado no homem que pepino no baraço. Achava que ele já andava até meio desconfiado. Mas as intenções do bichano eram as melhores.

Por vezes, seu dono estacava o passo, voltava-se e fixava seu olhar naqueles grandes olhos verdes. Parecia que procurava alguma coisa. Nessas horas, o bichano bem que gostaria de aconselhá-lo. Alertá-lo para os perigos de quem não possui a esperteza refinada, a agilidade reconhecida: um DNA fraco para lances tão arriscados.

Mas faltava-lhe o que sobrava em seu dono: uma boa conversa. Assim, sem poder comunicar-se, a não ser com os olhos, o rabo e uns débeis miaus, foi percebendo a cara de preocupação que, a cada dia, seu dono demonstrava. Já sentia que ele andava encrencado como barriga de guri novo.

Até que, numa manhã, bateram à porta. O bichano, já enrodilhado nas pernas de Dona Josefa, foi com ela atender a quem batia. Enquanto se deslocava, sentiu um calafrio a subir-lhe espinha acima. Seria mau presságio? Pois não é que o homem, que batera na porta, viera buscar o guri, recém-registrado no cartório da cidade, com nome igual ao seu, para levá-lo ao Posto de Saúde. Queriam pesá-lo... Imagina!

Ainda bem que Dona Josefa não deixou. Era só o que faltava acontecer com ele! Pensavam que ele era um nenê... Ele, que já era pai!
Aliás, Dona Josefa, coitada, não sabia da falcatrua do marido. Inocentemente, afirmou ali não existir criança alguma com aquele nome, a não ser o seu gato.

Passado o susto e já recolhido ao seu esconderijo, embaixo da casa, Billy entrou em profundas reflexões: o rolo parecia grande.

Então, era verdade? Como pudera seu dono fazer tão desastrada falcatrua? Coisa de amador... Imagina, a coisa poderia ter-se estendido por muito mais tempo. E, talvez, até nem fosse trazida a público. Agora, transformá-lo em um bebê, só poderia ter dado nisso. Se ele já fosse um guri de nove anos, ninguém ia querer levá-lo ao Posto para pesar...

Foi, realmente, uma mancada imperdoável. Todo mundo ali, naquela casa, saiu perdendo. Principalmente seus três novos filhotes, que já poderiam largar, na vida, melhor alimentados. Já seriam uns reais a mais no orçamento da família, considerando-se o novo filho registrado. Um auxiliozinho do Programa Bolsa Família. Mas agora, babaus...

Imagina, se sujar por tão pouco... Se fosse por muito, até valeria a pena. Afinal, parece que quanto maior o rombo, menor o constrangimento. E, também, menor a execração. Os exemplos estão por aí aos montes.

Ele bem que gostaria de ter avisado: menos, meu dono, menos...

Brincadeiras à parte, sete vidas tem o bichano. Seu dono tem apenas uma. E com ela tentou dar uma de “joão-sem-braço”, mas se enrolou mais que carrapicho em cola de cavalo. Acabou mais por baixo que umbigo de cobra e mais sujo que pau de galinheiro.

E pensar que seu dono era um privilegiado naquele mar de miseráveis a sua volta. Que feio!



Leia a notícia.





domingo, 12 de outubro de 2008



DESVIOS

-“Pô, cara, se a gente róba, é robo mesmo. Agora, se é os cara lá de cima, é desviu. Tu já viu?

-É..."

Pois é, a conversa foi captada por ouvidos e olhos atentos.

Os dois homens sentados no chão, em andrajos, junto à grade que circunda a
Fonte Talavera, em pleno coração da cidade, estavam ali a falar sobre os vários nomes que podemos dar às atitudes manifestadas por uns e outros.

Que exercício interessante, considerando-se os seus interlocutores!

Estavam eles, ali, desviados de sua função: que é não pensar. Como ousam!

Isso é, com certeza, um desvio. Mas são tantos os desvios... Até é temerário enumerá-los.

Desviemos o foco. Partamos para longe, porque é mais seguro.

Pois até o prêmio mais cobiçado, num mundo tão conturbado por guerras, dizem que pode ter tido seus desvios. Algumas indicações repousariam sobre interesses escusos.

Desvio também houve, quando aqueles imigrantes africanos desaparecidos, que se suspeita terem sido atirados ao mar por contrabandistas de pessoas, tiveram seus sonhos desviados por uma rota sem volta.

Desvios excessivos, também, cometeram os executivos que estavam no comando de grandes bancos internacionais. Que grandes desvios!

Comentam que até o cartel do petróleo sofreu com toda essa turbulência. Terão que fazer, provavelmente, um corte na sua produção. Haverá necessidade de reorganizar as peças do xadrez. Poderemos todos levar um xeque-mate.

O risco de uma recessão econômica mundial é assustador. Mas, seus comandantes usarão todas as suas armas, artimanhas, simulações, mentiras, todo o arsenal semântico disponível, ou até criado às pressas, para superar a tal crise avassaladora. Saberão distribuir os prejuízos dessa crise. Despejando mais sobre a base da pirâmide, como sempre.

E os dois mendigos?

Continuarão cantando o samba Deixa a Vida me Levar, até que a morte os abocanhe.

Agora, hoje, neste Dia da Criança, o desvio de um catador de latinha, do seu habitual caminho, fez-me lembrar de alguns gestos e atitudes que revelam o nosso “eu criança”.

Ele, atravessando a rua por onde habitualmente passa, deteve-se embaixo de uma cerejeira-do-mato. Saltou de sua pequena bicicleta, passando a colher suas frutinhas. Catava também as do chão, as do meio-fio, pondo-as no bolso da camisa e da calça. Comia, com sofreguidão, e saltitava ao redor da árvore como uma criança.

Pois até dizem que a tal frutinha quase não tem gosto. Mas aquele gosto, com certeza, lembrava o de sua infância. Reviveu, por instantes, o guri de outrora.

Eu, por minha vez, flagrei-me com a mão esquerda fechadinha, escondendo o polegar embaixo dos demais dedos, durante o almoço, como quando era criança. Aliás, um hábito que, vez por outra, assoma e me reporta ao passado, já distante.

Esses, com certeza, são desvios momentâneos, que iluminam nosso dia a dia.

Sua fonte é recuada no tempo e só faz bem à alma.

Saiba mais sobre alguns desvios: