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sábado, 8 de setembro de 2018

CORTES... E CORTES

















Este corte valeu a pena. Foi um corte metafórico e sensual: inesquecível.

Agora, quando Dona Isaura deu-se conta de que suas mãos estavam muito enrugadas, assustou-se. Seu invólucro parecia já não valer grande coisa, dizia ela. Mas, como era uma mulher de fibra e batalhadora, enxugou as lágrimas e procedeu a um inventário de suas realizações e, para sua surpresa, readquiriu sua autoestima, considerando a importância do que resgatou de sua memória. Também chegou à conclusão de que o importante não é o invólucro, mas o conteúdo. E cortou, pela raiz, aquela sensação de menos-valia.

Outro corte que valeu ter sido dado. Também ele gerou um recomeço interno, inesquecível: um divisor de águas.

Estes são cortes metafóricos que se dão muito bem com a poesia e com nossas vivências interiores que, via de regra, também se tornam poesia.

Cortes que registram rupturas com situações-limite em relacionamentos insustentáveis. Cortes que só nos fazem bem. Cortes que nos abrem novos caminhos a serem trilhados. Cortes que melhoram e reforçam o nosso conteúdo, porque o invólucro não é o principal.


Agora, como podemos entender cortes de verbas na preservação da nossa cultura? Naquilo que representa um patrimônio não somente nacional, mas também da humanidade?

Mais uma vergonha nacional soma-se a outras tantas. O Museu Nacional é apenas mais um na lista, agora, daqueles que já foram consumidos pelo fogo.

É desalentador saber que cantores, bandas e outros nomes da esfera artística recebem polpudas verbas para que usem na montagem de shows.

Agora, museu é lugar só de velharia, dirão alguns.

Pra que memória? Pra que pesquisa?

Os antepassados “já eram”...

Como podemos nos desenvolver como cidadãos conscientes de nossa importância hoje, vivenciando o século 21, se não mantivermos a nossa memória viva, conhecendo a nossa trajetória neste planeta desde remotas eras?

Foi com comoção que assistimos à devastação do Museu Nacional em chamas.

Algum culpado? Não.

Foi uma fatalidade!

E, ainda, para maior vergonha foi aceitar doações em dinheiro, de países estrangeiros, para reconstruir-se o que jamais poderá ser reconstruído. Claro que a contribuição dos cientistas e estudiosos, no levantamento das pouquíssimas peças que restaram, sempre é válida.

Neste caso, como os outros citados no início, o invólucro não é o importante. Suas paredes não são o repositório da história da humanidade.

O importante era o CONTEÚDO: um verdadeiro tesouro.

Um tesouro que exigia PRESERVAÇÃO CONSTANTE.

Assim como cada um de nós possui um tesouro interno, que tem que ser preservado, porque o invólucro não é o principal.

O principal é o conteúdo.

E este conteúdo do Museu Nacional está EXTINTO PARA SEMPRE.

Este “CORTE” foi fatal; este DESCASO, INACEITÁVEL E INESQUECÍVEL.