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sábado, 23 de agosto de 2008


 

O GRITO DE VALENTIA

Pois o ti-ti-ti já era grande na Casa. Quem diria que Madame seria homenageada! É claro que suas meninas, há anos, esforçavam-se tanto... Quase uma década de trabalhos prestados. Um serviço relevante, de grande utilidade à comunidade.

Imagine-se aquela cidade, próspera, sem um entretenimento à altura de seus próceres. E quantos próceres havia por lá! Madame merecia: as meninas, mais ainda.

A notícia, como um rastilho, espalhou-se pela cidade, causando estrépito. Há quem esbravejasse em favor das famílias ali residentes, levantando bandeiras contra a dissolução dos costumes. Outros, a tudo assistiam constrangidos, estupefatos.

Quem diria! A dona daquela Casa ser homenageada!

Em meio a isso, os frequentadores, acobertados de falsa surpresa e esbanjando hipocrisia, esfregavam as mãos por conseguirem um aval para suas luxúrias. Afinal, todos agora, publicamente, reconheciam os serviços relevantes prestados pela Casa. Eram os representantes do povo que haviam votado a favor daquela homenagem.

Assim, os momentos de descontração, ou "desconcentração", como se lê no ofício encaminhado pelo vereador proponente da moção, estariam plenamente justificados.

E ao que se sabe pela manifestação de uma funcionária, que se disse frequentadora, indo lá tomar "uma cerveja" de vez em quando, e que não quis identificar-se, o lugar, antes mesmo da homenagem, estava ungido pelo incenso das melhores intenções. Doravante, os necessitados poderão se desafogar dos estresses do dia a dia, das pelejas nas votações de interesse da comunidade, da chatice de pareceres e relatórios que não se sabe bem para o que servem, e de todo um trabalho burocrático. Tudo isso, com certeza, dá muito trabalho, convenhamos.

Agora, ficará tudo muito mais visível, mais transparente. A comunidade pode ter certeza que verá seus representantes mais felizes: todos mais aptos, inclusive, para o trabalho. Votarão, de ora em diante, matérias relevantes, tipo essa, com mais empenho. Tudo em prol do bem-estar da comunidade.

Portanto, quem acha que esses representantes foram bobos ao conceder tal homenagem, enganou-se. Eles foram muito valentes. Os frequentadores da tal Casa não mais precisam de subterfúgios. Suas mulheres que fiquem sabendo: eles frequentam tal lugar, que presta um serviço de utilidade pública. E ponto final.

Com todas essas, cochicham que, semana passada, uma china experiente, chegou à cidade, vinda das bandas do Uruguai. E que entrou com um pedido, junto a Prefeitura, para abrir uma Casa, de classe, só com jovens sarados. As sessões serão às 4ªs e 6ªs feiras. A tal frequentadora deve trocar de endereço. Espera-se que a audiência seja preferentemente feminina. É a proposta. Mas, nunca se sabe...Têm sempre aqueles que não aderiram à Casa homenageada. Vai saber...
Pois é... A comunidade não merecia isso!