sábado, 13 de setembro de 2008



MATEANDO...


- Terta, é uma dinheirama! Não é? Dava pra resolver muitos problemas por aí afora.

- Mas bah, tchê! Nem dá pra imaginar.

- O Dr. Siqueira, lá na fazenda, falou que é uma tal de máquina que pode revolucionar o mundo. Já pensaste?

- O que é revolucionar?

- Acho que é mudar. Só não sei se será pra melhor...

- Será que a gente pode melhorar?

- Quem sabe...

- Tem gente que diz que, quando uma borboleta bate asas na China, muda alguma coisa do lado de cá! E é só um bater de asas. Agora, imagina essa geringonça, mais enrolada que namoro de cobra. Já pensaste? Milhares de canos e fios, todos enroscados lá embaixo.

- Valha-me Deus!

- Pois é Dele mesmo que eles andam atrás, Terta!

- Será que o Patrão-Velho vai mostrar a cara? Vem sem intermediários? Acho tudo muito arriscado. Estão metendo os bedelhos onde não deveriam. Acho que isso não vai dar um quilo.

- E vai que acontece, Terta? Aqueles que estão perto da geringonça vão ser os privilegiados. Vão falar primeiro com o Patrão.

- E nós aqui, nesse fim de mundo!

- Sabes, das duas uma: ou esses caras estão só tirando um tempo, ou estão esperando o cavalo passar encilhado.

- Que nem político?

- É, isso... Todo mundo sabe que todas aquelas baboseiras não vão dar em nada. Mas todo mundo ouve, acompanha, fica esperançoso. E, no final, eles ficam por cima da carne-seca e a gente dá com os burros n’água. Será que lá, como aqui, também não teve gente que levou por baixo do poncho? Afinal, é um dinheirão.

- Pra que tudo isso, Zé?

- Não sei... Passa o mate.

- Zé, olha... A gente já conversa, há muito tempo, com Ele. E Elenunca nos faltou.

- Todos os dias, Terta.

- Todos. Nesse fogo, nesse amargo, no silêncio: a gente está mais grudada Nele que barro em tamanco.

- Pois é...Deixa os moços tentarem.

- Deus tem mais para dar do que o diabo para tirar, Zé.

- Vão acabar dando a mão à palmatória, Terta.

- É, Zé... Nesse pealo, Ele não cai.

 

 

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