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segunda-feira, 16 de julho de 2018

“ESTE” TEM HISTÓRIA



Quem diria!

Ele é que, com seu canto, nos anuncia o início de um novo dia, depois de uma noite de trevas. Ele nos desperta anunciando que a escuridão acabou, pois a luz fez-se novamente. Ele é, para algumas culturas, o símbolo da ressurreição solar e espiritual.

Diante dessa constatação, só nos resta saudá-lo, após o placar que o reconheceu como suficientemente capaz de vencer o adversário e, portanto, estar à altura do título.

Já tinha assim ocorrido em 1998, quando a mascote Footix, já referida na crônica NO MUNDO DOS ANIMAIS, publicada em 5 de julho de 2018, venceu o pobre Canarinho por 3 a 0 em pleno Stade de France, na cidade de Saint-Denis. Lá, o Galo conquistou a sua 1ª Copa do Mundo, tornando-se campeão pela primeira vez.

Na realidade, a história desse Galo é bastante antiga e remonta aos tempos em que a França fazia parte da Gália e os gauleses o povo então dominante. Na época, os romanos davam as cartas. Tudo aconteceu por conta da semelhança do termo latino gallus que significa galo, como registra o Dicionário Escolar Latino-Português do Prof. Ernesto Faria, 4ª edição, 1967, pág. 422 que, também, refere o item 2, descrito abaixo:
1- Gallus= galo

Gallus in sterquilinio suo plurimum potest= O galo é soberano no seu galinheiro (Sên.Apoc.405)

2- Gallus= um gaulês, habitante da Gália. Para os franceses, Gaulois.

Agora, o tal “galo” foi, durante a Revolução Francesa, um símbolo de vigilância e valentia.

Já para os chineses o Galo está associado ao conceito de Yang, isto é, aquele que traz calor, luz e vida ao Universo.

Toda esta simbologia está atrelada a uma lenda chinesa que explica como a Terra, recém-criada, vivia sob seis sóis. Isto tornava inviável o cultivo dos campos semeados, pois eram totalmente queimados.

Houve a tentativa de destruição desses seis sóis. Mas foi tudo em vão. Até que um arqueiro, vendo estes sóis refletidos em um lago, alvejou-os de forma certeira, fazendo-os desaparecerem. Um deles, porém, escondeu-se atrás de uma montanha.

No dia seguinte, a escuridão era total. Os camponeses desesperados tentaram, então, assustá-lo com um rugido de tigre, para que ele saísse do esconderijo. Não funcionou, porém.

Tentaram, após, o mugido de uma vaca. Nada conseguiram. O Sol recusava-se a aparecer. Estava muito assustado.

Daí, como última tentativa, um galo foi trazido por um camponês.

E o galo cantou. E o Sol, maravilhado, saiu detrás da montanha. E brilhou para sempre.

O galo, por sua vez, recebeu como prêmio uma coroa vermelha.

Desde então, este nosso Sol maravilhoso é acordado pelo canto do galo.

E as qualidades desse galo estendem-se por várias culturas, em especial, a chinesa e a japonesa.

Agora, não nos esqueçamos da tradição cristã da Missa do Galo. Este cantar, após o nascimento de Jesus, anuncia o nascimento de uma nova luz para o mundo e de uma esperança renovada para a Humanidade.

Poder-se-ia ficar ainda, por muito tempo, refletindo sobre a simbologia do que representa o galo em algumas passagens bíblicas. Não é este, porém, o objeto desta crônica.

Hoje, o galo, animal, com toda a sua retrospectiva histórica superou aqueles 3 leopardos ferozes que foram anestesiados pelo canto pleno de tons maiores e menores. Numa partitura que teve pausas e acelerações. Uma pauta recheada de legatos e staccatos.

Tudo para que, ao final, o Hino soasse como a vitória final da competência de jogadores, imigrantes ou filhos de imigrantes em sua maioria, sobre o invejável esforço e garra da equipe adversária. Uma competidora que passou para a história do futebol como uma equipe aguerrida, que demonstrou ser capaz de, quem sabe, erguer a Taça tão cobiçada na próxima Copa do Mundo. Aliás, Luka Modric foi eleito o melhor jogador desta Copa de 2018.

À bicampeã, os aplausos merecidos.

Ah! Este GALO não foi zebra.

Ele tem “História”!










quarta-feira, 20 de agosto de 2014

UMA MANHÃ PARA ESQUECER!


Para quem se dizia “o rei do pedaço”, foi muita humilhação amanhecer daquele jeito. Uma situação totalmente imprevisível acontecera.

A coisa toda fora mais rápida que bote de cobra. 

Lembrava que, naquela noite, tudo se acalmara bem cedo. Os viventes e também os animais acolherados junto aos galpões, no meio do feno, descansavam. Quando Epaminondas, o Epa, fazia um último reconhecimento pelo cercado, já tardiamente, para ver se nenhuma de suas preferidas por lá andava ainda a ciscar, aconteceu o inusitado. 

Quem poderia prever algo tão insólito! Não houve tempo para reação.

Parece que já o esperavam para fazer tal judiação. Logo ele, que morria de pena do Gonçalo, o Gonça, sempre às voltas com aquele incômodo a que o submetiam quando chegava qualquer visitante. O patrão Humberto até tinha razão para tal procedimento. O bicho ficava uma fera quando aparecia qualquer cara nova pela redondeza. Então, a solução era uma coleira que lhe colocavam, mantendo-o preso junto ao potreiro.

Latir raivosamente é uma coisa. Dá medo e precisa de contenção.

Agora, cantar é outra coisa. No seu caso, era a confirmação diária de seu charme e elegância quando se aproximava delas. Elas todas gostavam. E como gostavam!

Ele conhecia, melhor do que ninguém, os hábitos daquele rincão. Madrugador, que nem os pássaros da região, soltava o seu reconhecido canto, numa total demonstração de que continuava vivo e no comando.

Naquela manhã, porém, a bruxa estivera solta por lá. O interessante é que sua preocupação passava longe daquilo que aconteceu.

Andara sabendo que, há algum tempo atrás, lá pras bandas da Cidade Maravilhosa, um companheiro já tinha sido preso por ordem judicial. Tudo porque cantava a plenos pulmões durante a madrugada. A notícia não descartava a hipótese de ser o pobre despejado. Coitado do Natal! Este era o seu nome. Não sei como andará ele hoje. À época, ele cantava de oito em oito segundos, durante a madrugada, segundo depoimento do seu algoz.

Agora, Epa respeitava horários.

E, claro, não vivia em plena Copacabana, conforme seu patrão lhe segredou, depois de ler a notícia que, aliás, encontra-se registrada logo abaixo.



Mas voltando à manhã fatídica, nunca imaginou que passaria por tal situação. Ao contrário do amigo Natal, o Epa não foi preso. Pôde andar toda a manhã, desfilando a sua impotência diante de todas aquelas beldades, suas conhecidas há tanto tempo.

Uma verdadeira humilhação. Estava livre do pescoço para baixo. 

Imaginem a cena! Como cantar com a goela presa! 

Daquela manhã jamais esquecerá!

Após um tempo interminável, apareceu um cidadão todo uniformizado que o tirou, finalmente, daquele constrangimento.

Soube, dias depois, que o tal artefato tinha como lugar de uso o tornozelo. Claro, com os gambitos que tem, foi mais fácil o meliante desfazer-se da engenhoca prendendo-a ao pescoço do Epa. Um colar de fazer inveja às belezocas do quintal!

Agora, o Epaminondas acredita, firmemente, que o meliante não quis debochar de ninguém. Quis livrar-se da engenhoca e foi criativo.

O Epa, que se recupera do vexame diante das suas fãs, anda a cantar mais alto do que o de costume. Só para reforçar seu importante papel no galinheiro do seu Humberto.

Ouviu, dias atrás, seu patrão a matraquear pelo galpão umas ideias com as quais concorda.

Se a coisa está tão fácil assim, melhor é dispensar as tais tornozeleiras. Afinal, se assim fosse, ele, o galo Epaminondas, não teria sofrido todo esse vexame.

Quanto ao seu patrão? 

Bem, o Epa não tem uma resposta de pronto.

Acredita, porém, que ele e os demais estancieiros farão a diferença quando exigirem do Estado soluções eficazes e duradouras, para que o deboche não se estabeleça como prática cotidiana.



Aliás, a criadora do Epaminondas lembra o poema TECENDO A MANHÃ, de João Cabral de Melo Neto, que reforça a necessidade de união de todos, representados ali, ao invés do canto, pelos gritos dos galos, que se agrupam em torno da construção de um tecido social tão forte que ascende, por si só, em busca de soluções para o coletivo.


Pois é! Epaminondas e seus pares não sabem que serviram de mote para tão denso poema. Poema que, tornando-se concreto, poderia resolver o caso “das tornozeleiras”. Quem sabe, com o decreto de sua inutilidade e com o avanço e efetiva solução do problema carcerário no Brasil.

Quem sabe!





TECENDO A MANHÃ – poema de João Cabral de Melo Neto