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sábado, 23 de novembro de 2013

GRADES INVISÍVEIS

Você é prisioneiro e nem suspeita. E o mais aterrador é exatamente isso: não se dar por conta.
Você está diuturnamente ligado. Até quando dorme, o seu entorno mantém-se conectado. Há quem diga que seus dedos, em pleno sono, são, por vezes, vistos a deslizar sobre o lençol na busca incessante da conexão. Há quem já esteja próximo do ser “autômato”, aquele descrito por George Orwell.
E o pior é que essa contínua conexão, que começa precocemente, prima pela pura diversão, pelo simples entretenimento.
Como esse ser irá adquirir cultura, aquele ingrediente que o tornará diferenciado e não apenas uma mera reprodução do coletivo de que faz parte em número, porém, não necessariamente em pensamento, em virtudes, em sensibilidade, em imaginação?
Como se pode adquirir cultura sem ler uma obra literária?
Como aguçar a sensibilidade para a música sem apreciá-la? Será que é suficiente, para tanto, ouvi-la como fundo de uma conversa pelo facebook, que, por sua vez, usa uma linguagem quase criptográfica?
Reflexão é coisa que se adquire após um tempo suficiente de amadurecimento obtido através de leituras e não em bate-papos pelo face.
Qual o futuro de um jovem que permanece sete horas em frente a uma tela, apenas divertindo-se, jogando, digitando letras desconexas que expressam sentimentos de alegria, prazer, raiva, descontentamento?
Há que ter presente a indiscutível importância da tecnologia da informação como ferramenta auxiliar do conhecimento. Nunca, porém, como base para uma sólida formação. Isso, claro, se estivermos interessados em capacitar os jovens a assumirem o papel que lhes cabe, qual seja o de transformar, para melhor, as sociedades as quais pertencem.
Agora, se esse não for o propósito, acredito que essa tecnologia poderá estar a serviço da criação de hordas de seres que absolutamente não pensariam, pois o pensar, ato que distingue o ser humano dos demais, estaria totalmente refém do inconsciente. Essa é a chamada sociedade Ingsoc, vislumbrada por Orwell em seu livro 1984, onde sistemas sofisticados, aparentemente não totalitários, poderão conduzir-nos a perdas de conquistas humanas que levaram séculos para se constituírem. Aliás, um livro escrito em 1948 e profundamente atual.
Qual de nós não pensa na linguagem da Internet ao se deparar com o vocabulário da Novilíngua?
Quem não se enxerga no duplipensar, quando vê mudanças repentinas de posições ideologicamente contrárias e que a nós passam a tornarem-se legítimas, tão legítimas que podemos adotá-las, conforme as conveniências do momento, de uma forma ou de outra?
Quem não se assusta ao ver os “Proles” de 1984 serem, hoje, uma expressiva fatia da humanidade, cujas opiniões ou a ausência delas é absolutamente indiferente para o “establishment”?
Há sempre o risco de esses usuários tornarem-se tão despreparados, tão vulneráveis à realidade que exige conhecimento, competência, espírito crítico nas escolhas, que ao abrir-se a porta dessa grade que os aprisiona, não consigam por ela escapar. Permanecendo, portanto, presos ao comodismo, a uma parca sobrevivência, pois não terão possibilidades de um pleno desenvolvimento da sua individualidade. Essa perder-se-á nos estereótipos do grupo, da turma, do coletivo massificado.
Agora, para descontrair, leia O PASSARINHO ENGAIOLADO de Rubem Alves que demonstra bem essa possibilidade de desistência da liberdade até para um animalzinho que só sabe viver voando, livre, capaz de, pelo instinto, safar-se dos perigos.
Por outro lado, Martinho da Vila traz, para compensar, uma passarinha bem mais corajosa que sai em busca de companheiro e que não deixaria, com certeza, as pimentinhas do conto de Rubem Alves intactas. Acompanhe a letra do samba GAIOLAS ABERTAS na voz de um de seus autores. O outro é João Donato. Bom divertimento!
Ah! Não se esqueça de conviver mais, conversar mais, ouvir mais, enxergar mais. Tudo ao vivo e em cores.
E, por favor, desligue o tablet na hora do almoço!









Martinho da Vila – Gaiolas Abertas





terça-feira, 7 de fevereiro de 2012












EL SAPUCAY

O dedo escorrega, por acaso, sobre o botão do controle remoto. E eis que surge uma grata surpresa: um festival. Um festival transmitido, ao vivo, pela Televisão Educativa do Estado do Rio Grande do Sul. Mais precisamente o 22º Festival de Chamamé e o 8º Festival do Mercosur, em Corrientes, que reuniu, este ano, os três países que cultuam este ritmo latino-americano: Argentina (Corrientes), Brasil e Paraguai.

Foram várias noites de apresentações. No palco, as mais diversas expressões artísticas. Um desfile de cantores, músicos, bailarinos, todos dando o melhor de si para representar o país de origem. E o Brasil esteve bem representado com grupos aqui do Sul e, também, de Mato Grosso do Sul.

Que o chamamé seja por nós, gaúchos, apreciado não é novidade. Que, agora, também lá para as bandas de Mato Grosso seja tocado, já é algo mais novo. Promovem eles, inclusive, um festival regional do chamamé. Pois até São Paulo tem um grupo que toca chamamé, o conhecido Barra da Saia, composto por belas mulheres que se apresentam tocando e cantando chamamés.

Agora, a novidade seria mesmo se houvesse a divulgação na mídia de evento cultural do porte desse Festival.

Isso realmente seria uma grande novidade. Mas, parece, estamos longe disso.

Deveríamos festejar esse congraçamento de raças, costumes, culturas, países, todos irmanados em torno de um ritmo, uma poesia, um sapucay forte a unir a América Latina.

Com certo enfado ou, digamos mesmo, nojo de assistir a tantos programas de baixo nível, que prestam um desserviço à educação e à cultura como um todo, deslizei o dedo e descobri, por acaso, que ainda sobra alguma coisa de útil para se assistir, sozinho ou em família.

Claro que a Televisão Educativa cumpre seu papel ao retransmitir esse tipo de programa.

E as demais emissoras cumprem que papel? Informar, dirão muitos. Isso é correto. Na maior parte das vezes, porém, apresentam programas que visam manter seus assistentes cativos de cenas e malfeitos que já fazem parte de seu cotidiano.

 Assim, contribuem para tornar seus assistentes mais ignorantes do que já são. Uma massa de manobra, sem capacidade de crítica, é o que almejam?

Então, é isso! Para que divulgar programas que acrescentam valores, como os de irmandade, congraçamento, união, respeito!

Carecemos de uma diversão saudável, sim.

Por que continuar reforçando, através de programas televisivos, os elementos mais sombrios de que é composto o ser humano. Todas as suas fraquezas, todo um viés de atitudes negativas, que perpassam o ser humano, são reforçadas, diariamente, através de novelas e de programas os mais diversos.

Fique claro que não se pretende a alienação, a fuga, o desconhecimento das mazelas dos indivíduos e da sociedade como um todo. Basta acompanhar o noticiário para se ter uma visão clara do que ocorre.

A função da informação é exatamente essa: informar. Agora, por que tenho que transpor para a tela todas essas mazelas dando uma feição, o que é pior, de algo glamoroso, algo compensador. Isso traz um reforço constante da falta de valores éticos e morais de que a sociedade deveria envergonhar-se. Nada justifica essa realimentação diária. E aqui não estamos a falar de programas humorísticos. Esses debocham, escancaram as ações mais torpes com escárnio, com ironia, com humor. Porém, não as glamorizam, não as tornam passíveis do desejo de uma massa deseducada e falha de valores. Também não estamos falando de moralismo.

Os meios de comunicação têm um papel primordial no reforço de valores positivos, criados e cultivados na família e sedimentados através de uma educação formal de qualidade.

Está na hora de dar uma espiada, “uma espiadinha”, em programas que elevam o nível cultural do cidadão. Temos aqui incluídos as entrevistas, os programas de debates sobre os mais diversos temas, todos atuais, as audições de grupos, bandas, as releituras de livros, etc. Um verdadeiro arsenal de matérias e uma plêiade de profissionais a expor ideias, conceitos, tendências. Tudo visando ao aprimoramento do conhecimento do cidadão comum.

Isso não dá IBOPE?

Os profissionais da comunicação sabem que isso dá IBOPE, sim. Temos como exemplo próximo o Programa Conversas Cruzadas que obteve o prêmio de Melhor Programa da Televisão, no ano de 2011, no Estado (Prêmio Press). Isso se deveu, em parte, pela grande audiência, constante, que os telespectadores dispensam ao programa.

Agora, espera-se que as emissoras de televisão atentem para isso. Mas parece que não há interesse num novo modelo que busque aprimorar o gosto do telespectador.

Enquanto isso não ocorre, soltemos um sapucay de revolta, que anda preso na garganta. Um sapucay que ecoava entre os índios guaranis, demonstrando um chamamento a uma postura guerreira. Hoje, ainda audível, nas apresentações de chamamés.

Que esse sapucay de chamamento alerte para o perigoso caminho de uma sociedade desprovida de referenciais positivos. Restando a ela apenas a dissimulação, a mentira, a falsidade, o engodo, a vantagem levada às últimas consequências. Tudo regado a muito álcool. E o sucesso, ao final, do(a) concorrente mais... Deixa pra lá...

Tudo na telinha, ano após ano.









Apertura del Festival de Chamamé – 2012 

Festival de Chamamé 2012

Chamamecero – Neto Fagundes


Soy El Chamamé – Canto da Terra


Alma Serrana – Pot-pourri de chamamé

 
Chamamé – Merceditas – Gicela Mendez Ribeiro y Barra da Saia ao vivo em São Leopoldo

 
Soy El Chamamé – Shana Müller

Buenas e M’Espalho – Eco do Sapucay

Galpão Nativo – Entrando no M’bororé – Elton Saldanha