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segunda-feira, 16 de julho de 2012











TEU MELHOR AMIGO


Faça um pacto com ele. Que ele o livre de conchavos, de “mestres”, de “camaradas” e suas “maracutaias”. E tu lhe serás eternamente grato. Ele, na verdade, deve ser tua sombra. Aqueles outros de infância, talvez se percam pelo tempo afora. E os que forem chegando nem sempre terão raízes firmes o suficiente. Alguns, num primeiro vendaval, serão levados pela correnteza sem explicação alguma. Outros ficarão presos por tênue filamento, esperando o momento em que também se desprenderão. 



Haverá aquele que jurará ser o teu melhor amigo pra sempre, além de ser teu parceiro, mas que, também, um dia, talvez desapareça. 



Há outros, aqueles que te deram a vida, teus amigos confiáveis, que, um dia, partirão inevitavelmente. E como tu ficarás? 

Como todos ficam: ainda teimosamente investindo em outros “amigos” que restarão. Queiramos ou não somos seres gregários e isso é um passo para que uma amizade aconteça. E é bom quando ela permanece pelos tempos afora. Mas nada nos garante que ela se sustentará. 

Talvez caiba a ti tornar-te aberto a todo sinal de aproximação, a qualquer momento, pois daí poderá surgir um amigo. Nunca esquecendo que um amigo se constrói com atenção, empatia, apoio, solidariedade, incentivo e por aí vai. É difícil? É dificílimo. Nada que envolva relações entre seres humanos é de fácil construção. Acredita-se, porém, que valha a pena. 

Não àqueles a quem se chama de “mui amigo”. Cuidado, esses existem para atrapalhar a sombra que te acompanha. Essa, sim, teu verdadeiro amigo. 

Aquele amigo que faz parte da tua essência, aquele que se diverte sozinho contigo, que se sente feliz pela tua presença, embora em solidão estejas. Aquele que dialoga contigo e nessa comunhão visceral até passa o mate pra ti. 

Esse amigo deve ser cultivado. Que é aquele que melhor nos entende, porque somos nós mesmos. 

Aos outros todos, aos que persistem nessa tão delicada parceria, os nossos cumprimentos nesse Dia do Amigo. Quem os tem que os guarde no lado esquerdo do peito, como diz a canção. 








Canção da América – Milton Nascimento 







Comentário via Facebook:
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Vanya Caloy comentou seu link.
Vanya escreveu: "Lindo querida. Adorei, principalmente por ser teu! saudades de vc"











quarta-feira, 12 de outubro de 2011











CHAMA INTERIOR


O olhar que espia atrás da porta, em busca do engradado de garrafas de laranjinha, um conhecido refrigerante da época, constata que lá está ele. E isso queria dizer que o avô chegara. Ele sempre abastecia a despensa com guloseimas, além daquelas aguardadas garrafinhas. Uma vez ao ano, ele vinha à Capital visitar a neta. Permanecia um mês por aqui.

Os dias que antecediam sua chegada eram marcados por muita expectativa. Ela que ainda brincava de boneca, que tecia diálogos intermináveis com seus “filhos”, nesse período, esquecia deles e vivia no encalço do avô, que lhe fazia todas as vontades.

Certa feita, ao vê-la triste porque uma amiguinha tinha ganhado um anelzinho, brinde que acompanhava uma bala, e que essa ostentava a tal aquisição com certo ar de soberba, saiu em busca de uma solução. No dia seguinte, apareceu com dez aneizinhos, um para cada dedo, e aconselhou-a a ir brincar com a tal amiguinha. E lá, de longe, ficou a rir com a surpresa da tal guria. Dias depois, a neta acabou dando alguns anéis para a amiga, pois ganhara além da conta.

Esse era o meu avô. Ainda bem que eu, segundo a própria mãe, sempre fui uma criança cordata, não exagerada nos pedidos.

Às tardes, saíamos a passear pela vizinhança. Muito falante, como um bom italiano, e já conhecido de todos, ia cumprimentando quem encontrava pela frente. E se o convidassem para um cafezinho, lá íamos nós, casa adentro. A cozinha, com certeza, era o nosso destino.

Seguidamente íamos, também, ao armazém do seu Nico, onde comprávamos um rocambole “inesquecível”.

Soube pela minha mãe que, numa dessas estadas por aqui, estivera em Palácio visitando Dona Ana Niederauer Jobim, esposa do Governador Walter Só Jobim. Mantinham relações de amizade desde quando o Dr. Walter estivera por Santa Maria, investido do cargo de Juiz, posteriormente de Promotor e ainda à frente de uma banca de advocacia, antes de tornar-se Governador do Estado. E nada mais coerente, na sua ótica, do que ele a visitasse, levando recados da esposa, que não o acompanhava nessas viagens, pois não era minha avó, já falecida.

Contou, posteriormente, que fora recebido por Dona Ana com um sonoro: Como está, seu Noal? Ele teria interrompido uma reunião da 1ª Dama com senhoras de uma associação benemerente, que lá estavam reunidas para um chá. Segundo ele, teria ela se levantado e ido, gentilmente, atendê-lo, desincumbindo-se ele, assim, do pedido da esposa.

Ele, que se alfabetizara aos dezoito anos, incentivava meus estudos, pois eu já iniciara o Curso Primário. Dizia, já naquela época, que o mais importante para uma mulher, bem antes do casamento, era a sua formação acadêmica e a consequente independência econômica. Era um sujeito muito avançado para aqueles tempos.

Vez por outra, cometia até algumas transgressões quando cantarolava, em bom italiano, em voz baixa, por razões óbvias, o estribilho de “La Giovinezza”, o hino fascista. Um dia, até escrevera o tal refrão para que eu pudesse, também, acompanhá-lo. Era assim:

“Giovinezza, Giovinezza

Primavera di bellezza,

Della vita nell’asprezza

Il tuo canto squilla e va!” 



Acredito mesmo que seu fascínio era mais pelo intérprete do famoso hino, Beniamino Gigli, do que pelas ideias ali contidas. Adorava óperas e esse tenor, à época, era o maior, mundialmente conhecido e respeitado. 


Lembro-me dele cantando Santa Lucia, conhecida canção napolitana, também gravada pelo mesmo tenor. Anos mais tarde, eu executaria essa peça ao acordeom. Ele, porém, não estava mais por aqui para ouvi-la. 


Meu avô era, também, às vezes, meio irreverente, escandalizando quem estava por perto com suas “tiradas”. Certa feita, ao ver uma das filhas toda empolgada com o glamour que Hollywood exportava naqueles antigos anos, chamou-a assim: “Ó tu, de olivorkis”, não se importando com o falar errado. Era pura brincadeira quando fazia essas investidas. Todos riram, menos, é claro, a tiete hollywoodiana. 



Tinha bom humor, confiança em si próprio e fé Naquele que nos guia. 

Tinha, permanentemente, acesa uma chama que o acompanhou por toda a vida. Era um entusiasta do belo, da música, da vida. 

Foi essa mesma chama que me alimentou durante a infância, que me impulsionou sem temor ao desconhecido, e que me fez ingênua o suficiente para não sofrer tão fortemente com as agruras que a vida adulta certamente me reservaria. Essa alegria interior que nós crianças, todas, exercitamos durante a nossa infância. E que se deve manter acesa. Só assim conseguiremos superar momentos de dificuldades e de perdas. 

Pois, um dia, ao se despedir da neta, para retornar a sua cidade, não entendeu porque ela desandou num choro convulsivo, inesperado, como nunca fizera antes. Mesmo prometendo que voltaria no ano seguinte, como de costume, não foi capaz de fazê-la conter-se. 

Ele não sabia que não mais voltaria. 

Ela também não sabia. 

Mas ela sentiu: como só as crianças costumam sentir.





Cultivemos nossa chama. 


Que ela acesa nos mantenha adultos mais alegres, mais criativos, mais destemidos, mais solidários. 
Tão solidários como aquela menininha que ofertou alguns anéis à amiga, diante dos tantos que ganhara.

Que o entusiasmo ronde nosso agir.

Que nossa criança interior se mantenha para sempre presente no nosso dia a dia.

E que não apenas nos lembremos dela no Dia das Crianças.

Que os anjos nos protejam tal qual na infância.

Que continuemos acreditando neles.

E que recebamos um toque angelical nas ações que constroem nosso caminho.

É o meu pedido nesse dia especial.






Algumas peças musicais na voz de Beniamino Gigli:



 Non Ti Scordar Di Me



Nessun Dorma


O Sole Mio


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