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sábado, 21 de setembro de 2013

DE IMAGENS, AÇÕES E RESULTADOS...E ESQUEÇA O MATE DO JOÃO CARDOSO!

Uma imagem transmite aquilo que os olhos estão prontos a perceber. Portanto, mais de mil palavras podem expressar, de formas diferentes, uma imagem posta à disposição do nosso olhar.

Tomemos como exemplo o nosso conhecido e destrutivo cupim.

Infelizmente, hoje, quase não existem mais barreiras para esses animais. Nossas matas ciliares, de importância capital para a sobrevivência ideal de nossas cidades, foram dizimadas por construções de casas, prédios comerciais, transformando a vida desses cupins.  Por consequência, a vida na urbe também se transformou com a invasão desses insetos, antes restritos ao seu habitat. Eles, ao que se sabe, têm função ecológica por demais importante. Mas, não nos deteremos aqui a falar sobre a necessidade da existência desses animais para o equilíbrio do ecossistema.

Falaremos do que eles podem representar e ensejar aos olhos de quem atenta para o fenômeno dessa invasão.

Olhos infantis poderão vê-los da seguinte maneira:

AQUELE BICHINHO

Que bichinho mais danado!

Joga, todos os dias, pelo buraquinho,

Aquele pozinho, bem amarelinho!

Não sei mais o que faço contigo.

Se te deixo livre, a matar a tua fome,

Ou se escondo toda essa comidinha.

Nunca vi tua carinha.

Acho que tens irmãozinhos,

Todos iguaizinhos,

Com aquela mesma fominha.

Quem sabe ajeito uma salinha,

Cheia de cadeirinhas.

Só pra te ver roer todas as madeirinhas.

Porque, no fundo, sou tua amiguinha.

Um olhar maduro, por outro lado, poderia vê-los, assim:

RESCALDO

Que bichinho infeliz!

Joga, todos os dias, pelo buraquinho,

Aquele pozinho, bem amarelinho!

Não sei mais o que faço contigo.

Se te deixo livre, a matar tua fome,

Ou se te caço, te prendo, te mato...

À míngua, acho que te darei um trato.

Que aquela cadeira é o que me restou do contrato!

Ah! Vê se pode...

Eu ficar sem as lembranças, sem as benquerenças,

Sem aquele sorriso maroto, ali sentado, pronto pra o ato?

Por outro lado...

Acho que podes comê-la por todos os lados.

Vou mesma substituí-la: num novo contrato.

Por outro lado, olhos ecológicos, com certeza, lembrar-se-ão da árvore tombada sobre um cidadão, levando-o à morte. Ou, ainda, aquele carro esmagado pela queda de outra árvore. Ou, também, aquela outra frondosa árvore, já toda oca, que foi cortada em boa hora.

Para esses casos, provavelmente, não caibam poesias, nem cânticos de louvor, porque a tristeza procura esquecer o momento. Só à notícia interessa a triste informação: da perda da vida de um cidadão ou da perda de uma figueira, totalmente oca.

Voltemos às imagens acima descritas.

Da primeira, pode-se fazer um poema e incentivar uma menininha a continuar olhando para tudo, observando tudo, porque daí é que surge a capacidade de criar para tantos futuros poetas.

Pela segunda, observa-se a capacidade de enfrentamento de quem recolhe os pedaços e reconstrói a si mesmo, desdenhando de tão insólito resultado.

Por outro lado, a terceira imagem cobra de todos uma posição mais atenta, mais cidadã, mais responsável sobre o que nos cerca e a destruição que estamos a promover ao nosso redor, com os consequentes resultados. E esse 21 de Setembro é uma data importante para esse despertar.

As três imagens trazem resultados: alguns auspiciosos, outros desastrosos.

Agora, abaixo, vejam outras duas imagens.

Em uma e outra aparecem desenhos que lembram os caminhos construídos pelo trabalho exaustivo do cupim.  

Na primeira, com certeza, o tracejado do caminho é verdadeiramente elaborado pelo cupim, nosso velho conhecido.

Na segunda, porém, apenas o traçado é muito semelhante ao construído pelo cupim. Na verdade, é um duto aberto, em uma parede, feito por duas ferramentas, a makita e o martelete, que preparam o caminho para a colocação de um split.

Nesses desenhos, igualmente, não há lugar para poesia. Talvez, quem sabe, para uma prosa poética, com relação ao segundo desenho, considerando que esse novo traçado está sendo construído em uma nova residência. Tenho para mim que a dona daquela cadeira, anteriormente mencionada na segunda poesia, resolveu trocá-la não apenas por outra, mas trocar de residência, sem necessidade de novo contrato.

Vejam, portanto, a importância de uma colônia de cupins. A que pode nos levar...

Todas as imagens, aqui relacionadas, nos conduzem a muitas palavras e a muitas ações, desde que queiramos obter resultados. E positivos, é o que se espera.

Agora, do jeito que as coisas andam, o nosso João Simões Lopes Neto, famoso contista gaúcho, cuja obra tornou-se universal, tendo seus contos e lendas inspirado o Desfile Temático da Semana Farroupilha desse ano de 2013, permanece atual. Sua obra ajusta-se, daí seu caráter universal, ao momento presente, pois seus contos retratam, como no referido abaixo, situações perfeitamente consentâneas com os tempos que estamos a viver.

Haja vista o conto “O MATE DO JOÃO CARDOSO” que, ao final, afirma:

“Os mates do João Cardoso criaram fama. A gente daquele tempo, até, quando queria dizer que uma cousa era tardia, demorada, maçante, embrulhona, dizia – está como o mate do João Cardoso!” (Trecho extraído, ipsis verbis, da obra Contos Gauchescos, de João Simões Lopes Neto, Editora Pradense, 2011, p.26)

Na verdade, o mate do João Cardoso nunca aparecia. E o andante, que era convidado a apear pra tomar um mate, acabava indo embora, sem ver nem o cheiro do mate.


Pois é, bem mais de mil palavras foram usadas e aquela decisão, tão esperada pela nação, não veio.

É! Aquilo “lá” está como o mate do João Cardoso!

Deixa pra lá!

Pra poesia nunca serviu!

E pra notícia, qualquer dia, nem serve mais, também!

E, agora, para compensar tanta falta de resultado, vamos nos divertir ouvindo a música Santuário de Xucros, com o Grupo Os Monarcas, em que a letra menciona o cupim como algo de grande serventia, pois os gaúchos trazem do campo porções do cupinzeiro, uma espécie de pó, que se agrega a uma resina, própria do cupim, e que os gaúchos socam, formando uma mistura que serve para tornar o chão batido da sala mais resistente, por exemplo, à dança. Costumam juntá-la à cinza proveniente do fogo de chão. E, como diz a letra:

“Feito de cinza e cupim o chão batido da sala

Piso bom igual àquele grã-fino nenhum iguala...

Ou, como na letra de Um Gaiteiro à Moda Antiga, de Baitaca, em que, lá pelas tantas, aparecem esses versos:

“Nos braços dela sigo manso

E amanheço que nem zorrilho

Enfurniado num cupim”

Esse cupim é o próprio cupinzeiro que, já possuindo buracos feitos pela ação do homem ou de outros animais, serve de descanso para o zorrilho. Uma imagem que bem retrata a semelhança em que se encontra o casal ao amanhecer.
Santuário de Xucros – Os Monarcas