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terça-feira, 27 de setembro de 2016

TÍTULO? PARA QUÊ?






Com os dedos pega porções do alimento que restou naquela embalagem ali deixada.

Sentado no meio-fio da calçada, faz companhia àquele ipê amarelo, todo florido. Uma árvore, um homem, uma fome.

Algumas flores, já caídas ao chão, formam um pequeno e belo tapete junto àquele homem. Ele, porém, não tem olhos para o que o cerca. A sensibilidade para o belo cedeu lugar ao instinto mais primitivo que poderá mantê-lo vivo: o ato de comer. Só aquele que tem garantida a satisfação dessa necessidade é que pode dar-se ao luxo de sensibilizar-se com esta visão.

E por que escrever sobre isto?

Porque a palavra serve para expressar nossos mais profundos sentimentos.

Às vezes, um gesto basta. Alcançar o alimento a quem tem fome. Em outras, é preciso mais.

É preciso juntar sentimentos, palavras e ações para modificar a letargia a que estamos acometidos. Nós, a humanidade como um todo.

Um barco, um mar, um corpo indefeso, um menino morto estirado numa praia, uma imagem para sempre gravada na memória. Outros tantos corpos já foram tragados pelo mar.

Parte de uma cabeça, sob os escombros, revela a existência de um bebê: único sobrevivente de sua família.

Outro sobrevivente de apenas quatro anos de idade, com o rosto ensanguentado, aparece sentado, passando a pequenina mão sobre o rosto para retirar o sangue, revelando uma postura de adulto. Embora com pouco tempo de vida, já enfrenta, com certa impassibilidade, o terrível momento por que passa.

Reuniões e mais reuniões: anuais e de emergência. Discursos e mais discursos. Palavras vãs, mentirosas, ardilosas, interesseiras, aparentemente consternadas. Elas, as palavras, dependem de quem as profere. Sobrevivem ou são esquecidas, são sinceras ou eivadas de falsidades.

 
Na cena do ipê amarelo, poderia acrescentar que aquele homem, após o ato de comer, deixa ali atirados sobre a calçada a embalagem com algum resto de comida que não mais interessa.

Prefiro adornar a cena com as cores amarelas do ipê. Será um mendigo, um desempregado, um incapaz, um malandro? Não sei. Fiz a minha parte. Coloquei a comida que restara da janta. Ainda em boas condições de ser aproveitada. Na manhã seguinte, da janela meu olhar captou aquela imagem e quis descrevê-la em palavras. Será que fiz mesmo a minha parte? Acho que a letargia tomou conta de cada um de nós. Talvez tenhamos, mais uma vez, a possibilidade de cobrarmos, pelo voto, a ação de quem nos representará nesta cidade, que está perdendo o seu sorriso pelo qual era conhecida.


Quanto às cenas desta guerra na Síria, que já dura cinco anos, não há árvores em pé, muito menos floridas. Os destroços, os escombros, os corpos, os seres humanos que restam e os que conseguiram escapar ou aqueles, ainda, que morreram pelo caminho, são reveladores de que as palavras, apanágio do ser humano, são usadas a bel-prazer de quem as pronuncia ou as escreve em contundentes discursos vazios e hipócritas.

O que esperar desses seres manipuladores que permeiam a sociedade humana?

Nada de bom há de vir. Convém, porém, atentar-se que o sofrimento de milhões de seres humanos, em um determinado momento, há de retirar da letargia alguns outros milhões que, por receio do mesmo fim, levantem-se e sejam porta-vozes de uma Carta Constitucional Global que a todos proteja e que aponte novos rumos para a humanidade: já exausta. A palavra, atributo maior, único e exclusivo do ser humano, usada com este propósito protetor representará a redenção da humanidade.

E, quem sabe, só então o ser humano atinja a PAZ.

Aí, sim, valerá a pena dar um título a esta crônica: A CARTA REDENTORA.

Utopia? Talvez!

Comecemos pelo nosso entorno. Por combater a violência que já se arrasta por tempo demais. Isto já será um avanço e uma perspectiva de melhores dias para todos nós.



A PAZ – Roupa Nova





 


segunda-feira, 31 de agosto de 2015

UM POUCO MAIS... UM POUCO MENOS...


Nem sempre é questão de escolha. Ou, quem sabe, seja de escolha única e última pra não sucumbir, pra empurrar o destino para não sei onde, pra não sei quando. Um movimento alternativo entre jazer quieto, escondido. Ou lançar-se ao desconhecido, como possibilidade única de agarrar-se ao que restou, ao que ainda persiste vibrando e que impulsiona na aventura de viver, de conseguir continuar a viver, mesmo que apenas seja uma sobrevivência.

Um pouco mais de coragem é preciso.

Um pouco menos de medo.

O caminho é por aqui. A fronteira é logo ali.



Quem de terras distantes vem, vem para reafirmar sua condição de um ser que veio ao mundo para viver, para sonhar, para lutar, se for preciso. Mas, sobretudo, para exercer o direito de existir até que o tempo bata à sua porta e o leve a ultrapassar o umbral. O caminho nem é preciso buscar. Ele se estende, como um tapete, ao natural, pela ação do tempo.

Um pouco mais de fé é preciso.

Um pouco menos de descrença em si e no outro é necessário. Para tanto, caminhos alternativos devem ser buscados para que a caminhada se prolongue com êxito.



Há quem, porém, venha de uma terra, de um mundo imaginário que apenas existe no pensamento negativo de seu autor.

Para esses um pouco mais de iluminação é preciso.

Um pouco menos de trevas, assombros e fantasmas é necessário. O caminho, porque interno, é solitário. Mas, quando alcançada a luz, é plenamente gratificante porque os fantasmas dissipam-se, possibilitando o voo para a liberdade interior.

É preciso muito mais determinação, muito mais disciplina, muito mais conhecimento de si próprio.

E um pouco menos de competição com o outro. É reconhecer-se, ao fim e ao cabo, iluminado pela ação DELE.



A fronteira, que o separa do nada para o existir, pode não ser apenas uma miragem. Pode tornar-se algo concreto, visível, até palpável.

Um ninho que acolhe não é exatamente um acampamento que abriga. Mas um acampamento pode vir a tornar-se um ninho. E isto só depende de quem acolhe.

É preciso um pouco mais de solidariedade. E um pouco menos de egoísmo.

E o Ninho do Pássaro, em Pequim, acaba de nos presentear com imagens de atletas, oriundos de países paupérrimos, que primeiro competiram consigo próprios para agora competirem com outros e, ao final, darem-se as mãos: porque o esporte une. Assim como a música, como a poesia. Elas não têm cor, nem cheiro, nem raça, nem crença, nem ideologia.

Elas têm tudo o que de melhor o ser humano produz. Elas são a expressão da interioridade de cada um de nós. E esta é uma dádiva que todos recebem, indistintamente.

Aceitemos que a fronteira está próxima. Depende de nós. Para que a ultrapassemos e atinjamos melhores dias, todo o esforço é bem-vindo.



Recebamos o irmão que foge em busca de sobrevivência, direito indiscutível e inalienável de todo e qualquer ser humano.

Recebamos, com um aplauso ensurdecedor, aqueles que, de territórios de extrema pobreza, se sobressaem, apresentando suas melhores performances, alcançando premiações em competições internacionais.

Recebamos a nós próprios com carinho e enlevo, ao alcançarmos a paz interior que nos fará melhores para nós mesmos e para os outros.

Um pouco mais de luz nas relações.

Um pouco menos de visões estereotipadas, pois somos únicos e insubstituíveis.

Daí, fazermos diferença no coletivo.

E o coletivo é o futuro.

Um pouco mais de diálogo.

Um pouco menos de intolerância.

Lembremos que a capacidade de comunicar-se, através da palavra, é inesgotável. Façamos uso dela até a exaustão. Porque melhor a exaustão pela palavra do que o enfrentamento pela força bruta.



Aliás, quando usada na plenitude, nem se precisaria mais dela, porque, olho no olho, chegaríamos à comunhão. Poderíamos, após, até emudecer para, apenas, ficarmos saboreando-a como versejou Carlos Drummond de Andrade no poema A Palavra, em “A Paixão Medida”, publicado a seguir.

E nós, seres humanos, detentores do poder da palavra, deveríamos usá-la para nos tornarmos ainda mais humanos durante os momentos de dificuldade por que passam seres iguais a nós. É o que prega a música Ser Humano, interpretada por Zeca Pagodinho, quando diz:

- Você tem sempre uma palavra de consolo.

- Fica sem jeito se deixar alguém na mão.



E vai por aí...









Música Ser Humano interpretada por Zeca Pagodinho





segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

REFLEXÕES PARA UM PRÉ-NATAL

 
De que mais precisa Maria?
São tantas as necessidades a rondar nesse momento. Necessita de alimentar-se adequadamente, de sentir-se tranquila, amada, protegida, equilibrada, em paz consigo e com os outros. Necessário é, também, filtrar as imagens, para que só as belas adentrem pelos olhos. E os ouvidos pedem harmonias que transmitam plácidas sonoridades a embalar desejos de mãe, para que essas repercutam no ser a formar-se. Precisa, igualmente, de silêncios para que o futuro dia a dia transcorra entre pausas restauradoras.
Casaquinhos, mantinhas, bichinhos, roupinhas e um bercinho são de grande valia nessa hora.
 
A primeira Maria, que se tem notícia, carecia de muitas dessas necessidades básicas.
Mas o certo é que a ambas seria devido esse direito: o direito de dar à luz com dignidade.
E é o que se buscou naqueles tão antigos tempos, como até hoje se busca.
 
De outro pré-natal, porém, é que se está a lembrar nessa crônica. É a época que antecede, efetivamente, o Natal. Esse período, tão festejado por todos, Marias e Josés, não carece mais de roupinhas, mantinhas, casaquinhos ou bercinhos. Comemora-se tão somente (e não é algo menor) a lembrança renovada de um ato que foi grandioso, divino, que teve apenas aquele único e eterno momento: o do nascimento de Cristo.
O que se precisa, a cada ano, é renovar aquele bercinho improvisado dentro dos corações de Marias e Josés. Que nos lembremos de que a alimentação deve ser sempre a de bons pensamentos e ações. Que o espírito da partilha e da fraternidade se consolide em escala global. Que os silêncios dispensem palavras, porque se harmonizam nos olhares amorosos que se cruzam.
Essa é uma prática que, se renovada, tende a acompanhar os dias que antecedem a um novo Natal, pois, a partir dele, ingressamos imediatamente numa nova fase pré-natal. Sua duração é bem mais estendida que a humana, pois são 364 dias para que se pratiquem todos os ensinamentos que o fruto mais importante da Cristandade semeou.
Oxalá, essas sementes continuem a germinar ad aeternum, pois carecemos delas no nosso dia a dia, no trato com o nosso irmão.
Quanto aos bercinhos, mantinhas e roupinhas, deixemos a cargo das novas mães.
Quanto aos bichinhos, brinquedinhos, carrinhos e bonequinhas, deixemos tudo nas mãos de Papai Noel, figura criada para alegrar o comércio. Época em que a cobrança de comportamentos adequados dos pequenos, para ganharem o que desejam, vem bem ao encontro do interesse dos pais!
Cobranças que, aliás, repousam em ensinamentos que guiam a Humanidade há séculos.
 
E agora, como bons brasileiros, ouçamos um cavaquinho que dá nova vestimenta a músicas natalinas, tão nossas conhecidas. Boa audição!




Músicas de Natal no cavaquinho