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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

 








A TOCHA


Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá.
(trecho de Aquarela - Toquinho)

 
As imagens que a letra revela são belíssimas. A música Aquarela, eternizada na voz de Toquinho, é pura poesia, do início ao fim. Esse verbo descolorir, que teima em repetir-se, no final da canção, é o mote para uma reflexão mais aprofundada ao ensejo de duas comemorações importantes: O Dia da Criança e o Dia do Professor. Ambas tão próximas nas datas e tão interligadas pelos sujeitos nelas homenageados. Não se pode dissociar a criança/aluno da figura do professor.

A partir da letra, extraímos o verbo descolorir que é privar-se de cor. No sentido figurado, é perder o brilho, o esplendor, o colorido, o afear-se, desvigorar-se, ficar sem expressividade.

O letrista lança a ideia de que todos nós, num determinado instante, que não se sabe nem quando, nem onde, descoloriremos, perderemos o brilho, para, finalmente, fenecermos.

Será que nós todos perderemos o brilho no olhar, o jeito criança de olhar o mundo, a flama (paixão, entusiasmo), que nos permite vencer obstáculos e pilotar a tal astronave, referida na letra, com mestria? Ou será que muitos já serão descoloridos ao nascer? Isso seria possível? E outros se tornariam desbotados a partir da maioridade? Com essa indagação, façamos uma reflexão sobre a expressão “descolorirá”, tão repetida na canção.

É, em parte, verdade que vamos, ao longo dos anos, nos defrontando com momentos iluminados e outros não tanto. Transpomos o muro da infância com relativa suavidade. O da adolescência, já não sem alguma turbulência. E o da vida adulta, com certeza, com alguns pousos forçados, com algumas decolagens abortadas, avanços e recuos estratégicos. Mas isso será o bastante para descolorir, aos poucos, esse caminhar? Será que essa passarela, esse caminho, algum dia, ou, no último dia, descolorirá?

Para aquele que tem como vocação a arte de ensinar, que se acostumou a ver o brilho nos olhos de quem o observa, a simbiose do olho no olho permanecerá para todo o sempre. Quem consegue perceber esse brilho e devolvê-lo com mais intensidade, é porque já o possuía como uma dádiva. Foi apenas uma questão de lapidação. Na verdade, aluno e professor são coisas indissociáveis. Para aqueles mestres que permaneceram na retina de seus pupilos, a eles jamais caberá qualquer tipo de descoloração. Sua luz será perene.

A sensibilidade de ambos alimentar-se-á desde a pré-escola, quando ainda o desenho de um sol amarelo, com dois olhos sorrindo, iluminará e aquecerá essa combinação mágica. Ou ainda, bem depois, quando com seis retas poderão formar um hexágono e não mais um castelo. E, talvez, dependendo do fôlego e da vontade de estudar, quem sabe, com um simples compasso circule, não apenas o mundo sobre uma folha de papel, conforme diz a letra, mas elabore o esboço de uma construção na prancheta. Tudo bem redondo, tudo bem aconchegante. Tudo bem concreto, tudo bem real.

Portanto, quando há alunos motivados e professores com vocação para esse mister, o descolorir jamais se instalará. Ao mestre cabe esse papel, aquele que pilota o futuro, com as cores de uma aquarela, trilhando o caminho, qual peregrino, mesmo não sabendo aonde vai dar. É claro que, às vezes, esse futuro, sem pedir licença, muda nossa vida. Mas nós estaremos prontos a rir ou chorar, porque capazes de viver o bom e o mau momento, com igual intensidade. Temos, ou pelo menos deveríamos ter, reservas psicológicas para tanto.

Somos todos, professores ou não, seres de coloração intensa, ou deveríamos procurar ser. A cada um de nós cabe legar um eterno olhar colorido à vida. Se assim acontecer, não romperemos esse diferencial no encadeamento dos vários ciclos da nossa existência. Um olhar de criança, um olhar pleno de curiosidade, um olhar iluminado: é o que precisamos cultivar. E isso deve valer para todos.

Aos professores, em especial, porque cabe a eles o papel de iluminar o caminho desses jovens, fazendo-os enxergar e vibrar com possibilidades novas de transformação do mundo que os cerca. Isso se faz com muita criatividade, com uma dinâmica diferenciada em sala de aula, elementos que, quando existentes, favorecem uma interação de qualidade entre aluno e professor. Daí nascendo a admiração pelo mestre e a vontade de ouvi-lo novamente, de vê-lo mais uma vez, estando garantida, assim, a presença e a atenção desse aluno em sala de aula.

Essa retroalimentação entre aluno e professor permite a manutenção do brilho interior, a “chama”, que mantém aceso o pulsar pela vida, não permitindo que se instale o descolorir-se, nem no último segundo.

Os alunos de hoje poderão ser futuros professores, ou não. Agora, o professor, que ama o que faz, será para sempre professor. Seu papel principal é carregar a tocha e fazê-la arder até o último instante. E como um menino que caminha, “chega no muro” e vê o futuro, ultrapasse ela (a tocha) os tempos e, mesmo depois da morte de seu condutor, permaneça acesa para os que se dispuserem a fazer o revezamento.

Daí, nada, nunca, descolorirá.


FELIZ DIA DA CRIANÇA!
FELIZ DIA DO PROFESSOR!


Agora, quanto à letra da música Aquarela ressalte-se que suas imagens nos levam a viajar. Traçam, por sobre a Terra, a vida dos que a habitam, num movimento contínuo e inexorável de nascimento, vida e morte, enfocando o imponderável, a finitude dessa vida, essa estrada que “ninguém sabe bem ao certo onde vai dar”, essa “passarela” vestida de todos os matizes que, lentamente, ou abruptamente, “descolorirá”.

São imagens que, com certeza, nasceram de cabeças privilegiadas na arte de poetar.


 
OBS: As palavras sublinhadas foram extraídas da letra da música Aquarela, tal como se encontram escritas originalmente.



Aquarela – Toquinho



Jornal Zero Hora, 16 de outubro de 2012




sábado, 15 de outubro de 2011











O BRILHO NOS OLHOS

Olhar, todos olham. Enxergar, alguns poucos conseguem. É desses que se vai falar.

Nada de estranhamento com o outro. O outro sou eu. Se eu o enxergo assim, será bem mais fácil entendê-lo e me fazer entender.

Quem tem essa capacidade, já ganhou a metade do caminho da empreitada. Estamos a falar do ato de ensinar ou da troca de conhecimento, num sentido mais amplo, atitude moderna e condizente com a figura do professor. Principalmente, do professor dos dias atuais.

E a outra metade?

Pois essa é a metade mais difícil. Porém, embora difícil, observa-se que muitos a possuem. Ela requer criatividade, jogo de cintura, performances diferenciadas, uma mise-en-scène digna de um bom ator. E isso nem sempre requer recursos tecnológicos, tão escassos, porque não dizer inexistentes, em nossas escolas públicas estaduais. Precisa-se, sim, de muita criatividade e de um componente que completa essa outra metade. Precisa-se sentir amor no fazer, paixão no executar, entusiasmo no criar e alto desempenho na entrega do produto. O produto, aqui referido, é o saber.

Hoje, mais do que nunca, um saber compartilhado.  Diante de um grande desempenho, os aplausos da plateia vêm ao natural. A emoção despertada revela o objetivo alcançado. O brilho nos olhos tem que ser comum a todos os participantes do ensino-aprendizagem. A época do professor sentado em uma mesa, colocada em um degrau acima do nível da sala, terminou.

Aqueles antigos professores não eram ruins. Pelo contrário, tive excelentes mestres que relembro com carinho e admiração pelos conteúdos que me ensinaram. Porém, os tempos são outros e a tecnologia à disposição desses alunos, em casa, por exemplo, exigem do professor um desempenho diferenciado, atualizado e o mais próximo possível desse aluno. Sua tarefa é levá-lo, usando das ferramentas atuais, a refletir sobre o seu uso, visando à construção de conceitos. Lembremos que tão-somente a máquina não é suficiente no ensino-aprendizagem. Ainda temos, pelo menos por ora, a figura do professor como elemento necessário, não dispensável. A máquina ainda somente serve: não substitui.

Lembro com saudade de Arlindo Heinen, Miguel Lamela Nogueira (Professores de Língua Portuguesa), Lázaro Moraes de Andrade (Professor de Matemática), João Maria Day Peixoto (Professor de Geografia), Marlene Cândida S. T. Segóvia (Professora de História), Arno Antonio Lise (Professor de Ciências), Enéas Augusto de Aguiar Almeida (Professor de Língua Inglesa), Lorena Soeiro (Professora de Língua Francesa), Yolanda Maria Rosa (Professora de Educação Física). Esses são apenas alguns deles. A todos eles meu tardio agradecimento.

Ainda, muito tempo após esses primeiros mestres, o Professor Carlos Jorge Appel, Professor de Literatura, no Curso de Pós-Graduação, também foi importante. Quando lia alguns textos literários, percebia-o, por vezes, visivelmente emocionado.

Agora, como um professor/ator não posso deixar de mencionar o Professor Édison de Oliveira, excelente professor de Gramática e Literatura, no saudoso Curso Pré-Vestibular Mauá. Esse professor foi decisivo para mim. Um modelo a ser seguido. Um modelo, inclusive, para os dias atuais. Criativo, envolvente, carismático, cheio de humor e, antes de tudo, um profissional competente na sua área de atuação.

Como se vê, a tarefa de um professor é árdua, mas é bela. Eu diria que é sublime.

Pena que nossos governantes não coloquem essa profissão, a de professor, no topo das carreiras bem remuneradas. Afinal são eles que preparam, ao longo dos anos, alunos para as mais diversas profissões e para ocupantes, inclusive, das carreiras de Estado. A Educação formal está nas mãos desse profissional. Daí sua importância. A sua formação deveria ser um compromisso do Estado Brasileiro. A partir daí, a ascensão na carreira dar-se-ia pelo desempenho constatado por avaliadores comprometidos com as questões educacionais. A fiscalização impor-se-ia aos seus membros como a outros de qualquer carreira. Se os professores tivessem esse respaldo, essa distinção no tratamento, teríamos, com certeza, por extensão, condições de trabalho adequadas a esse nobre mister.

Utopia? Pode ser que seja.

Segundo Eduardo Galeano, conhecido escritor e jornalista uruguaio, ela serve exatamente para que nós não deixemos de caminhar. Eu acrescentaria que ela existe para que não deixemos de caminhar em busca da excelência do ser e do fazer.



E o brilho nos olhos?
Por enquanto é o que se tem. Que, aqueles que o possuem, persistam na profissão.
O olhar do aluno iluminando-se, quando o professor fala, é, por ora, a melhor recompensa – e única.


Minha homenagem a eles nesse Dia dos Professores.





Assistam, abaixo, aos vídeos que apresentam professores de Escolas Públicas Estaduais em seu trabalho cotidiano. Percebe-se neles, claramente, o sentido da expressão “fazer com amor”.



1- Andreo Luis Bolwerk – Professor de Geografia




2- Dilson Correa – Professor de Artes





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Comentários via e-mail:


Prezada professora:

"A educação é um ato de amor ao próximo, um ato de partilhar o conhecimento e principalmente de aprender! Não é pelo fato de sermos professores, doutores, mestres, que sabemos tudo. Pelo contrário, quanto maior nossa titulação, maior é a certeza de que não sabemos tanto assim, pois percebemos que a sociedade possui um conhecimento historicamente construído, muito maior do que a nossa mente é capaz de assimilar.

E é este valor que nós, professores da educação básica, devemos carregar. Que o conhecimento é imenso e que nós apenas conhecemos uma pequena parte, que com muito amor queremos compartilhar com os discentes. Para isso cada um tem suas maneiras: alguns utilizam canto, dança, jogos e outros instrumentos a fim de mostrar que o ato de estudar é importante e, principalmente, atraente, podendo ser até divertido!

Porém para tudo isto ter resultado, devemos carregar os seguintes valores: Humildade, Criatividade, Inovação. E jamais devemos ter: Preconceito e Vergonha. Assim será possível construir uma nação mais justa e interessada na educação!"

Abraços
Andreo Luis - Sempre de Bem com a Vida!!!