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sábado, 14 de março de 2015

EXALTAÇÃO!

Tudo já está nas enciclopédias e todas dizem as mesmas coisas. Nenhuma delas nos pode dar uma visão inédita do mundo. Por isso é que leio os poetas. Só com os poetas se pode aprender algo novo.
                                         (Do Conhecimento, Caderno H, p. 165)


Mário Quintana, de forma irônica e com senso de humor, trata o fazer poético, que era mestre, como uma força poderosa de enriquecimento do conhecimento: pela simples visão inédita do mundo, como afirma.
Assim, digo eu, é possível aprender que uma lua pode revirar os olhinhos ou desviá-los só para não constranger o casal que está amando, como em:





Esta lua é tão viva, tão partícipe, tão antiga, que já faz parte do olhar de quem com ela tem parceria.
Assim como vivas são as imagens do trecho extraído de DELÍRIOS de Manoel de Barros:

Eu estava encostado na manhã como se um pássaro à toa estivesse encostado na manhã. Me veio uma aparição: Vi a tarde correndo atrás de um cachorro. Eu teria 14 anos. Essa aparição deve ter vindo de minhas origens. Porque nem me lembro de ter visto nenhum cachorro a correr de uma tarde. Mas tomei nota desse delírio. Esses delírios irracionais da imaginação fazem mais bela a nossa linguagem.
E ainda:

Sapo é um pedaço de chão que pula”. 
Até as pedras da rua choravam”.


Gabriel Perissé, em seu livro A ARTE DA PALAVRA, páginas 119 e 120, diz a certa altura:

“O escritor é um ser humano. Sente o divino prazer de ser humano. Um ser humano comum. Que pega ônibus. Que fica na fila de um banco. Mas carregando uma luz... iluminando essa fila, o que nela existe de kafkiano, de cruel, de cômico, de insensato, de sugestivo... iluminando os episódios corriqueiros que acontecem dentro de um ônibus. E essa luz torna o ônibus mais ônibus, mais real, tão real que chega a ser surreal... Mais impressionantemente real do que podemos perceber na nebulosa rotina do dia a dia”.

E, mais adiante:

“O que ilumina é a convicção. A convicção de que há uma força simbólica na realidade, nas palavras, e que essa força, percebida, identificada, oferece novo alento à nossa vida”.

E esta palavra, cuidadosamente buscada, metaforicamente usada, é que fornecerá estilo, tornando-se este eterno.

Shakespeare, no trecho que segue, exalta a metáfora, tão usada pelos poetas. Com certeza, é ela quem dá precisão à linguagem poética.


(do livro A Poesia – Uma Iniciação à Leitura Poética – Armindo Trevisan, páginas 236 e 237)


Diante do que já foi exposto, acredito que esteja plenamente justificado o título desta crônica. Uma EXALTAÇÃO, neste dia 14 de março, à arte de poetar e um aplauso a todos aqueles que a este ofício se dedicam.

VIVA O DIA NACIONAL DA POESIA!

 Sintam-se motivados com as sugestões que seguem:
“Eu acho que todos deveriam fazer versos. Ainda que saiam maus, não tem importância. É preferível, para a alma humana, fazer maus versos a não fazer nenhum. O exercício da arte poética representaria, no caso, como que um esforço de autossuperação. É fato consabido que esse refinamento do estilo acaba trazendo necessariamente o refinamento da alma”.
 (Mário Quintana, Caderno H, p. 24 – trecho extraído do epigrama A POESIA É NECESSÁRIA)


ME ENSINA A ESCREVER, composição de Oswaldo Montenegro, incentiva-nos quando diz que não sabe se o poema é bonito, mas sabe que precisa escrever




Me Ensina a Escrever – Oswaldo Montenegro 





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Comentários via Facebook:

Elizabeth Remor: Parabéns Soninha Athayde, excelente homenagem! Abraço dourado.

Amelia Mari Passos: Não há palavras.Nada será justo.Amo- te - ler. Obrigada. "Não sabe se o poema é bonito, mas sabe que precisa escrever." assim é .

Maria Odila Menezes: Parabéns Soninha! Mais uma vez me encantas com a tua Crônica. Trechos que ficaram na minha memória:" O que ilumina é a convicção." "Eu acho que todos deveriam fazer versos."

Zaira Cantarelli: Soninha Athayde, transmites msg de sabedoria, refletes um aprendizado íntimo, humano, poético. muito bom te ler ! Escrever é a arte do voo onde a gente se transporta a um outro mundo para parir versos e é tão bom qdo os amigos curtem o q escrevemos, mas infelizmente apenas alguns, os verdadeiros (no meu caso).

Rosane Luft: Sonia no meio de tantas notícias ruins ler uma poesia é tudo de bom, nos faz acreditar que a vida é possível. um abraço




domingo, 23 de novembro de 2014

A RECEITA

Nestes tempos conturbados, difíceis, em que o corpo padece, muitas vezes, pela inércia do espírito, nada melhor do que recuar, silenciar e montar estratégias diante da avalanche de negatividade que se avoluma a cada dia.

Alguns caminhos avistam-se. Não há, porém, uma única receita salvadora. E não se está a falar de problemas de ordem econômica, social ou política. O que se busca, aqui, é salvaguardar o ânimo, a paixão, a iniciativa, o persistir, o seduzir, o amar.

São estes gatilhos que movem o ser humano. E paixão, é bom lembrar, é aquela chama que deve irromper a cada amanhecer para que nos mantenhamos vivos e atuantes pelos anos afora.

Como conservá-la acesa?

Dirigindo o olhar para tudo e todos que acrescentem, que surpreendam, que encantem a partir do nosso próprio empenho para que tal aconteça.

Perceber-se a si e ao outro como seres cativantes, portanto, prontos ao sorriso, à conversa, ao encontro, ao convívio. Com tais ingredientes o espírito dará uma resposta positiva que impulsionará o corpo para variadas atividades. Assim, trabalho poderá significar prazer.

E este é o plano. Transformar uma atividade laborativa em algo prazeroso, com uma resposta que afague o eu, que lhe dê retorno positivo no plano das emoções. Ações motivadas e gratificantes garantem sucesso como resultado de qualquer empreendimento. E, na esfera do puro prazer, a gama de situações e possibilidades é imensa para quem se aventura a tais delírios, como os poetas que concebem versos delirantes, tal como propõe Manoel de Barros em UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO, VII, onde descreve:



E delírio pressupõe um clima prévio de sedução. E o mesmo Manoel de Barros, em GORJEIOS, dá a receita:



Já Mário Quintana vai além quando, em POESIA E MAGIA, assegura:

A poesia de um verso não está no que diz, mas no poder encantatório das palavras que diz: um verso é uma fórmula mágica.

Como mágico deve ser o encontro entre DOIS AMANTES de Pablo Neruda, poema extraído da compilação Cem Sonetos de Amor (XLVIII-Meio-Dia), que diz:



Eternidade que a poesia persegue na reflexão de Mário Quintana sobre a palavra CRÔNICA, quando diz:

Ah, essas pequenas coisas, tão quotidianas, tão prosaicas às vezes, de que se compõe meticulosamente a tessitura de um poema... Talvez a poesia não passe de um gênero de crônica, apenas: uma espécie de crônica da eternidade.

Com certeza, todos nós buscamos ser felizes. Se não for pedir muito, quem sabe, sermos lembrados, pois o perene nos fascina, nos instiga, nos faz melhores.

Por ora, dê um tempo no tempo e viva com entusiasmo e alegria o presente. Afinal ele te prepara para o amanhã: que é logo aí.

Esta é a receita que nos fará melhores. 

Claro, tudo dependendo do nosso empenho.


E nesta busca por felicidade parceria melhor não há do que somar música e poesia. Juntas criam o cenário perfeito para o encontro amoroso: aquele que mistura o choro e o riso, que se ilumina, que não fica, nem vai, como diz a letra da música ESTADO DE POESIA de Chico César, na voz de Maria Bethânia. Aquele cenário em que a epifania do instante se eterniza: um cenário que é o próprio estado de poesia.




Estado de Poesia – Maria Bethânia 





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Comentários via Facebook:


Maria Odila Menezes: Belíssima crônica, Soninha! Parabéns!!!

Amelia Mari Passos: Um arco-iris bem no meio do dia.Sensiveis e inquietas palavras. Amei.



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

 








A TOCHA


Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá.
(trecho de Aquarela - Toquinho)

 
As imagens que a letra revela são belíssimas. A música Aquarela, eternizada na voz de Toquinho, é pura poesia, do início ao fim. Esse verbo descolorir, que teima em repetir-se, no final da canção, é o mote para uma reflexão mais aprofundada ao ensejo de duas comemorações importantes: O Dia da Criança e o Dia do Professor. Ambas tão próximas nas datas e tão interligadas pelos sujeitos nelas homenageados. Não se pode dissociar a criança/aluno da figura do professor.

A partir da letra, extraímos o verbo descolorir que é privar-se de cor. No sentido figurado, é perder o brilho, o esplendor, o colorido, o afear-se, desvigorar-se, ficar sem expressividade.

O letrista lança a ideia de que todos nós, num determinado instante, que não se sabe nem quando, nem onde, descoloriremos, perderemos o brilho, para, finalmente, fenecermos.

Será que nós todos perderemos o brilho no olhar, o jeito criança de olhar o mundo, a flama (paixão, entusiasmo), que nos permite vencer obstáculos e pilotar a tal astronave, referida na letra, com mestria? Ou será que muitos já serão descoloridos ao nascer? Isso seria possível? E outros se tornariam desbotados a partir da maioridade? Com essa indagação, façamos uma reflexão sobre a expressão “descolorirá”, tão repetida na canção.

É, em parte, verdade que vamos, ao longo dos anos, nos defrontando com momentos iluminados e outros não tanto. Transpomos o muro da infância com relativa suavidade. O da adolescência, já não sem alguma turbulência. E o da vida adulta, com certeza, com alguns pousos forçados, com algumas decolagens abortadas, avanços e recuos estratégicos. Mas isso será o bastante para descolorir, aos poucos, esse caminhar? Será que essa passarela, esse caminho, algum dia, ou, no último dia, descolorirá?

Para aquele que tem como vocação a arte de ensinar, que se acostumou a ver o brilho nos olhos de quem o observa, a simbiose do olho no olho permanecerá para todo o sempre. Quem consegue perceber esse brilho e devolvê-lo com mais intensidade, é porque já o possuía como uma dádiva. Foi apenas uma questão de lapidação. Na verdade, aluno e professor são coisas indissociáveis. Para aqueles mestres que permaneceram na retina de seus pupilos, a eles jamais caberá qualquer tipo de descoloração. Sua luz será perene.

A sensibilidade de ambos alimentar-se-á desde a pré-escola, quando ainda o desenho de um sol amarelo, com dois olhos sorrindo, iluminará e aquecerá essa combinação mágica. Ou ainda, bem depois, quando com seis retas poderão formar um hexágono e não mais um castelo. E, talvez, dependendo do fôlego e da vontade de estudar, quem sabe, com um simples compasso circule, não apenas o mundo sobre uma folha de papel, conforme diz a letra, mas elabore o esboço de uma construção na prancheta. Tudo bem redondo, tudo bem aconchegante. Tudo bem concreto, tudo bem real.

Portanto, quando há alunos motivados e professores com vocação para esse mister, o descolorir jamais se instalará. Ao mestre cabe esse papel, aquele que pilota o futuro, com as cores de uma aquarela, trilhando o caminho, qual peregrino, mesmo não sabendo aonde vai dar. É claro que, às vezes, esse futuro, sem pedir licença, muda nossa vida. Mas nós estaremos prontos a rir ou chorar, porque capazes de viver o bom e o mau momento, com igual intensidade. Temos, ou pelo menos deveríamos ter, reservas psicológicas para tanto.

Somos todos, professores ou não, seres de coloração intensa, ou deveríamos procurar ser. A cada um de nós cabe legar um eterno olhar colorido à vida. Se assim acontecer, não romperemos esse diferencial no encadeamento dos vários ciclos da nossa existência. Um olhar de criança, um olhar pleno de curiosidade, um olhar iluminado: é o que precisamos cultivar. E isso deve valer para todos.

Aos professores, em especial, porque cabe a eles o papel de iluminar o caminho desses jovens, fazendo-os enxergar e vibrar com possibilidades novas de transformação do mundo que os cerca. Isso se faz com muita criatividade, com uma dinâmica diferenciada em sala de aula, elementos que, quando existentes, favorecem uma interação de qualidade entre aluno e professor. Daí nascendo a admiração pelo mestre e a vontade de ouvi-lo novamente, de vê-lo mais uma vez, estando garantida, assim, a presença e a atenção desse aluno em sala de aula.

Essa retroalimentação entre aluno e professor permite a manutenção do brilho interior, a “chama”, que mantém aceso o pulsar pela vida, não permitindo que se instale o descolorir-se, nem no último segundo.

Os alunos de hoje poderão ser futuros professores, ou não. Agora, o professor, que ama o que faz, será para sempre professor. Seu papel principal é carregar a tocha e fazê-la arder até o último instante. E como um menino que caminha, “chega no muro” e vê o futuro, ultrapasse ela (a tocha) os tempos e, mesmo depois da morte de seu condutor, permaneça acesa para os que se dispuserem a fazer o revezamento.

Daí, nada, nunca, descolorirá.


FELIZ DIA DA CRIANÇA!
FELIZ DIA DO PROFESSOR!


Agora, quanto à letra da música Aquarela ressalte-se que suas imagens nos levam a viajar. Traçam, por sobre a Terra, a vida dos que a habitam, num movimento contínuo e inexorável de nascimento, vida e morte, enfocando o imponderável, a finitude dessa vida, essa estrada que “ninguém sabe bem ao certo onde vai dar”, essa “passarela” vestida de todos os matizes que, lentamente, ou abruptamente, “descolorirá”.

São imagens que, com certeza, nasceram de cabeças privilegiadas na arte de poetar.


 
OBS: As palavras sublinhadas foram extraídas da letra da música Aquarela, tal como se encontram escritas originalmente.



Aquarela – Toquinho



Jornal Zero Hora, 16 de outubro de 2012