sábado, 17 de dezembro de 2011





ORAÇÃO NA MANJEDOURA

Tão pequenino, ali posto.
Rosto de anjo, Nosso Senhor!
Aconchega-me no teu amor.
Sou também um menino
E preciso de ti, a cada dia, a cada noite,
Para vivo me manter.

Dialogo contigo, meu guia e Senhor!
Para que deposites em mim
Novos sonhos, ainda infantis, por que não?
Se deles vivo a cada dia de um novo ano?

Reserva, uma vez mais, muitos amores.
Afasta de mim os dissabores.
Guarda minha vida para novos albores.
Porque já é Natal!
Porque sou ainda um homem/menino!








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sábado, 12 de novembro de 2011











O ENCANTO QUE SE RENOVA


A imagem trago na retina.

A menininha se esgueira por entre as prateleiras e logo surge com um livro infantil. Senta-se no degrau que havia na antiga Livraria do Globo, entrada pela Rua José Montaury, bem no meio da loja.

Sofregamente, começa a leitura, virando as folhas com relativa rapidez. Por vezes, se detém em uma ou outra página, olhando com atenção as gravuras que acompanham a história. Já sabe ler. É um encanto vê-la absorta daquela maneira. Bem antes que eu faça as compras necessárias, lá está, novamente, ela com outro livro. Eu que também pretendia comprar algum livro para ela, nem sei mais qual devo adquirir. Aqueles já lidos, não há mais interesse. Então, juntas, eu e minha filha, escolhemos outro para ler “em casa”.

Assim é que se criam leitores: oportunizando-se o acesso aos livros.

Agora, lá pela década de 30, em Santa Maria, a avó dessa menininha já possuía o amor pela leitura. Embora tivesse apenas frequentado as séries iniciais do Curso Primário, teve acesso, à época, a uma biblioteca pertencente a um famoso médico da cidade.

Junto à janela, sob a luz do luar (a energia elétrica andava racionada), pois só dispunha da noite para desfrutar desse prazer, ela, que criava os irmãos mais jovens, pois a mãe falecera precocemente, leu obras universais. SONIA OU O CALVÁRIO DO POVO RUSSO, romance em fascículos, de Ivan Kossorowsky, versão portuguesa de Alfredo Castro, foi apenas uma delas.

Eu, que vim bem depois, fui registrada com o nome de Sonia, em razão do nome da heroína do referido romance.

Os livros têm uma enorme importância em nossa vida.

Anos mais tarde, já frequentando o Curso de Letras, tive que ler inúmeros livros. Autores brasileiros e portugueses foram revisitados por nós, alunos, ao longo do curso. E nesse período, minha mãe, que se acostumara a ler por prazer, manteve essa necessidade ao longo de toda a minha graduação. Lembro, com clareza, dela lendo, por inteiro, livros como o Chapadão do Bugre, de Mário Palmério, Vidas Secas, de Graciliano Ramos, Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa e tantos outros autores nacionais e também portugueses.

Que magia há por trás do ato de ler!

Abeberar-se no texto, jogar-se com o autor, de cabeça, nas paisagens descritas, nas cenas comoventes, ver-se desnudo, de repente, a partir de traços psicológicos desenvolvidos pelos personagens, é uma experiência indescritível. Deparar-se com trechos que aguçam nossos sentidos, que nos levam a sentir aromas, cheiros, calor ou frio, a quase enxergar ou ouvir, tal a força da descrição, é muito prazeroso.

A palavra é o instrumento que nos diferencia: que nos faz humanos. Apenas nós temos esse privilégio. Podemos expressar, através dela, todos os nossos sentimentos, sejam quais forem eles. O nosso balbucio prepara-nos para a expressão maior: a articulação de palavras que comporão nosso arsenal no ato da comunicação interpessoal.

Mais tarde, se mantivermos um contato amiúde, o mais cedo possível, com a palavra escrita, sentiremos prazer no ato de ler. E quem sabe, alguns se tornem até escritores. Se essa vocação não se fizer presente, restará, sem dúvida, o amor pela leitura. E, com certeza, uma maior capacitação no ato da escrita.




Alice, só torna-se ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS a partir do momento em que ouve a irmã lendo um livro, adormece e sonha. O buraco profundo, onde cai, a leva a um local mágico onde tudo é possível acontecer. A história termina com o acordar de Alice, descobrindo ter sido tudo um sonho. Lá, nas profundezas da nossa mente, estão abrigados todos os nossos sonhos.

O PEQUENO PRÍNCIPE sabe que “num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo”. Utilizando-se dessa assertiva, acreditamos que aquela pessoa, que se acostumou a privar com os livros, terá neles um amigo constante que, muitas vezes, poderá substituir um amigo de carne e osso. Isso está bem claro no comportamento daquela jovem da década de 30, ávida de leituras, carente de tempo, de amigos, de futuro. Afinal, era preciso voar, mesmo que em sonhos: libertar-se.

Ainda lembrando a raposa, de O PEQUENO PRÍNCIPE, diz ela que “o essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração”. Sabemos que o início do desenvolvimento intelectual de uma criança é muito delicado. Ela captará pela palavra, pelas gravuras, pelos desenhos, a magia do texto, que é invisível, mas que lhe possibilitará ver com o coração.

Em GRANDE SERTÃO: VEREDAS, Riobaldo diz, a certa altura, “o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior.”

No fio condutor do tempo, com as leituras que se sucederem, teremos essa comprovação. E assim, conforme vamos nos definindo, e isso parece não ter fim, assim também vamos, através das leituras de livros, nos modificando a cada nova compreensão que obtemos, a cada releitura.

E nesse moto-contínuo, aprendemos a tarefa de “criar laços”. Com quem? Com os livros, pois neles está a nossa necessidade maior, que é abastecer nosso ser com o que de melhor nós, humanos, dispomos: nossa capacidade de criar. Criar novas realidades, recriar o que já existe, descobrir-se e redescobrir-se a cada nova leitura.

E essa tarefa, com certeza, começa desde cedo.

Preservemos o encantamento com a palavra, com os livros, com nossas humanas histórias.

Que esse encanto se renove a cada olhar deitado sobre as páginas de um livro: uma possibilidade renovada de um novo olhar sobre as coisas, sobre as gentes do mundo. Que ele nos auxilie na busca de nós mesmos e no encontro do conhecimento.


E a imagem da menininha, surgindo com um livro na mão, volta uma vez mais.

E eu, novamente, suspendo a cena no olhar e saúdo os livros e os eventos que os consagram.

sábado, 15 de outubro de 2011











O BRILHO NOS OLHOS

Olhar, todos olham. Enxergar, alguns poucos conseguem. É desses que se vai falar.

Nada de estranhamento com o outro. O outro sou eu. Se eu o enxergo assim, será bem mais fácil entendê-lo e me fazer entender.

Quem tem essa capacidade, já ganhou a metade do caminho da empreitada. Estamos a falar do ato de ensinar ou da troca de conhecimento, num sentido mais amplo, atitude moderna e condizente com a figura do professor. Principalmente, do professor dos dias atuais.

E a outra metade?

Pois essa é a metade mais difícil. Porém, embora difícil, observa-se que muitos a possuem. Ela requer criatividade, jogo de cintura, performances diferenciadas, uma mise-en-scène digna de um bom ator. E isso nem sempre requer recursos tecnológicos, tão escassos, porque não dizer inexistentes, em nossas escolas públicas estaduais. Precisa-se, sim, de muita criatividade e de um componente que completa essa outra metade. Precisa-se sentir amor no fazer, paixão no executar, entusiasmo no criar e alto desempenho na entrega do produto. O produto, aqui referido, é o saber.

Hoje, mais do que nunca, um saber compartilhado.  Diante de um grande desempenho, os aplausos da plateia vêm ao natural. A emoção despertada revela o objetivo alcançado. O brilho nos olhos tem que ser comum a todos os participantes do ensino-aprendizagem. A época do professor sentado em uma mesa, colocada em um degrau acima do nível da sala, terminou.

Aqueles antigos professores não eram ruins. Pelo contrário, tive excelentes mestres que relembro com carinho e admiração pelos conteúdos que me ensinaram. Porém, os tempos são outros e a tecnologia à disposição desses alunos, em casa, por exemplo, exigem do professor um desempenho diferenciado, atualizado e o mais próximo possível desse aluno. Sua tarefa é levá-lo, usando das ferramentas atuais, a refletir sobre o seu uso, visando à construção de conceitos. Lembremos que tão-somente a máquina não é suficiente no ensino-aprendizagem. Ainda temos, pelo menos por ora, a figura do professor como elemento necessário, não dispensável. A máquina ainda somente serve: não substitui.

Lembro com saudade de Arlindo Heinen, Miguel Lamela Nogueira (Professores de Língua Portuguesa), Lázaro Moraes de Andrade (Professor de Matemática), João Maria Day Peixoto (Professor de Geografia), Marlene Cândida S. T. Segóvia (Professora de História), Arno Antonio Lise (Professor de Ciências), Enéas Augusto de Aguiar Almeida (Professor de Língua Inglesa), Lorena Soeiro (Professora de Língua Francesa), Yolanda Maria Rosa (Professora de Educação Física). Esses são apenas alguns deles. A todos eles meu tardio agradecimento.

Ainda, muito tempo após esses primeiros mestres, o Professor Carlos Jorge Appel, Professor de Literatura, no Curso de Pós-Graduação, também foi importante. Quando lia alguns textos literários, percebia-o, por vezes, visivelmente emocionado.

Agora, como um professor/ator não posso deixar de mencionar o Professor Édison de Oliveira, excelente professor de Gramática e Literatura, no saudoso Curso Pré-Vestibular Mauá. Esse professor foi decisivo para mim. Um modelo a ser seguido. Um modelo, inclusive, para os dias atuais. Criativo, envolvente, carismático, cheio de humor e, antes de tudo, um profissional competente na sua área de atuação.

Como se vê, a tarefa de um professor é árdua, mas é bela. Eu diria que é sublime.

Pena que nossos governantes não coloquem essa profissão, a de professor, no topo das carreiras bem remuneradas. Afinal são eles que preparam, ao longo dos anos, alunos para as mais diversas profissões e para ocupantes, inclusive, das carreiras de Estado. A Educação formal está nas mãos desse profissional. Daí sua importância. A sua formação deveria ser um compromisso do Estado Brasileiro. A partir daí, a ascensão na carreira dar-se-ia pelo desempenho constatado por avaliadores comprometidos com as questões educacionais. A fiscalização impor-se-ia aos seus membros como a outros de qualquer carreira. Se os professores tivessem esse respaldo, essa distinção no tratamento, teríamos, com certeza, por extensão, condições de trabalho adequadas a esse nobre mister.

Utopia? Pode ser que seja.

Segundo Eduardo Galeano, conhecido escritor e jornalista uruguaio, ela serve exatamente para que nós não deixemos de caminhar. Eu acrescentaria que ela existe para que não deixemos de caminhar em busca da excelência do ser e do fazer.



E o brilho nos olhos?
Por enquanto é o que se tem. Que, aqueles que o possuem, persistam na profissão.
O olhar do aluno iluminando-se, quando o professor fala, é, por ora, a melhor recompensa – e única.


Minha homenagem a eles nesse Dia dos Professores.





Assistam, abaixo, aos vídeos que apresentam professores de Escolas Públicas Estaduais em seu trabalho cotidiano. Percebe-se neles, claramente, o sentido da expressão “fazer com amor”.



1- Andreo Luis Bolwerk – Professor de Geografia




2- Dilson Correa – Professor de Artes





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Prezada professora:

"A educação é um ato de amor ao próximo, um ato de partilhar o conhecimento e principalmente de aprender! Não é pelo fato de sermos professores, doutores, mestres, que sabemos tudo. Pelo contrário, quanto maior nossa titulação, maior é a certeza de que não sabemos tanto assim, pois percebemos que a sociedade possui um conhecimento historicamente construído, muito maior do que a nossa mente é capaz de assimilar.

E é este valor que nós, professores da educação básica, devemos carregar. Que o conhecimento é imenso e que nós apenas conhecemos uma pequena parte, que com muito amor queremos compartilhar com os discentes. Para isso cada um tem suas maneiras: alguns utilizam canto, dança, jogos e outros instrumentos a fim de mostrar que o ato de estudar é importante e, principalmente, atraente, podendo ser até divertido!

Porém para tudo isto ter resultado, devemos carregar os seguintes valores: Humildade, Criatividade, Inovação. E jamais devemos ter: Preconceito e Vergonha. Assim será possível construir uma nação mais justa e interessada na educação!"

Abraços
Andreo Luis - Sempre de Bem com a Vida!!!