segunda-feira, 7 de outubro de 2019

QUANDO O AMOR FAZ A DIFERENÇA


A premiação é o coroamento de um amor que iniciou quando a mãe, adotiva, o recebeu em seu colo. Um menino que nascera com 500 gramas, fruto de uma gestação de apenas 5 meses, interrompida por uma tentativa de aborto. Vários casais haviam rejeitado uma possível adoção deste ser. Um bebê deficiente visual com este pregresso histórico teria alguma chance? Sim, ele teve.

O amor, que o conduziu até os atuais 12 anos de idade, é de ser enaltecido. Ainda, aos 5 anos, foi diagnosticado com um autismo leve. Nada impediu a caminhada deste ser, porém.

Uma forte ligação e um profundo amor têm sido os determinantes que fizeram com que Nickollas alcançasse a possibilidade de alegrar-se, de sentir-se partícipe, de vibrar, de ter suas emoções positivas preservadas. Que bom ter, sem mesmo ver, aquela que o embalou, que o acariciou nos primeiros meses de vida. Que bom existir Silvia, aquela que substitui até a visão do Nickollas pela também narração do que vê, presencia, sente e, também, vibra.

Embalada por esta possibilidade e, após verificar que ouvir apenas os jogos pelo rádio não o satisfazia, o que mais queria era escutar a torcida, presente no entorno, decidiu começar a levá-lo aos estádios de futebol.

Resolvera-se a falta de torcida, pois, agora, Nickollas estava junto a ela. Não satisfeita, Silvia tratou de imitar os narradores que depositam emoção a cada lance. Também ela, a partir desta prática junto ao Nickollas, conseguiu transmitir a emoção que cerca uma partida de futebol. Emoção pura!

Silvia, sendo palmeirense, frequenta os estádios em que o Palmeiras se faz presente. A estreia de mãe e filho deu-se em 2012, no estádio do Pacaembu.

Uma pequena digressão cabe aqui.

Uma tela de celular ou de um notebook será capaz de transmitir toda a emoção que se faz presente num estádio? Mesmo tendo todos perfeita visão? A frieza de uma tela, a falta de interagir com o semelhante, a possibilidade de as emoções acumuladas serem drenadas, este conjunto não seria um bom motivo para que se frequentem mais os estádios? Perdendo ou ganhando, acredita-se que esta interação pode ser benéfica, desde que os exageros sejam coibidos por aqueles que têm esta função.

Nickollas está certo. O estádio repleto transmite a ele as emoções das quais precisa. Ele, também, as tem, embora, por vezes, adormecidas. Este jovem de 12 anos ainda concilia os estudos frequentando a 5ª série de um colégio inclusivo em São Paulo.

Esta dupla de mãe e filho em estádios de futebol, torcendo pelo Palmeiras, time do coração de Silvia, é reconhecida desde algum tempo.

Agora, Nickollas acaba de receber o título de Torcedor do Ano da FIFA. O troféu foi entregue na Festa de Gala da FIFA, o FIFA THE BEST, no Teatro Alla Scala, em Milão, na Itália.

Silvia, lá também, descreveu a festa de entrega e quem estava presente: autoridades, jogadores, torcedores, ídolos. Enalteceu o esporte, em especial o futebol, como algo que deve ser, também, inclusivo. Dedicou o prêmio a todos os torcedores que “torcem” pela pessoa com deficiência. E, claro, estava ali representando todos os brasileiros que possuem alguma deficiência.

Pois é!

O amor faz toda a diferença.

E o barulho da torcida? Completa o cenário.

Precisamos nos sentir vivos, partícipes, unidos. Só assim desenvolveremos nossas capacidades, pois o nosso semelhante tem muito a nos dar, se soubermos captar, por algum dos sentidos, nossas semelhanças e possibilidades de realização pessoal. Nossos aplausos a esta mãe tão amorosa e a este filho: fruto do momento em que amarrou seu coração ao de Nickollas, palavras de Silvia ao descrever o momento de tê-lo no colo pela primeira vez.




Silvia Grecco e seu filho Nickollas. Reprodução/Instagram















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